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No final da carreira, o mexicano Rafa Márquez viveu altos e baixos no Verona

Poucos jogadores do continente americano podem se gabar de uma carreira vivida tanto tempo em alto nível quanto Rafa Márquez. Conhecido no México como El Káiser, por sua liderança e estilo classudo, o defensor se tornou um ícone da seleção de seu país, juntamente a nomes como Hugo Sánchez e Chicharito Hernández, e passou por três campeões nacionais europeus – um deles, na Itália.

Em meados de abril de 2018, Márquez rescindiu o contrato com o Atlas e anunciou que deixaria o futebol no final daquela temporada, já que sonhava em disputar a quinta Copa do Mundo de sua carreira. O zagueiro foi chamado pelo “profe” Juan Carlos Osório, que deu ao jogador de 39 anos a chance de se despedir em campo e não apenas como parte do grupo. Sua última aparição como profissional, com a braçadeira mexicana, foi na derrota por 2 a 0 para o Brasil, nas oitavas.

Com a convocação para o torneio na Rússia, o defensor entrou para um seleto grupo, que só tinha os craques Lothar Matthäus e Gigi Buffon, além do compatriota Antonio Carbajal, que participou cinco vezes do torneio entre os anos 1950 e 1960. El Káiser e Matthäus são os únicos jogadores de linha dessa lista.

Vestindo a camisa de La Tri, Rafa teve uma trajetória inquestionável. Além do recorde igualado, o defensor é o quarto jogador com mais aparições pela seleção, conquistou Copa das Confederações e Copa Ouro e também disputou 16 partidas em Mundiais – mais do que qualquer outro compatriota. O zagueiro também foi capitão em cinco edições do principal torneio da Fifa.

Márquez foi um dos muitos veteranos que passaram pelo Hellas em meados da década de 2010 (Getty)

Em termos de clubes, El Káiser foi um vitorioso. Ganhou projeção rapidamente com o Atlas e depois de aparecer internacionalmente com a seleção na Copa América e na Copa das Confederações de 1999, acertou com o Monaco. Na França, jogando na zaga ou como volante, logo faturou a Ligue 1. Em 2002, após o primeiro Mundial, negociou com o Real Madrid, mas só não vestiu a camisa blanca porque Ronaldo foi contratado e preencheu o último posto de extracomunitário.

Um ano depois, firmava acordo com o rival, Barcelona. Rafa Márquez se tornou um pilar do time catalão, desde a geração de Ronaldinho até a comandada por Xavi, Andrés Iniesta, Samuel Eto’o e Lionel Messi. Conquistou quatro vezes La Liga, duas vezes a Champions League (foi o primeiro mexicano a vencer a competição) e uma vez o Mundial de Clubes.

Uma das etapas da carreira de El Káiser se deu na Itália. A experiência poderia ter começado em 2010, quando Márquez deixou o Barça, mas o mexicano rejeitou uma proposta da Juventus e voltou para a América do Norte. O zagueiro passou quatro anos no continente, se desdobrando entre o New York Red Bulls, da MLS, e o León, da Liga MX e só em 2014, após mais uma Copa do Mundo, chegou ao Belpaese: acertou com o Verona, campeão italiano de 1985.

Aos 35 anos, o zagueiro quis provar que ainda tinha lenha para queimar na Europa e até aceitou uma redução salarial para atuar na Serie A. Na ocasião, o Verona vinha de uma boa campanha no campeonato e queria recuperar o tempo perdido. O Hellas, que ficou 11 anos fora da elite, surpreendeu ao terminar o certame na 10ª posição na temporada 2013-14 e queria mais. A chegada de um jogador com currículo vitorioso mostrava isso e empolgou a torcida, que compareceu em peso em sua apresentação.

O investimento em veteranos fazia parte do projeto. Além de Rafa Márquez, entre 2014 e 2015 outros jogadores rodados foram membros importantes do elenco veronês. O mexicano dividiu vestiário com gente como Luca Toni, Emil Hallfredsson, Vangelis Moras, Alessandro Agostini, Bosko Jankovic, Matuzalém, Giampaolo Pazzini, Javier Saviola e o xará Rafael Marques – todos balzaquianos, acima dos 30 anos. No primeiro ano, a aposta deu certo e o Verona teve um campeonato tranquilo, concluído na metade da tabela.

Na média, o mexicano teve um bom primeiro ano pelo Verona, mas decaiu juntamente com o time em 2015-16 (Getty)

El Káiser, porém, teve dificuldades iniciais de adaptação. Muito faltoso, chegou a ser expulso três vezes pelo Campeonato Italiano, mas nunca deixou o time titular – a não ser, é claro, por suspensão. No total, Márquez fez 26 partidas pela Serie A, com 2218 minutos em campo; número muito alto para um jogador de sua idade. No geral, compensou o alto número de faltas com muita liderança e qualidade na saída de bola.

Na segunda temporada, tudo mudou. O Hellas degringolou e não ganhou uma partida sequer no primeiro turno da Serie A 2015-16. Rafa Márquez sofreu duas lesões musculares que lhe tiraram de ação por oito jogos neste período, mas foi titular indiscutível nos outros. Os butei acabaram segurando a lanterna por toda a competição e foram rebaixados, mas o mexicano não ficou até o fim do campeonato: às vésperas do Natal de 2015, assinou contrato com o Atlas, que havia lhe revelado, e voltou para sua pátria.

Próximo a sua aposentadoria, El Káiser viveu expectativas distintas. Se, por um lado, trabalhou para entrar em campo na quinta e última Copa do Mundo, por outro esperava resolver seus problemas com a justiça norte-americana. Márquez está impedido de entrar nos Estados Unidos porque respondia por colaboração com o narcotráfico: foi acusado de ter ligações financeiras com os cartéis de Sinaloa e Jalisco. Ademais, teve as contas de suas empresas congeladas pelo governo mexicano e perdeu um polpudo patrocínio da Nike.

Em junho de 2018, a angústia relacionada à esfera esportiva teve seu desfecho, mas só em 2021 o zagueiro ficou livre da justiça e teve seu nome excluído do inquérito. Nesse período, Márquez foi presidente do Atlas por cerca de um ano (2018-19) e iniciou sua trajetória como técnico: primeiro, treinou o sub-16 do Alcalá e, entre 2022 e 2024, ficou no comando do Barcelona B. Em seguida, se tornou auxiliar de Javier Aguirre na seleção do México.

Rafael Márquez Álvarez
Nascimento: 13 de fevereiro de 1979, em Zamora, México
Posição: zagueiro
Clubes como jogador: Atlas (1996-99 e 2016-18), Monaco (1999-2003), Barcelona (2003-10), New York Red Bulls (2010-12), León (2013-14) e Verona (2014-15)
Títulos como jogador: Copa das Confederações (1999), Ligue 1 (2000), Copa da Liga Francesa (2003), Copa Ouro (2003 e 2011), La Liga (2005, 2006, 2009 e 2010), Supercopa da Espanha (2005 e 2006), Liga dos Campeões (2006 e 2009), Copa do Rei (2009), Mundial de Clubes da Fifa (2009), Campeonato Mexicano (2013; Apertura e 2014; Clausura) e Copa Concacaf (2015)
Clubes como treinador: Barcelona B (2022-24)
Seleção mexicana: 143 jogos e 19 gols

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