Poucos jogadores do continente americano podem se gabar de uma carreira vivida tanto tempo em alto nível quanto Rafa Márquez. Conhecido no México como El Káiser, por sua liderança e estilo classudo, o defensor se tornou um ícone da seleção de seu país, juntamente a nomes como Hugo Sánchez e Chicharito Hernández, e passou por três campeões nacionais europeus – um deles, na Itália.
Em meados de abril, Márquez rescindiu o contrato com o Atlas e anunciou que deixaria o futebol no final desta temporada, já que sonhava em disputar a quinta Copa do Mundo de sua carreira. O zagueiro foi chamado pelo “profe” Juan Carlos Osório, que deve dar ao jogador de 39 anos a chance de se despedir em campo e não apenas como parte do grupo.
Com a convocação para o torneio na Rússia, o defensor entrou para um seleto grupo, que só tinha os craques Lothar Matthäus e Gigi Buffon, além do compatriota Antonio Carbajal, que participou cinco vezes do torneio entre os anos 1950 e 1960. El Káiser e Matthäus são os únicos jogadores de linha dessa lista.
Vestindo a camisa de La Tri, Rafa tem uma trajetória inquestionável. Além do recorde que será igualado, o defensor é o quinto jogador com mais aparições, conquistou Copa das Confederações e Copa Ouro e também disputou 16 partidas em Mundiais – mais do que qualquer outro compatriota. O zagueiro também foi capitão em quatro edições do principal torneio da Fifa.
Em termos de clubes, El Káiser é um vitorioso. Ganhou projeção rapidamente com o Atlas e depois de aparecer internacionalmente com a seleção na Copa América e na Copa das Confederações de 1999, acertou com o Monaco. Na França, jogando na zaga ou como volante, logo faturou a Ligue 1. Em 2002, após o primeiro Mundial, negociou com o Real Madrid, mas só não vestiu a camisa blanca porque Ronaldo foi contratado e preencheu o último posto de extracomunitário.
Um ano depois, firmava acordo com o rival, Barcelona. Rafa Márquez se tornou um pilar do time catalão, desde a geração de Ronaldinho até a comandada por Xavi, Andrés Iniesta, Samuel Eto’o e Lionel Messi. Conquistou quatro vezes La Liga, duas vezes a Champions League (foi o primeiro mexicano a vencer a competição) e uma vez o Mundial de Clubes.
Uma das etapas da carreira de El Káiser se deu na Itália. A experiência poderia ter começado em 2010, quando Márquez deixou o Barça, mas o mexicano rejeitou uma proposta da Juventus e voltou para a América do Norte. O zagueiro passou quatro anos no continente, se desdobrando entre o New York Red Bulls, da MLS, e o León, da Liga MX e só em 2014, após mais uma Copa do Mundo, chegou ao Belpaese: acertou com o Verona, campeão italiano de 1985.
Aos 35 anos, o zagueiro quis provar que ainda tinha lenha para queimar na Europa e até aceitou uma redução salarial para atuar na Serie A. Na ocasião, o Hellas Verona vinha de uma boa campanha no campeonato e queria recuperar o tempo perdido. A equipe, que ficou 11 anos fora da elite, surpreendeu ao ficar com a 10ª posição na temporada 2013-14 e queria mais. A chegada de um jogador com currículo vitorioso mostrava isso e empolgou a torcida, que compareceu em peso em sua apresentação.
O investimento em veteranos fazia parte do projeto. Além de Rafa Márquez, entre 2014 e 2015 outros jogadores rodados foram membros importantes do elenco veronês. O mexicano dividiu vestiário com gente como Luca Toni, Emil Hallfredsson, Vangelis Moras, Alessandro Agostini, Bosko Jankovic, Matuzalém, Giampaolo Pazzini, Javier Saviola e o xará Rafael Marques – todos balzaquianos, acima dos 30 anos. No primeiro ano, a aposta deu certo e o Verona teve um campeonato tranquilo, concluído na metade da tabela.
El Káiser, porém, teve dificuldades iniciais de adaptação. Muito faltoso, chegou a ser expulso três vezes pelo Campeonato Italiano, mas nunca deixou o time titular – a não ser, é claro, por suspensão. No total, Márquez fez 26 partidas pela Serie A, com 2218 minutos em campo; número muito alto para um jogador de sua idade. No geral, compensou o alto número de faltas com muita liderança e qualidade na saída de bola.
Na segunda temporada, tudo mudou. O Hellas degringolou e não ganhou uma partida sequer no primeiro turno da Serie A 2015-16. Rafa Márquez sofreu duas lesões musculares que lhe tiraram de ação por oito jogos neste período, mas foi titular indiscutível nos outros. Os butei acabaram segurando a lanterna por toda a competição e foram rebaixados, mas o mexicano não ficou até o fim do campeonato: às vésperas do Natal de 2015, assinou contrato com o Atlas, que havia lhe revelado, e voltou para sua pátria.
Hoje, próximo a sua aposentadoria, El Káiser vive expectativas distintas. Se, por um lado, trabalha para entrar em campo na quinta e última Copa do Mundo, por outro espera resolver seus problemas com a justiça norte-americana. Atualmente, Márquez está impedido de entrar nos Estados Unidos porque responde por colaboração com o narcotráfico: é acusado de ter ligações financeiras com os cartéis de Sinaloa e Jalisco. Ademais, teve as contas de suas empresas congeladas pelo governo mexicano e perdeu um polpudo patrocínio da Nike. Em junho, ao menos a angústia relacionada à esfera esportiva terá seu desfecho.
Rafael Márquez Álvarez
Nascimento: 13 de fevereiro de 1979, em Zamora, México
Posição: zagueiro
Clubes: Atlas (1996-99 e 2016-18), Monaco (1999-2003), Barcelona (2003-10), New York Red Bulls (2010-12), León (2013-14) e Verona (2014-15).
Títulos: Ligue 1 (2000), Copa da Liga Francesa (2003), La Liga (2005, 2006, 2009 e 2010), Liga dos Campeões (2006 e 2009), Mundial de Clubes da Fifa (2009), Copa do Rei (2009), Supercopa da Espanha (2005 e 2006), Apertura (2013), Clausura (2014), Copa das Confederações (1999), Copa Ouro (2003 e 2011) e Copa Concacaf (2015).
Seleção mexicana: 143 jogos e 19 gols
Atualizado em 4 de junho de 2018.