Brasileiros no calcio

Gira-mundo, Elói não cultivou momentos positivos no Genoa

Meio-campista nascido em São Paulo que começou no Juventus da Mooca e passou pelo Genoa. Poderíamos estar falando de Thiago Motta, mas antes de o ítalo-brasileiro se destacar na Ligúria, o estádio Luigi Ferraris recebeu um outro jogador que preenchia os requisitos citados acima. Elói, no entanto, não viveu grandes momentos no clube mais antigo da Itália.

Nascido no interior de São Paulo, Francisco Chagas Eloia, o Elói, começou sua carreira no Juventus da Mooca. Após dois anos no Moleque Travesso, o meio-campista passou pela Portuguesa e se destacou principalmente na Inter de Limeira, onde fez bom Paulistão em 1980.

Jogador baixinho e de boa chegada ao ataque, Elói acertou com o Santos em 1981, ano em que cruzou a história do futebol italiano pela primeira vez. Em junho, o Peixe viajou para Milão com o intuito de disputar o Mundialito de clubes contra Peñarol, Feyenoord, Inter e Milan. Fazendo o papel de “10” do Santos, Elói marcou um gol sobre os rossoneri, em San Siro, e foi um dos principais nomes do vice-campeonato do Alvinegro Praiano. A Inter acabaria vencedora do torneio amistoso.

De volta ao Brasil, o bigodudo completou o ano com o Santos e, em 1982, teve uma brevíssima experiência no Cruzeiro. Ainda no primeiro semestre Elói acertou com o America e teve sua primeira passagem pelo futebol carioca, com grande destaque: no Rubro, o meia paulista venceu o Torneio dos Campeões, competição da CBF que reunia todos os campeões e vices de competições nacionais oficiais já disputadas no Brasil, além do Torneio Rio-São Paulo. Elói também participou da campanha da única Taça Rio do Mecão e, em 1983, se transferiu para o Vasco.

Em San Siro, Elói posa ao lado de Evaristo Beccalossi, camisa 10 da Inter (iG)

Elói passou apenas alguns meses como garçom de Roberto Dinamite. O meia deixou a Colina em agosto de 1983 para, aos 28 anos, ter sua primeira chance no futebol europeu – e justamente no Campeonato Italiano, eldorado do continente. O clube que o contratou foi o tradicional Genoa, que estava longe de seus momentos mais gloriosos: à época o Grifone era frequentava muito mais a Serie B do que a elite. Portanto, o objetivo da temporada 1983-84 era o da permanência na Serie A.

Presidente do Genoa naqueles tempos, Renzo Fossati havia observado Elói pela primeira vez no Mundialito, mas o que definiu o acerto foi uma compilação de lances do jogador, gravados em fita cassete – nota para os jovens: uma forma de ver vídeos anterior ao DVD e ao YouTube. O brasileiro ainda tinha como credenciais o bom número de gols marcados para um jogador de sua posição e o domínio de bola: costumava fazer embaixadinhas com limões.

Como se sabe, porém, ser um showman em exibições freestyle não é sinônimo de sucesso no futebol profissional. Com seu estilo peculiar, Elói falhou no objetivo de ser o camisa 10 da equipe genovesa. Ao lado do holandês Jan Peters, o brasileiro era um dos encarregados de abastecer o atacante Massimo Briaschi, mas só entrou em campo em 17 das 30 rodadas do campeonato. Terceiro pior ataque do campeonato, o Genoa foi rebaixado na última rodada, por critérios de desempate que salvaram a Lazio.

Em entrevista ao jornal O Dia, do Rio de Janeiro, Elói comentou os maus bocados que passou em Gênova. “Aqui eu era badalado. Mas lá não era ninguém. Só me cumprimentaram na apresentação porque foram obrigados”, disse. O meia também relatou casos de indisciplina de jogadores, que até fugiam de treinamentos, e até mesmo agressões físicas de treinadores a seus atletas – no Genoa, o meia foi treinado apenas por Luigi Simoni e Tarcisio Burgnich.

Um dos piores momentos de que Elói se recorda, porém, foi a reação dos companheiros de time após uma falha que originou um gol adversário. “O técnico me pediu para marcar um jogador na cobrança de escanteio e ele fez o gol em cima de mim. Uns três jogadores me empurraram no campo, reclamando da minha postura. Ali aprendi a ter mais obediência tática”, lembrou.

Elói até fez alguns bons jogos, mas se destacou pela irregularidade e pela incapacidade de se impor num time tecnicamente limitado. Mesmo com a decepção na temporada de debute na Itália, o brasileiro ficou para a disputa da segundona, mas novamente não conseguiu ser titular indiscutível da equipe rossoblù, treinada por Burgnich. Com seu cabelo loiro e bigode indefectível, Elói novamente só conseguiu entrar em campo em 17 partidas e viu o Genoa ficar com o 6º lugar na Serie B, longe da disputa pela volta à elite.

Com atuações irregulares, Elói durou pouco no Genoa (Acervo pessoal)

Depois de passar em branco e não empolgar na Itália, Elói voltou ao Brasil, acertado com o Botafogo. No clube da Estrela Solitária, o meia voltou a jogar bem e fez uma parceria interessante com Alemão, que tinha visual parecido com o seu e seguiria seus passos rumo ao futebol italiano – o volante, como sabemos, teria passagem vitoriosa pelo Napoli.

Ao recolocar a carreira nos trilhos, Elói recebeu uma proposta do Porto, clube em que viveria seus últimos grandes momentos no futebol. Companheiro de Juary e Casagrande, o meia paulista quase sempre foi reserva dos Dragões, mas conseguiu faturar um Campeonato Português, uma Copa dos Campeões e um Mundial Interclubes.

Dispensado em fim de contrato, Elói começou a alternar longos períodos de inatividade com passagens menos expressivas por uma penca de clubes. Após ficar parado por quase um ano, o meia assinou com o Boavista, de Portugal, mas parou um ano depois, aos 34 anos. Elói passou mais de dois anos sem entrar em campo quando foi recuperado pelo Fluminense, em 1992.

Foi no Nordeste brasileiro, porém, que o meia teve o seu canto do cisne. Atuou por uma temporada no Fortaleza, mas logo virou a casaca e acertou com o Ceará. Em 1994, aos 39 anos, ele vestiu a camisa 10 e levou o Vozão ao vice-campeonato da Copa do Brasil, deixando o incrível Palmeiras de Evair e Edmundo pelo caminho.

Após a glória, já veteraníssimo, Elói ainda passou pelo Campo Grande e pelo Nacional, até se aposentar. O ex-jogador teve breves experiências como procurador e técnico interino do America, mas hoje é um pacato morador do Recreio dos Bandeirantes, no Rio de Janeiro, e bate uma bolinha frequentemente no time master do Sindicato dos Atletas estadual.

Francisco Chagas Eloia, o Elói
Nascimento: 17 de fevereiro de 1955, em Andradina (SP)
Posição: meio-campista
Clubes: Juventus-SP (1975-77), Portuguesa (1978-79), Inter de Limeira (1980), Santos (1981), Cruzeiro (1982), America-RJ (1982), Vasco (1983), Genoa (1983-85), Botafogo (1985), Porto (1985-87), Boavista (1988-89), Fluminense (1992), Fortaleza (1993), Ceará (1994), Campo Grande-RJ (1995), Nacional-AM (1996)
Títulos: Torneio dos Campeões (1982), Taça Rio (1982), Campeonato Português (1986), Copa dos Campeões (1987), Mundial Interclubes (1987)

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