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Simone Perrotta ganhou até uma estátua por causa do título mundial de 2006

Ícone da Roma e um dos coadjuvantes da Era Francesco Totti, Simone Perrotta foi um dos grandes nomes da geração italiana que brilhou no início dos anos 2000 e levantou o tetracampeonato mundial. Espécie de “patinho feio” dos grupos de Marcello Lippi e Luciano Spalletti, o meia central respondia às críticas com prestações bastante úteis para o bom funcionamento das equipes que integrava.

Nascido em Ashton-under-Lyne, na Inglaterra, Perrotta se mudou para a Itália aos cinco anos, época em que seus pais retornaram a Cerisano, onde moravam anteriormente. Foi exatamente na Calábria que Simone deu seus primeiros passos no futebol: com apenas 13 anos o jovem chegou à Reggina, clube pelo qual passou por todos os estágios das categorias de base até se profissionalizar, aos 18.

Perrotta estreou na Serie B, numa partida contra o Chievo, e a partir de então se tornou um dos principais jogadores dos amaranto. Tido como uma das principais revelações do clube, o meia rapidamente assumiu papel de destaque na equipe de Reggio Calabria. Foram três anos vestindo a camisa da Reggina com certo destaque, a ponto ser convocado às seleções inferiores.

Simone não conseguiu fazer a Reggina subir pela primeira vez para a elite – o que aconteceu um ano depois de sua saída –, mas suas atuações fizeram emergir o interesse de clubes do primeiro escalão italiano. Assim, aos 21 anos, foi comprado pela Juventus, a equipe mais condecorada do futebol local. Em sua chegada, no verão de 1998, não poupou elogios ao clube e disse que ter a chance de vestir bianconero “é o máximo para um jogador”.

Depois de passagem apagada pela Juventus, Perrotta teve seus primeiros bons momentos na Serie A pelo Bari (Allsport)

Em sua primeira temporada em Turim, Perrotta não encontrou espaço num time em que tinha a concorrência de nomes como Antonio Conte, Edgar Davids, Didier Deschamps, Alessio Tacchinardi e Zinédine Zidane. Por isso, participou de apenas 14 jogos, a maioria deles pela Coppa Italia – e foi lá que marcou seu único gol, contra o Bologna.

Aquela Juventus, porém, não ia tão bem quanto nos anos anteriores, em que foi até campeã mundial. O time patinava na Serie A, o que ocasionou a saída de Lippi do comando, em meados da campanha. A Velha Senhora melhorou após o final do primeiro ciclo do técnico – foi semifinalista europeia e sétima no Italiano –, mas a mudança não foi boa para Perrotta. Carlo Ancelotti preteriu o jogador, que até começou 1999-2000 no elenco, mas acabou emprestado ao Bari.

Na Apúlia, Perrotta começou a deslanchar. O jogador assumiu a titularidade absoluta da equipe treinada por Eugenio Fascetti e participou de 31 dos 34 jogos da campanha que manteve os biancorossi na elite. Mais do que isso: foi um dos destaques do time, ao lado do estreante Antonio Cassano e dos suecos Daniel Andersson e Yksel Osmanovski. Naquele ano, Simone ainda fez parte do elenco italiano que ficou com o título no Europeu sub-21.

Por causa de sua importância, foi contratado em definitivo pelos galletti. No entanto, sua segunda temporada no calcanhar da Bota não foi boa. Perrotta acabou convivendo com alguns problemas físicos e viu seu desempenho cair, juntamente com o do resto do time. O técnico Fascetti entrou em rota de colisão com alguns senadores do elenco, como o goleiro Francesco Mancini e o capitão Luigi Garzya, e o time passou a não corresponder mais em campo. O Bari acabaria rebaixado com muita antecedência: lanterna do campeonato, ficou 17 pontos abaixo das equipes que se salvaram com a pontuação mínima para tal.

Futebol mostrado no Chievo levou Perrotta à Roma e à seleção (Getty)

Este ponto de inflexão na carreira de Perrotta fez com que ele continuasse defendendo times da parte baixa da tabela. Dessa forma, o meia central acabou adquirido pelo Chievo, que estreava na elite com a alcunha de Burros Alados. O motivo? A própria torcida dizia que seria mais fácil os burros voarem do que o time chegar na Serie A.

O Chievo de 2001-02 entraria para a história por fazer muito mais do que uma simples figuração na elite. Naquela temporada, a equipe veronesa alcançou a quinta colocação no Italiano e se classificou para a Copa Uefa. Simone foi peça vital na campanha, ocupando um posto entre os cinco jogadores mais utilizados pelo técnico Luigi Delneri.

No 4-4-2 do treinador, Perrotta atuava centralizado, ao lado do regista Eugenio Corini, enquanto Christian Manfredini e o brasileiro Luciano faziam as alas. Na frente, o dever de empurrar as bolas para as redes era de Massimo Marazzina e Bernardo Corradi, mas Perrotta tinha uma boa chegada – algo que demonstraria no restante da carreira – e deixou sua marca quatro vezes; três delas nas cinco rodadas iniciais. Foi do meia central, inclusive, o primeiro gol dos clivensi na elite, na ótima vitória conquistada em Florença sobre uma Fiorentina recém-campeã da Coppa Italia.

Perrotta passou três temporadas no Ceo, realizando 100 jogos e sete gols no período. Sempre titular com Delneri, o meia participou da curta campanha da equipe na Copa Uefa – o Chievo foi eliminado na primeira fase pelo Estrela Vermelha, da Sérvia – e teve mais dois anos de destaque em solo nacional. No período, ajudou os gialloblù a terminarem na metade de cima da tabela de novo: consolidado na elite, o time veronês foi sétimo e nono colocado em 2002-03 e 2003-04, respectivamente.

Perrotta seguiu evoluindo na Roma e teve seu estilo de jogo reinventado por Spalletti (AFP/Getty)

Nesse meio tempo, Perrotta recebeu suas primeiras oportunidades na Squadra Azzurra. A primeira convocação para a Itália aconteceu em novembro de 2002, para um amistoso contra a Turquia. Útil taticamente e muito batalhador, Simone agradou ao técnico Giovanni Trapattoni e passou a ser presença constante nas listas do treinador durante o ciclo para a Eurocopa de 2004.

O jogador do Chievo foi convocado para a competição e atuou como titular (sem nem ser substituído) nas três partidas da fraca campanha da Nazionale, que foi eliminada na fase de grupos. Uma das poucas alegrias de Perrotta no torneio disputado em Portugal foi o fato de ter conseguido marcar o primeiro de seus dois gols pela seleção, na vitória sobre a Bulgária.

Ao final do torneio europeu, Perrotta foi comprado pela Roma. Simone trabalharia com Cesare Prandelli, recém-contratado, mas o treinador abriu mão do cargo para cuidar de sua esposa, que estava muito doente. Ícone da equipe capitolina, Rudi Völler assumiu em seu lugar, mas durou apenas quatro rodadas no comando. O substituto do alemão acabou sendo um velho conhecido do ex-meia do Chievo: Delneri, que não deu certo no Porto e rapidamente ficou livre no mercado para acertar com a Loba giallorossa.

Perrotta foi titular no meio-campo, atrás da trinca ofensiva formada por Totti, Cassano e Vincenzo Montella, mas participou com pouco destaque naquela bagunçada Roma, que só evitou o rebaixamento nas últimas rodadas. No verão europeu de 2005, Luciano Spalletti assumiu o comando técnico na temporada seguinte e Simone se firmou de vez como titular, sendo uma das referências no centro das ações dos giallorossi.

Em 2006, o meio-campista foi titular na campanha do tetracampeonato mundial italiano (Bongarts/Getty)

Spalletti reinventou muitos jogadores em seus anos iniciais na Roma. O técnico é reconhecido por ter sido o primeiro a escalar Totti como falso nove, mas também adaptou Perrotta a uma nova função. Avançado pelo treinador, o meia central virou trequartista e até jogou como ponta, dando mais dinamismo e intensidade àqueles setores, além de ajudar na marcação alta. Anos depois, Spalletti faria o mesmo com Radja Nainggolan.

O sucesso durante a temporada na nova função fez com que Perrotta voltasse a integrar a seleção italiana, agora comandada por Lippi. Após quase um ano e meio de ausência, o meia nascido na Inglaterra foi chamado para os amistosos preparatórios para a Copa do Mundo, em março, e ali ganhou crédito com o treinador. Perrotta não só foi confirmado para a disputa do Mundial da Alemanha como participou de todos os jogos da vitoriosa campanha que rendeu o tetracampeonato à Itália, atuando aberto pela faixa esquerda do meio-campo. Somente nas semifinais e na final, por conta de desgaste físico, foi substituído.

O título mundial rendeu uma história curiosa. Ao lado de Jimmy Armfield e Geoff Hurst, campeões do mundo com a Inglaterra, em 1966, Perrotta também está eternizado em Ashton-under-Lyne, sua cidade natal, com uma estátua. Simone, no entanto, não sabia da homenagem e só foi descobrir anos depois, quando um tio, que mora na Inglaterra, lhe contou. Na Itália, ainda como consequência da conquista da Copa do Mundo, o meia recebeu o prêmio de Ordem ao Mérito da República Italiana, junto a seus companheiros.

Em seu retorno à Roma, Perrotta teve sua temporada mais prolífica, marcando 13 gols. Um dos mais importantes foi o segundo da final da Coppa Italia, na vitória por 2 a 1 contra a Inter. Simone voltou a anotar numa decisão do torneio contra os nerazzurri no ano seguinte, ajudando os romanistas a ficarem com o bicampeonato. Na Cidade Eterna, o meia ainda venceu uma Supercopa nacional.

Perrotta escreveu seu nome na história em quase uma década de Roma (AFP/Getty)

O meia continuou como titular da Roma em toda a gestão de Spalletti, até 2009. Um pouco antes do fim do trabalho do técnico, no mesmo ano, Perrotta fez sua última partida pela seleção italiana num amistoso contra o Brasil – em 2008, participara da Eurocopa. Na capital, Simone também recebeu espaço com Claudio Ranieri, mas a partir de meados de 2011 pouco a pouco foi tendo seu espaço reduzido no elenco.

Perrotta decidiu se aposentar em junho de 2013, com quase 36 anos. Em sua despedida, disse que preferiria terminar a carreira como um ex-jogador da Roma e não como ex de qualquer outro clube. Seu desejo era o de encerrar esta fase de sua vida pelo clube que defendeu por mais tempo. Em nove temporadas vestindo a camisa romanista, Perrotta disputou 327 partidas e marcou 48 gols.

Depois de pendurar as chuteiras, o ex-meia realizou o curso de treinador da Uefa na licença B, o que lhe permite comandar equipes juvenis. No entanto, Perrotta não pretendia atuar como técnico. Na Federação Italiana de Futebol, a FIGC, ocupou cargos ligados às categorias de base e, atualmente, tem atuado em iniciativas pontuais com jovens talentos e atletas paralímpicos. Além disso, seu filho, Francesco, também se tornou jogador de futebol.

Simone Pasquale Perrotta
Nascimento: 17 de setembro de 1977, em Ashton-under-Lyne, Inglaterra
Posição: meio-campista
Clubes: Reggina (1995-98), Juventus (1998-99), Bari (1999-2001), Chievo (2001-04) e Roma (2004-2013)
Títulos: Europeu sub-21 (2000), Copa do Mundo (2006), Coppa Italia (2007 e 2008) e Supercopa Italiana (2007)
Seleção italiana: 48 jogos e 2 gols

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