Extracampo

Diferenças culturais e separatismo incentivam criação de seleções regionais na Itália

A princípio, os conceitos de nação e estado podem parecer de fácil compreensão e explicação. No entanto, eles frequentemente se embaralham, ainda que nem sempre um dependa do outro para existir. Se esta introdução vem no melhor estilo Tom Zé, “te explicando pra te confundir, te confundindo pra te esclarecer”, é para enfatizar que o processo de formação de qualquer país envolve uma cadeia complexa de movimentos e estagnações, rupturas com o passado e retornos à tradição, conflitos e apaziguamentos, expansões e reduções de limites territoriais. Acontecimentos que concorrem, se intercalam e muitas vezes se atropelam fazem com que esta marcha seja constante e nenhum conceito seja inquebrantável – ao contrário, as mutações não cessam. A composição do Brasil, por exemplo, é uma das mais labirínticas do planeta. A da Itália não fica muito atrás.

O conceito de “Itália” como país é relativamente novo. O processo de sua unificação acontece em meados do século XIX, a partir das agitações causadas pelo Risorgimento, e só se conclui em 1861, com o estabelecimento do Reino da Itália. Antes disso, o seu atual território era fragmentado em vários reinos, ducados e grandes porções de área sob controle da Igreja Católica e do Império Austro-Húngaro.

Desde a centralização dessas regiões sob um mesmo governo, o Belpaese já foi administrado por uma monarquia, uma ditadura e, desde 1946, com a queda de Benito Mussolini e a deposição e a expulsão dos nobres da Casa de Savoia, é uma república parlamentarista. A quantidade de cavalos de pau num espaço tão curto de tempo combinam com um estado formado por localidades marcadas por diferenças sociais, culturais e linguísticas bastantes significativas. Ainda hoje, a integração entre italianos de várias partes do país ainda é complicada: muitos não enxergam seus compatriotas como membros de uma mesma nação.

As diferenças sociais e políticas entre norte e sul transcendem até mesmo a unificação do país, e mesmo regiões autônomas como as ilhas de Sardenha e Sicília encontram barreiras nesse contexto. Há reflexos também no esporte: o regionalismo é tão grande no país que o Calcio Fiorentino (considerado como antepassado do futebol e do rúgbi) surgiu em Florença no século XVI e não se popularizou em outras regiões.

Gravura retrata a Piazza Santa Croce em 1688: o Calcio Fiorentino foi pensado para ser jogado neste largo de Florença (Wikipedia)

Isso aconteceu, provavelmente, porque as disputas previam apenas quatro times (azuis, brancos, verdes e vermelhos), cada um deles na qualidade de representante de um dos quatro bairros históricos da cidade – embora algumas partidas tenham acontecido fora de Florença e envolvido até mesmo uma esquadra asiática. O violento desporto foi concebido para ter como campo a Piazza Santa Croce e virou febre entre os habitantes florentinos, que aproveitavam qualquer área aberta para praticá-lo, no auge de sua popularidade. No fim do século XVIII, o esporte praticamente se extinguiu e se tornou elemento folclórico. Mussolini tentou resgatá-lo durante sua ditadura – assim como buscou com qualquer coisa que remontasse às tradições de cada região do país – e, desde 1930, torneios ocorrem pelo menos uma vez por ano.

O esporte é apenas um traço cultural de uma sociedade. Porém, se até numa pequena parcela dos costumes de um povo é possível verificar a diversidade de gostos e hábitos de forma tão nítida entre os povos que hoje formam a Itália, imagina quando ampliamos o escopo da análise. Se valendo do argumento de que elementos culturais e territoriais são definidores de nações independentes, movimentos separatistas se sentem legitimados pelo princípio de autodeterminação dos povos. As ideias destes grupos se difundiram em maior escala com os problemas econômicos e políticos da Itália desde os anos 1990. Embora eles tenham amainado seus ímpetos durante o período de Giorgio Napolitano na presidência (2006-15), voltaram a ganhar força nos últimos anos.

Um dos movimentos mais populares é o da Padânia. Um dos primeiros a usar esse neologismo foi o célebre jornalista Gianni Brera, de forma irônica, mas os defensores desse projeto de nação acabaram se apropriando da nomenclatura. A alcunha faz referência à Planície Padana, que você pode já ter ouvido falar devido ao famoso queijo Grana Padano, produzido na região.

A estrutura geológica também é conhecida como Vale do Pó, e é cercada pelas cordilheiras dos Alpes, ao norte, e dos Apeninos, ao sul. O rio Pó, o quinto maior da Europa, nasce na região do Piemonte, percorre a Lombardia e a Emília-Romanha até originar um delta no Vêneto e desaguar no mar Adriático. A planície, por sua vez, abrange todo o norte e compreende ainda partes de Ligúria, Trentino-Alto Ádige e Friul-Veneza Júlia, além de Toscana, Úmbria e Marcas, no centro da península itálica.

Imagem de 1994 mostra como a tradição foi mantida na realização de uma partida do Calcio Fiorentino (Allsport)

Pelo menos é isso que defende a Lega Nord, partido político de extrema direita que levou o projeto adiante, através dos políticos Umberto Bossi e Roberto Maroni: em 1996, o grupo chegou a formar a República Independente da Padânia. Defendendo uma maior autonomia político-administrativa para o norte italiano, a dupla chegou a ter problemas com o Judiciário por ter causado uma “depressão do sentimento nacional” entre os cidadãos. Afinal, o território do norte do país respondia, à época, por cerca de 70% do produto interno bruto do Belpaese. Hoje, todas as regiões que o compõem ainda têm PIB e IDH superiores à média italiana.

A campanha pela Padânia perdeu força na última década, especialmente porque não existe realmente uma união entre as regiões. Historicamente, muitas delas guardam antigas rivalidades desde a época em que ainda eram reinos independentes entre si. Ademais, cada região tem seus próprios preconceitos com os vizinhos. Apesar disso, a ascensão política de Matteo Salvini e a chegada da Lega Nord ao poder reacendeu um sentimento separatista de alguns movimentos menores locais, principalmente lombardos, friulanos e vênetos. Dentro do próprio Vêneto, há um grupo que defende que Veneza volte a ser uma cidade-estado, tal qual na Idade Média e no Renascimento.

Hoje, o senador milanês faz parte da situação, e em 2018 ganhou ainda mais voz para os seus discursos xenófobos e nacionalistas. Salvini é vice-presidente do Conselho de Ministros e secretário da Lega Nord. Inclusive, é ele o principal cabeça de projetos anti-imigração e acolhimento de refugiados, já que também é o titular da pasta do Ministério do Interior, que cuida exatamente desses assuntos no país.

Mas… e o que o futebol tem a ver com isso?

Alessandro Dal Canto, capitão da Padânia, entre os políticos Umberto e Renzo Bossi, da Lega Nord (Padova Sport)

A Lega Nord e seu dispendioso “brinquedinho”: a seleção da Padânia

Como falamos alguns parágrafos acima, separatistas apelam para elementos culturais para tentarem provar seus pontos e obter apoio popular. Como o futebol se tornou a mais estimada forma de entretenimento das massas, sua utilização política e publicitária por populistas e autoritários de diversas matizes ideológicas é um recurso bastante notório – clichê, até.

Mussolini já tinha ensinado essa lição no fim dos anos 1920. Ao interferir no esporte com a Carta de Viareggio e obrigar jogadores a se profissionalizarem, clubes a se fundirem e a federação a organizar um campeonato de caráter efetivamente nacional, o Duce tencionava expandir a doutrina fascista pelos quatro cantos do país. Na prática, o que aconteceu foi a substituição da Divisione Nazionale pela Serie A da forma tal qual a conhecemos: a primeira divisão deixou de ser repartida em grupos e fase final e passou a ser disputada em pontos corridos.

A Lega Nord tentou fazer um uso político da seleção da Padânia. Como joguete nas mãos dos Bossi, a equipe ajudaria o partido a defender a sua causa, se obtivesse sucesso em competições extraoficiais e popularidade regional. A Associação de Futebol da Padânia foi criada nos anos 1990, sem relação com a liga, e o time estreou em 1998, sete anos depois de Bossi conseguir unificar vários pequenos partidos autonomistas e regionalistas do norte do país em torno de uma única associação guarda-chuva.

Até 2000, os rossocrociati fizeram 10 partidas – todas dentro da Itália – e interromperam suas atividades. Principal líder político do país naquele momento, Silvio Berlusconi e alguns importantes aliados não viam com bons olhos a existência de uma seleção que, mesmo indiretamente, representava o ideário separatista da Padânia em suas excursões pela Velha Bota. “Recebemos uma ligação de Roma e fomos obrigados a fechar a associação”, contou o técnico Leopoldo Siegel ao jornal Il Fatto Quotidiano, em 2012.

O tempo mostrou que Berlusconi tinha razão, ao menos em parte. Por um lado, a associação futebolística padana não surgiu com viés xenófobo e político-separatista: oficialmente, queria promover o futebol de forma independente na região do Vale do Pó. A partir de 2007, porém, acabou cooptada e se tornou um “puxadinho” da Lega Nord, na figura de Renzo Bossi, mais conhecido como Il Trota – literalmente, o “truta”.

Renzo ganhou esse apelido de seu pai durante uma entrevista. Perguntado se ele seria o seu delfim (o herdeiro), Umberto esquivou-se com um trocadilho: “esse golfinho está mais para truta”. Delfim (ou delfino, em italiano) é um antigo título nobiliárquico francês, concedido aos herdeiros aparentes à coroa, mas também significa “golfinho”. Toda truta criada em cativeiro, porém, passa por rígido regime de engorda. Com Renzo Bossi não foi diferente e a sua dieta começou na seleção da Padânia.

Entre os 19 e os 24 anos, Bossi Jr. foi team manager da Padânia; o técnico Siegel é o senhor a seu lado (Sky)

Em 2007, a seleção foi reativada com participação direta da Lega Nord e dos Bossi. Um ano antes havia acontecido, com bastante cobertura midiática, a primeira edição da Copa do Mundo VIVA, organizada pela NF-Board (Nova Federação de Futebol), com o intuito de reunir seleções não afiliadas à Fifa – incluindo aí, nações não reconhecidas por organismos internacionais, como a Padânia. A partir de então, o partido e a dinastia política começaram a colaborar financeiramente com a associação de futebol local. O patrocínio fazia parte de um pacote de iniciativas para valorizar a cultura padana, que incluía ainda competições de rally, ciclismo e concursos de miss.

Aos 19 anos, Renzo virou dirigente da equipe padana e assumiu o cargo de team manager. Segundo o gabaritado site Il Team Manager, que oferece cursos técnicos na área, o profissional deve ser “dotado de equilíbrio, empatia, habilidades organizacionais e em resolução de problemas, capaz de lidar e gerenciar situações particularmente críticas”. O texto explicativo fornecido pela instituição fundada por Roberto Ripa, ex-defensor e ex-club manager da Fiorentina, também informa que o ocupante da função deve “fazer a mediação entre a equipe e a direção com a máxima disponibilidade em ambas as frentes, estando ciente das políticas, filosofia e estilo corporativo da agremiação”.

Até aí tudo bem, a não ser por um fato: Bossi não tinha graduação técnica ou universitária. Quando foi elevado ao cargo da seleção padana, havia sido reprovado duas vezes no esame di maturità, prova correspondente ao nosso vestibular, que permite a um aluno poder inscrever-se em uma universidade do país – ainda levou bomba novamente, em 2008. Segundo o pai, Trota era perseguido pela comissão avaliadora por causa de suas ideias políticas. Algo no mínimo curioso, já que Umberto ocupava pela segunda vez um ministério no governo de Berlusconi.

Embora a família Bossi ocupasse o noticiário com as polêmicas, a Padânia viveu momento triunfante entre 2008 e 2010: foi tricampeã consecutiva da Copa do Mundo VIVA, com direito a 13 vitórias nos 13 jogos disputados e a um título conquistado em casa, em 2009. O aporte financeiro elevado da ascendente Lega Nord fez com que jogadores profissionais com passagens pela Serie A chegassem a defender os rossocrociati – geralmente representados por diletantes e atletas de divisões inferiores. Os mais conhecidos são o atacante Maurizio Ganz (ex-Inter e Milan) e o capitão Alessandro Dal Canto (lateral-esquerdo formado pela Juventus, ex-Venezia), mas também atuaram pela Padânia Gianpiero Piovani (ex-Piacenza), Giuliano Gentilini (ex-Vicenza), Massimiliano Scaglia (ex-Fiorentina) e os irmãos Michele e Federico Cossato (ex-Chievo).

Não foi exatamente identificação com a Padânia que fez com que esses atletas vestissem a camisa rossocrociata (titular) ou biancoverde (reserva). Uma apuração do diário Il Fatto Quotidiano mostrou que a campanha na Copa VIVA de 2008, na Lapônia, chegou a custar 100 mil euros, tudo por conta da Lega Nord – até mesmo as despesas dos torcedores foram financiadas pelo partido. No período da competição, no norte da Suécia, enquanto os tifosi ficaram em motorhomes alugados, a família Bossi se hospedou no luxuoso castelo de Fjällnäs. Os jogadores e o estafe, claro, não se perguntavam de onde vinha o dinheiro – a cavalo dado não se olha os dentes. Mais investimentos foram realizados em 2009, quando os padanos foram anfitriões e precisaram alugar os estádios municipais de Varese, Novara, Brescia e Verona.

No mesmo ano do bi padano na Copa VIVA, o Trota ganhou mais atribuições dentro da Lega Nord, devido a uma doença do pai. A partir de então, começou a aparecer mais na mídia, com declarações homofóbicas, likes em páginas xenófobas e elogiosas à tortura de imigrantes ilegais e frequentemente utilizando uma camisa de gosto duvidoso. A peça com as cores da bandeira da Padânia (verde e branca) tem uma grande estampa de um dedo médio e a frase “escravos de Roma, nunca”. Num congresso partidário, o seu pai fizera o gesto obsceno durante trecho do hino italiano que alude à fidelidade do povo à soberania nacional, representada pela capital.

Padanos comemoram o título de 2009, conquistado em casa (Sky)

Em março de 2010, Renzo foi eleito para o Conselho Regional da Lombardia, a assembleia legislativa local, com apenas 21 anos – assumiu, portanto, cargo equivalente ao de deputado estadual no Brasil. A sua eleição contrariou um artigo do regimento interno do partido, que prevê que apenas filiados há mais de três anos podem se candidatar. Bossi Jr. não cumpria o pré-requisito leghista, mas foi agraciado com uma das vagas na coligação – gerando críticas por nepotismo, uma vez que é filho do presidente vitalício da Lega Nord.

Poucos dias depois de eleito, acenou com a possibilidade de convidar a seleção italiana para um amistoso com a Padânia, e se saiu com essa: “Não vejo jogos da Itália e nunca assisti às Copas do Mundo. Em 2006 (nota: quando os azzurri foram tetracampeões), fiquei em casa mesmo”. Digamos que lhe faltou cortesia. O fato é que, em junho, poucos dias depois de os rossocrociati faturarem o tri invicto da Copa VIVA, a Nazionale de Marcello Lippi deu vexame na África do Sul e acabou com a lanterna de um grupo com Paraguai, Eslováquia e Nova Zelândia. Não dá para dizer que a Itália riu por último e melhor (não é, senhor Gian Piero Ventura?), mas aquele seria o canto do cisne da seleção da Padânia como satélite leghista.

Em 2011 não houve Copa VIVA porque já estava acertado que o torneio passaria a ser bienal a partir de 2010 – aconteceria de forma alternada aos Jogos Insulares. A Padânia, então, não entrou em campo nem mesmo para amistosos preparatórios ou partidas de exibição. Ao mesmo tempo, a casa começava a cair para Il Trota. Primeiro, o político foi envolvido numa investigação que apurava a elaboração de dossiês sobre seus concorrentes à assembleia lombarda: Renzo pretendia chantageá-los para que não se opusessem à sua candidatura.

Em abril do ano seguinte, uma devassa no partido atingiu a família Bossi como um verdadeiro fatality. Pai e filho foram indiciados por corrupção depois de uma operação de busca e apreensão da Guarda de Finanças à tesouraria da Lega Nord, comandada por Francesco Belsito. Comecemos pelos delitos de menor dolo descobertos pelo escândalo.

Num dos processos instaurados, Il Trota foi acusado de utilizar-se do prestígio de seu cargo parlamentar para conseguir um favor do Ministro do Interior da Albânia. Segundo a Justiça Italiana, Bossi Jr. obteve um diploma falso em administração de empresas numa faculdade particular de Tirana, capital do país vizinho. A fraude foi realizada de forma tão amadora que, além de não haver qualquer registro de que o político tenha frequentado as aulas, ministradas em língua albanesa, a sua matrícula foi efetuada numa data anterior à sua aptidão ao esame di maturità.

Umberto e Renzo foram acusados ainda de apropriação indébita de verbas do fundo partidário da Lega Nord, obtidas em parte por financiamento público. O uso desse dinheiro em benefício próprio rendeu à dupla uma condenação em primeira instância em 2017, mas também gerou efeitos imediatos. O pai se demitiu do cargo de secretário-geral do partido e o filho, além de renunciar ao cargo no conselho lombardo, foi expulso da sigla por unanimidade.

Enquanto o Trota nunca mais retornou à política e passou a se dedicar a atividades agrícolas, o pai fez valer sua antiga alcunha, obtida quando ocupou seu primeiro cargo público. O Senatùr voltou ao senado do Belpaese nas últimas eleições legislativas, em 2018. Apesar disso, Bossi perdeu grande parte do prestígio dentro do partido: o escândalo de 2012 fez com que Matteo Salvini, partícipe de outra ala da agremiação, ascendesse ao principal cargo diretivo da Lega e ganhasse notoriedade política. No entanto, o atual Ministro do Interior da Itália é assunto para logo mais.

Enock Barwuah, irmão mais novo de Mario Balotelli, joga pela Padânia (ConIFA)

A “nova Padânia” flerta com o multiculturalismo

A tempestade política também afetou a seleção da Padânia. A investigação federal não chegou a apurar se parte do dinheiro roubado pelos Bossi foi desviado para o financiamento das atividades dos rossocrociati, mas é difícil imaginar que a família tenha tirado um centavo sequer do próprio caixa para executar qualquer projeto esportivo. Um indicativo disso é que, após o escândalo, nunca mais houve repasses da Lega ou da família para a associação padana. Sem condições financeiras, a seleção abdicou da participação na Copa VIVA de 2012 e a entidade que conduzia a equipe fechou as portas em seguida.

Depois de pouco mais de um ano e meio de inatividade, a seleção ressurgiu. Em novembro de 2013, foi fundada a Padania Football Association, com nova estrutura na diretoria e sem conexões formais com a gestão anterior – embora boa parte dos financiadores sejam simpatizantes da Lega. A Padânia, atualmente, é um dos 52 membros da ConIFA (Confederação de Futebol de Associações Independentes), e recebe muito menos aporte de capital do que antes. Os gastos para a viagem ao primeiro Europeu “dos alternativos”, por exemplo, rondaram a marca de apenas 7 mil euros.

Ainda que com orçamento redimensionado, a seleção da Padânia disputou todas as competições desde a criação da organização e atualmente é a quarta colocada do seu ranking. Bicampeã europeia da ConIFA – que realizou as copas continentais na Hungria e no Chipre do Norte, em 2015 e 2017 – a equipe rossocrociata nunca mais levantou um título global. Nos Mundiais da confederação, caiu nas quartas de final em 2014 e foi quarta colocada em 2016. Mais recentemente, em Londres, subiu ao pódio graças ao terceiro posto da edição de 2018.

É inegável que diretores, jogadores e todo o estafe técnico da nova seleção da Padânia querem se dissociar da Lega. O critério de convocação dos jogadores, por exemplo, deixou de levar em conta qualquer arroubo separatista e abriu espaço até mesmo para imigrantes que sintam identificação com qualquer área situada no fictício território padano. Hoje, o selecionado rossocrociato conta com alguns profissionais de origem estrangeira, como o atacante Enock Barwuah (Pavia, Serie D) e o lateral-direito Marius Stankevicius (Crema, idem), que são bastante ligados a Brescia. O primeiro deles é irmão mais novo de Mario Balotelli e, filho de imigrantes ganeses, nasceu e cresceu na cidade lombarda. Já o veterano defensor lituano está instalado na Itália há mais de 15 anos e defendeu os brescianos por seis temporadas. Assim como todos os outros atletas do grupo, jogam gratuitamente.

Stankevicius é o nome mais conhecido da seleção da Padânia, atualmente (imago)

Tal abertura, porém, ainda encontra alguns obstáculos, referenciados pela mentalidade de alguns diretores e membros do estafe técnico. Este fator resulta em alguns atos e declarações (no mínimo) atrapalhados, como, por exemplo, a convocação do goleiro Riccardo Grittini para o Europeu ConIFA de 2015. Afiliado à Lega, ele era assessor esportivo da comuna de Corbetta, mas se demitiu depois que foi investigado pela participação em coros racistas contra Kevin-Prince Boateng, num amistoso entre Milan e Pro Patria, dois anos antes – o ganês se recusou a continuar jogando e os rossoneri tiraram o time de campo. Num extremo do campo, Grittini; no outro, Barwuah.

O mesmo Europeu ConIFA também colocou a Padânia frente a frente com a seleção do Povo Rom – popularmente conhecido como cigano. Os roma são estigmatizados em todo o mundo e na Itália sofrem grande preconceito, concentrado sobretudo no norte, onde há comunidades maiores, como asdo grupo sinti: frequentemente, como imigrantes africanos, eles são tidos como bodes expiatórios da extrema direita para os problemas do país. A partida acabou por transcorrer normalmente, sem quaisquer rusgas, mas antes dela o então team manager Fabio Cerini (hoje presidente da associação) deu uma entrevista, na qual acabou relacionando os gitanos ao aumento dos furtos e da violência na Planície Padana.

Se o cartola reviu os seus conceitos, não se sabe. Os comentários descabidos ficaram restritos ao passado e os atos democráticos, de integração entre os povos, ganharam mais espaço – o que, felizmente, tem mais valor. Atualmente, os padanos contam com um rom em seu elenco: o atacante Ersid Pllumbaj (Virtus Bergamo), de origem albanesa. O plantel também registrou aumento no número de italianos com ascendência de diversos países africanos.

E os jogadores? O que pensam? Em 2016, a edição italiana da VICE entrevistou três jogadores da Padânia; os veteranos Stefano Tignonsini (zagueiro e capitão), Alessandro Dall’Omo (goleiro) e Andrea Rota (meia, atleta com mais aparições pelos rossocrociati). Eles foram unânimes em dois pontos. Em primeiro lugar, afirmaram que a Lega buscava, de fato, fazer com que a seleção fosse um braço esportivo de sua ideologia, e que o esforço atual para dissociar o time padano do partido é conjunto. Por outro lado, as questões separatistas e políticas que envolviam a formação do selecionado não importavam aos jogadores, que só pensavam em se divertir, e nem mesmo aos adversários, que viam o grupo apenas como representante de uma parte da Itália. Em resumo, a problematização dos significados simbólicos que gravitam em torno da Padânia se restringia aos intelectuais da Velha Bota.

Como parte de seu projeto de poder, o milanista Salvini se afastou do ideário padano: hoje, a seleção não tem relações com seu partido (LaPresse)

“É normal associarem a Padânia à Lega, já que a seleção já foi, efetivamente relacionada com o partido. Isso não nos importa, principalmente porque é algo que acontece sobretudo na Itália: no exterior, embora alguns estejam conscientes da situação padana, nos veem apenas como representantes de um território”, disse Tignonsini, que viveu as duas fases do selecionado rossocrociato. Concordando em partes, Rota, afirmou que a postura conceitual vigente é bem distinta da tocada pela diretoria anterior.

“Nosso discurso é puramente geográfico: nós representamos uma parte da Itália, nos sentimos italianos e nos orgulhamos disso”, contrapõe o meia, deixando implícita a lembrança de que os financiadores do passado eram separatistas. Dall’Omo segue a mesma linha do colega, que propõe unidade. “No Europeu [contra os roma], pude rever dois colegas que tive na Serie D e nem sabia que eram ciganos. Descobri naquele momento. Esses torneios unem os povos, nos fazem conhecer as culturas dos outros”, finaliza.

Se hoje o espírito padano é cada vez mais gregário, um dos maiores defensores da autonomia da Padânia mantém o pensamento divisionista. Antes de ser aliado de Jair Bolsonaro e vice-primeiro-ministro italiano, Matteo Salvini não era lá muito afeito à ideia de que a Itália, enquanto nação, tenha soberania sobre o Vale do Pó. Fotos do político com a frase “Padânia não é Itália” (“Padania is not Italy”, no original) são facilmente encontradas: estão à distância de “um google”.

Em 2000, quando atuava como radialista, o milanês fez uma campanha em seu programa, chamado Mai Dire Italia (“Diga não à Itália”, em tradução livre), para secar a Nazionale na Euro. Sim, o premiê de facto do Belpaese – afinal, todas as pedras do caminho sabem que Giuseppe Conte é um fantoche, uma triste figura de papel machê – ficou contente com o título da França, graças ao extinto gol de ouro.

Durante anos, essa foi a posição de Salvini. Em todo o período em que tinha importância apenas na Lombardia e em outras regiões do norte, seus atos públicos eram marcados pelo anti-italianismo, e exaltavam o norte – representado pela Padânia –, em contraposição às ofensas verbais a habitantes de outras regiões. Sulistas? Preguiçosos. Napolitanos? Fedidos. Romanos? Parasitas. A coleção de insultos e comentários preconceituosos, documentados em vídeos, textos e discursos, é extensa.

O populismo vai ao estádio: lado a lado, Berlusconi e Salvini acompanham o Milan em San Siro (Ansa)

Em sua militância como político regional, nunca escondeu pensar que os padanos são moralmente superiores ao restante do país e, por isso, também são responsáveis pela maior parte de seu Produto Interno Bruto – o qual, segundo ele, devem usufruir, majoritariamente. Para respaldar tudo isso, Salvini também era um dos incentivadores de todas as iniciativas culturais que exaltavam a Padânia, que citamos muitos parágrafos atrás. A seleção de futebol, logicamente, era uma delas.

De uns tempos para cá, no entanto, a sua casca apresenta um aspecto diferente. Em 2015, quando já era secretário-geral da Lega e buscava se afastar dos Bossi, acenando ao centro do espectro político e do debate nacional, Salvini disse que patrocinar os rossocrociati, àquela altura, era “coisa de imbecil”.  O contato com tudo que pudesse remeter à pecha folclórica do movimento separatista passou a ser evitado. As odes à seleção padana foram substituídas por “Vou a San Siro ver o ‘meu Milan’ jogar”. O clube está em crise? Melhor ainda. Os jornais vão adorar publicar um comentário bombástico de um político sobre a incapacidade do técnico ou a qualidade dos jogadores. Quanto mais “povão”, melhor.

O slogan “o norte em primeiro lugar” foi repaginado e virou “os italianos em primeiro lugar”, as falas sobre a Padânia começaram a rarear e até mesmo o uso do termo caiu em desuso no seu vocabulário. O grande problema a ser combatido não era mais o fato de a Planície Padana pertencer a um território italiano cheio de parasitas, mas livrar a Itália dos imigrantes e refugiados, que “roubam emprego”, “aumentam os índices de violência”, “mancham a cultura italiana e querem impor os seus hábitos estranhos”. Volta e meia, obviamente, ele ainda acenava (e continua acenando) a seu público fiel, concentrado sobretudo no Vêneto e na Lombardia. Um clássico populista.

Coloquemos pingos nos is. Salvini fez uso de uma ficção sobrevalorizada (a Padânia) até espremer e sorver a última gota de sua essência utilitária. Forjou sua identidade de representante de extrema direita com o discurso separatista – necessariamente xenófobo, neste caso. Para se tornar viável numa eleição majoritária nacional, porém, isso não bastava: caminhos que busquem a divisão de um território não possuem a robustez devida para tal.

Por isso, a Lega (representada por seu líder político) abandonou todo o ideário de superioridade padana e mudou o rumo de sua agenda, ao menos no plano superficial – como um animal que muda de cor para surpreender a sua presa ou o seu predador com o mais mortal dos venenos. Lega Nord? Não: basta Lega. O partido já se considerava “tão italiano DOC” que queria disputar o poder central. A aversão ao diferente, transformado em inimigo comum, foi um dos únicos pontos mantidos na cartilha ontológica do grupo – e fez até com que antigos rivais, como entidades independentistas da Sardenha, se tornassem aliados.

Como demonstramos, o uso político do esporte e de seu caráter elementar de conexão com as massas, também permaneceu. Nesse campo, os populistas nunca afrouxam a marcação. Há uma diferença, porém. Enquanto Silvio Berlusconi se provou um campeão, está para nascer um pé-frio maior do que Salvini. E líder populista pecho frío, amigo, não costuma permanecer muito tempo no topo da cadeia alimentar.

A belíssima bandeira da Sardenha tremula (Albi)

A Sardenha também terá sua equipe: conheça o panorama futebolístico da região

As muitas polêmicas ligadas à Padânia dificilmente devem se repetir com a nova seleção regional da Itália. Mais ao ocidente, a Sardenha também terá a sua equipe, que deve funcionar aos moldes daquelas que representam Catalunha e País Basco, que anualmente disputam amistosos representando suas comunidades, inclusive com jogadores profissionais contra clubes como Barcelona, Espanyol, Athletic Bilbao e Real Sociedad. Através da FINS (Federação de Esportes Nacionais da Sardenha), organização criada em 2012 para promover o esporte sardo, a seleção de futebol da região foi reconhecida em outubro de 2018 pela ConIFA.

Segunda maior ilha do mar Mediterrâneo, atrás somente da Sicília, a Sardenha é uma das cinco regiões autônomas italianas e possui uma identidade cultural e linguística única, bastante diferente do restante do país. Até hoje, os nativos respeitam e conservam muito tal origem. Por exemplo, os sardos têm sua própria língua, reconhecida oficialmente pelo governo italiano – o que ajuda a contar a história da ilha e explicar sua autonomia.

Usada como prisão para criminosos durante o Império Romano e o Bizantino, a Sardenha recebeu povos com línguas de diferentes matrizes. O idioma oficial da ilha variou entre o latim e o grego, tendo as mesmas origens dos falados no continente. Mas a exploração da região ao longo do tempo modificou bastante a própria língua sarda, que ganhou elementos do árabe durante o domínio otomano. Depois da conquista do território pela Coroa de Aragão, a Sardenha recebeu uma influência ainda mais forte do castelhano e do catalão – como também aconteceu em Nápoles e na Sicília, por exemplo.

No caso dos sardos, o catalão esteve mais presente, até pela proximidade territorial – o que impactou na variante falada no noroeste da ilha. A interferência dos catalães foi significativa na evolução da linguagem sarda e muitas palavras se misturaram durante esse período. Um grande exemplo de intercâmbio é a cidade de Alghero, uma das mais importantes da região: a comuna tem o catalão como uma das línguas oficiais e faz parte da comunidade catalã, sendo apelidada de Barceloneta.

A Sardenha foi anexada pela Casa de Savoia no século XVIII e voltou a pertencer a um dos estados que hoje formam a Itália. Inclusive, a ilha foi um dos primeiros territórios a fazer parte do Reino da Itália no século seguinte. A partir de então, a língua italiana invadiu a ilha e dominou o sardo, que hoje é classificado pela Unesco como uma língua definitivamente ameaçada.

No final dos anos 1990, duas leis regionais buscaram recuperar o prestígio e a importância histórica do idioma local. O sardo recebeu o mesmo reconhecimento do italiano e também passou a ser reconhecido como uma minoria linguística histórica, com o objetivo de “promover e valorizar a cultura e a língua da Sardenha”. Só assim o governo da região finalmente passou a dar mais importância para sua cultura, movimento que tem sido acompanhado mais recentemente no futebol.

Atualmente, Sirigu é o jogador sardo mais conhecido (Getty)

Sede da maior companhia petrolífera italiana, a Saras (Sociedade Anônima de Refinarias Sardas), a Sardenha também virou um paraíso turístico por causa das suas belezas naturais. Nos últimos anos, a propaganda virou uma importante fonte de renda para a região, que promove bastante o turismo na ilha. Alguns dos exemplos vêm do esporte, como o Rali da Sardenha, uma das etapas do WRC (Campeonato Mundial de Rali),  o Centro Velico Caprera, uma das mais tradicionais escolas de vela no mundo; e o Cagliari, maior clube de futebol da ilha.

Sediado na capital homônima, o Cagliari é também o único clube sardo a ter disputado a primeira divisão do futebol italiano, com 39 participações. E, claro, é o único a ter ganhado o scudetto – aliás, é o único das regiões insulares a ter obtido o feito. A conquista ocorreu em 1970, com time estrelado por Gigi Riva, maior artilheiro da seleção italiana. Embora seja lombardo, adotou a Sardenha como sua casa desde que foi contratado pelos rossoblù em 1963 e é um cidadão honorário de Cagliari.

O título da Serie A de quase 50 anos atrás também foi o primeiro de um clube do sul italiano, ainda que a Sardenha faça parte dessa classificação apenas por questões econômicas e sociais, já que, territorialmente, não fica no sul da Itália. A casa do clube também foi sede da Copa do Mundo de 1990. É o estádio Sant’Elia, que atualmente passa por um processo de reconstrução depois de anos de descaso do poder público.

Por mais de uma década, o Sant’Elia teve uma bizarra configuração. O clube foi obrigado a montar arquibancadas móveis na pista de atletismo, por causa da estrutura precária das arquibancadas de concreto – portanto, ganhou a alcunha de “um estádio dentro de um estádio”. Sua reconstrução também é uma das iniciativas para promover a região. Atualmente, o Cagliari usa a Sardegna Arena – o nome não é em vão -, um palco esportivo provisório, montado no estacionamento de sua velha casa.

Depois do Cagliari, os outros clubes mais conhecidos da região são os rivais Olbia e Torres, ambos da província de Sassari, no norte da ilha. O primeiro passou recentemente por um processo de rebranding, assim como o Cagliari, que mudou seu escudo em 2015. Em ambos os casos, foi ampliado o espaço para os símbolos da Sardenha: a cruz de São Jorge e os quatro mouros, que formam a bandeira da região e hoje dominam as marcas dos clubes.

Amistosos entre Cagliari e Olbia têm sido bastante comuns (Twitter/Cagliari Calcio)

Nada disso é aleatório e exemplifica as iniciativas para promover a cultura sarda nos últimos anos. Inclusive, o uso do termo casteddu, que significa Cagliari na língua local, também voltou a ganhar força e é estampado em vários produtos do clube da capital. Já o Olbia é praticamente um clube satélite do Cagliari. Além de ter abrigado os veteranos Francesco Pisano e Andrea Cossu e o flop Daniele Ragatzu, hoje abre espaço no futebol profissional para jogadores do setor juvenil rossoblù e para garotos da região.

Por sua vez, o Torres funciona de forma um pouco diferente. O clube foi a casa de Gianfranco Zola antes do sucesso e é o mais antigo da Sardenha. A equipe torresina também usa o rossoblù, mas não tem uma ligação tão forte com a cultura sarda: sempre foi um clube incipiente das divisões inferiores da Itália, que nunca superou a terceira divisão. Para piorar, perdeu ainda mais força por causa do caos administrativo, e passou por três refundações em uma década.

Na Sardenha houve espaço para o futebol feminino, através da Sassari, homônimo do masculino Torres (embora não tenham ligação). O clube está desativado profissionalmente desde 2015, quando teve sua licença revogada por causa de graves problemas financeiros. Apesar disso, ainda hoje é a agremiação feminina com mais títulos no futebol italiano: foram sete scudetti, oito conquistas da copa e outras sete da Supercopa, se tornando uma presença constante na Liga dos Campeões feminina nos anos 2000.

No último amistoso da Itália, um recorde interessante fomentou ainda mais a “causa sarda”, que já goza de uma certa autonomia do governo italiano e atualmente não tem pretensões separatistas relevantes. pela primeira vez, o time principal contou com dois nativos da Sardenha. No caso, o goleiro Salvatore Sirigu, nascido em Nuoro, importante centro cultural na região montanhosa da ilha, e o meia Nicolò Barella, o menino dos olhos de Cagliari.

A dupla faz parte de um time seleto: apenas sete sardos nativos representaram a seleção principal. Tudo começou com Antonello Cuccureddu, importante jogador da Juventus nos anos 1970 e titular na Copa do Mundo de 1978. Ele foi seguido pelo meia Gianfranco Matteoli, titular na Inter dos recordes de 1989, pelo lendário Gianfranco Zola, o maior e melhor jogador sardo da história, e pelos também cagliaritanos Andrea Cossu e Marco Sau. Ex-Juventus e Milan, o atacante Pietro Paolo Virdis jogou somente no time olímpico italiano.

Badalado e eficiente, Barella é a nova joia da ilha (AP)

Na mesma semana do feito registrado no time de Roberto Mancini, outro assunto tomou conta do noticiário futebolístico italiano: a criação da seleção sarda. Mais nova integrante da ConIFA, a Sardenha será a segunda representante do território italiano, depois da Padânia.

“É uma grande honra e responsabilidade para nós representar a Sardenha internacionalmente. Nós acreditamos que o esporte e a seleção nacional ajudarão a fazer a Sardenha e sua cultura serem conhecidas pelo resto do mundo”, destacou Gabriele Cossu, presidente da FINS, federação responsável por gerir o esporte na ilha e, agora, também pela seleção sarda de futebol.

Para o diretor geral da federação, Vittorio Sanna, “o projeto está crescendo e a bola poderá unir os sardos, sensibilizar sobre as belezas, tradições, cultura e patrimônio da ilha e mostrar esses tesouros para os outros. O futebol sardo não é inferior ao das outras regiões”, finalizou, ambicioso. “Nosso principal objetivo é envolver o maior número possível de sardos para estarmos prontos para a Copa Europeia em junho de 2019”, concluiu Cossu.

A seleção sarda ainda está em construção e no próximo mês haverá mais detalhes sobre seu desenvolvimento. No momento referido, será divulgada a primeira convocação para os amistosos de preparação e classificação para a primeira competição a ser disputada pela equipe, em Artsakh, nação que representa a minoria armênia no Azerbaijão. O comissário técnico já foi definido: Bernardo Mereu, que trabalha no setor juvenil do Cagliari e treinou o Olbia na última temporada.

A missão de Mereu será convencer os jogadores profissionais a participarem do projeto, assim como seus clubes a liberá-los para os amistosos e o Europeu da ConIFA, que será disputado durante a fase final da Liga das Nações. Teoricamente, todos os jogadores sardos ou de origem sarda são convocáveis, e alguns já deram sinal positivo, segundo a Sky. A lista incluiria jogadores das duas primeiras divisões italianas.

A reportagem da Sky também informa que o meia-atacante Cossu, que se aposentou no último verão, poderá ser um dos líderes do grupo. O time ainda contará com a disponibilidade do capitão rossoblù Daniele Dessena, nascido em Parma e de origem sarda, e dos seus ex-companheiros de equipe Marco Sau e Simone Aresti. A joia casteddu Barella é um sonho para os dirigentes, embora um chamado pareça pouco provável neste momento, já que o meia central tem participado dos compromissos com a Itália.O mesmo discurso vale para Salvatore Sirigu, que também é presença regular nas listas de Mancini.

Os já citados Pisano e Ragatzu, do Olbia; Mauro Vigorito, goleiro do Lecce; Andrea Cocco, atacante do Pescara; Matteo Mancosu, atacante do Montreal Impact, são outros prováveis convocados. Mereu ainda pode contar com Nicola Murru, da Sampdoria, Dario Del Fabro, da Cremonese, e Alessandro Deiola, que passou pelo Parma em 2018 – todos foram formados na base do Cagliari.

Por falar nisso, o setor juvenil rossoblù provavelmente será uma importante fonte para a seleção, mesmo porque o comissário técnico da Sardenha faz parte das categorias de base do clube e conhece bem o futebol na ilha. Outro jovem sardo já chama atenção para seguir o legado de Barella: o também meio-campista Roberto Biancu, atualmente emprestado ao Olbia. O rapazote já tem jogado com regularidade na Serie C, assim como pela Itália sub-18.

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