No início da década 2000, um jovem atacante italiano despertou o interesse do Milan após boas atuações na Serie B. Visto como uma grande promessa, Gianni Comandini acabou vendido do Vicenza ao clube milanês por um valor considerável à época e vestiu a camisa 9. O jogador, que também se destacava pela seleção italiana sub-21, empolgou a torcida rossonera ao marcar dois gols em um dérbi histórico contra a Inter. No entanto, apesar das credenciais, ficou apenas no quase e pendurou as chuteiras bem cedo.
Natural de Cesena, Comandini iniciou sua caminhada no futebol defendendo as cores do time homônimo de sua cidade. Ingressou às categorias de base da equipe bianconera em 1993, aos 16 anos. Chegou ao elenco principal dois anos depois, fazendo sua estreia contra o Pistoiese, em casa, valendo pela segunda divisão. Ao fim da temporada, o Cesena, à época treinado por Marco Tardelli, o liberou para jogar a Serie C1 pelo Montevarchi. Gianni disputou 33 partidas com o clube de Arezzo, foi às redes seis vezes e, ao fim da época, retornou à Emília-Romanha.
De volta ao Cesena, o atacante ganhou espaço e provou o seu valor, sendo um dos destaques do grupo que fez o time ascender à Serie B. Na temporada 1998-99, foi o artilheiro e o jogador que mais entrou em campo pelos bianconeri, com 14 redes balançadas em 36 aparições.
O bom desempenho de Comandini o levou à seleção italiana sub-21 e a uma transferência. O bomber deixou o Cesena para o reforçar uma equipe também da Serie B, mas mais qualificada, o Vicenza. Ele retribuiu o investimento da diretoria com um grande rendimento. Artilheiro dos biancorossi no campeonato, com 20 gols, foi vital para o título da segundona e a subida da instituição à elite italiana.
Aos 23 anos, o atacante vivia uma ótima fase na carreira. Não à toa, foi convocado por Tardelli, técnico que lhe deu as primeiras oportunidades no profissional, para representar a Itália no Europeu Sub-21, realizado na Eslováquia durante maio e junho de 2000. Ao lado de Christian Abbiati, Morgan De Sanctis, Gennaro Gattuso, Simone Perrotta e Andrea Pirlo (artilheiro do torneio, com três gols), Comandini ajudou os azzurrini a levarem o troféu para o Belpaese. Os italianos bateram a República Checa, que tinha Marek Jankulovski como titular da meia esquerda, por 2 a 1, com uma doppietta de Pirlo, que à época ainda jogava como meia avançado.
Também em 2000, Gianni foi chamado para defender a seleção italiana sub-23 nos Jogos Olímpicos de Sydney, na Austrália. Disputou quatro jogos, incluindo a derrota para a Espanha, finalista, nas quartas de final. Em evidência no futebol nacional, o atacante chamou a atenção do Milan, que pagou 20 bilhões de velhas liras para tirá-lo do Vicenza. Com status de futura estrela, pegou a camisa 9 e estreou bem. Fez um dos gols do 3 a 1 contra o Dinamo Zagreb, no San Siro, pelo primeiro jogo da terceira fase dos playoffs da Liga dos Campeões.
Três partidas depois – duas vindo do banco –, o bomber sofreu com dores agudas e constantes na região lombar e, por isso, perdeu o primeiro semestre da temporada. Voltou aos gramados em janeiro de 2001, mas como o treinador Alberto Zaccheroni preferia Oliver Bierhoff para formar dupla de ataque com Andriy Shevchenko, o romanholo encontrou dificuldades para ser titular. Entretanto, as coisas mudaram quando Zaccheroni foi demitido e Cesare Maldini assumiu a equipe junto com Mauro Tassotti.
O dia 11 de maio de 2001 foi um dia especial para Comandini – e para todos os milanistas. Isso porque o camisa 9 pegou a vaga de Bierhoff, que ficou nas tribunas, e marcou os dois primeiros gols da histórica goleada por 6 a 0 sobre a Inter, no San Siro, pela 30ª rodada da Serie A. Até hoje, esta é a maior vitória rossonera no Derby della Madonnina, que é realizado desde 1909.
Ambos os tentos de Comandini nasceram de assistências do brasileiro Serginho. No primeiro, o atacante recebeu passe na grande área e bateu de canhota, no contrapé do goleiro Sébastien Frey; o segundo saiu de uma cabeçada fulminante, após o lateral ir à linha de fundo e cruzar na medida para o italiano. Gianni e Paolo Rossi são os únicos jogadores que conseguiram marcar dois gols em seu primeiro dérbi milanês.
Esses tentos tornaram Comandini reconhecido mundialmente naquele momento. Uma espécie de prêmio para um jovem atleta que tinha sofrido com lesões na temporada. Mas foi só. Se você digitar o nome “Gianni Comandini” no YouTube, verá que quase todos os vídeos encontrados são relacionados a essa atuação contra a Inter no San Siro. Não é para menos. Depois da doppietta, ele caiu cruelmente de desempenho, foi minado pelas contusões e – surpreenda-se – balançou as redes apenas 12 vezes até o fim de sua carreira.
Insatisfeito com sua posição de reserva no Milan, Comandini mudou de cidade na Lombardia ao fim da temporada 2000-01: trocou Milão por Bérgamo. “Da minha parte existe a vontade de permanecer aqui também na próxima temporada, mas não nessas condições, jogando apenas dez partidas em uma temporada. Assim não serei útil a ninguém”, havia avisado, ao Corriere della Sera, dois dias após o 6 a 0 sobre a Inter. Assim, a Atalanta o tornou o jogador mais caro de sua história, à época, ao desembolsar 30 bilhões de liras.
Na Dea, o romanholo conseguiu ser titular, como queria no Milan, mas não correspondeu às expectativas. Em sua primeira temporada pelos nerazzurri, guardou somente cinco bolas na rede em 33 jogos. Desempenho insatisfatório, principalmente pela bagatela que custara à Atalanta. Na época seguinte, voltou a enfrentar problemas de lesão, a ponto de perder praticamente o segundo semestre inteiro – marcou quatro gols em 11 partidas –, e viu sua equipe ser rebaixada para a Serie B.
Em 2003-04, Comandini jogou a primeira parte da temporada pela Atalanta e a segunda, pelo Genoa. Novamente atravessou mais uma campanha decepcionante, com recorrentes contusões, poucos minutos em campo e somente um gol anotado pelos rossoblù – contra a Triestina, fora de casa, pela segundona. O atacante, que já havia deixado o status de promessa para se tornar um “flop”, retornou a Bérgamo na época seguinte, contabilizou 80 minutos em ação e foi cedido à Ternana. Advinha? Também não emplacou.
Em 2006, o atleta se via enfadado com as lesões que o acompanharam nos últimos anos e, então, decidiu pendurar as chuteiras precocemente, aos 29 anos. Ao todo, contabilizou 55 jogos e nove gols na Serie A, e 94 partidas e 36 tentos na B. “Na verdade, nada aconteceu nos últimos anos da minha carreira que me fez desapaixonar do futebol, só que eu fiquei entediado com o ambiente e não tive vontade de continuar. A imprensa explorou um pouco a minha escolha, mas as coisas são assim”, desabafou, ao TuttoMercatoWeb.
Aposentado, Comandini abriu um restaurante em Cesena, sua terra natal, e também disputou algumas peladas pelo Forza Vigne, time amador fundado por seu pai, Paolo. Em 2010, o ex-jogador entrou em uma nova empreitada: comprou uma discoteca em Cesena e virou DJ. “Eu preferi mudar o mundo em relação aos meus outros colegas. Me afastar do futebol e fazer outras coisas. Me tornei DJ por paixão”, afirmou, segundo a Sky Sport.
Portanto, caso você visite a Emília-Romanha e passe pelo Teatro Verdi di Cesena, lembre-se de averiguar se quem está comandando as picapes é o DJ Comandini.
Gianni Comandini
Nascimento: 18 de maio de 1977, em Cesena, Itália
Posição: atacante
Clubes: Cesena (1994-96 e 1997-99), Montevarchi (1996-97), Vicenza (1999-2000), Milan (2000-01), Atalanta (2001-04 e 2004-05), Genoa (2004) e Ternana (2005)
Títulos: Serie C1 (1997-98), Serie B (1999-2000) e Europeu Sub-21 (2000)