Seria muito desejar uma noite europeia sem drama? Para os times italianos, sim, esse pedido seria quase impossível de ser atendido. Nesta terça, o melodrama na Champions League teve como protagonistas a Inter, que perdeu em casa por 2 a 1 para o Barcelona e foi eliminada, e o Napoli, que goleou o Genk e por 4 a 0 avançou às oitavas de final. Mesmo assim, a diretoria já havia decidido demitir o técnico Carlo Ancelotti, e o fez no final do dia.
Quando entrou em campo na noite de hoje no San Siro, a Inter sabia muito bem de sua missão: vencer o jogo e avançar para as oitavas de final da Liga dos Campeões. Antonio Conte sabia que a Beneamata não poderia ficar pensando no jogo do Dortmund e orientou à diretoria que impedisse o telão do estádio mostrasse o placar da outra partida do Grupo F.
Ainda sem poder contar com Barella, Sensi, Gagliardini e Sánchez, além de ter Candreva longe da condição ideal no banco de reservas, Conte novamente optou por um trio de meio-campo formado por Brozovic, Borja Valero e Vecino. O Barcelona já entrou na partida com sua vida resolvida, com a classificação e o primeiro lugar do grupo garantidos, e por isso Valverde poupou a grande maioria dos titulares – como Messi, que nem viajou para a Itália com a delegação. O técnico também mudou o sistema de jogo da equipe, espelhando o 3-5-2 de Conte.
Os primeiros minutos de partida foram favoráveis a Inter. Precisando do resultado positivo e enfrentando um grupo de jogadores pouco acostumados a atuarem juntos, o time italiano subiu suas linhas, pressionou alto e conseguiu recuperar muitas bolas em campo ofensivo. Sempre com Lukaku e Martínez como maiores referências, a equipe nerazzurra conseguiu finalizar no gol defendido pelo brasileiro Neto, primeiro com o belga, em finalização da entrada da área, e depois com Vecino, completando cruzamento de Biraghi. Contudo, mesmo com esse início forte, o meio-campo da Inter jamais conseguiu um encaixe ideal. Sem ter Barella para liderar a pressão, Conte inverteu a pirâmide de sua trinca de volantes, com Brozovic se desgarrando para pressionar alto e Valero atuando como regista.
Pouco a pouco o Barcelona foi ganhando fôlego dentro da partida, escapando melhor da pressão alta da Inter e somando passes pelo centro do campo. Griezmann apareceu bem, com apoios na zona central, e Vidal teve uma boa exibição como peça que ligava a equipe de um lado a outro do gramado. Aos 23 minutos, Todibo escapou da pressão pelo lado direito, progrediu em direção ao campo ofensivo e a marcação da Inter não encaixou mais. Com um toque rápido atrás do outro, o Barcelona chegou até o 1 a 0, com Pérez vencendo o duelo individual contra De Vrij e finalizando para o fundo da rede.
Depois do gol sofrido, a Inter perdeu totalmente o rumo, ficou bastante desconfortável no ajuste de suas linhas e perdida na altura das zonas de pressão. Assim, o Barcelona aproveitou para trocar passes e se defender através da posse de bola. O grande problema para a Inter com o meio-campo que jogou contra a Roma e Barcelona é que Vecino atravessa seu momento de maior falta de confiança e, com isso, a sua pressão alta acaba não tendo o mesmo efeito.
Ademais, Borja Valero não tem mais condições físicas de atuar em partidas desse nível de exigência. O camisa 20 da Inter fez uma grande carreira na Itália, com anos mágicos na Fiorentina, que comandou com inteligência, dinamismo ofensivo e capacidade de leitura de jogo. Acontece que hoje ele é apenas um espectro daquele jogador: seja pela falta de confiança, potência física ou desgaste mental, acaba pecando em todos os quesitos possíveis. Só busca passes curtos e simples, não consegue se movimentar com facilidade, acaba sendo presa fácil para os encaixes rivais e atrapalha completamente a continuidade ofensiva da equipe.
Mesmo sem voltar a jogar bem no restante do primeiro tempo, novamente a Inter pode contar com Lautaro e Lukaku para criar soluções ofensivas através da ligação direta. O argentino esteve inspirado, venceu a maioria de seus duelos individuais, utilizando seu corpo como ferramenta de proteção, girando em cima dos defensores rivais e criando muitas oportunidades de finalização para a equipe. Lukaku esteve menos acertado tecnicamente, mas ainda assim é muito importante com sua explosão. E coube ao belga aproveitar a parede feita por Martínez e finalizar para o fundo da rede defendida por Neto, empatando a partida quando faltavam menos de dois minutos por jogar na primeira etapa.
Na volta do intervalo, o esperado era uma Inter plugada no 220, correndo atrás da virada e buscando aproveitar a falta de concentração de um Barcelona que apenas cumpria tabela, mas aconteceu justamente o contrário. Sem ter a pressão sobre suas costas, os visitantes souberam explorar a falta de coordenação da Beneamata, giraram muito bem a bola e controlaram completamente os primeiros 15 minutos da segunda etapa.
Conte tinha opções escassas no banco de reservas, mas ainda assim demorou para pensar em alternativas e tentar resgatar o aspecto moral da equipe. Aos 69 ele trocou Biraghi por Lazaro, para ter uma opção mais descansada pelo flanco esquerdo, no intuito de acelerar e buscar os cruzamentos para sua dupla de ataque. Cinco minutos depois, fez o mesmo pelo corredor direito, trocando D’Ambrosio por Politano. Com dois alas jogando com o pé trocado, a Inter até chegou a linha de fundo, mas acabou facilitando o trabalho de afastar as bolas para a zaga do Barcelona.
Mesmo com seus inúmeros problemas coletivos, através da insistência a equipe chegou até o gol que lhe daria a vaga nas oitavas. Duas vezes com Lautaro, também duas vezes em posição irregular – três, se contarmos com o tento anulado de Lukaku na etapa inicial, pelo mesmo motivo. O jovem Esposito foi a última cartada de Conte e entrou no lugar do Valero. Assim, a equipe passou a atacar com oito peças e ofereceu muito espaço ao Barcelona.
O jogo virou uma chuva de transições rápidas, com muitos erros defensivos e chances desperdiçadas. Lukaku perdeu a melhor oportunidade da Inter, frente a frente com Neto: finalizou sem o cuidado ideal e, logo na sequência, o Barcelona matou o jogo. O jovem Ansu Fati finalizou da intermediária, Handanovic foi lento para reagir e, pelo acúmulo de falhas, a Inter vai jogar a Liga Europa. Afinal, o Borussia Dortmund bateu o Slavia Praga por 2 a 1 e lhe tomou a segunda vaga.
O trabalho do Conte é positivo e o time sofreu demais com as lesões, mas a fase de grupos da Beneamata foi decepcionante. A Inter teve bom nível coletivo na maioria das partidas, chegou a sonhar com vitórias em quatro dos cinco jogos anteriores, mas teve pouca confiança para defender as vantagens obtidas e, com sete pontos, amarga uma eliminação bastante precoce – pela segunda vez consecutiva. Agora, o foco dos nerazzurri será voltado totalmente à busca pelo scudetto, que não é conquistado pela agremiação desde 2010.
Em Nápoles, a noite foi de festa para alguns. O Napoli enfrentava o Genk na expectativa de confirmar a sua vaga nas oitavas de final da Liga dos Campeões, o que aconteceu. Se a classificação deixou todos os azzurri felizes, uma boa parte deles comemorou ainda mais o que já se comentava à boca (não tão) miúda nos bastidores e acabou se confirmando: a demissão de Ancelotti.
Sem vitórias havia nove jogos, o Napoli entrou em campo contra o Genk com espírito renovado. A aparente leveza demonstrada pelos jogadores até seria estranha, pelo momento negativo dos partenopei, mas as especulações de que o grupo já havia sido informado que o treinador não permaneceria ajudavam a explicar a mudança de postura. Afinal, a relação entre Ancelotti e os senadores do elenco napolitano já havia se desgastado e atingido um ponto de não retorno.
Em campo, a ausência de peso nos ombros fez com que o Napoli decidisse o jogo com muita rapidez. Aos três minutos, já estava 1 a 0. No tiro de meta que se seguiu a uma finalização de Koulibaly que tocou no travessão, a defesa do Genk entrou em parafuso. O goleiro Vandevoort – com 17 anos, o mais jovem a ser titular num jogo de UCL – recebeu passe do zagueiro e foi tentar driblar dois adversários: errou feio e Milik aproveitou.
Embora já estivesse eliminado e tivesse fragilidades defensivas, o Genk de Hannes Wolf não fugiu de suas características e propôs jogo. Com muita ofensividade, o time belga incomodou o Napoli com Paintsil, Ito e Onuachu – o grandalhão nigeriano, contudo, não estava com a pontaria calibrada. Milik estava e marcou mais duas vezes antes do fim da etapa inicial: a doppietta veio após cruzamento de Di Lorenzo e a tripletta foi garantida após pênalti de Vandevoort sobre Callejón.
Na segunda etapa, o jogo seguiu na mesma toada, embora com ritmo ligeiramente mais baixo. O Genk voltou a ter oportunidades com Hagi, Bongonda e Onuachu, mas foi o Napoli que chegou a balançar as redes. De Norre bloqueou com o braço um chute de Callejón e Mertens, de cavadinha, deixou a sua marca: na sua partida de número 300 pelo clube, anotou seu 118º gol e está a apenas três de empatar com Hamsík como maior artilheiro azzurro. Marek, aliás, estava no estádio.
A noite só não foi melhor para o Napoli porque o Liverpool ganhou do Red Bull Salzburg por 2 a 0 e ficou com a primeira posição no Grupo E. Por ter ficado na segunda colocação, o time italiano deve enfrentar um adversário mais complicado nas oitavas de final. E, provavelmente, será comandado neste duelo por Gennaro Gattuso, que é esperado no CT de Castel Volturno já nesta quarta.
Eu achava que o problema dos jogadores era com o De Laurentis, e o Ancelotti tinha defendido os jogadores. Aconteceu alguma coisa séria entre ele os jogadores, qual o motivo?