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Roberto Rosato, o campeão que ficou com a camisa do tri de Pelé em 1970

Sob o comando de Nereo Rocco, o Milan da década de 1960 marcou época no futebol europeu. Bicampeão continental e primeiro italiano a levantar o principal título da Uefa, o time rossonero se destacava por um ataque fantástico, comandado por Gianni Rivera, José Altafini e Pierino Prati, mas também por um sistema defensivo que ajudou a consolidar o catenaccio. O capitão Cesare Maldini foi o líder do setor durante o início dos anos 1960 e substitui-lo não seria tarefa fácil. Roberto Rosato, porém, conseguiu cumprir a missão.

Rosato começou no Torino e fez sua estreia profissional em 1961, aos 17 anos, num empate em 1 a 1 contra a Fiorentina. Em pouco tempo, já havia chamado atenção de Rocco, sobretudo após anotar um gol contra o Milan. Rosato era um defensor forte e muito técnico. Apesar de não ser alto, era dono de invejável posicionamento e rara impulsão nas bolas aéreas, especialmente no ataque.

O paròn viu em Rosato o substituto ideal para Maldini, mas todas as ofertas foram recusadas pelo defensor, que permaneceu no Torino. Mas se a montanha não vai a Maomé, Maomé vai até a montanha. Em 1963, então, Rocco foi contratado pelo Toro e pode comandar Roberto, a quem fez render em um nível ainda mais alto. Sob as ordens de um dos pais do catenaccio, o piemontês recebeu as primeiras oportunidades na seleção italiana sub-21 e também na principal, pela qual estreou em 1965.

No Torino, Rosato (ao fundo) recebe Rocco com brincadeira (Olycom)

O Torino de Nereo Rocco era um time forte, que contava com outros bons jogadores além de Rosato: Lido Vieri, Fabrizio Poletti, Giorgio Puia, Giorgio Ferrini, Luigi Meroni, Luigi Simoni e Gerry Hitchens, por exemplo. Com essa turma, os granata tiveram belo desempenho em 1964-65, ano em que ficaram com a terceira posição na Serie A e no qual foram semifinalistas tanto da Coppa Italia quanto da Recopa Uefa. O alto rendimento de Roberto no centro da defesa piemontesa fez com que ele fosse lembrado para a disputa da Copa do Mundo de 1966.

Após o fracasso azzurro em solo inglês, Rosato não se desvalorizou e, no mesmo verão, sua transferência à Milão finalmente aconteceu. O zagueiro já era um jogador bastante rodado e conhecido por seu apelido: Faccia d’Angelo ou “carinha de anjo”, em português. A alcunha, inclusive, lhe foi atribuída justamente pelo contraste entre seus traços angelicais e sua postura em campo. Roberto chegava duro nas divididas e não hesitava em fazer faltas, se necessário.

Naquele momento, o Milan passava por uma renovação. Arturo Silvestri era o quarto comandante depois que Rocco rumara ao Torino e o time já não contava com Altafini e Maldini. Outros nomes chegaram, como os brasileiros Angelo Sormani e Amarildo, mas a equipe não se encontrou. E pior, viu a arquirrival Internazionale dominar o Campeonato Italiano sob a batuta de Helenio Herrera.

Rosato disputou duas Copas do Mundo pela Itália: 1966 e 1970 (imago)

O jejum rossonero terminou com a conquista da Coppa Italia, em 1967, que deu início a uma sequência de títulos de um Milan cada vez mais copeiro. Com Rocco de volta ao comando após o sucesso local, o Diavolo arrebanhou ainda, Recopa Europeia e Serie A, em 1968, e Copa dos Campeões e Mundial de Clubes no ano seguinte. No meio do caminho, Rosato já havia conquistado o título da Eurocopa de 1968, como titular da Nazionale. Após os troféus, ele se preparava para sua segunda Copa do Mundo.

Rosato atuou em todas as partidas da Itália no Mundial de 1970 e foi um dos protagonistas da histórica semifinal diante da Alemanha Ocidental. No chamado “Jogo do Século”, vencido pelos azzurri por 4 a 3, o zagueiro cortou, em cima da linha, um chute de Jürgen Grabowski. Na final, contra o Brasil, pouco pode fazer contra o melhor time da competição. Ainda assim, acabou escolhido como o melhor zagueiro do torneio.

O italiano ainda levou para casa um troféu particular, obtido naquela derradeira disputa. O defensor ficou com a camisa de ninguém menos que Pelé. Segundo a esposa do jogador, ele se esforçou muito para ficar com a vestimenta do Rei do Futebol. “Meu marido teve que disputar a camisa com uma multidão de torcedores que invadiu o campo. Como sempre, foi um lutador e, com muito esforço, acabou conseguindo transformar esse sonho em realidade. Ele a queria a todo custo e foi uma honra ter a camisa do melhor jogador do mundo conosco. Quem pode ser melhor que Pelé?”, declarou Anna Rosato.

Rosato foi titular do Milan por sete temporadas e conquistou oito títulos vestindo rossonero (imago/Buzzi)

A relíquia, porém, terminou leiloada em 2002, para evitar uma disputa familiar. Roberto tinha três filhos e uma só camisa. Para não gerar confusão entre os herdeiros, em uma conversa despretensiosa com a esposa, acabou definindo que o item seria leiloado. A venda, ocorrida em Londres, rendeu cerca de 200 mil dólares ao italiano.

Após o Mundial do México, Rosato voltou ao Milan e teve mais três temporadas jogando em alto nível. O zagueiro continuou sendo um dos pontos de referência do elenco rossonero, juntamente a Rivera, Prati, Karl-Heinz Schnellinger e Romeo Benetti. Também adicionou ao currículo mais duas copas nacionais e uma Recopa continental, além de três vice-campeonatos da Serie A e um da Coppa Italia.

Aproximando-se do final de carreira, ele trocou o Milan pelo Genoa, em 1973. Na Ligúria, atuou por quatro temporadas, mas disputou apenas 33 jogos na elite: 30 na campanha de estreia pelo clube e três na última. O time genovês foi rebaixado em 1974 e só retornou à categoria em 1976, quando Roberto já entrara numa fase de poucos minutos em campo. Aos 34 anos, o zagueiro se aposentou do futebol profissional e foi defender o Aosta, clube instalado na calmaria dos Alpes e participante da Serie D. Beirando os 36, deixou o esporte.

Com a camisa rossoblù genoana, Rosato cumprimenta o milanista Rivera (Il Nostro Genoa)

Um dos melhores defensores italianos de sua época, Rosato deixou sua marca como um dos grandes da história da Serie A e da seleção. Afinal, disputou mais de 600 partidas oficiais como jogador (a maior parte delas, em alto nível) e ainda vestiu a camisa azzurra em 37 oportunidades. Roberto adicionou ao currículo não só a participação em duas Copas do Mundo, mas o único título da Nazionale numa Euro.

Depois de aposentado, o piemontês trabalhou como corretor de seguros até o início dos anos 2000, quando descobriu um câncer que viria a afetar sua fala. Sua amada esposa, então, passou a ser sua porta-voz. Rosato viveu seus últimos anos de vida no mesmo lugar em que nasceu: Chieri. Como a cidade é próxima a Turim, ia semanalmente ao estádio para acompanhar as partidas do “seu” Torino e, às vezes, até as da Juventus.

Em virtude do agravamento do câncer, Roberto Rosato faleceu em 2010, aos 66 anos. No mesmo dia, a seleção italiana enfrentava a Nova Zelândia pela Copa do Mundo. A Itália empatou e encaminhou sua eliminação no torneio, de modo que a única nota relevante foi a justíssima homenagem concedida pelos azzurri ao ex-zagueiro naquela triste tarde.

Roberto Rosato
Nascimento: 18 de agosto de 1943, em Chieri, Itália
Morte: 20 de junho de 2010, em Chieri, Itália
Posição: zagueiro
Clubes como jogador: Torino (1960-66), Milan (1966-73), Genoa (1973-77) e Aosta (1977-79)
Títulos conquistados: Jogos do Mediterrâneo (1963), Serie A (1968), Coppa Italia (1967, 1972 e 1973), Eurocopa (1968), Serie B (1976), Recopa Uefa (1968 e 1973), Copa dos Campeões (1969) e Copa Intercontinental (1969)
Seleção italiana: 37 jogos

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1 Comentário

  • Dizer que o Brasil foi melhor nao passa de esagero. Antes da final a Italia descansou menos que o Brasil, (e a Italia tinha disputado dis prorogacoes de 30 minutos cada com Alemanha).Nao e’ a toa que ate o minuto 70…os times estavao no empate, no finalzinho a Italia derreteu fisicamente e o Brasil fez 3 goal. Italia nao foi inferior, Brasil mais sortudi, egual ao penalty que Baggio errou, sorte.

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