Brasileiros no calcio

Edu Marangon, o ‘Boy da Mooca’, não conseguiu se destacar com a camisa do Torino

Müller, Haris Skoro e Edu Marangon: na foto que abre este texto, o Torino apresentava seu trio de estrangeiros para a disputa da Serie A 1988-89. Os reforços, integrantes da seleção brasileira e da iugoslava, prometiam e as expectativas para a temporada eram boas, visto que os grenás haviam sido vice-campeões da Coppa Italia na edição anterior. Contudo, nada deu certo para o time e para Edu.

O meio-campista tinha tudo para deslanchar na Itália. Nascido na Mooca, um dos redutos da colônia italiana de São Paulo, Edu Marangon sempre teve uma forte relação com o país de seus ascendentes. Na rua Javari, a mais famosa do bairro, cujo rei é o Juventus, Edu teve o seu primeiro contato com a bola. Contudo, não foi com a camisa grená do Moleque Travesso que ele começou no futebol.

O Boy da Mooca iniciou a sua carreira na Portuguesa, depois de se destacar na Copa São Paulo de Futebol Júnior de 1983. Promovido para o elenco principal após a Copinha, o jovem rapaz foi crucial para a belíssima campanha da Lusa no Campeonato Paulista de 1985, na qual terminou com o segundo lugar.

A relação de Edu com a Lusa foi, de longe, a mais duradoura de toda a sua carreira. Nos quatro anos em que defendeu o time do Canindé, o meia se notabilizou pela classe, pela habilidade e pelo fortíssimo chute de fora da área. Considerado um autêntico camisa 10, daqueles que controlam o jogo com os seus passes e lançamentos, Marangon chegou a ser convocado pela seleção brasileira, com a qual foi campeão do torneio Pré-Olímpico Sul-Americano e dos Jogos Pan-Americanos, em 1987.

Seus anos memoráveis pela Portuguesa de Desportos chamaram a atenção do Torino, em 1988. Na Itália, o garoto criado na Mooca, local em que a cor grená é ostentada com orgulho, vestiria a camisa da equipe que inspirou o uniforme do Juventus. O Toro pagou cerca de 2 milhões de dólares, venceu a concorrência de clubes brasileiros e realizou a compra de um de seus principais reforços para aquela temporada, ao lado dos já citados Müller e Skoro, além do goleiro Luca Marchegiani.

O Torino vinha de ótimas campanhas nos últimos anos. Na década de 1980, só não ficou na metade de cima da tabela da Serie A em 1981 e foi vice-campeão italiano em 1985, além de ter sido vice da Coppa Italia quatro vezes – a última delas, justo em 1988. Edu chegou para comandar o meio-campo do time de Turim, tendo Antonio Comi, Antonio Sabato e Diego Fuser como companheiros. Apesar de ter estreado com gol na Coppa Italia, em vitória por 2 a 1 sobre a Triestina, Marangon ficou devendo.

Os outros reforços de linha, Müller e Skoro, até conseguiram fazer uma temporada razoável. Porém, Edu não apareceu como principal assistente dos colegas, como previsto: eram Comi, Sabato, Fuser e o jovem Alvise Zago que serviam aos atacantes. Apesar de ter marcado um dos gols na vitória por 3 a 1 sobre a Roma, em pleno Olímpico, da sétima rodada em diante o brasileiro foi perdendo a confiança do técnico Luigi Radice. Embora se esforçasse, Edu também não conseguiu conquistar Claudio Sala, substituto de Radice. O Torino ia mal e Marangon também.

Na reta final da Serie A, o técnico Sergio Vatta – terceiro comandante na campanha – tentou recuperar o Rei do Canindé e o tirou do banco nas cinco rodadas finais. Titular nos últimos jogos, Edu até anotou na vitória sobre o Como, mas viu o Toro acabar perdendo para o Lecce na derradeira jornada e ser rebaixado: foi a segunda queda na história do Torino, que antes caíra em 1958-59.

Edu e Renato: dois brasileiros que não se deram bem na Itália (Bartoletti)

O rebaixamento e o desempenho negativo de Edu fizeram com que, apesar da qualidade, o brasileiro logo deixasse o Piemonte. No seu único ano com o time de Turim, o Boy da Mooca jogou 27 partidas e anotou três gols. Depois da breve passagem pela Itália, o meio-campista continuou em solo europeu: se mudou para Portugal, onde também fracassou. À margem do projeto do Porto, até conquistou o título nacional, mas foi muito pouco utilizado.

Após duas temporadas inconsistentes na Europa, Edu aceitou o convite do Flamengo para encarar o maior desafio no mundo do futebol naquele momento: substituir Zico. Marangon herdou a 10 do Galinho de Quintino e foi à campo com imensa expectativa, mas a ousada aposta rubro-negra não funcionou. Edu apresentou um bom futebol mas ainda muito abaixo da sua média. Só fez 15 jogos e dois gols pelo Fla.

Sem se firmar no clube da Gávea, Edu fechou com o Santos, que defendeu por duas oportunidades na carreira, sem grandes lembranças. Desde que saiu da Portuguesa, em 1988, o talentoso meia teve dificuldades de se firmar em qualquer equipe – e, naturalmente, perdeu espaço na Seleção, que representou pela última vez em 1990.

Além da má fase, outro fator que afastou Edu da canarinho foi o seu condicionamento físico. Devido a uma grave lesão no joelho e a uma fortíssima concorrência, o meia não conseguiu se firmar na Seleção, se juntando ao seleto grupo de belíssimos jogadores que não tiveram longa passagem pela equipe pentacampeã do mundo.

Edu reencontrou seus melhores momentos ao passar uma temporada no Palestra Itália, defendendo as cores do Palmeiras – outro clube de origem italiana. Entre as duas passagens pelo Santos, o camisa 10 teve a oportunidade de fazer um gol antológico pelo alviverde. Em jogo válido pelo Campeonato Paulista de 1991, Marangon cobrou uma falta magistral: no lance, tirou o goleiro Ronaldo completamente da jogada e o deixou completamente sem reação. Não à toa, é lembrado com carinho pelos palmeirenses.

Depois de 57 jogos e nove gols com o Palmeiras, Edu retornou ao Santos. Do time da Vila Belmiro, rumaria para o Japão, onde atuaria por um ano pelo Yokohama Flügels, até voltar para a América do Sul para defender as cores do Nacional, tradicionalíssimo clube uruguaio. Já em fim de carreira, o clássico camisa 10 voltou ao Brasil para atuar por Coritiba, Inter de Limeira e Bragantino. Em 1997, se aposentou dos gramados.

Edu e o futebol não se separaram após a sua aposentadoria. Depois de pendurar as chuteiras, o Boy da Mooca virou treinador e, inclusive, comandou o time do seu bairro: foram três passagens pelo Juventus, entre 2005 e 2009. Contudo, o seu melhor resultado como técnico ocorreu na Portuguesa. Lá, Edu ganhou a Copa São Paulo de Futebol Júnior, a mesma competição que o fez ser chamado para o time principal da Lusa quando ainda era apenas um garoto. No início dos anos 2010, cansado dos bastidores do esporte, deixou o mundo da bola.

Carlos Eduardo Marangon
Nascimento: 15 de fevereiro de 1963, em São Paulo
Posição: meio-campista
Clubes como jogador: Portuguesa (1984-1988), Torino (1988-1989), Porto (1989-1990), Flamengo (1990), Santos (1990-1991 e 1992), Palmeiras (1991-1992), Yokohama Flügels (1993-1994), Nacional (1995), Coritiba (1996), Inter de Limeira (1997) e Bragantino (1997)
Títulos como jogador: Pré-Olímpico Sul-Americano (1987), Jogos Pan-Americanos (1987), Copa do Brasil (1990), Campeonato Português (1990), Supertaça de Portugal (1990), Copa do Imperador (1993) e Série A2 do Campeonato Paulista (1996)
Clubes como treinador: Inter de Limeira (1999), Portuguesa (2002), Paraná (2003), Juventus-SP (2005, 2007 e 2009), Rio Claro (2008), Atlético Sorocaba (2009) e Barueri (2010)
Títulos como treinador: Copa São Paulo de Futebol Júnior (2002)
Seleção brasileira: 9 jogos e 1 gol

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