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O meia Massimo Crippa foi pilar de times vitoriosos de Napoli e Parma

Quando nos lembramos dos times históricos de Napoli e Parma entre o fim da década de 1980 e o início da de 1990, os nomes de jogadores como Diego Maradona, Careca, Gianfranco Zola, Faustino Asprilla e Tomas Brolin. Poucos se recordam que, para que esses eles brilhassem, era preciso que alguém fizesse o trabalho “sujo”. Naqueles elencos, esta tarefa era de Massimo Crippa, que usava dotes de maratonista para percorrer o campo todo e não dar sossego aos adversários.

Filho de Carlo Crippa, meia que defendeu Torino e Palermo nos anos 1950 e 1960, Massimo não se formou nas categorias de base de grandes clubes, à diferença de muitos jogadores de sucesso. Nascido na província de Monza e Brianza, ele deu os seus primeiros chutes em campos de várzea – onde já despontava como um atleta especial. “Na minha infância, primeiro era a escola. Depois de estudar, à noite eu ia jogar com pessoas mais velhas, que me ensinaram muito”, contou o ex-meia ao site Tutto Lega Pro.

Em 1981, aos 16 anos, Crippa entrou no elenco do Meda, último clube da carreira do pai – e que acabara de cair para a sétima divisão do futebol italiano. Com o tempo, foi circulando por equipes da Lombardia, como Saronno e Seregno, que militavam nas divisões regionais, e foi moldando as suas características. Sua primeira experiência profissional aconteceu no Pavia, em 1986.

No time azzurro, que o pai também havia defendido anteriormente, Massimo recebeu os ensinamentos do técnico Gianni Bui, crescendo como jogador e como ser humano. Crippa foi titular durante a campanha do acesso do Pavia à terceira divisão, em 1986-87, e logo se viu em um novo patamar. Em outra importante participação na carreira do meia, Bui contribuiu para que o jovem de 22 anos fosse adquirido pelo Torino, que disputava a Serie A. O treinador conhecia muito bem Federico Bonetto, então diretor esportivo do Toro, e elogiava o futebol do lombardo.

Assim como seu progenitor, Massimo teve impacto imediato em Turim. O meio-campista impressionou o técnico Luigi Radice na pré-temporada e, ao ganhar o seu aval, subitamente se tornou titular do Torino. Além de exímio marcador e verdadeiro motorzinho, Crippa também tinha qualidade para armar as jogadas e era versátil, uma vez que podia desempenhar qualquer função na faixa central do gramado.

Crippa foi um dos coadjuvantes mais importantes do Napoli liderado por Maradona (PhotoNews/Panoramic)

Ao longo da temporada 1987-88, Crippa se destacou pela dedicação e por ser incansável. Só ficou fora de campo em pouquíssimos minutos nas campanhas do Toro na Serie A e na Coppa Italia – e, a rigor, só não atuou em uma partida contra o Cesena, por suspensão. Além disso, o seu primeiro gol na elite não foi nada banal: de cabeça, abriu o placar num dérbi contra a Juventus, que terminou empatado em 2 a 2. Não à toa, desenvolveu forte relação com os torcedores e o com o clube. “Na primeira vez em que vesti a camisa do Torino, senti uma carga bestial por dentro. Era quase uma missão jogar com ela. Se você costumava dar cem por cento, nesse caso [jogando pelo Toro], você se empenhava em dar algo mais”, contou em entrevista ao Tutto Lega Pro.

O Torino terminou a temporada como vice-campeão da Coppa Italia, sendo derrotado na prorrogação da finalíssima pela Sampdoria, e não se classificou para a Copa Uefa porque, no jogo-desempate contra a Juventus, caiu nos pênaltis – acabaria, portanto, ficando com a sétima posição n a Serie A. Apesar disso, Crippa e seus pulmões de aço chamaram a atenção do país: integrante da seleção olímpica italiana, o meio-campista foi cortejado pelo Verona e pela Roma – segundo Massimo, a equipe capitolina teria chegado a providenciar falsificações em documentos para acelerar o negócio. Contudo, por obra de Luciano Moggi, diretor esportivo do Napoli, o jogador rumou à Campânia nos últimos dias da janela de transferências.

O meia chegou ao Napoli para compor, ao lado de Fernando De Napoli, Alemão e Francesco Romano, um quarteto de “serviçais” de Andrea Carnevale, Careca e Maradona. Após estrear na primeira fase da Copa Uefa, contra o PAOK, Crippa viajou até a Coreia do Sul para representar a Itália nos Jogos Olímpicos de Seul e marcou gol decisivo nas quartas de final, contra a Suécia. Contudo, retornou sem medalhas, já que os azzurrini caíram ante União Soviética, nas semifinais, e Alemanha Ocidental, na decisão do bronze.

Em sua volta ao sul da Itália, Crippa viveu intensamente. Em sua primeira temporada pelo Napoli, foi vice-campeão nacional e conquistou a Copa Uefa, sendo titular em toda a campanha europeia – ainda que, por suspensão, tenha perdido a ida das semifinais, contra o Bayern Munique, e a volta das finais, contra o Stuttgart. Por suas atuações em 1988-89, o jogador recebeu suas primeiras oportunidades na seleção, em amistosos contra Escócia e Dinamarca.

A temporada 1989-90 foi ainda mais proveitosa para Crippa: a rigor, foi a melhor de sua carreira. O meio-campista ganhou ainda mais importância no time depois que Ottavio Bianchi deu lugar a Alberto Bigon, contribuindo com quatro gols e quatro assistências na campanha do segundo scudetto azzurro – algumas de suas melhores atuações aconteceram em duelos de relevo, como aqueles contra Juventus, Roma e Atalanta.

Pelo Napoli, o meio-campista levantou a Copa Uefa, em 1989 (imago/Pressefoto)

Pelo Napoli, Crippa ainda faturou a Supercopa Italiana de 1990 e manteve um bom nível de futebol mesmo quando a equipe caiu de produção após Maradona ter sido pego em exame antidoping. O meia teve espaço na seleção até os primeiros meses da temporada 1991-92, quando algumas incompreensões com o técnico Claudio Ranieri prejudicaram o seu desempenho em campo e o tiraram do radar de Arrigo Sacchi.

Ao fim da Serie A 1992-93, após trabalhar novamente com Bianchi – que considera o melhor treinador que teve –, Massimo acabou deixando a Campânia. Em crise financeira, o Napoli aceitava vender Crippa e Zola ao endinheirado Parma de Calisto Tanzi, então campeão da Recopa Uefa. Dessa forma, depois de cinco temporadas, 206 jogos e 11 gols pelo clube partenopeo, Crippa iniciaria um novo desafio.

Sua estreia pelo Parma não foi das melhores: acabou expulso no fim da partida inaugural da Serie A, contra a Udinese. Com o passar do tempo, porém, foi se tornando figura essencial como meia pela direita no 5-3-2 de Nevio Scala e contribuiu enormemente para a ótima temporada 1993-94 dos ducali. O time emiliano foi quinto colocado do Italiano, semifinalista da copa nacional, vice-campeão da Recopa Uefa e bateu o Milan na Supercopa Europeia, em duelo de ida e volta. No confronto de itálicos em nível continental, o Diavolo venceu por 1 a 0 no Ennio Tardini, mas o Parma devolveu o placar em San Siro, no tempo normal. Na prorrogação, um gol de Crippa deu a taça aos visitantes.

Em 1994-95, o time da Emília-Romanha se saiu ainda melhor e foi campeão da Copa Uefa sobre a Juventus, além de ter dividido o vice-campeonato da Serie A com a Lazio. Titularíssimo, Crippa dava a intensidade necessária para o esquema de Scala funcionar e, não à toa, voltou a receber chances na seleção italiana. O meio-campista chegou a marcar o seu único tento pela Nazionale em amistoso contra a Turquia e atuou também nas Eliminatórias da Euro 1996.

Crippa acabou não fazendo parte da lista final de Sacchi para o Europeu, mas teve a chance de disputar a Olimpíada pela segunda vez: Cesare Maldini o convocou como um dos três jogadores acima de 23 anos permitidos pelo regulamento da modalidade nos Jogos e, assim, Massimo teve o desprazer de participar do desastre da Itália em Atlanta. Após a eliminação na fase de grupos, o meia não vestiu mais a camisa azzurra. No total, representou a seleção principal em 17 ocasiões e a olímpica em outras oito.

Incansável no meio-campo, Crippa também ajudou o Parma a obter sucesso internacional (Allsport)

Pelo Parma, após a entressafra de 1995-96, foi fundamental para que o time voltasse a ter destaque em 1996-97, já sob as ordens de Carlo Ancelotti. Sem ter sofrido qualquer lesão grave na carreira, Crippa mantinha forma física invejável e pod contribuir para que os gialloblù fossem novamente vice-campeões italianos e, no ano seguinte, disputassem a Champions League pela primeira vez em sua história. Ao fim da temporada 1997-98, já como reserva, Massimo efetivaria a sua despedida da Emília-Romanha: ao longo de cinco campanhas, fez 203 partidas e 12 gols com a camisa crociata.

Já na fase final da carreira, aos 33 anos, o meio-campista voltou para o Torino, que militava na Serie B, e tinha a intenção de contribuir fortemente para que os grenás retornassem à elite. O Toro até conseguiu o acesso, mas devido a uma lesão num dedo do pé que precisou ser corrigida com uma cirurgia, Crippa pouco entrou em campo. A recuperação não foi das melhores e, sentindo muitas dores nas articulações, o meia realizou apenas 11 partidas em duas temporadas – sendo as três últimas na Serie A. “Ali eu percebi que os holofotes deveriam ser deixados para os outros e que eu já havia dado o suficiente”, confessou ao site Tutto Lega Pro.

Contudo, Crippa não se aposentou. Após passar pelos palcos mais importantes do futebol europeu, o meia retornou ao amadorismo no intuito de se divertir com amigos e ainda atuou por dois anos pela Canzese, na sexta divisão, e, em 2003, se aposentou no Seregno, que disputava a Serie D.

Depois de encerrar a sua carreira como jogador, Crippa optou por não tentar carreira como treinador. “Acho que já existem muitos técnicos por aí”, brincou. Contudo, Massimo não se afastou do esporte: desde 2010, trabalha no Renate, clube da província em que nasceu. Inicialmente, o ex-meia foi responsável pelas categorias de base do clube nerazzurro, onde buscou desenvolver uma política de potencialização dos jovens sob critérios atléticos e humanísticos. Pelo sucesso em seu objetivo, o incansável Crippa foi promovido a diretor-geral da agremiação.

Massimo Crippa
Nascimento: 17 de maio de 1965, em Seregno, Itália
Posição: meio-campista
Clubes: Meda (1981-83), Saronno (1983-85), Seregno (1985-86 e 2003), Pavia (1986-87), Torino (1987-88 e 1998-2000), Napoli (1988-93), Parma (1993-98) e Canzese (2000-02)
Títulos: Serie A (1990), Supercopa Italiana (1990), Copa Uefa (1989 e 1995), Supercopa Uefa (1993) e Eccellenza Lombardia (2002)
Seleção italiana: 17 jogos e 1 gol

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1 Comentário

  • Grande volante, maestro e líder em campo. Não lembro muito dele no Napoli, só no Parma e no Torino, mas jogou em alto nível até os 35 anos, algo raro na época.

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