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Serie B 2020-21: o último sprint rumo à elite

A exemplo da Serie A, a segunda divisão do futebol italiano também se encaminha para a sua reta final. Com oito rodadas a serem disputadas na fase de pontos corridos, a Serie B mais uma vez promete muitas emoções na última parte da competição. Enquanto o quase imbatível Empoli tenta encaminhar o retorno à elite depois de dois anos, quatro times despontam na briga pelas outras duas vagas, confrontados por outras equipes tradicionais que correm por fora através dos playoffs. A luta contra o rebaixamento, por sua vez, já parece bem encaminhada, sem muitas margens para surpresas. Confira no resumão que elaboramos.

Os favoritos

Depois do fracasso na temporada passada, quando perdeu força durante o campeonato e foi eliminado no turno preliminar do playoff, o Empoli iniciou a atual campanha pressionado para buscar o acesso no ano de seu centenário. Com um bom mercado e um elenco equilibrado, a surpresa ficou por conta da escolha do inexperiente Alessio Dionisi como responsável para comandar o time. Depois de trabalhos em divisões inferiores, estreou na Serie B com uma campanha de manutenção do Venezia na segundona.

A desconfiança, contudo, logo foi superada por bons resultados. O Empoli sofreu somente uma derrota em todo o campeonato, na 6ª rodada, soma 15 vitórias e 14 empates em 30 partidas e tem uma expressiva vantagem de sete pontos na liderança. Atualmente, são 22 jogos de invencibilidade e nem mesmo uma sequência de cinco jornadas sem vitórias ameaçou a sua posição, consolidada desde a virada do ano. O time ainda fez boa campanha na Coppa Italia, vendendo muito cara a eliminação nas oitavas de final, para o Napoli.

Melhor defesa da Serie B, com 24 gols sofridos, o Empoli também tem um forte ataque, sempre muito bem acionado por Nedim Bajrami e comandado por Leonardo Mancuso, artilheiro do time com 15 tentos. O poder de fogo dos azzurri só não é melhor que o do Lecce, que já balançou as redes adversárias em 58 oportunidades, sendo 20 delas através de Massimo Coda, máximo goleador do campeonato – e também responsável por sete assistências. Comandado por Eugenio Corini, o time salentino é o vice-líder do campeonato, com 52 pontos, e se assemelha aos líderes pela forma de jogar. O Lecce se vale de uma transição ofensiva forte e, inclusive, utiliza o mesmo esquema tático (4-3-1-2).

Um ponto atrás do Lecce, na terceira posição, se encontra a Salernitana. Destaque nas últimas temporadas por sua associação com a Lazio desde a entrada de Claudio Lotito e seu cunhado no clube, a equipe campana retornou à Serie B em 2015 e, desde então, não cumpriu a expectativa de lutar pelo acesso – em 2019-20, inclusive, fracassou após uma controversa aposta em Gian Piero Ventura. Nesta temporada, contudo, a história tem sido diferente e a aposta no caricato Fabrizio Castori, escolhido mesmo após ser rebaixado com Carpi e Trapani, vem dando relativamente certo.

Coda, do Lecce, é o artilheiro da Serie B e vai conduzindo os giallorossi ao acesso (LaPresse)

A formação grená mais uma vez fez um mercado forte, com a contratação de muitos jogadores oriundos da Serie A, e desde o início do campeonato ocupa as primeiras posições – inclusive frequentou a liderança por algumas rodadas no primeiro turno. Porém, desde a virada de ano, a Salernitana perdeu a consistência inicial e chegou a acumular três derrotas seguidas.

A atual invencibilidade de 12 jogos contrasta com os oito empates no período, porém a vitória no último final de semana, 1 a 0 sobre o Brescia, foi um sinal importante para os grenás. Orgulhoso adepto do catenaccio, Castori vem conduzindo um time que faz poucos gols (32 em 30 jogos, sendo quase um terço deles anotado por Gennaro Tutino) e tem apenas 27 sofridos – é o dono da segunda melhor defesa e tem o menor saldo entre os seis primeiros.

Tão ou mais ambicioso quanto a Salernitana, o Monza, não à toa, faz a melhor campanha entre os promovidos da Serie C. Comprado pela Fininvest em 2018, é presidido por Paolo Berlusconi, irmão de Silvio – que também levou consigo o fiel escudeiro Adriano Galliani, atual diretor executivo do clube brianzolo. Outro velho conhecido nos biancorossi é Cristian Brocchi, o último treinador do Milan apontado pela icônica dupla. O ex-volante comanda a equipe desde o início do projeto.

Dono da segunda maior folha salarial e do elenco mais valioso da Serie B, o Monza gastou cerca de 20 milhões de euros com reforços no mercado, dispondo de jogadores como Kevin-Prince Boateng e Mario Balotelli. Tem ainda outros conhecidos da Serie A, como Giulio Donati, Andrea Barberis, Antonino Barillà, Marco D’Alessandro e Matteo Scozzarella, além de jovens promessas emprestadas por Inter, Milan, Atalanta e Sassuolo, e o brasileiro Carlos Augusto, lateral-esquerdo revelado pelo Corinthians. Tudo isso para buscar uma inédita promoção à elite.

Apesar dos fortes investimentos, o início do ano não foi fácil para o clube biancorosso, que antes de uma sequência de vitórias em dezembro ocupou o meio da tabela, longe da briga por acesso. Com reforços importantes na janela de inverno, Brocchi conseguiu encontrar um equilíbrio maior na equipe, revisitando a “árvore de Natal” de Carlo Ancelotti – o esquema 4-3-2-1. Por outro lado, após bons resultados, as derrotas para Reggina e Venezia nas últimas três rodadas voltaram a pressionar o time, que ocupa a quarta posição, com 50 pontos.

Com Balotelli, Boateng e Carlos Augusto entre os destaques, Monza busca inédito acesso à elite (Sportimage)

O Venezia é outro clube ambicioso na Serie B. Depois de falir em 2015, foi um dos primeiros a abrir espaço para o capital estrangeiro no futebol italiano através de um consórcio americano liderado por Joe Tacopina, anteriormente ligado a Roma e Bologna. Sob o comando de Pippo Inzaghi e liderado em campo por veteranos jogadores da Serie A, conseguiu o retorno para a segunda divisão em 2017 e bateu na trave dos playoffs na luta pelo acesso imediato à elite. Nas temporadas seguintes, contudo, conviveu com muitas dificuldades.

Rebaixado em campo na temporada 2018-19 depois de perder o playout, conseguiu a permanência no tapetão, graças à falência do Palermo. No último ano, conviveu com a luta contra o rebaixamento durante todo o campeonato e conseguiu a salvezza com a 11ª posição ao passo que vivia mais uma mudança na direção, depois que Tacopina decidiu vender as suas ações – agora se aventura na Sicília, com o Catania –, para o compatriota Duncan Niederauer.

O Venezia fechou com reforços interessantes no ataque – como Francesco Forte, Sebastiano Esposito e Dennis Johnsen –, mas surpreendeu pela aposta em Paolo Zanetti, treinador com bom trabalho pelo Südtirol na terceira divisão – mas inexperiente na Serie B, como acontecera com o já citado Dionisi, um ano antes. Com uma formação ofensiva e recheada por atletas formados em grandes clubes, embora sem espaço na Serie A, o time arancioneroverde teve um bom começo de temporada e só acumulou resultados ruins entre novembro e dezembro. Recuperou a forma em janeiro, com uma invencibilidade de oito jogos e quatro vitórias em sequência. Depois, respondeu às derrotas para Brescia e Lecce com a goleada sobre o Monza, no final de semana.

Correndo por fora

Com o Empoli consolidado na liderança, com 59 pontos, e Lecce (52), Salernitana (51), Monza (50) e Venezia (49) separados por apenas três pontos, o grupo dos primeiros colocados da Serie B parece bem definido – lembrando que os campeão e vice sobem diretamente para a elite. Faltando oito rodadas para o final do campeonato, resta saber quais times ocuparão as três últimas vagas para os playoffs: no G8, Cittadella, Spal e Chievo carregam boas vantagens para equipes como Pisa, Brescia, Vicenza e Frosinone.

Atualmente, o sexto colocado da categoria é o Cittadella, que está sob o comando de Roberto Venturato desde 2015 – ele é o treinador mais longevo do futebol italiano nas divisões profissionais. Como mérito de suas últimas campanhas, o time vêneto teve que conviver com perdas importantes no elenco. Sem dispor de grandes investimentos, os grenás têm a menor folha salarial da categoria (pouco mais de 3 milhões de euros anuais) e não conseguiram fazer uma reposição que mantivesse o nível do plantel de 2019-20. Embora tenham perdido força nas últimas rodadas, seguem sonhando com um inédito acesso para a Serie A.

No auge da carreira, o centroavante Forte é o principal nome do Venezia (LaPresse)

Se o Citta surpreende mais uma vez, Spal e Chievo decepcionam, ainda que estejam na zona de playoffs. As duas formações de passagem recente pela elite têm resultados abaixo da expectativa e não inspiram confiança para buscar um retorno à principal categoria do futebol italiano.

A equipe de Ferrara até teve bom momento na metade do primeiro turno, mas um rendimento composto por apenas quatro vitórias em 2021 em nada condiz com o elenco mais caro da segundona. A Spal manteve mais da metade do elenco que disputou a última Serie A – com destaques, como Francesco Vicari, Alessandro Murgia, Gabriel Strefezza e Sergio Floccari – e gasta 22 milhões de euros anuais com salários, um orçamento equivalente ao de Spezia e Crotone, por exemplo. Por sua vez, o Chievo reagiu ao início ruim com uma série de invencibilidade de 13 jogos entre dezembro e fevereiro. No entanto, o time de Verona já emendou uma nova sequência de resultados ruins e amargou cinco derrotas nas oito rodadas mais recentes.

A irregularidade de Spal e Chievo é positiva para Pisa e Brescia, que se aproximaram da briga por um lugar no playoff nas últimas rodadas. No seu segundo ano na Serie B após retornar à categoria, o time toscano repete a boa campanha de 2019-20, na qual ficou na nona posição – patamar que ocupa no momento, mesmo não sendo um dos principais candidatos ao acesso. O Brescia, por outro lado, chegou na segundona com a pressão do retorno imediato à elite. O elenco é um dos melhores e mais caros do campeonato, mas nenhuma missão é fácil quando o vulcânico presidente Massimo Cellino está à frente do projeto.

O time lombardo já passou por várias mudanças de treinadores na atual temporada. Depois de três anos sem trabalhar, Luigi Delneri assumiu a equipe em 4 de setembro e foi dispensado no mês seguinte, depois de duas partidas. Foi, então, a vez de Diego López – que caiu com os andorinhas – retornar ao clube e também ter vida curta: foi afastado dois meses depois e substituído por Davide Dionigi. Contratado em dezembro, o terceiro comandante teve o seu vínculo renovado em janeiro, mas foi demitido duas semanas depois. Durante o período, até o ex-zagueiro Daniele Gastaldello, aposentado dos gramados em agosto, foi interino duas vezes. Hoje, dia 25 de março de 2021, o comando da equipe biancazzurra é do espanhol Pep Clotet.

Em meio a esse caos, Clotet conseguiu uma sequência positiva desde a sua chegada. Em nove partidas, foram cinco vitórias – das quais quatro de forma consecutiva –, além de dois empates e duas derrotas. Com um bom elenco e embalado por esta série, apesar de vir de derrota para a Salernitana, o Brescia é a equipe que atualmente mais ameaça os ocupantes do G8, embora outro clube tradicional do norte também apresente um desempenho crescente. Se trata do Vicenza, recém-promovido depois de três anos na Serie C.

A Salernitana, de Tutino, briga pelo acesso; a Spal, de Vicari, decepciona no campeonato (LaPresse)

Falido em 2018, o Vicenza perdeu o título esportivo da FIGC, a federação italiana, e foi refundado depois de ser adquirido pelo empresário Renzo Rosso, dono da grife Diesel. Numa artimanha societária, Rosso transferiu aos vicentinos o “CNPJ” do Bassano Virtus, clube da região do qual também era proprietário, e fez o clube retomar as suas atividades através da Serie C – enquanto os giallorossi recomeçaram nas divisões amadores do Vêneto. Os lanerossi foram campeões da sua chave na terceira divisão e apostaram no técnico Domenico Di Carlo, ex-capitão do clube, no retorno à Serie B.

Com figuras como Stefano Giacomelli, Riccardo Meggiorini e Samuele Longo, os três formados na Inter, além de Davide Lanzafame, ex-promessa da Juventus, o Vicenza teve um início atribulado no campeonato, chegando a ocupar as últimas posições nas seis rodadas iniciais. Liderado por Meggiorini, quarto principal artilheiro da competição, com 11 gols, o time esboçou uma reação na metade do primeiro turno e sofreu apenas uma derrota nos últimos oito jogos.

A turma do meio da tabela

Talvez as arrancadas de Brescia e Vicenza não sejam suficientes para garantir-lhes um lugar nos playoffs, mas os afastam da luta contra o rebaixamento. Esta também é a realidade de Frosinone, Reggina, Cremonese e Pordenone, que estão no meio da tabela e têm desempenho abaixo da expectativa. O clube do Lácio, que tem um projeto apoiado pela família Stirpe e que aproveitou as experiências na elite para melhorar a sua estrutura, chegou a ficar três meses sem vencer e a falta de reação culminou na demissão de Alessandro Nesta, que também decepciona na carreira como treinador. Para seu lugar, o Frosinone contratou outro tetracampeão mundial: Fabio Grosso.

A Reggina, por sua vez, estava longe da Serie B desde 2014 e passou por muitas turbulências nos setores administrativo e financeiro desde então. Porém, passou a contar com forte apoio local e maiores investimentos, com direito a patrocínios de uma concessionária da Volkswagen e da Caffè Mauro, grande produtora de café calabresa. O time amaranto subiu em 2019, sob a batuta de Domenico Toscano, e é comandado desde a 12ª rodada por Marco Baroni. Com bons resultados no returno, se consolidou no meio da tabela.

No seu elenco, o time de Reggio Calabria conta com figuras como Nícolas, Thiago Cionek, Lorenzo Crisetig, Nicola Bellomo, Jérémy Ménez e Germán Denis, além de jogadores emprestados por Milan e Inter. A ligação com os grandes da Lombardia também acontece com a Cremonese, clube menor da região. A Cremo conta com Ariedo Braida na sua direção e Fabio Pecchia como treinador, além de um forte elenco para a Serie B. Só que, como nas temporadas passadas, tem falhado em cumprir as expectativas e segue longe da briga por um acesso que não acontece desde meados da década de 1990.

Ménez e outros medalhões garantem campanha razoável para a Reggina; o Pescara, de jovens como Bellanova, deve ser rebaixado (LaPresse)

Por fim, o último time situado no meio da tabela é o Pordenone, que apresenta um crescimento orgânico sob a gestão do presidente Mauro Lovisa. O clube friulano começou a chamar a atenção quando retornou ao futebol profissional, entrando na Lega Pro (atual Serie C) em 2014, depois de ser campeão da Serie D. Entre boas campanhas na terceira divisão e até uma eliminação nos pênaltis frente a Inter, nas oitavas de final da Coppa Italia, o clube neroverde finalmente conseguiu o acesso inédito à Serie B em 2019. Logo no ano de estreia, ficou a um passo da elite: foi eliminado na semifinal dos playoffs.

Nesta temporada, ainda sob o comando de Attilio Tesser, treinador da equipe desde 2018, superou um início regular com bons resultados entre dezembro e fevereiro. Contudo, a perda do artilheiro Davide Diaw – que se destacava nos seus anos de Cittadella e acabou vendido para o Monza no mercado de inverno – acabou por custar a dinâmica ofensiva do time. Nos últimos sete jogos, o Pordenone marcou somente um gol e acumulou cinco derrotas, com nenhuma vitória no período. A sequência negativa também é reflexo de um surto de covid-19 que assolou o elenco e até suspendeu o jogo contra o Pisa antes da parada para a data Fifa de março. Diante desse cenário, com 34 pontos somados – a dez de distância do G8 e a cinco do playout – o Pordenone também ligou o sinal de alerta.

O fundão

Cosenza e Reggiana abrem a zona de playout, mas até agora não ameaçaram os neroverdi. As duas equipes têm os menores valores de mercado do campeonato, segundo o Transfermarkt, e, apesar dos pequenos investimentos, superaram as dificuldades financeiras para lutarem pela permanência. Caso se mantenham nesta condição até a 38ª rodada, disputarão um lugar na Serie B em duelos de ida e volta.

Com um ponto a menos, o decepcionante Ascoli abre a zona de rebaixamento. Há seis anos na segunda divisão, o time marquesão sempre esteve no limite da luta contra o rebaixamento, em contraste com o espaço concedido a muitos jovens hoje consolidados na Serie A ou em vias de afirmação – a exemplo de Andrea Petagna, Jakub Jankto, Riccardo Orsolini e Gianluca Scamacca. Nesta temporada, depois de começar a campanha sob o comando de Valerio Bertotto, contou com uma rápida passagem do folclórico Delio Rossi e atualmente é comandado por Andrea Sottil. Nos últimos nove jogos, apenas uma vitória.

Este triunfo dos bianconeri, inclusive, foi conquistado sobre o Pescara, 19º colocado com 23 pontos, cinco a menos que o próprio Ascoli. Assim como o rival das Marcas, o time dos Abruzos sempre foi reconhecido pelo espaço dado a jovens jogadores – como Raoul Bellanova, lateral da seleção sub-21 italiana –, porém a fórmula não tem tido o êxito do passado desde a temporada 2019-20. Após evitar o rebaixamento no playout em 2020, a queda para a terceira divisão, que não disputa desde 2010, se aproxima: desde a virada do ano, foram apenas duas vitórias em 14 jogos. O mesmo vale para a Virtus Entella, lanterna convita. Com 21 pontos, sem vitórias desde janeiro e sete derrotas no período, a equipe da Ligúria está praticamente condenada.

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