Era uma terça de apreensão para a Itália. A seleção faria, contra a Espanha, nas semifinais da Euro, o seu jogo mais importante em nove anos, desde que perdera para a própria Fúria na decisão do torneio, em 2012. Alguns até poderiam considerar que a distância para um duelo tão significativo era mais curta, levando em conta a derrota para a Suécia na repescagem das Eliminatórias para a Copa do Mundo, em 2017. Mas, mesmo naquela ocasião, os espanhóis tinham envolvimento indireto: a Nazionale terminou nos playoffs porque perdera nos confrontos diretos com os ibéricos na fase de grupos. O dia era de revanche, em Wembley. E ela aconteceu, nos pênaltis.
O duelo despertava muita curiosidade sobre vários pontos, como as estratégias de jogo ou as ações e reações de cada equipe. Itália e Espanha começaram a entregar respostas logo nos primeiros minutos. Ao optar por entrar com Oyarzabal na vaga de Morata, deixando Dani Olmo centralizado no ataque, Luis Enrique parecia buscar tirar o encaixe da defesa italiana sobre seu novo titular e isso aconteceu, de fato. Porém, a principal implicação da mudança seria outra: pressionar Jorginho.
Com uma equipe moldada para conservar posse de bola, tendo em Busquets uma certeza de controle e distribuição de jogo, a Espanha encaixou uma forte pressão em campo ofensivo, desde os primeiros minutos. Dessa forma, a Fúria não permitiu que a Itália tivesse qualquer condição de equilibrar os momentos em que usufruía da pelota. Isso deixou a equipe de Roberto Mancini desconfortável em Londres.
Era mais importante para a Itália conseguir produzir em cada uma de suas posses do que a percentagem de tempo em que teria a bola: eficácia era a palavra-chave. Acontece que, sem Spinazzola para abrir campo e receber, e tendo Jorginho bem vigiado pelo centro, a Nazionale se viu com poucas opções. Restou aos italianos, portanto, buscar trocas de passes rápidos, lançamentos longos e construções de poucos segundos. Enquanto isso, a Espanha fazia o seu jogo, criava situações de vantagem e finalizava em gol. Para a sorte dos azzurri, a pontaria dos espanhóis esteve muito ruim.
É necessário dizer que a Itália conseguiu levar perigo à defesa da Espanha no primeiro tempo, mesmo que estivesse sofrendo com um encaixe de jogo complicado, sentisse muita falta de Spinazzola e visse Insigne, Verratti e Barella produzirem abaixo do esperado. Utilizando a velocidade, conseguia progredir em campo, tirar proveito da transição defensiva rival e só não marcou por erros no último passe. De qualquer forma, a vantagem competitiva dos espanhóis estava evidente.
No retorno para a segunda etapa, o cenário do jogo não apresentou nenhuma grande mudança e a Espanha manteve o controle da “narrativa”. Contudo, num lance em que o ataque espanhol se posicionou em campo ofensivo com muitas peças, Donnarruma acionou Verratti em velocidade, o meia acelerou até que a bola chegasse a Immobile e terminasse com Chiesa, que limpou o lance e colocou a bola no fundo da rede defendida por Unai Simón, para delírio italiano em Wembley.
Logo após o gol, Mancini trocou Immobile por Berardi e passou a jogar com Insigne como peça centralizada. Sem alternativa, a Espanha se lançou cada vez mais ao ataque, mas pouco conseguia produzir em termos de chances claras de gol. Com o contra-ataque a ser favor, a Squadra Azzurra criou duas grandes oportunidades de ampliar a vantagem, com finalizações de Berardi. A segunda delas, mais clara, não foi perdoada. O ataque espanhol trocou toques rápidos para ativar Olmo e o meia do Leipzig encontrou Morata, que entrara no decorrer da segunda etapa, em profundidade. O centroavante venceu o duelo com Chiellini e empatou o duelo aos 80 minutos.
Mancini, que pouco antes tinha trocado Verratti e Emerson por Pessina e Rafael Toloi, logo após o gol decidiu colocar Locatelli e Belotti nas vagas de Barella e Insigne. A Itália não voltou a se encontrar na partida e foi a vez de ser resiliente, segurando o ímpeto espanhol nos minutos finais do tempo regulamentar e por toda a prorrogação. Sabendo sofrer, a Nazionale defendeu a sua área e levou a decisão para as cobranças de pênaltis.
Nas penalidades, Locatelli e Olmo começaram desperdiçando. Na sequência, Belotti, Moreno, Bonucci, Thiago e Bernardeschi converteram as suas cobranças. Até que Morata, o herói da Espanha, bateu a quarta cobrança ibérica nas mãos de Donnarumma. Estava nos pés de Jorginho a classificação e ele não desperdiçou: com a sua classe habitual, deslocou Simón e garantiu a Itália na grande decisão da Euro 2020.
Pela segunda edição seguida de Eurocopa, os azzurri levaram a melhor sobre a Espanha. Depois de todo o trauma pela não classificação para a Copa do Mundo de 2018, a Nazionale se encontra em um patamar de análise diferente: chega à sua segunda final em três edições da Euro. O trabalho de Mancini, que potencializou uma excelente geração de atletas, pode ser coroado com um tão sonhado e aguardado bicampeonato continental. No domingo, também em Wembley, seja contra Inglaterra ou Dinamarca, a Itália tem um encontro marcado com a história.