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Claudio Sala, o ‘poeta do gol’, capitaneou o Torino em seu último scudetto

Conhecido como Poeta do Gol, Claudio Sala encantou os torcedores do Torino durante a década de 1970. O ponta foi um dos líderes do time piemontês na conquista da Coppa Italia em 1971 e, já com a braçadeira de capitão, se consolidou como ídolo do clube pelo papel desempenhado na trajetória que culminou no último scudetto dos granata, em 1976, o único após a tragédia de Superga. A habilidade de Claudio, seus dribles, a ambidestria e a técnica para colocar efeito na bola justificaram seu apelido.

Nascido na província de Macherio, região da Lombardia, Sala foi levado desde pequeno para os estádios de futebol. Suas principais inspirações, o espanhol Luis Suárez e Mario Corso, são ambos interistas, pois, seu pai, um nerazzurro fanático, sempre levava o filho ao San Siro. O próprio Claudio torcia para a Inter quando garoto e chegou a ser aprovado numa peneira da Beneamata. No entanto, deu os seus primeiros passos mais perto de casa.

Na década de 1960, Claudio passou a fazer parte dos juvenis do Monza, time da homônima cidade, localizada a apenas 6 quilômetros de Macherio. Em 1965, Sala estreou na equipe titular, mas terminou, juntamente a seu clube, rebaixado à Serie C. Na temporada seguinte, despontou de vez dentro das quatro linhas, ajudando no reerguimento dos brianzoli e em seu acesso à segunda divisão italiana, com 13 gols marcados na terceirona. E seu bom desempenho não passou despercebido.

O Napoli desembolsou 125 milhões de liras e contratou o atacante, deixando-o um ano ainda emprestado ao Monza. Desta vez, a história de sua temporada de estreia não se repetiu. Ele foi essencial para o oitavo lugar conquistado e, tendo mais um desempenho bastante prolífico para um meia-atacante, marcou 11 vezes na campanha dos biancorossi. Em 1968, retornou aos partenopei, onde não encontraria o sucesso.

O jogador lombardo se transformou num perigoso ponta-direita após ter sido contratado pelo Torino (LaPresse)

Sala disputou somente um Campeonato Italiano pelo Napoli. Em 29 participações, anotou apenas dois gols na Serie A e fez mais um na Copa das Feiras. Porém, teve boa prestação na criação das jogadas. Seus minutos em campo foram maiores do que o esperado devido à aposentadoria do craque Omar Sívori – que, inclusive, o elogiava nos treinamentos.

Mesmo que o garoto de 21 anos demonstrasse um evidente talento, o Napoli optou por vendê-lo. Claudio, então, foi negociado pela quantia de 480 milhões de liras, valor considerável para os padrões da época. O Torino entendeu que os pontos positivos do atacante compensavam outras características não tão boas, como o seu individualismo e a falta de consistência. O tempo foi encarregado de mostrar que o investimento foi um acerto, com os frutos sendo colhidos por cerca de uma década.

O início com a malha granata não foi dos mais fáceis. Sob o comando dos técnicos Giancarlo Cadè, Gustavo Giagnoni e Edmondo Fabbri, não conseguiu expressar toda sua capacidade, em especial, seu drible. Mesmo não sendo o grande protagonista, foi participativo na conquista da Coppa Italia de 1971 (esta sob as ordens do primeiro treinador entre os três citados) e do vice da Serie A, a serviço do segundo profissional da lista acima. O auge da carreira de Sala viria depois de dois eventos cruciais: a aposentadoria da lenda Giorgio Ferrini e a chegada de Luigi Radice.

A grande mudança, especificamente para Claudio Sala, foi no posicionamento. Se antes atuava mais centralizado, em 1975 passou a ser ponta-direita. Naquela função, conseguiu expressar toda sua magia, com dribles estonteantes e cruzamentos belíssimos cheios de efeito. Todo encanto não passou despercebido pelos torcedores, que logo o trataram de atribuir a ele o apelido de Poeta do Gol, em referência aos “versos” que “escrevia” com a bola. Mesmo sem balançar as redes com frequência, tinha ao seu lado companheiros de altíssimo nível no ataque.

Claudio Sala disputou a Copa de 1978, mas não teve carreira tão longa pela seleção italiana (imago)

Francesco Graziani e Paolino Pulici formavam uma dupla conhecida como “os Gêmeos do Gol”. Servidos muitas vezes pelo ponta, eles marcaram 15 e 21 gols, respectivamente, na Serie A 1975-76. Claudio anotou mais dois tentos e, assim, o trio foi responsável por quase 80% dos gols do Torino no torneio. Os desempenhos fantásticos deram o título da liga para o time de Turim, encerrando um jejum que já perdurava 26 anos. Quem liderou a caminhada rumo ao troféu foi justamente Sala, que recebeu a faixa de capitão na chegada de Radice.

Esse Campeonato Italiano foi o primeiro após o acidente aéreo de Superga e o último do clube até os dias atuais. Na época, o Torino ficou dois pontos à frente da Juventus, que viria a dar o troco na temporada seguinte. Sob o comando de Giovanni Trapattoni, os bianconeri superaram o rival grená por apenas um pontinho. Claudio tem esse vice como uma de suas duas maiores frustrações, já que o Toro chegou a ficar empatado com a Velha Senhora faltando apenas quatro rodadas do fim da Serie A. O segundo grande amargor foram as poucas chances que teve com a Nazionale.

Sala nunca conseguiu ser protagonista na seleção italiana. Na primeira parte de sua carreira, enfrentava a forte concorrência de Gianni Rivera e Sandro Mazzola, embora ainda tenha conseguido algumas convocações entre 1971 e 1973. Mais para frente, depois da mudança de posição, Franco Causio, jogador bianconero, virou seu rival.

O Barão também atuava na ponta direita e foi o preferido na época, ajudado pelo entrosamento que tinha com a maior parte da base da Squadra Azzurra: para a Copa do Mundo de 1978, foram convocados por Enzo Bearzot nove jogadores da Juventus e seis do Torino. O Poeta do Gol pelo menos conseguiu somar 18 aparições pela Nazionale, incluindo duas participações discretas na expedição italiana ao Mundial disputado na Argentina.

Além de ter sido brilhante pelo Torino, Sala foi capitão do time por cinco anos (imago/Pressefoto Baumann)

Nas duas temporadas mágicas anteriores à Copa, em 1976 e 1977, Sala venceu o Guerin d’oro logo nas primeiras edições do prêmio. A honraria era dada ao melhor jogador da Serie A com base em avaliações feitas pelos veículos esportivos La Gazzetta dello Sport, Corriere dello Sport, e Tuttosport, além, claro, dos repórteres do Guerin Sportivo. Esse período teria sido o grande auge do Poeta do Gol.

Seus momentos subsequentes não foram tão brilhantes. De 1977 em diante, o clube granata acumulou outro vice-campeonato (novamente ficando atrás da Juventus), uma quarta posição em 1979 e o terceiro lugar em 1980 – quando também foi vice da Coppa Italia. Posições importantes, mas de menor protagonismo no cenário nacional e com uma participação menos decisiva de Sala, que via a idade chegar. Após 11 anos em Turim, já com 32 nas costas, o Poeta do Gol mudoi de ares: foi para o Genoa, e mesmo em fim de carreira, mostrou que não estava ali a passeio.

Em 1980, os rossoblù enfrentavam a Serie B e encontraram em Sala um nome experiente para conduzir o clube rumo ao acesso. Na campanha, o Genoa terminou em segundo lugar, atrás apenas do gigante Milan. No ano seguinte, o Poeta do Gol jogou menos da metade das partidas da primeira divisão. Ali, se despedia dos gramados, e de missão cumprida. Seu time escapou do rebaixamento, terminando um ponto à frente dos rossoneri, que retornaram à segundona.

Por toda a sua importância para o futebol, Sala mereceu espaço no Hall da Fama do Monza e no do Genoa. O Torino não tem uma honraria do gênero, mas o Poeta do Gol certamente frequentaria tal grupo, afinal, em 11 anos de Piemonte, ostentou a braçadeira de capitão em cinco, além de ter disputado 364 partidas e marcado 33 gols pelo time grená. É o quarto jogador em número de aparições pelo Toro, atrás apenas de Ferrini, Pulici e Renato Zaccarelli.

Sala se despediu da Serie A e do futebol com a camisa do Genoa (Studio 4)

Diferentemente de toda fantasia e ousadia que mostrava com os pés, Claudio se identificava com um perfil mais humilde e preferia ficar longe dos holofotes. Pouco depois de se aposentar, retornou ao Torino para ser colaborador técnico e treinou também uma das equipes juvenis dos grenás.

Em 1988-89, acabou alçado ao papel de comandante do time principal numa roubada: o Toro fazia um péssimo campeonato e demitiu Radice para tentar um “fato novo” na luta contra o rebaixamento. Sala assumiu o cargo em dezembro de 1988 e acabou demitido em maio de 1989, já que o trabalho não apresentava evolução. Dessa forma, o Torino amargou o descenso pela segunda vez, 30 anos após a primeira queda.

Sala ainda teve duas breves, espaçadas e pouco felizes experiências como técnico nas divisões inferiores. Em 1990 e 1991, passou duas vezes na mesma temporada pelo Catanzaro, rebaixado à quarta divisão, e uma década depois dirigiu, por cinco rodadas, o minúsculo Moncalieri, sem oferecer qualquer contribuição para evitar a queda dos piemonteses à quinta categoria.

Fora dos campos, Claudio ainda teve algumas participações em canais de TV como comentarista esportivo. Graduado em contabilidade desde o início da vida adulta, nunca exerceu a profissão e sequer usou os conhecimentos que adquiriu na universidade para abrir um negócio. O Poeta do Gol prefere, mesmo, aproveitar a vida de aposentado, perto da família – algo que, quando era atleta profissional, pouco pode usufruir.

Claudio Sala
Nascimento: 8 de setembro de 1947, em Macherio, Itália
Posição: ponta-direita
Clubes como jogador: Monza (1965-68), Napoli (1968-69), Torino (1969-80) e Genoa (1980-82)
Títulos como jogador: Serie C (1967), Coppa Italia (1971) e Serie A (1976)
Clubes como treinador: Torino (1988-89), Catanzaro (1990 e 1991) e Moncalieri (2001)
Seleção italiana: 18 jogos

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