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Sergio Gori integra o seleto grupo de campeões italianos por três times diferentes

A vontade de ser campeão é inerente a esportistas de alto rendimento. Independentemente do “tamanho” do título ou do metal da medalha, o importante é levantar uma taça ou ostentar a condecoração no peito. Muitos não conseguem chegar nem perto das glórias, enquanto outros, como Sergio Gori, se enchem de honrarias. O atacante, por exemplo, é um dos seis únicos atletas da história que foram capazes de vencer a Serie A por três times diferentes: pelas gigantes Inter e Juventus, no começo e no fim de sua carreira, respectivamente, e, sobretudo, pelo Cagliari, clube que ajudou a conquistar um scudetto inédito.

Gori nasceu em Milão, em fevereiro de 1946, num momento em que a Itália já era bicampeã do mundo e o planeta vivia profundas mudanças, devido ao fim da II Guerra Mundial, cinco meses antes. Num contexto de recuperação do país, o garoto cresceu com a intenção de se tornar jogador de futebol e, desde criança, teve contato com o esporte: Bobo, seu carinhoso apelido, foi dado por Giorgio Barsanti, atacante da Inter que costumava almoçar no restaurante de seus pais.

Aos 14 anos, Sergio ingressou justamente nas categorias de base dos nerazzurri. Atuando como ponta e, às vezes, no comando do ataque, o jovem foi cumprindo etapas e, no fim de 1964, ganhou sua primeira oportunidade como profissional. Àquela altura, os lombardos viviam uma fase esplendorosa, que viria a ficar conhecida como a era da “Grande Inter”.

A equipe treinada por Helenio Herrera ganhou quase tudo o que disputou e Gori deu uma pequena contribuição entre 1964 e 1966. O atacante estreou num empate por 2 a 2 com a Fiorentina, em partida válida pela Serie A, e foi marcar os seus primeiros gols nas quartas de final da Coppa Italia – anotou duas vezes num eletrizante 6 a 3 sobre o Cagliari.

A Beneamata seria vice do torneio de mata-mata nacional, terminando derrotada pela Juventus, mas faturara o Italiano um pouco antes. No último Derby d’Italia daquele certame, aliás, Bobo foi protagonista: com apenas 19 anos, marcou o gol que fechou o placar de 2 a 0 para a Inter. Junto ao time de Milão, o atacante também conquistou o Mundial Interclubes e a Copa dos Campeões. Na temporada seguinte, celebrou outro scudetto e mais uma Copa Intercontinental.

Gori foi revelado pela Inter, mas encontrou pouco espaço na equipe nerazzurra no início de sua carreira (Arquivo/Inter)

Embora tenha mostrado bons atributos, Gori tinha grande concorrência na Inter e não era considerado maduro o suficiente por Herrera. Dessa forma, após 14 jogos e cinco gols, foi repassado ao Vicenza como parte do negócio que levou o atacante brasileiro Luís Vinício, artilheiro da Serie A 1965-66, a Milão. Com a camisa dos lanerossi, Bobo anotou 16 tentos em 59 partidas, sendo o principal homem de frente do time durante duas temporadas. Nessas campanhas, foi vital para que os berici escapassem do rebaixamento e ainda teve o gostinho de assinar uma tripletta contra a Atalanta.

O bom desempenho no Vêneto garantiu a Bobo o retorno à capital da moda. No entanto, em sua segunda passagem pela Inter, já treinada por Alfredo Foni, Gori não conseguiu desbancar Sandro Mazzola, Mario Corso, Jair da Costa e Angelo Domenghini, de modo que realizou somente 15 jogos e um gol. Durante o mercado de verão de 1969, a diretoria nerazzurra identificou Roberto Boninsegna como peça preponderante para que a equipe recuperasse terreno em nível nacional – tinha sido apenas quarta colocada da Serie A – e fez uma oferta importante ao Cagliari, vice-campeão e dono do passe do artilheiro: 600 milhões de liras mais os direitos sobre Sergio, Domenghini e o atacante Cesare Poli. Negócio fechado.

Ao lado de Domenghini, Gori chegava ao clube da Sardenha para fazer história. Depois de ganhar dois scudetti como reserva, Bobo teve o prazer de ser titular na lendária campanha do Cagliari do técnico Manlio Scopigno e do craque Luigi Riva. Sergio, aliás, disputou todos os jogos da Serie A 1969-70 e foi um dos principais auxiliares do companheiro de ataque.

Riva liderou o Cagliari e terminou a campanha como artilheiro da Serie A, com 21 gols. Bobo se destacava pela força para segurar as defesas e efetuar o trabalho de pivô para Gigi vir de trás e trucidá-las, mas também anotou seis tentos. Um deles ocorreu na antepenúltima rodada do campeonato, num contra-ataque ocorrido no fim do segundo tempo da partida contra o Bari: ao balançar as redes e garantir o triunfo por 2 a 0, Gori rebaixou os biancorossi e confirmou matematicamente o título do time da Sardenha, fazendo explodir o antigo estádio Amsicora.

Gori e Nenê foram ídolos do Cagliari entre as décadas de 1960 e 1970 (Arquivo/Cagliari Calcio)

A excelente campanha pelos casteddu rendeu a Gori algumas oportunidades na seleção B da Itália. O atacante agradou ao técnico Ferruccio Valcareggi, que procedeu com a sua convocação para a Copa do Mundo de 1970. Sem sequer ter somado aparições pelo time principal da Nazionale, Bobo viajou para o México para disputar a competição mais importante do planeta. Inclusive, a sua estreia se deu contra os donos da casa, nas quartas de final: entrou em campo aos 84 minutos, quando os italianos venciam por 4 a 1. Depois de amargar, com os colegas, o vice para o Brasil de Pelé, Sergio fez somente mais dois jogos pela Squadra Azzurra.

Nas temporadas posteriores ao scudetto, o Cagliari não conseguiu repetir os fantástico resultados. Ainda assim, considerando que o clube era pequeno e havia estreado na elite apenas em 1964, obteve colocações bastante razoáveis até 1975 – chegando a ser quarto colocado em 1972. Nesse período, Gori permaneceu sendo um dos principais nomes do elenco, ao lado de Riva e do brasileiro Nenê, e chegou a suprir a ausência do lesionado Gigi e ser artilheiro do time sardo em 1974-75, com 11 gols, sendo 10 na Serie A. Depois desse desempenho, aos 29 anos, Bobo mudou de ares.

Gabaritado por um scudetto e 39 bolas nas redes em 207 aparições pelo Cagliari, Gori foi adquirido pela Juventus, que se sagrara campeã italiana justamente em 1975. Para dar continuidade ao trabalho vitorioso, o técnico Carlo Parola montou um ataque de peso, unindo Sergio aos também rodados José Altafini, Pietro Anastasi e Franco Causio, que serviam como “tutores” a Roberto Bettega e Oscar Damiani, que estavam na faixa dos 25 anos. Com o perdão do trocadilho, Bobo não era ingênuo: estava ciente de que a concorrência seria grande e que o comandante faria rodízio no setor.

Apesar dos obstáculos, o lombardo conseguiu bastante espaço na primeira temporada, na qual realizou 29 jogos – no setor de ataque, apenas Bettega e Causio foram mais utilizados. Gori também balançou as redes sete vezes e contribuiu com gols nas importantes vitórias sobre Fiorentina, Milan e Napoli. A Juventus, no entanto, foi vice-campeã italiana e caiu precocemente nas outras competições que disputou, o que levou ao fim do ciclo de Parola no clube.

Pela Velha Senhora, Gori teve os seu últimos momentos de brilho na elite do futebol italiano (Arquivo/Juventus FC)

Com a chegada de Giovanni Trapattoni, em 1976, Bobo passou a esquentar o banco. Por não ser adepto da prática do rodízio, o novo treinador reformulou o ataque: o veterano Altafini deixou o clube, enquanto Anastasi foi trocado por Boninsegna, novo parceiro de Bettega, e Causio teve função mais recuada no flanco direito. Dessa forma, enquanto seus companheiros de setor tiveram de 3,9 a 4,2 mil minutos em campo na campanha, Gori recebeu modestos 768. Ainda assim, marcou um gol sobre a Inter e ajudou a Juve a levar a Serie A e a Copa Uefa, seu primeiro título internacional, naquela temporada.

O scudetto fez Gori entrar para a história como um dos seis jogadores a terem vencido o Campeonato Italiano com três times diferentes. O atacante foi o terceiro a alcançar tal honra, após Giovanni Ferrari e Filippo Cavalli – anos depois, foi igualado por Attilio Lombardo, Pietro Fanna e Aldo Serena.

Depois da conquista pela equipe bianconera, Bobo se transferiu ao Verona, clube pelo qual encerrou a sua passagem pela elite. Na única temporada com a camisa gialloblù, realizou 21 partidas, marcando quatro gols, e ajudou o Hellas a ficar no meio da tabela do Italiano. Em fim de carreira, rumou para a Serie C2 e representou o Sant’Angelo, da Lombardia: com 26 aparições e cinco tentos, foi vital para a promoção do clube para a terceira categoria do futebol nacional. Ao término do certame, se aposentou, com 33 anos.

Ao pendurar as chuteiras, Gori também decidiu se afastar do futebol. O ex-atacante preferiu dar continuidade aos negócios da família, que se dedicava a restaurantes, e só aparecia na mídia esporadicamente, dando entrevistas sobre os times que defendeu em sua carreira. Em 2012, o Cagliari, clube em que mais brilhou, o homenageou com a inclusão em seu Hall da Fama. Bobo faleceu uma década depois, em 2023, aos 77 anos.

Atualizado em 10 de dezembro de 2023.

Sergio Gori
Nascimento: 24 de fevereiro de 1946, em Milão, Itália
Morte: 5 de abril de 2023, em Sesto San Giovanni, Itália
Posição: atacante
Clubes: Inter (1964-66 e 1968-69), Vicenza (1966-68), Cagliari (1969-75), Juventus (1975-77), Verona (1977-78) e Sant’Angelo (1978-79)
Títulos: Mundial Interclubes (1964 e 1965), Serie A (1965, 1966, 1970 e 1977), Copa dos Campeões (1965) e Copa Uefa (1977)
Seleção italiana: 3 jogos

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