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Maior artilheiro do futebol inglês, Jimmy Greaves viveu dias amargos no Milan

No futebol, o contexto no qual determinado jogador está inserido pode fazer toda a diferença. Seja para o bem ou para o mal. Esta é a história de Jimmy Greaves, um dos maiores goleadores de todos os tempos, que marcou época no futebol inglês. E no início da carreira, embarcou, a contragosto, para uma breve jornada no Milan, onde as coisas não deram certo.

O prodigioso artilheiro

Nascido durante a Segunda Guerra Mundial, em Manor Park, no leste de Londres, James Peter Greaves, filho de um maquinista de metrô, viveu em Dagenham até os 10 anos de idade. No colégio, assim como outros tantos, adorava jogar bola, e em uma dessas vezes foi observado por James Thompson, olheiro do Chelsea. O time da região era o West Ham, mas os Blues, também situados na capital inglesa, tinham uma competente e reconhecida equipe de olheiros à época.

Aos 15 anos, Jimmy assinou contrato com o Chelsea, do treinador Ted Drake, na condição de aprendiz. E rapidamente mostrou suas qualidades, impressionando a todos. Seu primeiro contrato profissional foi firmado um biênio depois, e ele estreou oficialmente na partida inaugural da temporada 1957-58 da First Division, o campeonato nacional que precedeu a Premier League, contra o Tottenham, em White Hart Lane. O placar final foi um empate em 1 a 1, e Greaves deixou o dele. Era o primeiro de muitos gols que estavam por vir.

Greaves fechou aquela campanha com 22 tentos em 35 jogos. Na temporada seguinte, atuou em todas as rodadas e fez 32 em 42 partidas. Com destaque crescente, foi convocado pela primeira vez para a seleção inglesa em maio de 1959, para uma peleja contra o Peru, em Lima, quando atuou ao lado de Sir Bobby Charlton e marcou o gol de honra dos britânicos, que perderam por 4 a 1. O início de sua carreira foi justamente em um período em que a Inglaterra implementou profundas mudanças no futebol. O motivo para isso foram derrotas acachapantes para a Hungria de Ferenc Puskás, seis anos antes: um 6 a 3 em pleno Wembley e um atropelamento em Budapeste (7 a 1).

Um ano depois, decolou com a seleção ao marcar 13 vezes em oito convocações. No cenário de clubes, fez 29 gols em 40 jogos até chegar em 1960-61, sua temporada mais incrível, quando teve média superior a uma bola na rede por partida e anotou 41 tentos em 40 ocasiões.

Para se ter uma ideia do quão prolífica foi aquela campanha, Jimmy guardou hat-tricks contra Wolverhampton, Blackburn e Manchester City – nesta ocasião, fez o 100º gol na carreira, tornando-se o jogador mais jovem a chegar à marca centenária, com 20 anos e 290 dias, um recorde que duraria por quase cinco décadas, até ser batido por Kylian Mbappé. Por duas vezes, anotou quatro tentos (contra Newcastle e Nottingham Forest) e, o mais impressionante, guardou cinco sobre o West Bromwich.

Consolidado como um fenomenal atacante, Greaves, que era um finalizador de alto nível, não se resumia a “somente” ao trabalho de empurrar a bola para as redes. Ele chutava com os dois pés com extrema naturalidade, como se nenhum esforço fosse necessário – talvez só George Best se equiparasse na ambidestria. Diferentemente do modelo do clássico 9 britânico, cujos centroavantes, em sua maioria, eram grandalhões, tinha 1,73 m. Mas engana-se quem pensa que ele não fazia da cabeçada um recurso mortal. Elegante no trato com a bola, desmontava defesas com uma sutil mudança de direção ou ritmo. Sua maior virtude, aquilo que mais o diferenciava dos concorrentes, era a incrível capacidade de encontrar o espaço certo, na hora certa, dentro da área, para marcar gols em profusão.

O Milan e o álcool acabaram se tornando fantasmas na vida de Greaves (Keystone/Hulton Archive/Getty)

Ida ao Milan: saudade de casa e faíscas com Nereo Rocco

Com o Chelsea acostumado a brigar contra o rebaixamento e vendo seu nome correr por todo o continente europeu, Greaves sentiu que talvez fosse o momento de alçar voos mais altos. No verão de 1961, clubes começaram a demonstrar interesse pelo atacante; o Tottenham foi um deles, mas Joe Mears, presidente dos Blues, descartou a possibilidade de reforçar o rival londrino. Foi quando surgiu um interesse internacional, do Milan, que havia sido quatro vezes campeão nacional na década anterior.

O intermediário Gigi Peronace, que, segundo o próprio Jimmy, “parecia um membro do elenco de O Poderoso Chefão”, assumiu a responsabilidade de conduzir as negociações com os rossoneri e formalizou uma proposta de 80 mil libras esterlinas. O negócio parecia ideal para ambos os lados envolvidos; os Blues receberiam uma quantia que os ajudaria a sanar os recorrentes problemas financeiros, e Greaves enfim seria inserido num contexto propício para dar um salto na carreira e conquistar troféus por clubes. Até aquele momento, ele vencera apenas o Campeonato Britânico de Seleções, competição que a Inglaterra disputava contra Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte, os outros países do Reino Unido.

Tendo passado nos exames médicos, Greaves, em um primeiro momento, ficou empolgado, principalmente por conta do substancial aumento salarial, de 20 a 130 libras por semana, e da luxuosa cobertura que teria a disposição para viver em Milão ao lado da esposa Irene e da filha, a pequenina Lynn. Um ano antes, o casal vivenciou um drama particular quando perdeu o filho, Jimmy Junior, vítima de pneumonia.

Quando todos os detalhes estavam praticamente acertados para a transferência, Greaves começou a se questionar se realmente deveria deixar Londres, cidade que apreciava. Com a cabeça repleta de dúvidas, o atacante chegou a comunicar ao Chelsea sobre a intenção de permanecer, mas de nada adiantou: o clube já havia recebido um adiantamento de 10 mil libras, e os dirigentes estavam esfregando as mãos, ansiosos para receber o restante do pagamento.

Em abril de 1961, Greaves anotou seu primeiro hat-trick pela seleção, em um sonoro 9 a 3 em cima da Escócia. Por falar em fazer muitos gols em uma mesma partida, ele repetiu a dose em sua última aparição trajando o uniforme do Chelsea, quando foi escalado como capitão contra o Nottingham Forest e marcou, como dito anteriormente, quatro vezes; o confronto terminou em 4 a 3 e representou a 13ª ocasião que o artilheiro foi o autor de três ou mais vezes num único jogo pelo clube. Em 169 aparições, balançou 132 redes pelos azuis de Londres.

Antes de embarcar rumo à Lombardia, Jimmy integrou a lista de convocados para representar a Inglaterra em uma turnê. Quando regressou, logo teve de preparar as coisas para se mudar para a Itália. No aeroporto de Heathrow, duas horas antes do voo, estava acompanhado do repórter Desmond Hackett, do Daily Express, que sugeriu que os dois deveriam celebrar a ocasião. Um almoço regado a lagostas e champanhe foi servido, e Greaves nem se deu conta de que duas horas haviam passado e que ele perdera o voo. Encaixado no horário seguinte, pousou em Milão seis horas mais tarde do que o combinado. Este seria apenas o primeiro dos problemas que ele teria no Diavolo.

Poucos dias depois, retornou à Inglaterra alegando razões pessoais. A questão é que ele não combinou muito bem isso com o Milan, que passou a multá-lo em 50 libras por cada dia de ausência. De volta, optou que não desembarcaria em Milão, mas em Veneza, para fechar um patrocínio de chuteiras com uma fornecedora de materiais esportivos. Ele se reapresentou ao Diavolo com um dia de atraso e ficou sabendo que Giuseppe Viani, um dos principais entusiastas e incentivadores de sua contratação, sofrera um ataque cardíaco e estava afastado do cargo. Para substituí-lo, o nome escolhido foi o de Nereo Rocco.

O bom relacionamento entre Greaves e Rocco durou pouquíssimo tempo (Keystone/Hulton Archive/Getty)

Logo de cara houve atrito entre Greaves e Rocco, que reprovou a ida do novo contratado à Veneza. O britânico se deparou com um treinador de estilo muito intenso e draconiano, e sofreu para se adaptar ao novo estilo de vida, totalmente diferente dos dias pacatos em seu país natal. “Ele fez da minha vida um inferno e eu definitivamente não fui um sol na vida dele. Ele era um disciplinador severo”, declarou o atacante.

Rocco era rígido a ponto de querer controlar as refeições de Greaves, chegando a sentar-se à sua frente para se certificar de que não restaria nada no prato. Fumar, algo natural na Inglaterra, nem pensar. Cada vez mais estressado com a nova realidade, e travando uma luta inglória para se adaptar à cartilha do treinador, o jogador recorria aos dribles fora de campo, e se esgueirava para dar uns tragos escondido no banheiro do moderno centro de treinamento, onde em inúmeras ocasiões encontrou com outros companheiros de equipe fazendo o mesmo. A realidade encontrada na Itália era bastante diferente, até mesmo em termos estruturais. O CT incluía um restaurante e o clube ainda disponibilizava um retiro nas montanhas; em Londres, ele e os ex-companheiros de Chelsea praticavam atrás das balizas, em uma pista de corrida.

A estreia de Jimmy pelos rossoneri foi contra o Botafogo de Garrincha, Amarildo, Zagallo, Didi, Nílton Santos e companhia, em amistoso válido pela pré-temporada. O novo contratado estreou fazendo os dois gols do time, e o encontro terminou em 2 a 2. Pela Serie A, debutou contra o Vicenza, atuando ao lado de José Altafini, então principal atacante do país, e anotou um tento no triunfo por 3 a 0. Por causa da presença de Altafini, Greaves foi escalado de maneira um pouco distinta da qual estava habituado, tendo que jogar mais recuado ou aberto nas pontas.

Encarando sistemas defensivos mais duros em comparação aos que enfrentava nos tempos de Chelsea, teve um início razoável, em que se distinguiu por uma boa sequência de gols, com uma doppietta contra a Udinese, em vitória por 4 a 3. No jogo seguinte, pela 6ª rodada, contra a Sampdoria, abriu o placar e marcou outra vez, pouco depois de o Milan ter levado a virada e estar perdendo por 2 a 1. Ainda assim, foi capaz de enfurecer Rocco nos instantes finais ao reagir a uma cusparada no rosto, partindo para cima do adversário. O árbitro assinalou falta e o clube genovês aproveitou a oportunidade, com Todor Veselinovic. O episódio fez o treinador despejar toda sua ira sobre o centroavante, chegando a dizer que o atacante era uma desgraça para a camisa rossonera. Greaves não era o único britânico passando por dificuldades de adaptação em solo italiano. Gerry Hitchens, na Inter, além de Dennis Law e Joe Baker, no Torino, eram outros exemplos.

A rodada subsequente marcou um duelo contra a Inter, naquele que foi o único Derby della Madonnina disputado por Greaves. O inglês deixou o dele e ajudou o Milan de Rocco a vencer a equipe de Helenio Herrera por 3 a 1. Àquela altura, dos sete tentos do inglês na competição, três haviam nascido de cobranças de pênaltis, o que o fez chegar a disputar a artilharia por um momento com o sueco Kurt Hamrin, da Fiorentina.

Apesar dos gols, a cada duas ou três rodadas, Greaves indicava que queria viajar para Londres e acumulou episódios de indisciplina, fosse se atrasando ou abandonando treinamentos. O capitão Cesare Maldini chegou a dizer que, certa noite, ele e os outros companheiros avistaram Jimmy sair correndo do hotel descalço, segurando os sapatos nas mãos para não fazer barulho. Na manhã seguinte, o massagista Carlo Tresoldi informou que o atacante não se encontrava no hotel. O Milan enfrentaria o Lecco poucas horas depois, à tarde – e venceu por 3 a 0. Rocco o puniu, deixando-o de fora do time. A saudade de casa falava cada vez mais alto e os conflitos com o Paròn não cessaram. A gota d’água na relação entre os dois se deu na preparação para um duelo contra a Juventus (vitória por 5 a 1, pela 12ª rodada), marcada por uma acalorada discussão.

Cada vez mais isolado e deprimido, Jimmy buscava motivação para tentar aproveitar as chances em campo no catenaccio implementado por Rocco. Com um plano de jogo mais defensivo, que priorizava os contra-ataques, o centroavante se incomodava com os longos períodos que passava sem tocar na bola. A tensão entre ele e o treinador se manteve ao longo da Serie A, indicando que os dias do camisa 9 em Milão estavam contados. Percebendo que a química entre Greaves e Altafini não era boa para o seu catenaccio, Rocco optou por abrir mão de um atacante. Quem foi? O inglês, obviamente.

Os recorrentes atos de indisciplina de Greaves fizeram com que Rocco perdesse a paciência com o inglês (Keystone/Hulton Archive/Getty)

Um dia, quando chegou para treinar, percebeu que tinha algo fora do normal ao avistar uma quantidade elevada de repórteres. Curioso, perguntou o que estava acontecendo para Gianni Rivera, uma das estrelas do Milan, e teve como resposta que a imprensa estava lá para ver o novo contratado, o meio-campista brasileiro Dino Sani – campeão mundial com o Brasil na Copa do Mundo de 1958, e que estava no Boca Juniors. Tratava-se de um reforço pedido por Rocco pensando na temporada seguinte, para atuar ao lado de Altafini na vaga de Greaves. O inglês foi informado por Bruno Passalacqua, secretário do clube, de que estava na lista de atletas negociáveis.

A última partida de Greaves pelo Diavolo aconteceu na derrota por 5 a 2 para a Fiorentina, pela 11ª rodada. Jimmy chegou a dar duras declarações contra o clube italiano, alegando ter sido “espionado” e “mantido como prisioneiro”, sendo sujeitado a um rígido regime sobre sua vida privada, além do não pagamento de salários. Andrea Rizzoli, presidente do Milan, o processou por difamação contínua na imprensa.

Dos gols ao fundo do poço

Dois dias depois do comunicado, Bill Nicholson, treinador do Tottenham, foi à residência de Greaves e ficou tomando chá com Irene até que o atacante, que não estava em casa, retornasse. O dirigente acreditava que o novo reforço impulsionaria o setor ofensivo de sua equipe, que havia acabado de vencer a liga nacional e a Copa da Inglaterra. O Chelsea tentou entrar na parada, mas Jimmy se animou com o projeto apresentado por Nicholson e fechou com os Spurs. Quatro meses depois, o Milan venceu o scudetto. Foram 14 partidas vestindo o uniforme rossonero, entre amistosos e jogos oficiais, e nove gols marcados. Apesar da pouca amostragem, a média é excelente. Por outro lado, o contexto e o desfecho desta passagem dizem outra coisa.

Greaves fechou com o Tottenham por 99.999 libras. “Não queríamos fazer com que ele se sentisse um jogador de futebol de 100 mil esterlinas”, explicou Nicholson. Enfim de volta à névoa e aos pubs de Londres, o atacante estava de volta ao lugar que tanto sentiu falta. Logo em sua primeira temporada pelo clube londrino, conquistou a Copa da Inglaterra (abriu o placar nos 3 a 1 sobre o Burnley na decisão), com direito a uma enorme garrafa de champanhe na celebração.

O ano era 1962, que também marcou a convocação de Greaves para a Copa do Mundo no Chile. Ele jogou todas as partidas da Inglaterra no Mundial e fez um gol, na vitória por 3 a 1 sobre a Argentina. Todavia, seu feito mais memorável no torneio foi na eliminação para o Brasil, pelas quartas de final, noutro 3 a 1, quando pegou um cachorro que correu para dentro do campo. O animal ainda urinou em sua camisa, e ele atuou o restante da peleja com um aroma não muito agradável. O cãozinho acabou sendo adotado por Garrincha, que se encantou por ele.

No ano seguinte, Jimmy conquistou outra taça, a da Recopa Europeia, e marcou dois tentos na goleada de 5 a 1 sobre o Atlético de Madrid, tornando o Tottenham o primeiro clube britânico a erguer um troféu continental. Sentindo-se novamente importante e com moral em um ambiente acolhedor, foi artilheiro da First Division inglesa por três vezes consecutivas (1962-63, 1963-64 e 1964-65). Greaves mostrou a todos sua melhor versão.

Em 1966, foi chamado para disputar a segunda Copa do Mundo da carreira, que seria realizada na Inglaterra. Disputou a primeira fase inteira e enfrentou Uruguai, México e França, mas não balançou as redes. No duelo contra os franceses, sofreu dura entrada do meia Joseph Bonnel, que foi direto em suas canelas e causou um ferimento que custou 14 pontos e uma bela cicatriz. Lesionado, deu lugar a Geoff Hurst, que marcou o único gol contra a Argentina nas quartas e fez trêst na final contra a Alemanha Ocidental, contribuindo diretamente para o título mundial dos ingleses. Do banco, Greaves viu tudo, impassível. Na noite da celebração, foi o único integrante da delegação a não comemorar no hotel Royal Garden, e decidiu ir para casa.

Greaves até estreou com gol sobre o Vicenza, mas não superou as dificuldades iniciais de adaptação à Itália (imago/Colorsport)

O episódio marcou o início de uma profunda batalha que ele viria a travar contra o alcoolismo na década de 1970. Antes, ainda teve dois momentos de grande destaque: o primeiro, em 1967, quando o Tottenham venceu mais uma Copa da Inglaterra (2 a 1 na final diante do Chelsea), e o segundo, na temporada 1968-69, quando foi artilheiro pela quarta – e última – vez na carreira. Uma brusca queda técnica veio em 1969-70: oito gols em 28 partidas, contrastando com os 27 da campanha anterior.

Em março de 1970, já estabelecido como o maior artilheiro da história do Tottenham com 226 gols (além de 15 hat-tricks), e padecendo dos efeitos do alcoolismo, foi para o West Ham em troca pelo ex-companheiro de seleção, Martin Peters. O clube tinha a fama de ser o time de aclamados bebedores, como Frank Lampard Sr. (pai do ídolo do Chelsea), Bobby Moore e Harry Redknapp. Nos Hammers, encontrou um velho conhecido: Hurst, herói da Copa de 1966 e que ocupara sua vaga após a lesão. Greaves marcou duas vezes na estreia, contra o Manchester City (5 a 1), mas saiu da equipe após ter passado uma noite em um pub, na véspera de uma derrota por 5 a 0 para o Blackpool. Ao todo, foram 13 tentos em 40 partidas em uma passagem que durou um ano.

Deixado de fora da lista de convocados para a Copa de 1970, no México, compareceu no país norte-americano não para assistir futebol, mas para disputar a Daily Mirror World Cup Rally, competição que tinha início em Londres, passava pela Europa, América do Sul, América Central e terminava no México. Pilotando um Ford Escort 1850 GT, Greaves chegou na sexta colocação. Além do automobilismo, se aventurou como empreendedor por algumas ocasiões, como quando pegou um empréstimo no banco e abriu uma empresa de embalagens com o cunhado, Tom Barden. Posteriormente, abriu uma agência de viagens.

No auge da crise, passou a beber algo em torno de 20 pints (quase dez litros) de cerveja por dia, e terminava à noite, com uma garrafa de alguma bebida destilada. Convivendo com problemas físicos e motivacionais em decorrência da dependência química, optou por encerrar a carreira em 1971, para passar um tempo em Portugal com a família, formada por Irene e, agora, quatro crianças: Lynn, Mitzi, Danny e Andrew. Depois de alguns anos sem jogar ou até mesmo frequentar estádios, resolveu combater o alcoolismo retornando ao futebol em 1975, para atuar em clubes amadores, tais quais Brentwood, Chelmsford City, Barnet e Woodford Town.

Greaves chegou a dizer que, mais tarde, que “esteve bêbado de 1972 a 1977” – período em que se separou de Irene devido ao descontrole com o álcool. Durante o período, passou a vender suéteres e, em 1978, cansado de estar no fundo do poço, resolveu que pararia de beber e reatou com Irene um ano e meio depois do divórcio. Aposentou-se definitivamente dos gramados em 1980, aos 40. Jimmy trabalhou como colunista do tabloide The Sun e foi para a televisão em 1985, para estrelar um programa ao lado do escocês Ian St John, ídolo do Liverpool. A atração, intitulada “Saint and Greavsie”, fez um tremendo sucesso e se manteve no ar até o advento da Premier League, em 1992, quando a Sky, nova detentora dos direitos televisivos, fez com que o programa se tornasse inviável.

Em 2009, ao lado de outros membros da delegação dos Three Lions na Copa de 1966 que não puderam estar na final, recebeu uma medalha em alusão à conquista mundial. Cinco anos mais tarde, Greaves vendeu a condecoração, que possuía 18 quilates de ouro, por 44 mil libras. Sofreu um derrame meses depois e faleceu em setembro de 2021, aos 81. Seis vezes artilheiro do futebol inglês e autor de 366 gols na elite do futebol europeu, recorde que só viria a ser batido por Cristiano Ronaldo em 2017, deu uma declaração, já aposentado, que resumiu seu sentimento sobre a passagem pela Itália: “Sempre achei que fui para o Milan menino e voltei homem”.

James Peter “Jimmy” Greaves
Nascimento: 20 de fevereiro de 1940, em Londres, Inglaterra
Morte: 19 de setembro de 2021, em Danbury, Inglaterra
Posição: atacante
Clubes: Chelsea (1957-61), Milan (1961), Tottenham (1961-70), West Ham (1970-71), Brentwood (1975-76), Chelmsford City (1976-77), Barnet (1977-79) e Woodford Town (1979-80)
Títulos: Campeonato Britânico de Seleções (1960, 1961, 1964, 1965 e 1966), Serie A (1962), Copa da Inglaterra (1962 e 1967), Charity Shield (1962 e 1967), Recopa Uefa (1963) e Copa do Mundo (1966)
Seleção inglesa: 57 jogos e 44 gols

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