Quando Maxi López surgiu no futebol, havia a esperança de que ele se tornasse um goleador útil para a seleção argentina por alguns anos. Ainda que tenha construído uma trajetória sólida, o atacante jamais se aproximou de tal nível. Na Itália, La Barbie ainda teve de se equilibrar na tênue linha que separava o bom rendimento em campo e a superexposição da sua conturbada vida fora dele – o que certamente minou o seu potencial esportivo.
Em Buenos Aires, 1984, nasceu Maximiliano Gastón López que, com o tempo, ficou conhecido apenas como Maxi López. Foi no River Plate, da capital argentina, que ele iniciou sua trajetória dentro do futebol. Começou nas categorias de base do clube e não demorou para despontar. Em 2001, aos 17 anos, o atacante já estreava e marcava seu primeiro gol pela equipe principal, demonstrando desde cedo a intimidade com a pelota.
Aquele menino loiro de 1,92m e cabelos na altura dos ombros continuava a fazer grandes exibições pelos parques do Monumental de Nuñez. Aos 20 anos, já era campeão dos Jogos Panamericanos e do Sul-Americano Sub-20 e disputava a titularidade do River, sendo um dos artilheiros da equipe. Maxi ainda ajudou na conquista de três edições do Clausura argentino, e dava indícios de que os gramados europeus o esperavam. Em janeiro de 2005, a viagem aconteceu: foi vendido ao Barcelona pela quantia de 6,5 milhões de euros.
Na altura, o clube blaugrana também anunciou o meia italiano Demetrio Albertini, mas todas as atenções estavam voltadas ao atacante, apontado como uma das maiores promessas daquela geração argentina. Maxi chegou para substituir o lesionado Henrik Larsson, mas teve o mesmo destino do sueco: quebrou o pé e ficou meses fora de combate. Entretanto, sua passagem por Barcelona ficou muito marcada não pelo entrosamento dentro de campo, mas sim fora dele. As festas com Ronaldinho eram pauta constante no noticiário e ofuscaram o futebol do jovem.

O Catania foi o primeiro clube de Maxi López na Itália e justamente aquele em que ele fez mais sucesso (Getty)
Apesar destes problemas, López foi multicampeão pelo Barça. Faturou duas ligas nacionais, uma Supercopa da Espanha e uma Champions League, porém sem o destaque que era esperado quando foi adquirido por um montante considerável. Com o então treinador Frank Rijkaard, que teve célebre passagem enquanto jogador pelo Milan, o argentino teve poucas oportunidades, devido à volta de Larsson aos gramados e à ascensão de Lionel Messi. Por isso, buscou seguir a carreira longe de Barcelona.
Em 2006, Maxi terminou emprestado ao Mallorca. O atacante, que era conhecido desde os tempos de River Plate como La Gallina de Oro (“galinha de ouro”), devido ao poder de gerar gols e renda, foi apresentado com o rótulo de craque, mas, novamente, não conseguiu corresponder. Com apenas cinco tentos anotados em 31 jogos, pouco contribuiu para a mediana campanha dos bermellones.
Sem encantar na Espanha, o argentino foi vendido pelo Barça para os russos do FC Moscou, por 2 milhões de euros. Após um bom início de passagem pela Rússia, com seis gols marcados em nove partidas da Premier League de 2007, estagnou no ano seguinte: somou apenas três tentos em 15 aparições. O clube, repleto de dívidas adquiridas e refém do insucesso desportivo, estava preste a fechar as portas (o que aconteceu em 2010) e, antes disso, se livrou do alto salário de Maxi López ao emprestá-lo ao Grêmio.
Em 2009, depois de acertar suas contas na Rússia, La Barbie passou pela virada de chave de sua carreira. Na sua primeira experiência no Brasil, López conseguiu ter um rendimento próximo ao da época de River. Na única temporada em que vestiu a camisa do tricolor gaúcho, foi o seu artilheiro, com 17 tentos em 41 partidas – 12 deles no Brasileirão. Contudo, as polêmicas continuaram o acompanhando. Em um jogo entre Grêmio e Cruzeiro pela Copa Libertadores daquele ano, o argentino foi acusado de racismo e intimado a depor. Um inquérito foi aberto e, depois, arquivado.

A camisa do Milan foi uma das mais pesadas que o argentino vestiu na carreira (imago/Gribaudi/ImagePhoto)
Com o destaque no Brasil, o Grêmio exerceu o direito de compra estipulado em contrato e renovaria automaticamente com o atleta. Entretanto, não foi o que aconteceu. Maxi López não voltou a aparecer em Porto Alegre e, mesmo em litígio com o time gaúcho, foi anunciado pelo Catania, em janeiro de 2010. Ou seja, a sua chegada ao futebol italiano já era fruto de um evento conturbado.
Mas a esperança era grande. Maxi nunca escondeu o seu apreço pelo futebol itálico e chegou à Sicília, depois do pagamento de 3 milhões de euros ao Grêmio, com palavras que mostravam a sua motivação com o novo desafio. “Estou feliz. A equipe precisa de mim e eu dela”, afirmou em sua apresentação. Naquele momento, o Catania estava na zona de rebaixamento da Serie A, ocupando a penúltima colocação.
O seu cartão de visitas foi estrondoso. Com 11 gols e duas assistências em 17 jogos, Maxi foi determinante para que os etnei arrancassem e não só garantissem a permanência na Serie A como também obtivessem o seu recorde de pontos na competição até aquele momento – com 45, o Catania foi 13º colocado. Aliás, o time treinado por Sinisa Mihajlovic só perdeu três partidas no returno.
Quase todos os tentos do argentino fizeram os elefantes pontuarem. López anotou o seu primeiro em vitória fora de casa sobre a Lazio e ainda repetiu a dose em outros jogos importantes, como no 3 a 1 sobre a Inter, pentacampeã italiana, e no empate por 2 a 2 com o Milan. O maior destaque, entretanto, ficou por conta da doppietta na vitória por 2 a 0 no clássico com o Palermo. Naquela altura, o rival tinha um time muito forte, com Edinson Cavani e Javier Pastore, ainda duas promessas sul-americanas, e o já consagrado Fabrizio Miccoli – não à toa, foi o quinto colocado da Serie A e abocanhou vaga na Europa League.

Antagonismo com Icardi, ex-colega de Sampdoria, após rusgas de cunho pessoal marcaram a vida de Maxi López (imago)
La Barbie segurou a artilharia do time durante a temporada seguinte, na qual o Catania foi comandado por Marco Giampaolo até janeiro e, a partir disso, por Diego Simeone. Os 10 gols realizados, sendo oito na Serie A, tiveram um peso menor na campanha dos rossazzurri, mas contribuíram para mais uma permanência e um novo recorde de pontos na elite (46). Valorizado, Maxi começou 2011-12 na Sicília, mas apenas por falta de acordo financeiro com outros clubes – o que aconteceu em janeiro de 2012. Após anotar o seu último tento nessa passagem pelo etnei, cobrando pênalti na vitória por 2 a 0 sobre o Palermo, foi substituído por Gonzalo Bergessio e chorou, emocionado.
Pouco mais de um mês depois, López foi emprestado ao Milan, então campeão italiano. Os rossoneri já sondavam o jogador havia algum anos e, devido ao insucesso nas negociações com o Manchester City por Carlos Tevez – que acabou indo para a Juventus no verão de 2013 –, sacramentaram o empréstimo da Gallina de Oro. Com a camisa do Diavolo, o centroavante argentino adotou de vez o corte de cabelo mais curto, abandonando o cumprimento na altura dos ombros, como o dos compatriotas Hernán Crespo e Gabriel Batistuta, que brilharam na Itália.
A estadia em Milanello foi tão curta quanto o que sobrou de suas madeixas. O empréstimo de meia temporada deu à Maxi modestos números: dois gols em 11 jogos. O mais importante foi na vitória diante da Udinese, por 2 a 1 no Friuli. Os donos da casa abriram o placar com Antonio Di Natale, mas o atacante entrou na segunda etapa e precisou de apenas 10 minutos para empatar e, depois, fornecer uma assistência para Stephan El Shaarawy virar para os milanistas. O time da Lombardia concluiu o certame com o vice.
Na temporada seguinte, depois que o Milan não exerceu o direito de compra por seu passe, López foi emprestado para a Sampdoria. O argentino certamente não imaginava o impacto que a transferência à equipe do Luigi Ferraris teria em sua vida. Foi na Samp que conheceu Mauro Icardi, jovem compatriota que despontava no futebol italiano e que, assim como La Barbie, atuara pelo Barcelona. A dupla mostrava entrosamento dentro e fora de campo. Próximos, os portenhos começaram a frequentar os mesmos ambientes e compartilhar momentos de intimidade. Ainda que, devido a uma lesão no menisco, Maxi tenha perdido a titularidade para Maurito, a amizade não se abalava.
Dono da camisa 10 doriana, Maxi chegara ao clube, recém-promovido após um ano de estadia na Serie B, como um dos principais reforços de uma reformulação do elenco necessária para a manutenção na elite italiana. Por conta da inflamação no joelho, La Gallina de Oro teve sua participação limitada a cinco gols em 18 jogos e pouco contribuiu para a permanência. Em paralelo a isso, o atacante passava por uma grave crise matrimonial.
Àquela altura, López já tinha um casamento de quase cinco anos com a modelo e empresária Wanda Nara. O casal, que tinha três filhos, decidiu se separar em novembro de 2013, quando Maxi já estava atuando novamente pelo Catania. A situação, que já era difícil, foi transformada em um turbilhão emocional menos de dois meses depois, quando La Barbie passou a ter sua vida e a de suas crianças exposta pela imprensa de celebridades de todo o mundo. É que Wanda e Icardi assumiram ter um relacionamento e a vontade de e unirem em matrimônio.
O fantasma da traição ficou pairando no ar e encerrou a amizade entre os jogadores. Nas vezes em que enfrentou Icardi dali em diante, Maxi López se recusou sequer a cumprimentar o compatriota no tradicional aperto de mão que os jogadores dão antes das partida. Enquanto tentava manter o seu orgulho intacto, La Gallina de Oro viveu um dos momentos mais conturbados de sua trajetória profissional.
Primeiro, o astro argentino teve meses infrutíferos no Catania, que seria rebaixado em 2013-14, e somaria apenas um gol em 14 aparições. Em janeiro, concluiria a sua passagem pelo clube siciliano, no qual acumulou mais exibições (83) e tentos (27) na carreira. Na sequência, a pedido de Mihajlovic, voltou à Sampdoria por empréstimo e rendeu aquém do esperado outra vez: 11 partidas, uma expulsão contra o Milan e somente uma bola na rede.
Maxi teve a chance de somar mais um gol num jogo da Sampdoria contra a Inter, mas terminou humilhado por seu rival. A torcida estava do seu lado em Gênova e vaiava Icardi a cada toque na bola, além de xingá-lo com cânticos tradicionais dos estádios italianos. Aos 13 minutos, porém, Mauro abriu o placar. Aos 18, López teve a chance de dar o troco, cobrando pênalti, mas Samir Handanovic defendeu a cobrança, dando início a uma atuação fantástica – entre as grandes defesas feitas, o esloveno parou o camisa 7 doriano outra vez. No fim das contas, Maurito anotou uma doppietta e os nerazzurri saíram do Marassi com um 4 a 0 a favor.
Ao fim de seu segundo empréstimo aos blucerchiati de Gênova, o argentino via o seu contrato com o Catania também se encerrar. Desse modo, ficou livre para assinar a custo zero com o Chievo, clube em que teve mais uma passagem relâmpago, de meia temporada – igualmente apagada, com apenas um tento em 14 jogos. Por lá, o andarilho não conseguiu pôr em prática a potência, a rapidez e a inteligência que foram características ao longo da sua carreira, sem contar a habilidade no jogo aéreo, impulsionada por seu avantajado porte físico.
Mesmo tendo um rendimento insatisfatório em Verona, Maxi assinou com o Torino, um time com mais ambições do que os clivensi, em janeiro de 2015. Em um primeiro momento, causou boa impressão com a camisa grená, ao marcar 11 vezes em 23 jogos da campanha 2014-15, com destaque para as doppiette ante Cesena e Chievo. Mas, sua principal contribuição foi dada no duelo contra o Athletic Bilbao pelos 16 avos de final da Liga Europa: López anotou dois tentos no empate por 2 a 2 no jogo de ida e mais um na vitória por 3 a 2 na volta, que valeu vaga nas oitavas – fase em que o Toro cairia para o Zenit. La Barbie ainda colaborou com três assistências, sendo uma delas em vitória sobre a Inter de Icardi, em San Siro.
López, entretanto, não conseguiu manter o ritmo. Reserva imediato de Andrea Belotti, o jogador, então com 31 anos, marcou seis gols em 29 aparições, ajudando o time treinado por Gian Piero Ventura a terminar a Serie A outra vez no meio da tabela e, em 2016-17, novamente comandado por Mihajlovic, enfrentou dificuldades para se manter na forma ideal – o técnico sérvio chegou a dizer que o atacante tinha de perder “7 quilos, equivalente a uma máquina de lavar” e que de “Maxi”, ele tinha só o peso.
O sobrepeso favoreceu lesões musculares e La Gallina de Oro foi usado com cautela, em poucos minutos nas partidas, terminando a campanha com apenas três gols. Em 2017-18, o atacante foi avisado de que não entrava mais nos planos do Torino e só achou um novo clube no último dia da janela do mercado: após 70 partidas e 20 tentos, acertou com a Udinese.
No Friuli, o argentino repetiu o roteiro das passagens anteriores pela Itália: teve um bom início, porém foi ficando mais discreto ao longo do tempo, sendo mais útil pelo trabalho de pivô e pelo serviço ao coletivo do que mais exatamente pelas bolas nas redes. López somou seis gols em 29 partidas, mas quatro destes ocorreram em um único jogo. Pela copa nacional, anotou um poker, impulsionado por duas penalidades, na vitória por 8 a 3 diante do Perugia, no quarto turno da competição. Com isso, Maxi foi um dos artilheiros daquela edição do torneio. Os seus outros dois tentos pela Udinese ocorreram pela Serie A, num duelo com a Sampdoria.
De saída da Udinese, López cruzou o oceano novamente e assinou com o Vasco da Gama, em agosto de 2018. No cruzmaltino, Maxi resgatou o futebol e, apesar de estar acima do peso, foi o principal responsável por evitar o rebaixamento do clube no Campeonato Brasileiro, quando anotou sete gols e distribuiu seis assistências nas 19 rodadas de que participou. Com esses números, ele foi o líder em participações em tentos na competição daquele ano.
No ano seguinte, Maxi não conseguiu manter o mesmo rendimento e amargou o banco de reservas do time. Por isso, em meados de 2019, rescindiu amigavelmente com o clube e assinou com o Crotone para disputar a Serie B italiana. Um tempo depois, em entrevista à TV Sky Sports, da Itália, o atacante afirmou que aceitou o convite rossoblù para ficar mais próximo de seus três filhos. Na mesma conversa, revelou que a escolha em retornar ao futebol brasileiro foi uma forma de “fugir de problemas pessoais”, já que, como ele mesmo citou, vivia uma “guerra psicológica” com a ex-esposa.
Além de regressar à Velha Bota, La Barbie pode ajudar no acesso do Crotone à Serie A. Já veterano, aos 35, o centroavante sofreu com muitos problemas musculares e fez apenas dois jogos como titular pelo time da Calábria. Entrando quase sempre no final do segundo tempo, disputou 14 partidas e marcou um gol na campanha do vice-campeonato dos squali. Nesse período, foi acusado de mais um caso de racismo no Brasil: o zagueiro Marcelo Benevenuto, do Botafogo, afirmou ter sido alvo de injúrias raciais por parte do argentino no ano anterior. López negou.
No verão de 2020, Maxi trocou de clube pela última vez na carreira ao acertar com a Sambenedettese, da Serie C italiana. Pelo time marquesão, o 14º da carreira, foi treinado pelo ex-zagueiro uruguaio Paolo Montero e recebeu a faixa de capitão. Novamente, conviveu com muitos problemas musculares e somou 25 aparições, com três gols marcados na campanha concluída com a eliminação dos rossoblù nos playoffs de acesso à segundona. Antes de a Samb falir, López pendurou as chuteiras, aos 37 anos.
Mesmo passando por grandes clubes, Maxi López teve muitos altos e baixos, tanto dentro quanto fora de campo, que pesaram para sua ausência na seleção principal da Argentina. Embora tenha construído boa trajetória nas equipes de base, ele nunca foi convocado para representar a albiceleste. Para os jornais Olé e La Nación, a vida do jogador se desenrolou como uma “obra de cinema”. E o seu roteiro tortuoso jamais foi apreciado pelos técnicos portenhos, que tinham atletas mais talentosos e menos polêmicos para testarem no ataque.
Relativamente desconectado de seu país, o argentino se identificou mesmo com a Itália, país em que passou a maior parte da carreira. Em seu périplo italiano, Maxi vestiu oito camisas diferentes, num reflexo da constante agitação de sua vida extracampo, o que lhe impossibilitou de participar de um projeto a longo prazo. No entanto, as andanças pela Bota não lhe impediram de ser um efêmero ídolo do Catania.
Maximiliano “Maxi” Gastón López
Nascimento: 3 de abril de 1984, em Buenos Aires, Argentina
Posição: atacante
Clubes: River Plate (2001-04), Barcelona (2004-06), Mallorca (2006-07), FC Moscou (2007-08), Grêmio (2009), Catania (2010-12 e 2013-14), Milan (2011-12), Sampdoria (2012-13), Chievo (2014-15), Torino (2015-17), Udinese (2017-18), Vasco (2018-19), Crotone (2019-20) e Sambenedettese (2020-21)
Títulos: Campeonato Argentino (Clausura; 2002, 2003 e 2004), Sul-Americano Sub-20 (2003), Jogos Panamericanos (2003), La Liga (2005 e 2006), Supercopa da Espanha (2005), Liga dos Campeões (2006), Supercopa Italiana (2011) e Taça Guanabara (2019)