Brasileiros no calcio

Diego teve passagem frustrante pela Juventus e não aproveitou sua grande chance na Europa

Você conta nos dedos a quantidade de brasileiros que são lembrados com boas memórias na Juventus. Alguns nomes nunca empolgaram, outros tinham uma grande expectativa e acabaram por decepcionar. Na segunda categoria está Diego. Menino da Vila, surgiu com apenas 16 anos no Santos, foi cedo para a Europa e, quando teve a oportunidade na gigante de Turim, não rendeu o esperado. Ficou pouquíssimo tempo na Itália e terminou vendido por valor inferior ao de sua chegada ao país.

Diego é originário de Ribeirão Preto, cidade do interior de São Paulo. Deu seus primeiros passos no futebol com a camisa do Comercial, com apenas seis anos de idade. Depois de passar pelo Paulistinha de São Carlos, foi, em 1997, para a base do Santos. Desde criança seu talento era inegável, o que lhe rendeu uma chance de entrar no mundo profissional ainda muito jovem.

Com 16 anos, fez sua estreia pelo Peixe e logo se firmou no time titular. Meia-atacante criativo, não só se destacava pela inteligência na hora de passar como também tinha uma ótima finalização de média distância e gostava de pisar na área rival. Era um perigo completo para adversário, pois podia servir ou marcar gols. Ao fim de sua primeira temporada, foi campeão brasileiro se destacando principalmente nas quartas de final do Brasileirão, quando anotou tentos nas partidas de ida e volta contra o São Paulo.

Diego ainda seria bicampeão do Brasileirão, mas não participou da campanha completa do Santos: em 2004, o ano do título, se transferiu para o Porto no mês de agosto. O meia-atacante permaneceu duas temporadas no Estádio do Dragão e, além de taças nacionais, faturou o Mundial de Clubes, marcando um gol na decisão por pênaltis – também conseguiu a proeza de ser expulso depois de falar poucas e boas para Juan Carlos Henao, goleiro do Once Caldas.

Sua passagem pelo clube português, no entanto, acabou não sendo a melhor possível. A memória recente de Deco fazia com que os torcedores dos Dragões sonhassem com o sucesso de mais um brasileiro no norte de Portugal, mas isso não aconteceu. Alternando boas e más atuações, entre lampejos, deixou a desejar e logo foi negociado com o Werder Bremen, pela mesma quantia que o fez sair do Brasil.

Diego teve bom início pela Juventus, mas só ficou um ano em Turim (Getty)

Na Alemanha, viveu seus melhores momentos na Europa. Logo na época de estreia, 2006-07, fez uma Bundesliga fantástica. Melhor jogador da equipe na temporada, Diego Ribas forneceu 14 assistências e anotou 13 gols, sendo um deles o mais bonito de sua carreira: de antes da linha de meio-campo, bateu direto em direção à meta, que estava sem goleiro. A bola ainda pingou dentro da área e bateu no travessão antes de entrar.

Depois de três anos em alta e conquistas da Copa da Liga Alemã e da Copa da Alemanha, o brasileiro chamou atenção de grandes clubes. Quem venceu a concorrência foi a Juventus, que desembolsou 24,5 milhões de euros para contar com o craque. Diego chegava a Turim ao lado de um compatriota: Felipe Melo vinha da Fiorentina, onde também se destacou. E no fim das contas, os dois não corresponderam.

Em números e até em exibições individuais, a dupla até teve desempenho regular. No entanto, o time vivia um momento de futebol muito pobre: Ciro Ferrara não conseguiu fazer os bianconeri jogarem bem. Além de ter ficado em sétimo na Serie A, a Juve não se classificou na fase de grupos da Liga dos Campeões e foi eliminada nas oitavas de final da Liga Europa para o modesto Fulham, com direito a vexaminosa goleada de 4 a 1 sofrida em Craven Cottage.

Diego marcou sete gols e forneceu 18 assistências em 44 jogos. Não são estatísticas tenebrosas. O problema foram os resultados, ou a falta deles. O começo chegou a ser animador: nas duas primeiras partidas vestindo alvinegro, participou de tentos em ambas. Na estreia, efetuou um belíssimo cruzamento para Vincenzo Iaquinta guardar, de cabeça, na vitória por 1 a 0 sobre o Chievo. Depois, teve sua grande atuação na Itália.

Enfrentando a Roma de Luciano Spalletti, o meia demonstrou suas habilidades ofensivas com dois gols na vitória por 3 a 1. Em jogada individual, deixou John Arne Riise catando cavaco e bateu cruzado, de bico, colocando no fundo das redes. Daniele De Rossi empatou o duelo com uma pancada de longe, que pouco serviu. Na segunda etapa, novamente Diego entortou um defensor romano, Philippe Mexès, e venceu Júlio Sérgio com um arremate rasteiro. Felipe Melo matou o duelo com um golaço de fora da área.

O mau futebol apresentado pela Velha Senhora foi preponderante para que Diego não deslanchasse na Itália (Getty)

Esse ótimo início não perdurou e nem mesmo a sua inserção nas listas de postulantes ao prêmio de melhor do mundo pela revista France Football e pela Fifa, serviu de motivação suficiente. A fraca campanha da Juventus refletiu tanto no destino dos atletas – boa parte foi negociada – quanto no do treinador Ferrara, que foi demitido no decorrer da temporada, dando lugar a Alberto Zaccheroni. Diego teve seus momentos, claro. Terminou 2009-10 como o jogador com o maior número de assistências e marcou gols sobre Napoli e Inter, pela Coppa Italia. Isso, porém, não foi suficiente para garantir sua permanência após a chegada de Luigi Delneri.

Diego Ribas até começou 2010-11 na Juventus, mas só atuou em três partidas da fase preliminar da Liga Europa antes de voltar para a Alemanha. Em agosto de 2010, no fim da janela de transferências, o meia foi contratado pelo Wolfsburg por 15,5 milhões de euros. Porém, não se estabilizou no clube alviverde: sem consistência, apesar de bons lampejos, e viu os atritos com o treinador Felix Magath, no fim de sua passagem, lhe empurrarem para outro destino. Assim, foi emprestado para o Atlético de Madrid após sua equipe se salvar do rebaixamento.

Sob o comando de Diego Simeone, o meia teve sua segunda grande fase no futebol europeu. Regularmente titular, foi o coadjuvante de luxo de Radamel Falcao García na campanha do título da Liga Europa. A vitória por 3 a 0 em cima do Athletic Bilbao teve sua marca: uma assistência e um golaço, fechando o placar em uma belíssima jogada individual.

De volta ao Wolfsburg, foi artilheiro dos Lobos na temporada, com 13 gols. Desta vez sendo comandado por Dieter Hecking, conseguiu ir bem, apesar de um desempenho fraco do time – que ficou apenas na décima posição da Bundesliga. Diego continuou no clube na época seguinte, mas foi negociado em janeiro de 2013, quando era titular. O seu destino foi, novamente, o Atlético de Madrid. Como havia agradado na capital espanhola, dessa vez foi contratado em definitivo.

Contudo, a sua relação com Simeone não foi das melhores nesta segunda experiência na Espanha. Como consequência, teve pouquíssimos minutos em campo. Mesmo assim, conseguiu ajudar na ótima campanha dos colchoneros na Liga dos Campeões, marcando um golaço de trivela contra o Barcelona, no Camp Nou, no jogo de ida das quartas de final – a decisão, perdida para o Real Madrid, o brasileiro assistiu do banco de reservas. Naquele mesmo ano, também celebrou o troféu de La Liga.

A curta passagem do meia pela Juve foi marcada por lampejos (AFP/Getty)

Seus últimos passos no continente foram na Turquia. O Fenerbahçe o contratou a custo zero e, novamente, a idolatria que a torcida cultivava por seu antecessor na posição acabaria atuando como um fator desfavorável para ele. Era grande a expectativa dos fanáticos torcedores turcos por um novo camisa 10 brazuca, como foi Alex, mas Diego não entregou grande futebol.

A sensação nessas últimas passagens de Diego, principalmente por parte das torcidas, é que a qualidade estava ali. Porém, por problemas de adaptação, contexto tático ou das individualidades do jogador, ela não aflorava – a não ser em momentos esporádicos. Com 31 anos e portas fechadas no alto escalão da Europa, o caminho enxergado pelo meia foi retornar ao Brasil para defender o Flamengo.

Tirando o começo arrebatador do Santos, o torcedor brasileiro pouco contato teve com Diego até aquele momento. Na Seleção, não foram muitas aparições. Apesar de dois títulos de Copa América, foi reserva nas duas campanhas; depois, pela equipe olímpica, faturou o bronze nos Jogos de Pequim, em 2008. Além disso, ficou de fora da convocação para as Copas do Mundo de 2006 e 2010, por ocupar uma faixa do campo que contava com outros nomes mais badalados – Ronaldinho e Kaká, por exemplo.

Pelo rubro-negro carioca, foi recebido com muito carinho e correspondeu na maior parte do tempo – inclusive, em 2017, chegou até a ser convocado e a atuar novamente pela Seleção, o que não ocorria desde 2008. Primeiro, Diego foi uma referência técnica do Flamengo. Depois, perdendo espaço por conta da idade, seguiu como líder, camisa 10 e capitão. Fez cinco gols de falta, uma especialidade sua que pouco apareceu na Itália, e também deu uma assistência importantíssima para o segundo tento de Gabriel Barbosa na final da Libertadores de 2019. No fim de sua passagem, o Mengão já era o clube que mais vezes defendeu na carreira, com 285 partidas. Fora dos gramados, virou comentarista esportivo e estreou na Copa do Mundo de 2022, pela Globo.

Diego Ribas da Cunha
Nascimento: 28 de fevereiro de 1985, em Ribeirão Preto (SP)
Posição: meia-atacante
Clubes: Santos (2002-04), Porto (2004-06), Werder Bremen (2006-09), Juventus (2009-10), Wolfsburg (2010-11 e 2012-14), Atlético de Madrid (2011-12 e 2014), Fenerbahçe (2014-16) e Flamengo (2016-22)
Títulos: Campeonato Brasileiro (2002, 2004, 2019 e 2020), Mundial de Clubes (2004), Copa América (2004 e 2007), Campeonato Português (2006), Taça de Portugal (2006), Copa da Liga Alemã (2006), Bronze Olímpico (2008), Copa da Alemanha (2009), Liga Europa (2012), La Liga (2014), Supercopa da Turquia (2014), Campeonato Carioca (2017, 2019, 2020 e 2021), Copa Libertadores (2019 e 2022), Recopa Sul-Americana (2020), Supercopa do Brasil (2020 e 2021) e Copa do Brasil (2022)
Seleção brasileira: 34 jogos e 4 gols

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