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Antes do sucesso em Portugal, o russo Dmitri Alenichev teve curta passagem pela Itália

Meio-campista técnico e talentoso, Dmitri Alenichev era um número 10 clássico, que atuava atrás dos atacantes. Pensador do jogo, o russo obteve destaque em seu país e, em meados da década de 1990, aportou na Serie A, liga mais badalada do mundo à época. No entanto, jamais conseguiu ir além dos lampejos com as camisas de Roma e Perugia, de modo que teve de ir atrás de sorte melhor em Portugal – nisso, ele foi bem-sucedido.

Nascido, em 1972, na União Soviética, Alenichev apareceu no cenário do futebol profissional de seu país no fim da década de 1980. O meia atuou pelos pequeníssimos Velikiye Luki, de sua cidade natal, e pelo Mashinostroitel Pskov, de sua região, até chamar a atenção dos maiores clubes do país. Assim, em 1991, Dmitri acertou com o Lokomotiv Moscou – embora fosse torcedor do Spartak.

O time da estatal ferroviária russa, à época, jamais havia ganhado um campeonato nacional. E, apesar da boa contribuição de Alenichev, que ajudaria o Loko a fazer boas campanhas, continuaria sem títulos – só levantaria taças após a virada do século. Em 1993, então, o meia rumou ao Spartak Moscou, maior, mais popular e mais vencedor clube da Rússia.

Nesta passagem, Alenichev defendeu o seu time do coração por quatro temporadas e meia – período em que levantou oito taças, sendo quatro do Campeonato Russo e quatro de copas locais. Dmitri se tornou titular absoluto do Spartak a partir de seu segundo ano na equipe e integrou elencos alvirrubros que conquistaram ótimos resultados internacionais. Por exemplo, alcançando as quartas de final da Champions League, em 1996, e as semifinais da Copa Uefa, em 1998. Nesta última ocasião, o brasileiro Ronaldo deu show e classificou a Inter para a final.

Consolidado na Rússia, Alenichev interessou à Roma de Zeman (EMPICS/Getty)

O ótimo desempenho pelo Spartak Moscou abriu as portas da seleção russa para Alenichev. Em 1996, ele estreou pela equipe nacional, mas não conseguiu uma vaga entre os convocados para a Eurocopa daquele ano. Porém, galgou espaço no time pelo que mostrou em 1997, quando foi eleito como melhor jogador do país pelo jornal Sport-Express e pela revista Futbol. Os prêmios, somados ao rendimento na campanha da Copa Uefa, fizeram com que alguns clubes das principais ligas europeias ficassem atentos ao meia. A Roma foi mais rápida e, em 1998, o levou para a Serie A, por um valor em torno de 12 bilhões de velhas liras.

Alenichev só aceitou a proposta da Roma depois de buscar informações com companheiros de seleção: antes de dizer sim, quis saber de Igor Shalimov e de Igor Kolyvanov o que eles pensavam do técnico Zdenek Zeman, com quem haviam trabalhado no Foggia. As respostas foram as melhores possíveis, visto que ambos os russos viveram o ápice de suas carreiras sob as ordens do checo e fizeram os apulianos obterem colocações históricas na Serie A do início da década de 1990.

Na Cidade Eterna, Dmitri recebeu a camisa 8 e a tarefa de, ao lado de Eusebio Di Francesco, auxiliar um jovem Francesco Totti na criação de jogadas. Alenichev começou a sua trajetória pela Loba na condição de titular e foi o autor da primeira assistência da equipe em 1998-99, ao cruzar na cabeça do brasileiro Paulo Sérgio e ajudar a iniciar a virada sobre a Salernitana – os giallorossi venceram por 3 a 1.

Na sequência, o russo marcou nos triunfos sobre Silkeborg e Chievo, pela Copa Uefa e pela Coppa Italia, respectivamente. Na altura da quinta rodada da Serie A, Dmitri já havia perdido a titularidade para Damiano Tommasi, mas mostrava capacidade de lutar pela posição. E o fez naquela jornada, quando a Roma, então vice-líder, recebeu a Fiorentina, primeira colocada. Num jogo tenso, com três expulsões, a Viola vencia até os 89 minutos, quando Gustavo Bartelt serviu uma assistência para Alenichev, que saíra do banco, empatar. Nos acréscimos, Totti sacramentou a improvável vitória.

O meia russo começou bem na Roma, mas não manteve o ritmo (EMPICS/Getty)

Aquele gol importante terminou não servindo para impulsionar Alenichev, que não teve mais tantas chances como titular dali em diante – o russo também não balançou mais as redes e só forneceu assistências em triunfos sobre times da parte inferior da tabela do Campeonato Italiano. No fim das contas, a Roma concluiu a Serie A na quinta posição e foi eliminada nas quartas de final da Copa Uefa e nas oitavas da Coppa Italia.

O segundo ano de Alenichev na Itália começou com a saída de Zeman da Roma e a chegada de Fabio Capello. Nos planos do novo técnico, Dmitri era reserva e nem mesmo a combinação de assistência e tripletta no 7 a 0 sobre o Vitória de Setúbal, pela Copa Uefa, mudou a sua cabeça. O russo ainda anotou uma vez na Serie A, contra o Venezia, e se despediu da Cidade Eterna em janeiro, envolvido na negociação que levou o japonês Hidetoshi Nakata a Trigoria. No total, o meia somou 43 aparições, sete tentos e seis passes-chave pela Loba.

Alenichev chegou ao clube da Úmbria por empréstimo e logo se tornou titular no esquema do técnico Carlo Mazzone. Apesar da mania de grandeza alardeada pelo presidente Luciano Gaucci, o objetivo primário do Perugia era a permanência na elite e isso foi obtido com certa folga: os biancorossi terminaram a Serie A na décima posição e ainda se classificaram para a Copa Intertoto, devido à desistência do Verona, nono colocado. No papel, porém, o russo contribuiu apenas com uma assistência em 15 jogos – justo no empate por 2 a 2 com a Roma.

O camisa 28 permaneceu no Perugia para a disputa da temporada 2000-01, mas só disputou duas partidas da Copa Intertoto, em julho – marcando, inclusive, um gol na eliminação para o Standard Liège. No mesmo mês, o russo foi contratado pelo Porto, onde encontrou o compatriota Sergei Ovchinnikov.

Com atuações irregulares, Alenichev passou apenas um ano e meio na capital italiana (EMPICS/Getty)

Na primeira temporada, Dmitri foi treinado por Fernando Santos e conquistou a Taça de Portugal. No segundo ano, a obtenção da Supertaça não amenizou os atritos que ele e Ovchinnikov tiveram com Octávio Machado, o novo técnico. A bem da verdade, Alenichev só decolou para o sucesso depois do verão de 2002, quando foi disputar a Copa do Mundo pela Rússia e, ao voltar, se deparou com José Mourinho no comando dos dragões.

Aos 30 anos, Alenichev era opção de experiência a Deco e Maniche, mas chegou a se tornar titular na segunda parte da temporada 2002-03, devido à lesão de Costinha e a uma consequente alteração tática promovida por Mourinho após a perda do volante. Naquela campanha, o russo ganhou tudo com o Porto: Supertaça, Taça de Portugal, Primeira Liga e Copa Uefa. Na trajetória europeia, os dragões eliminaram a Lazio nas semifinais.

No ano posterior, o Porto ficou com o vice da Supercopa Uefa e da Taça de Portugal, mas repetiu a dose na Supertaça nacional e na Primeira Liga. E, ainda por cima, chegou à cereja do bolo: o improvável título da Liga dos Campeões. Na disputa europeia, a propósito, Alenichev se mostrou decisivo pela segunda vez.

Se, na finalíssima da Copa Uefa, ele havia contribuído com um gol e uma assistência no triunfo sobre o Celtic, entrou no tempo complementar da decisão da Champions League, contra o Monaco, e teve o mesmo desempenho, num intervalo de poucos minutos: acionou Deco no segundo e anotou o terceiro com um lindo voleio. Assim, se tornou um dos únicos três atletas a marcarem em duas finais consecutivas de diferentes competições europeias, ao lado de Ronald Koeman e Ronaldo.

Em descrédito na Roma, Alenichev foi envolvido em negociação com o Perugia, em troca por Nakata (AFP/Getty)

Em 2004, após disputar a Euro, Alenichev decidiu voltar para seu país e fechou com o Spartak Moscou – seu desejo era o de encerrar a carreira pelos alvirrubros. E assim foi, em 2006, mas não da maneira mais pacífica: após críticas públicas ao técnico Aleksandrs Starkovs, o veterano foi multado, afastado do elenco e, meses depois, teve o contrato rescindido. Em seguida, perto de completar 34 anos, Dmitri se aposentou.

Fora dos campos, o ex-meia entrou para a política: em 2007, se filiou ao Rússia Unida, partido liderado pelo presidente Vladimir Putin, e chegou a ser eleito para o senado pela província de Omsk. No entanto, renunciou ao cargo em 2010, quando decidiu se tornar técnico, seguindo os passos de seu irmão mais velho, Andrei, que também foi jogador e treinador. Seu primeiro cargo foi pela seleção sub-18 do país.

Após deixar a seleção sub-18 russa, Dmitri teve longa passagem pelo Arsenal Tula, que levou da quarta divisão à elite de seu país. No entanto, após o rebaixamento dos aurirrubros, deixou o clube. Alenichev também comandou o Yenisey Krasnoyarsk a uma inédita promoção à primeira divisão, mas teve o mesmo destino de seu emprego anterior: foi demitido depois do descenso. Entre estes trabalhos, viveu uma experiência pouco positiva à frente do Spartak Moscou. O ex-jogador também deixou frutos para o futebol: seus filhos Maksim e Daniil são profissionais do esporte.

Dmitri Anatolyevich Alenichev
Nascimento: 20 de outubro de 1972, em Velikiye Luki, Rússia (antiga União Soviética)
Posição: meio-campista
Clubes como jogador: Velikiye Luki (1989), Mashinostroitel Pskov (1990-91), Lokomotiv Moscou (1991-1993), Spartak Moscou (1994-98 e 2004-06), Roma (1998-99), Perugia (1999-2000) e Porto (2000-04)
Títulos como jogador: Campeonato Russo (1994, 1996, 1997 e 1998), Copa da Rússia (1994 e 1998), Copa da Comunidade dos Estados Independentes (1994 e 1995), Taça de Portugal (2001 e 2003), Supertaça de Portugal (2001 e 2003), Primeira Liga (2003 e 2004), Copa Uefa (2003) e Liga dos Campeões (2004)
Carreira como treinador: Rússia Sub-18 (2010-12), Arsenal Tula (2011-15), Spartak Moscou (2015-16) e Yenisey Krasnoyarsk (2017-19)
Seleção russa: 55 jogos e 6 gols

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