Não houve muito espaço para questionamentos. De forma merecida, a Inter fez valer a sua superioridade nos jogos de ida e volta contra o Benfica e, com um placar agregado de 5 a 3, avançou às semifinais da Liga dos Campeões após 13 anos de ausência.
Nesta quarta, 19 de abril, a Beneamata até atuou melhor do que na partida de ida, quando conquistou a vitória sobre o Benfica no Estádio da Luz, mas sofreu com desatenções defensivas nos minutos finais e empatou por 3 a 3. De qualquer jeito, retornou ao grupo das quatro melhores equipes da Europa e, na próxima fase da competição, fará um apimentado Derby della Madonnina com o Milan. Ou seja, um time italiano está garantido na finalíssima e ele será de Milão. Com isso, a cidade chegará a 17 representações na decisão da Champions League – líder no quesito, Madrid tem 20 e pode chegar a 21 nesta temporada, já que, na outra chave, Real Madrid e Manchester City se enfrentam.
Contando com a confortável vantagem de dois gols sobre o Benfica no placar agregado, Simone Inzaghi não precisou arriscar Çalhanoglu e deixou o turco, recém-recuperado de lesão no adutor da coxa, no banco de reservas – Skriniar, com dores nas costas, foi o único desfalque da Inter. Do outro lado, Roger Schmidt teve de lidar com as ausências de Bah e Draxler, mas ganhou o retorno de Otamendi, que tomou o lugar de Morato no centro da zaga encarnada. Ainda que precisasse de bolas nas redes, o alemão optou por não mexer na estrutura do time e começou com David Neres entre os suplentes.
Disposta a não dar sopa para o azar, a Inter foi ao campo com uma postura aguerrida desde o início, no qual efetuaram pressão alta. Nos primeiros minutos, os mandantes tiveram uma chance perdida com Dimarco, que não conseguiu alcançar, já dentro da área, um passe descalibrado de Martínez.
O primeiro gol nerazzurro não demoraria a sair, contudo. Logo aos 14 minutos, Dzeko, Lautaro e Barella ganharam divididas em sequência e o italiano pode tabelar com o argentino na entrada da área. Depois, o meia cortou a marcação de Chiquinho e Grimaldo e efetuou um chutaço no ângulo, de canhota, sem oferecer qualquer chance de defesa para Vlachodimos.
Após ampliar a sua vantagem sobre os portugueses, a Inter ganhou mais confiança para prosseguir em sua estratégia de jogo. E, na verdade, Onana só foi trabalhar aos 31 minutos, quando Grimaldo cobrou falta no canto e obrigou o camaronês a se esticar para defender. Pouco depois, a Beneamata chegou a ter um gol de Lautaro anulado, por falta no brasileiro Gilberto.
O Benfica parecia de mãos atadas àquela altura do jogo. Mas a Inter de Inzaghi tem uma característica marcante: mesmo quando atua bem, protagoniza apagões defensivos que os rivais frequentemente aproveitam. Assim, aos 38 minutos, a tranquilidade dos nerazzurri foi abalada por um levantamento de Rafa Silva: o ponta observou o espaço nas costas de Darmian, que fechava no primeiro pau, e lançou para Aursnes aproveitar a marcação frouxa de Dumfries e cabecear forte para as redes, empatando a peleja.
No intuito de aproveitar o bom momento, Schmidt retornou para o segundo tempo com David Neres no lugar de Gilberto – devido à alteração de caráter ofensivo, o versátil Aursnes foi atuar na lateral direita benfiquista. Apesar da troca, o jogo seguiu com domínio da Inter, que levou perigo com um chute de média distância de Lautaro e uma cabeçada de Dzeko.
Aos 65 minutos, a Inter voltou a ficar em posição mais confortável no confronto. Dimarco e Mkhitaryan tabelaram rápido pelo flanco esquerdo e o lateral só serviu para Lautaro, bem posicionado na pequena área, completar de canela e estufar as redes encarnadas.

Dimarco contribuiu com duas assistências: a primeira foi para o gol de Lautaro, o segundo da Beneamata (Arquivo/Inter)
A vantagem fez os nerazzurri sentirem o cheiro de sangue e tentarem ampliar o placar contra um Benfica atônito. Depois do segundo gol, a Inter cresceu e teve a faca e o queijo para fazer o terceiro, mas Otamendi interceptou passe de Lautaro para Dzeko em um ótimo contragolpe. Na sequência, Dumfries roubou bola no campo de ataque e serviu Dimarco, que bateu de direita e parou no bloqueio de António Silva.
Inzaghi percebeu o bom momento do time e a alta de confiança dos jogadores em campo, em contraposição à confusão de um Benfica grogue. No entanto, preferiu colocar pilares da equipe para descansar e dar a atletas que saíam do banco a oportunidade de darem sequência à atuação. Deu certo e Correa, que entrou no lugar de Lautaro, deixou o dele aos 79, menos de cinco minutos depois de entrar em campo: o argentino recebeu de Dimarco, cortou o compatriota Otamendi e bateu com curva, tirando do alcance de Vlachodimos e ainda acertando a trave antes de ver a bola morrer nas redes.
San Siro pulsava como poucas vezes na temporada. No entanto, a energia das arquibancadas do Giuseppe Meazza não serviu para a Inter manter o foco nos minutos finais e dar um presente extra aos torcedores: a vaga estava garantida, mas conquistá-la com uma vitória caseira, que a equipe não obtém desde 5 de março, seria simbólico. Seria.
Afinal, a Inter de Inzaghi gosta de dar vazão a velhos vícios. Mesmo virtualmente classificada às semifinais, a equipe mostrou os habituais lapsos de concentração e negou a festa completa à torcida. Aos 82 minutos, David Neres recebeu um presentaço do capitão Brozovic e acertou a trave. Um susto grande o suficiente para o time acordar, mas não foi o que aconteceu.
Aos 86, Grimaldo levantou na área e, com o cocuruto, António Silva colocou no canto, diminuindo o placar. No último lance do jogo, o argentino ainda se enroscou com Brozovic, que saiu catando fichas, e ajeitou para o centro. Musa aproveitou o erro de posicionamento de Gosens e pôs água no chope dos nerazzurri. As semifinais estavam garantidas, mas o empate mostrou que confiar nessa equipe é uma tarefa dura.
Por 170 minutos, tivemos uma grande Inter no confronto com o Benfica. Os 10 restantes, porém, preocupam os mais críticos. Afinal, se quiser superar um Milan absolutamente sólido na defesa e capaz de aproveitar mínimas falhas, devido ao poder de decisão de Rafael Leão e Giroud, os nerazzurri precisarão ser praticamente perfeitos.
Vale lembrar que, na temporada anterior, minutos de desatenção custaram à Inter um Derby della Madonnina e influenciaram diretamente na corrida pelo scudetto, conquistado pelo Milan. com uma vitória de virada no clássico, os rossoneri encostaram na Beneamata e a tiraram da liderança da Serie A na rodada seguinte, aproveitando o seu empate com o Napoli. E, se há uma coisa que pode ser dita sobre a equipe de Inzaghi, é que ela não aprende lições. Em 2022-23, os nerazzurri viram erros comprometedores e tropeços se intensificarem. Sem dúvidas, o técnico terá de levar este aspecto em consideração na preparação para as semifinais europeias.
Os confrontos entre Inter e Milan acontecem nos dias 10 e 16 de maio, em San Siro, e representarão o terceiro embate entre os times de Milão pela Champions League. Nas outras duas, o Diavolo levou a melhor. Em 2002-03, superou a Beneamata nas semifinais e avançou à decisão após um placar agregado de 1 a 1, devido ao gol marcado como visitante. Já nas quartas de 2004-05, teve mais tranquilidade, embora o duelo não tenha sido nada calmo: os rossoneri ganharam o jogo de ida por 2 a 0 e, quando venciam a volta por 1 a 0, ultras nerazzurri atiraram sinalizadores ao campo, inclusive atingindo Dida, e forçaram a suspensão do dérbi e a eliminação de sua equipe no tapetão. Por conta da rivalidade local e de tal histórico, só podemos afirmar que vem partida quente por aí.
Bom ver que a Inter realmente voltou ao topo, e com jogadores jovens de qualidade. Ainda lembro um tempo atrás esse time com Ranocchia, Santon, João Mario e etc. Era muito ruim de assistir!