Liga dos Campeões

A Inter massacrou no primeiro tempo e saiu na frente do Milan nas semis da Champions League

Sem espaço para contestação, a Inter conseguiu uma das vitórias mais pesadas sobre o Milan em toda a história centenária do Derby della Madonnina. O triunfo por 2 a 0 no jogo de ida das semifinais da Liga dos Campeões foi tão clamoroso que parte da torcida nerazzurra terminou o jogo frustrada. É que a equipe de Simone Inzaghi deixou a sensação de que poderia ter construído uma margem ainda maior sobre o rival, deixando a vaga para a decisão europeia encaminhada.

Mandante nesta quarta, o Milan chegou para o clássico com um desfalque importantíssimo: Rafael Leão, seu principal jogador, foi vetado por Stefano Pioli por não ter se recuperado das dores no adutor da coxa, que começou a sentir no jogo contra a Lazio, no último sábado, e não ficou nem no banco de reservas. Além disso, o técnico decidiu apostar numa zaga formada por Tomori e pelo veterano Kjaer, deixando Kalulu e Thiaw entre os suplentes. O Diavolo subiu ao campo em seu usual 4-2-3-1.

Na Inter, Inzaghi tinha o time quase completo – apenas Skriniar, que está lesionado há alguns meses, era desfalque. Tendo quase o elenco inteiro à disposição, o técnico optou por deixar Brozovic no banco e dar espaço a Mkhitaryan, que integrou o meio-campo ao lado de Çalhanoglu e Barella. O interista também preferiu iniciar com Dzeko no lugar de Lukaku. As suas escolhas se mostraram acertadíssimas em pouco tempo.

Afinal, os 35 minutos iniciais foram de um verdadeiro massacre da Inter. A Beneamata, visitante nesta quarta, penetrava na defesa do Milan por todos os espaços possíveis e encontrou alguns de seus pontos de força justamente em Mkhitaryan e Dzeko. Ao lado dos dois, Dumfries, Dimarco, Barella, Çalhanoglu e Martínez compunham um hepteto que tirou os milanistas do sério.

Na entrevista coletiva pós-jogo, Pioli se gabou do fato de a Inter não ter penetrado a área do Milan nos primeiros sete minutos. Bem, dali em diante, foi uma avalanche nerazzurra: aos 8, Çalhanoglu cobrou escanteio, Dzeko se antecipou a Calabria e, de primeira, completou para as redes com uma finalização que encontrou o ângulo de Maignan. Com 37 anos e 54 dias, o bósnio se tornou o segundo jogador mais velho a marcar numa semifinal de Liga dos Campeões, atrás somente de Giggs. O camisa 9 também foi o 11º a anotar nesta fase da competição por dois clubes diferentes – o fizera também pela Roma, em 2018.

O gol precoce colocava a Inter numa situação nova para a equipe, considerando os clássicos de Champions League. Afinal, o Milan saiu na frente em três dos quatro anteriormente realizados – no primeiro deles, nenhuma rede foi balançada. Por outro lado, o histórico recente do Derby della Madonnina mostra que a Beneamata tem costumado abrir o placar contra o rival citadino. Isso ocorreu nos oito derradeiros embates em que tentos foram anotados por qualquer um dos times. Em 2021-22, o jogo de ida das semifinais da Coppa Italia terminou em 0 a 0.

Com Dzeko, a Inter começou a construir bem cedo uma histórica vitória sobre o Milan (AFP/Getty)

A vantagem nerazzurra cresceu no primeiro lance de perigo que sucedeu o gol que abriu o placar. Aos 11 minutos, Mkhitaryan correu pelo centro do gramado, atacando o espaço que surgiu entre Tonali e Hernandez, que recuou demais para marcar Dumfries. O buraco na frente da área do Milan se tornou um tapete vermelho estendido para o armênio: ele aproveitou o passe de Dimarco e o corta luz de Lautaro, invadiu a área e bateu forte, sem dar qualquer chance de defesa para Maignan.

A parte nerazzurra de San Siro estava em êxtase, pois via a história sendo escrita. Afinal, apenas pela quarta vez a Inter marcava dois gols sobre o Milan nos primeiros 11 minutos de Derby della Madonnina – as outras foram em 1932, 1951 e 1974. O público também presenciava a terceira ocasião em que a Beneamata abria vantagem de dois tentos no clássico em tão pouco tempo, repetindo o que ocorreu em 1932 e 1974.

Ademais, o Giuseppe Meazza sediava o terceiro 2 a 0 mais rápido da história das semifinais de Champions League. Somente foram mais velozes a Juventus, que em 1999 anotou duas vezes contra o Manchester United antes de levar a virada e perder por 3 a 2, e os próprios Red Devils, que começaram cedo a construir seu triunfo por 3 a 1 sobre o Arsenal, em 2009.

Escolhido como melhor em campo pela Uefa, Mkhitaryan foi soberano na organização do jogo e nos desarmes, além de ter feito um gol (Getty)

Dois, para a Inter, parecia pouco. Famintos, os nerazzurri foram para cima de um adversário grogue e montaram uma verdadeira blitz. Aos 16, Çalhanoglu acertou um petardo na trave e, na sequência da jogada, Maignan apareceu para salvar o Milan: Mkhitaryan recebeu passe de letra de Barella e parou na defesaça do francês.

Em seguida, a atuação desastrosa do Milan ganhou mais um componente. Aos 18 minutos, Pioli foi forçado a realizar uma alteração precoce, devido à lesão de Bennacer. Único brasileiro do confronto, Junior Messias entrou em seu lugar, mas demorou muito para dar sinal de vida.

O atropelo da Inter continuou e, aos 31, o árbitro Jesús Gil Manzano chegou a apitar pênalti em Lautaro, após o camisa 10 deixar Kjaer para trás e Tomori sentado num drible. No entanto, o VAR recomendou a revisão do lance e, ao assistir o acontecido no monitor, o espanhol entendeu não ter havido impacto no contato entre o atacante argentino e o defensor dinamarquês, o que lhe levou a mudar de ideia e anular a marcação.

Dominante nos duelos de meio-campo, a Inter pouco sofreu com investidas do Milan (Getty)

O Milan foi para o intervalo sem acertar um chute na direção do gol de Onana e, a bem da verdade, não fez muito mais do que isso na etapa final. Bem protegido pela retaguarda nerazzurra, o camaronês fez apenas uma defesa em todo o jogo – e esta intervenção ocorreu apenas aos 92 minutos, numa finalização central de Pobega. Assim, terminou o clássico como o primeiro arqueiro da história da Inter a ficar sete jogos de Champions League sem ser vazado.

Isso não significa que o Milan não tenha melhorado no segundo tempo. O time de Pioli voltou mais ligado e produziu mais: antes dos 50 minutos, incomodou com Díaz, que arriscou da entrada da área e mandou para fora; na sequência, Messias caiu pela ponta direita e também desperdiçou boa chance. A melhor oportunidade dos rossoneri ocorreu aos 63, quando o seu setor ofensivo trabalhou bem a bola e permitiu que Tonali soltasse um canhão. A pelota desviou em Bastoni, beliscou o pé do poste e saiu pela linha de fundo.

No fim das contas, Pioli se ressentiu da má fase de seus homens de frente e terminou o jogo com Rebic e De Ketelaere no banco. O único atacante lançado a campo na etapa complementar foi Origi, que pouco produziu. Do outro lado, a Inter, apesar de mais cautelosa, teve muito mais sucesso em suas alterações. Ao longo de todo o segundo tempo, Inzaghi fez trocas que tinham com objetivo manter a sua equipe fisicamente inteira e capaz de segurar a bola. As entradas de Lukaku no lugar de Dzeko, Brozovic na vaga de Mkhitaryan e de De Vrij no posto de Dimarco, o que levou Darmian à ala esquerda, foram muito bem-sucedidas neste propósito.

Superado em quase todos os confrontos, Hernandez teve a pele salva por Maignan no segundo tempo (Getty)

Diante disso, a Beneamata também teve suas chances. Antes mesmo das trocas, aos 52 minutos, Bastoni progrediu com a bola e encontrou Dzeko, que ocupava um enorme buraco deixado por Tomori e Hernandez. O bósnio só não marcou porque Maignan foi mágico, como o seu apelido, e fechou a porta. Depois de todas as mexidas, até Gagliardini teve uma oportunidade cara a cara com o arqueiro francês. O volante recebeu passe de Barella pelo mesmo setor, mas hesitou na tomada de decisão e foi desarmado antes de finalizar.

Vale destacar que a Inter também teve motivos para reclamar da arbitragem. Aos 75 minutos, Krunic desferiu um soco na barriga de Bastoni, mas o VAR não revisou o lance, que resultaria em pênalti para os nerazzurri e na expulsão do bósnio, que não poderia atuar no jogo de volta.

No fim das contas, isto não alterou o resultado e permitiu à Inter bater o Milan por três vezes numa mesma temporada, o que só havia ocorrido em 1973-74, quando superou o rival em quatro partidas, e em 1994-95. Foi também a primeira vitória da Beneamata num dérbi válido pela Champions League. Justamente criticada, a equipe de Inzaghi alcançou o sexto triunfo seguido no ano e, vivendo o seu melhor momento na campanha, está a um passo da decisão europeia.

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