Na última terça, publicamos a primeira parte da retrospectiva da Serie A 2022-23, na qual destacamos o rebaixamento da tradicional Sampdoria, a salvação dramática do Verona, a ótima campanha de um Monza recheado de italianos no elenco e muito mais. Depois de analisarmos a metade inferior da tabela, passamos às análises dos 10 times que mais pontuaram no campeonato.
O Napoli não deu chance a ninguém. O time azzurro dominou a Serie A desde o seu início e, com um pé nas costas, encerrou um jejum de 33 anos sem levantar a taça de campeão nacional. Teve todos os méritos, por óbvio, mas não dá para omitir que faltou concorrência: Inter, Milan e Juventus tinham condições de serem mais competitivos. A Lazio, por sua vez, foi uma das gratas surpresas do certame. Atalanta, Roma, Fiorentina, Bologna e Torino também se deram por satisfeitos por seu desempenho na elite. Confira, na sequência, as nossas análises sobre as campanhas das equipes citadas neste parágrafo.
Publicado também na Trivela.
Torino
A campanha: 10ª colocação, 53 pontos. 14 vitórias, 11 empates e 13 derrotas.
No primeiro turno: 9ª posição, 26 pontos.
Ataque e defesa: 42 gols marcados e 41 sofridos
Time-base: Milinkovic-Savic; Djidji, Schurrs, Buongiorno; Singo (Lazaro), Ricci (Linetty), Ilic (Lukic), Rodríguez (Vojvoda); Miranchuk (Radonjic), Vlasic; Sanabria.
Artilheiros: Antonio Sanabria (12 gols), Nikola Vlasic (5), Yann Karamoh (4) e Aleksei Miranchuk (4)
Garçom: Nikola Vlasic (6 assistências)
Técnico: Ivan Juric
Os destaques: Antonio Sanabria, Perr Schuurs e Nikola Vlasic
A decepção: Nemanja Radonjic
A revelação: Gvidas Gineitis
Quem mais jogou: Vanja Milinkovic-Savic (38 jogos) e Ricardo Rodríguez (35)
O sumido: Ronaldo Vieira
Melhor contratação: Perr Schuurs
Pior contratação: Ronaldo Vieira
Para fazer um campeonato sem sustos e, quiçá, brigar por vaga europeia, chame Juric. Mestre em montar times sólidos, o técnico croata terminou a Serie A no meio da tabela pela quarta temporada seguido – o terceiro em décimo. No segundo ano da gestão do ex-volante, aliás, o Torino praticamente repetiu a campanha anterior: teve uma vitória a mais e uma derrota a menos.
Embora tenha sido o quarto melhor visitante, mas o sexto pior mandante, o Torino praticamente não oscilou na temporada: passou 33 das 38 rodadas da Serie A posicionado entre o oitavo e o 11º lugar. O equilíbrio nos números relativos a resultados e a gols marcados e sofridos são mais um indício do quanto o desempenho dos granata foi regular ao longo de 2022-23.
Capaz de montar sistemas defensivos muito eficientes, Juric encontrou em Schuurs um substituto à altura de Bremer e ainda exaltou as qualidades do consolidado Alessandro Buongiorno. A dupla foi fundamental para que o Torino tivesse a quinta melhor retaguarda da Serie A mesmo com o inseguro Vanja Milinkovic-Savic debaixo das traves. Do outro lado do campo, Sanabria praticamente monopolizou os gols do time, sendo coadjuvado por Vlasic e Miranchuk, interessantes reforços que a diretoria visa manter para a temporada seguinte. Não é uma regra, mas o Toro pode sonhar com voos mais altos no próximo campeonato se conseguir distribuir melhor as responsabilidades no ataque.
Bologna
A campanha: 9ª colocação, 54 pontos. 14 vitórias, 12 empates e 12 derrotas.
No primeiro turno: 11ª posição, 23 pontos.
Ataque e defesa: 53 gols marcados e 49 sofridos
Time-base: Skorupski; Posch, Soumaoro (Medel), Lucumí, Cambiaso (Lykogiannis); Domínguez (Moro), Schouten; Orsolini, Ferguson, Barrow (Aebischer); Arnautovic (Soriano).
Artilheiros: Riccardo Orsolini (11 gols), Marko Arnautovic (10) e Lewis Ferguson (7)
Garçom: Musa Barrow (8 assistências)
Técnicos: Sinisa Mihajlovic (até a 5ª rodada), Luca Vigiani (interino; 6ª) e Thiago Motta (a partir de então)
Os destaques: Riccardo Orsolini, Stefan Posch e Musa Barrow
A decepção: Joaquín Sosa
A revelação: Nyklas Pyythiä
Quem mais jogou: Lukasz Skorupski (37 jogos), Jhon Lucumí (33) e Jerdy Schouten (33)
O sumido: Emanuel Vignato
Melhor contratação: Stefan Posch
Pior contratação: Joaquín Sosa
O lento início de temporada do Bologna resultou na demissão de Mihajlovic depois de apenas cinco rodadas. A decisão parecia precipitada, mas logo foi compreendida: a leucemia que acometia o sérvio havia se agravado e, em dezembro, resultaria em sua morte precoce. Dali em diante, a campanha dos rossoblù, já conduzida pelo ítalo-brasileiro Motta, se converteu numa batalha para honrar a memória do antigo treinador. A missão foi cumprida, já que o time garantiu sua melhor colocação em 11 anos.
Motta passou por alguns altos e baixos nas primeiras semanas de trabalho, mas logo arrumou o Bologna. No returno, o time emiliano teve ritmo de competidor por vaga em torneios continentais: foi dono da sétima melhor campanha, dois pontos atrás da Juventus, protagonista da quarta mais positiva no período. Ainda que o sonho de classificação para a Conference League não tenha sido atingido pelos felsinei, a nona posição foi muito festejada pela torcida.
O treinador ítalo-brasileiro transformou o Bologna num time bastante interessante, tendo o austríaco Posch como arma constante pelo flanco direito, onde dialogou muito bem com um Orsolini em alta. No centro do campo, a dinâmica dupla de volantes formada por Domínguez e Schouten mostrou muita eficiência nas duas fases do jogo, sendo um dos motores de força dos rossoblù. No ataque, Arnautovic passou muito tempo fora de ação, por problemas físicos, e Motta encontrou uma solução na cartola: Ferguson, meia central, atuando como falso 9, tendo a companhia do garçom Barrow. Essa combinação de fatores levou os emilianos a somarem triunfos sobre Atalanta, Fiorentina e Inter, além de arrancarem pontos preciosos de Juventus, Lazio, Milan e Napoli. Por tudo o que mostrou, o técnico chamou a atenção da Europa e deixou em xeque o seu futuro no Renato Dall’Ara.
Fiorentina
A campanha: 8ª colocação, 56 pontos. 15 vitórias, 11 empates e 12 derrotas.
No primeiro turno: 12ª posição, 23 pontos.
Ataque e defesa: 53 gols marcados e 43 sofridos
Time-base: Terracciano; Dodô, Milenkovic, Martínez Quarta (Igor), Biraghi; Bonaventura (Castrovilli), Amrabat (Duncan), Mandragora (Barák); Ikoné (González), Jovic (Arthur Cabral), Kouamé (Saponara).
Artilheiros: Arthur Cabral (8 gols), Nicolás González (6) e Luka Jovic (6)
Garçons: Cristiano Biraghi, Jonathan Ikoné, Christian Kouamé e Rolando Mandragora (4 assistências)
Técnico: Vincenzo Italiano
Os destaques: Arthur Cabral, Cristiano Biraghi e Sofyan Amrabat
A decepção: Josip Brekalo
A revelação: Alessandro Bianco
Quem mais jogou: Cristiano Biraghi, Dodô e Jonathan Ikoné (todos com 33)
O sumido: Josip Brekalo
Melhor contratação: Antonín Barák
Pior contratação: Josip Brekalo
O oitavo lugar na Serie A pode representar, para a Fiorentina, a obtenção de uma vaga na Conference League pelo segundo ano consecutivo – em caso de uma provável suspensão à Juventus por parte da Uefa. Nesta temporada, a equipe violeta ainda foi vice dessa mesma competição continental e da Coppa Italia. Sem dúvidas, o balanço é positivo. Entretanto, momentos nos jogos que resultaram nas perdas dos títulos e alguns períodos ao longo da campanha no certame nacional mostraram que determinados aspectos do trabalho de Italiano precisam melhorar.
Embora praticante de um futebol propositivo, a Fiorentina teve dificuldades de encontrar as redes quando Arthur Cabral e González estavam ausentes ou não viviam seus melhores dias – como, por exemplo, em parte considerável do primeiro turno. A Viola foi a terceira equipe que mais finalizou, mas marcou 18 gols a menos do que a Inter e 24 a menos do que o Napoli, que concluíram mais vezes e tiveram os melhores ataques da Serie A. Além disso, apesar dos bons números defensivos, a zaga não poupou a torcida de sofrer com alguns apagões, às vezes ligados a falhas táticas.
Oscilante, a Fiorentina chegou a emendar uma sequência de seis rodadas sem vencer a uma de cinco triunfos consecutivos – que, somados a quatro vitórias nas copas, resultou na maior quantidade de sucessos seguidos da história violeta. Foi neste período, entre fevereiro e abril, que os gigliati mostraram o seu melhor: o dinamismo e a qualidade das peças de um elenco profundo e de nível bastante parelho entre titulares e reservas, o que permitiu a Italiano efetuar frequentes rodízios. O desafio para a próxima temporada será prolongar esses momentos. Talento, os toscanos têm à disposição; lhes faltou um pouco de malícia e maturidade.
Juventus
A campanha: 7ª colocação, 62 pontos – punida com a perda de 10. 22 vitórias, 6 empates e 10 derrotas. Classificada para a Liga Conferência.
No primeiro turno: 3ª posição, 38 pontos.
Ataque e defesa: 56 gols marcados e 33 sofridos (a terceira melhor)
Time-base: Szczesny; Danilo, Bremer, Alex Sandro (Gatti, Bonucci); Cuadrado (De Sciglio), Fagioli (Miretti, Paredes), Locatelli, Rabiot, Kostic; Di María (Milik, Chiesa); Vlahovic (Kean).
Artilheiros: Dusan Vlahovic (10 gols), Adrien Rabiot (8) e Arkadiusz Milik (7)
Garçom: Filip Kostic (8 assistências)
Técnico: Massimiliano Allegri
Os destaques: Adrien Rabiot, Wojciech Szczesny e Danilo
A decepção: Leandro Paredes
A revelação: Nicolò Fagioli
Quem mais jogou: Danilo (37 jogos), Filip Kostic (37), Adrien Rabiot (32) e Manuel Locatelli (32)
O sumido: Kaio Jorge
Melhor contratação: Filip Kostic
Pior contratação: Paul Pogba
Pelo que produziu em campo, a Juventus – punida com a perda de 10 pontos por fraude fiscal – teve aproveitamento de terceira colocada. A qualidade na prática futebolística ficou em falta, mas a Velha Senhora soube impor seu estilo modorrento e, contando com uma defesa bem postada, obteve várias vitórias magras: nove das suas 22 foram por 1 a 0. Grande parte da torcida, porém, está cansada da pobreza de ideias de Allegri, que, em sua segunda passagem, vem extraindo menos qualidade do que a equipe pode entregar. Não é concebível ter um elenco estrelado em mãos e ver o questionado Rabiot terminar a temporada entre os seus destaques.
A torcida da Juventus começou a temporada empolgada pela montagem do plantel, que ganhou nomes como Pogba, Di María, Bremer, Kostic e Paredes. No papel, a equipe era uma forte candidata ao scudetto, mas em raríssimas oportunidades Allegri conseguiu fazê-la render ao máximo. Os bianconeri ainda tiveram a campanha dificultada pelo grande número de lesões e problemas físicos. Jogadores como Pogba, Di María, Vlahovic, Leonardo Bonucci e Federico Chiesa passaram bastante pelo departamento médico. Entretanto, isso não pode servir como álibi para esconder a indigência criativa do time.
Com todos os defeitos, esta mesma Juventus com aproveitamento de terceira colocada da Serie A ainda foi semifinalista da Liga Europa e da Coppa Italia. Contudo, ao contrário de outras equipes, o contexto em que está inserida não é o de uma etapa num caminho em ascensão: ausente da próxima Champions League e, provavelmente, suspensa pela Uefa, a agremiação passará por redimensionamento para evitar perdas orçamentárias ainda mais severas. Alguns de seus principais ativos podem ser negociados e jogadores caros e em fim de contrato não devem renovar os seus vínculos – outros, como Bonucci, terão menos espaço. A aposta será na renovação. Só que este processo será conduzido por Allegri, que vem em espiral negativa.
Roma
A campanha: 6ª colocação, 63 pontos. 18 vitórias, 9 empates e 11 derrotas. Classificada para a Liga Europa.
No primeiro turno: 5ª posição, 37 pontos.
Ataque e defesa: 50 gols marcados e 38 sofridos
Time-base: Rui Patrício; Mancini, Smalling, Ibañez; Zalewski (Çelik), Cristante, Matic (Bove, Camara), Spinazzola (El Shaarawy); Dybala (Wijnaldum), Pellegrini; Abraham (Belotti).
Artilheiros: Paulo Dybala (12 gols), Tammy Abraham (8) e Stephan El Shaarawy (7)
Garçom: Paulo Dybala (6 assistências)
Técnico: José Mourinho
Os destaques: Paulo Dybala, Chris Smalling e Lorenzo Pellegrini
A decepção: Roger Ibañez
A revelação: Benjamin Tahirovic
Quem mais jogou: Tammy Abraham (38 jogos) e Bryan Cristante (36)
O sumido: Marash Kumbulla
Melhor contratação: Paulo Dybala
Pior contratação: Mile Svilar
Pelo segundo ano consecutivo, a Roma priorizou a disputa das copas europeias. Curiosamente, ficou a um passo de terminar a temporada do mesmo jeito que a anterior – com um título continental na bagagem, uma eliminação nas quartas de final da Coppa Italia e o sexto lugar na Serie A. Faltou apenas bater o Sevilla nos pênaltis da decisão da Liga Europa, visto que a Loba repetiu até mesmo a quantidade de vitórias, empates e derrotas, e – consequentemente – a de pontos somados no campeonato nacional.
A temporada não foi fácil para a Roma em termos de condicionamento físico dos atletas. O ano começou com a séria lesão de Georginio Wijnaldum, um dos principais reforços da janela de transferências, foi pontuado por uma utilização cuidadosa de Dybala e coroado com um surto de contusões na reta final da campanha, que obrigou Mourinho a relacionar, para o banco de reservas, jogadores que sequer tinham condições de entrar em campo – de quebra, Abraham ainda rompeu ligamentos do joelho na última rodada da Serie A e desfalcará a Loba em boa parte da próxima época.
Desde a chegada de Mourinho, a Roma tem mostrado cada vez mais ambição e, ao mesmo tempo, adquire força mental. O português deve permanecer e pediu algumas mudanças na gestão, além de reforços – já recebeu Hassam Aouar, ex-Lyon. Isso, provavelmente, permitirá à Loba competir de forma mais séria por vaga na Champions League, algo que apenas ensaiou em parte de 2022-23. Com a fantasia de Dybala e uma defesa que beira o impenetrável mesmo com peças questionáveis, como Smalling e Ibañez, é bom não duvidar dos giallorossi.
Atalanta
A campanha: 5ª colocação, 64 pontos. 19 vitórias, 7 empates e 12 derrotas. Classificada para a Liga Europa.
No primeiro turno: 7ª posição, 35 pontos.
Ataque e defesa: 66 gols marcados (o terceiro melhor) e 48 sofridos
Time-base: Musso (Sportiello); Rafael Toloi, Djimsiti (Demiral), Scalvini; Maehle (Hateboer), De Roon, Éderson (Pasalic), Zappacosta (Ruggeri); Koopmeiners, Lookman (Muriel); Hojlund (Zapata).
Artilheiros: Ademola Lookman (13 gols), Teun Koopmeiners (10) e Rasmus Hojlund (9)
Garçom: Ademola Lookman (6 assistências)
Técnico: Gian Piero Gasperini
Os destaques: Ademola Lookman, Rasmus Hojlund e Teun Koopmeiners
A decepção: Juan Musso
A revelação: Rasmus Hojlund
Quem mais jogou: Marten de Roon (35 jogos), Éderson (35) e Joakim Maehle (34)
O sumido: Nadir Zortea
Melhor contratação: Rasmus Hojlund
Pior contratação: nenhuma
Durou pouco a ausência da Atalanta em competições europeias. Com uma trajetória bastante consistente, apesar de uma pequena queda de rendimento no segundo terço da Serie A, a equipe nerazzurra passou a temporada inteirinha entre as sete primeiras colocações e garantiu uma vaga na Liga Europa. Tendo os sete anos de Gasperini no comando como lastro, os orobici puderam acompanhar passagens de bastão ao longo da campanha: há uma nova trupe de destaques em Bérgamo.
Num passado recente, a Dea teve Papu Gómez como seu grande nome e, em seguida, Josip Ilicic, Duván Zapata, Luis Muriel e Ruslan Malinovskyi apareceram para compartilhar desse protagonismo. Somente os colombianos permanecem na agremiação e, em 2022-23, viram Koopmeiners liderar a equipe no meio-campo e os recém-chegados Lookman e Hojlund dominarem o ataque: o trio, muito bem observado nas últimas janelas de transferências, anotou mais da metade dos gols dos nerazzurri na Serie A. Já na defesa, o capitão Rafael Toloi segue imponente, mas passou a dividir o comando do setor com o prata da casa Giorgio Scalvini.
Com a temporada encerrada, é interessante olhar em perspectiva e notar que, em meados de 2022, chegou a ser real a possibilidade de o ciclo de Gasperini em Bérgamo se encerrar. Os desgastes entre o técnico e os cartolas eram conhecidos, a equipe não estava mais rendendo tanto quanto antes e, por fim, o fracasso na busca por vaga europeia, na última Serie A, deixaram a situação presa por um fio. Entretanto, as arestas foram aparadas, a Atalanta começou o campeonato seguinte em ritmo intenso e se renovou, proporcionando aos seus torcedores mais uma campanha exitosa. E eis que, dias após o derradeiro compromisso de 2022-23, a diretoria anunciou que o trabalho do comandante terá sequência.
Milan
A campanha: 4ª colocação, 70 pontos. 20 vitórias, 10 empates e 8 derrotas. Classificado para a Liga dos Campeões.
No primeiro turno: 2ª posição, 38 pontos.
Ataque e defesa: 64 gols marcados e 43 sofridos
Time-base: Maignan (Tatarusanu); Calabria (Thiaw), Kalulu (Kjaer), Tomori, Hernandez; Bennacer (Krunic), Tonali; Junior Messias (Saelemaekers), Díaz (De Ketelaere), Rafael Leão; Giroud (Origi).
Artilheiros: Rafael Leão (15 gols), Olivier Giroud (13) e Brahim Díaz (6)
Garçom: Rafael Leão (8 assistências)
Técnico: Stefano Pioli
Os destaques: Rafael Leão, Olivier Giroud e Brahim Díaz
A decepção: Charles De Ketelaere
A revelação: Aster Vranckx
Quem mais jogou: Rafael Leão (35 jogos), Pierre Kalulu (34) e Sandro Tonali (34)
O sumido: Tiémoué Bakayoko
Melhor contratação: Malick Thiaw
Pior contratação: Divock Origi
A palavra é retrocesso. No início da temporada nós escrevemos que o scudetto do Milan havia sido conquistado antes do planejado pela diretoria e que, contando com a espinha dorsal vitoriosa, Pioli precisaria apenas apresentar um nível mínimo de atuações. Pois o Diavolo teve momentos de péssimas exibições ao longo de 2022-23, correu um considerável risco de não se classificar para a Champions League e ainda viu o ano terminar com uma inesperada revolução no setor de futebol, devido às demissões dos diretores Paolo Maldini e Frederic Massara.
A dupla foi elogiada por suas movimentações no mercado, mas, em 2022-23, parece ter havido desacerto entre as contratações feitas pelos rossoneri e a avaliação de Pioli. Alguns dos reforços mal entraram em campo – casos de Sergiño Dest, Yacine Adli e Vranckx, que se juntaram a uma lista de atletas de baixíssima minutagem que conta ainda com Bakayoko, Alessandro Florenzi e o recém-aposentado Zlatan Ibrahimovic. De Ketelaere, principal compra dos milanistas neste ano, não decolou. Origi, por sua vez, se mostrou uma aquisição completamente desnecessária.
Diante disso, o Milan precisou confiar nas estrelas da conquista do scudetto – e muitas delas, incluindo o técnico, nem sempre responderam à altura. Pioli passou muito tempo amarrado a seu 4-2-3-1 e teve dificuldades para, primeiramente, corrigir problemas de uma defesa que se viu refém de Ciprian Tatarusanu nos meses em que Maignan ficou no estaleiro e que, além disso, se ressentiu das oscilações de Kalulu e Fikayo Tomori. Diante do retrocesso nos mecanismos de criação de jogadas da equipe, Rafael Leão e Giroud precisaram chamar a responsabilidade de oferecer soluções, auxiliados por um Díaz que talvez tenha sido a única peça do elenco rossonero a ter vivenciado uma notável evolução neste ano. No frigir dos ovos, o retorno às semifinais da Champions League após mais de uma década e meia, a obtenção da vaga para a próxima edição do torneio continental e a renovação contratual com seu grande craque foram fatores que acalmaram os ânimos em Milanello – ao menos até as confirmações das saídas de Maldini e Massara. Restou, portanto, a expectativa de como o novo ciclo será tocado pela RedBird Capital, proprietária do clube.
Inter
A campanha: 3ª colocação, 72 pontos. 23 vitórias, 3 empates e 12 derrotas. Classificada para a Liga dos Campeões.
No primeiro turno: 7ª posição, 37 pontos.
Ataque e defesa: 71 gols marcados (o segundo melhor) e 42 sofridos
Time-base: Onana (Handanovic); Darmian (Skriniar), Acerbi (De Vrij), Bastoni; Dumfries, Barella, Çalhanoglu, Mkhitaryan (Brozovic), Dimarco (Gosens); Martínez, Lukaku (Dzeko).
Artilheiros: Lautaro Martínez (21 gols), Romelu Lukaku (10) e Edin Dzeko (9)
Garçons: Nicolò Barella, Hakan Çalhanoglu, Romelu Lukaku e Lautaro Martínez (6 assistências)
Técnico: Simone Inzaghi
Os destaques: Lautaro Martínez, Nicolò Barella e Federico Dimarco
A decepção: Milan Skriniar
A revelação: Valentín Carboni
Quem mais jogou: Lautaro Martínez (38 jogos), Nicolò Barella (35) e Denzel Dumfries (34)
O sumido: Kristjan Asllani
Melhor contratação: André Onana
Pior contratação: Raoul Bellanova
A Inter de 2022-23 teve duas caras. Nos mata-matas, sucesso quase absoluto: título da Coppa Italia e da Supercopa Italiana, além de inesperado encerramento do jejum de 13 anos sem frequentar uma final de Champions League, ocasião em que entregou uma ótima atuação contra o Manchester City. Nos pontos corridos, por outro lado, experimentou uma irregularidade brutal: a Beneamata foi a segunda equipe que mais venceu, mas a que menos empatou. Ou seja, perdeu muito. E foi essa inconstância que impediu a formação de Inzaghi de brigar pela taça da Serie A.
Inzaghi termina o ano empregado e fortalecido, algo que chegou a parecer impensável entre fevereiro e abril, quando a Inter praticou péssimo futebol e chegou a deixar o G4 por conta de uma sequência de cinco rodadas sem vencer, com direito a quatro derrotas no percurso. Ali, se viu o pior de seu trabalho, numa fotocópia dos problemas apresentados em 2021-22: uma equipe burocrática e incapaz de matar jogos, desatenta na defesa e sem alternativas táticas vindas do banco de reservas. Em seguida, porém, a Beneamata disparou e massacrou adversários em todas as competições. Agressivo e jogando por música, o time obteve 11 vitórias em 13 compromissos, sendo derrotado apenas por Napoli e Manchester City.
Essa era a Inter que se esperava ver durante toda a temporada. E essa foi a equipe que teve Marcelo Brozovic e Lukaku inteiros. Antes, os dois sofreram com problemas físicos e, de fato, isso contribuiu para os percalços dos nerazzurri – entretanto, essa circunstância não pode servir de álibi para o técnico, já que Lautaro, Barella, Çalhanoglu e Dimarco tiveram um ano excelente. Inzaghi mostrou muitas qualidades em competições de mata-mata e isso não está em questão, mas a gestão do time em pontos corridos é deficitária e nisso reside o seu calcanhar de Aquiles. A torcida da Beneamata sente que poderia ter celebrado o scudetto em 2021-22 e que, na atual campanha, o elenco teria condições de ao menos de brigar com o Napoli até as rodadas finais. O desempenho na próxima Serie A representará a prova dos nove do comandante.
Lazio
A campanha: 2ª colocação, 74 pontos. 22 vitórias, 8 empates e 8 derrotas. Classificada para a Liga dos Campeões.
No primeiro turno: 4ª posição, 37 pontos.
Ataque e defesa: 60 gols marcados e 30 sofridos (a segunda melhor)
Time-base: Provedel; Hysaj (Lazzari), Casale (Patric), Romagnoli, Marusic; Milinkovic-Savic, Cataldi (Vecino), Luis Alberto; Felipe Anderson, Immobile (Pedro), Zaccagni.
Artilheiros: Ciro Immobile (12 gols), Mattia Zaccagni (10), Felipe Anderson (9) e Sergej Milinkovic-Savic (9)
Garçom: Sergej Milinkovic-Savic (8 assistências)
Técnico: Maurizio Sarri
Os destaques: Alessio Romagnoli, Ivan Provedel e Sergej Milinkovic-Savic
A decepção: Luís Maximiano
A revelação: Marco Bertini
Quem mais jogou: Ivan Provedel (38 jogos), Felipe Anderson (38), Sergej Milinkovic-Savic (36) e Pedro (36)
O sumido: Mario Gila
Melhor contratação: Alessio Romagnoli
Pior contratação: Luís Maximiano
Atire a primeira pedra quem apostava que um time comandado por Sarri se destacaria por sua defesa. O fato fica ainda mais surpreendente se lembrarmos que, na Serie A anterior, a Lazio teve somente a décima melhor retaguarda e foi a mais vazada dentre as equipes classificadas para competições europeias. O setor foi reformulado na janela de verão e os tiros dados pela diretoria foram certeiros: Provedel, Romagnoli e Nicolò Casale reduziram quase pela metade a quantidade de gols sofridos pelos celestes; de 58 para 30.
Em 2022-23, os atritos entre Sarri e Luis Alberto finalmente cessaram, de modo que o espanhol foi absoluto no meio-campo – relegando o pouco criativo Basic à reserva. O tridente que o camisa 10 compõe com Milinkovic-Savic e Immobile continuou a funcionar de forma satisfatória, ainda que o capitão tenha sofrido com algumas lesões ao longo da temporada e registrado o seu ano menos prolífico com a malha biancoceleste. Isso acabou não gerando impacto negativo, já que o trio se transformou em quinteto, considerando que Felipe Anderson e Zaccagni contribuíram muito para a boa campanha dos romanos.
No fim da campanha anterior, Sarri renovou o seu vínculo até 2025 e recebeu a promessa de que teria maior ingerência sobre as contratações de reforços, o que não é usual no futebol italiano. O fim do ciclo de 18 anos de trabalho do diretor esportivo Igli Tare, que não seguirá no cargo em 2023-24, leva a crer que o acordo com o presidente Claudio Lotito será cumprido a partir da próxima janela de transferências. O comandante está com prestígio e não é por acaso: afinal, o vice-campeonato obtido nesta temporada foi o melhor resultado da Lazio desde o scudetto conquistado em 2000.
Napoli
A campanha: campeão, 90 pontos. 28 vitórias, 6 empates e 4 derrotas. Classificado para a Liga dos Campeões.
No primeiro turno: 1ª posição, 50 pontos.
Ataque e defesa: 77 gols marcados (o melhor) e 28 sofridos (a melhor)
Time-base: Meret; Di Lorenzo, Rrahmani, Kim, Mário Rui (Olivera); Anguissa, Lobotka, Zielinski (Elmas); Lozano (Politano, Raspadori), Osimhen, Kvaratskhelia.
Artilheiros: Victor Osimhen (26 gols), Khvicha Kvaratskhelia (12) e Eljif Elmas (6)
Garçom: Khvicha Kvaratskhelia (10 assistências)
Técnico: Luciano Spalletti
Os destaques: Victor Osimhen, Khvicha Kvaratskhelia e Kim Min-jae
A decepção: Alessio Zerbin
A revelação: Gianluca Gaetano
Quem mais jogou: Stanislav Lobotka (38 jogos), Giovanni Di Lorenzo (37) e Piotr Zielinski (37)
O sumido: Diego Demme
Melhor contratação: Khvicha Kvaratskhelia
Pior contratação: Salvatore Sirigu
Quando ganhou os seus dois outros scudetti, o Napoli contava com Diego Armando Maradona. Ou seja, entrara na Serie A disposto a brigar pelo título. Em 2022-23, isso não era cogitado: os azzurri haviam perdido ícones como Kalidou Koulibaly, Lorenzo Insigne e Dries Mertens, e tinham como uma de suas principais contratações um jovem de nome complicado, oriundo não só da Geórgia, mas de um clube do combalido campeonato do país situado no Cáucaso. Todos os analistas sérios entendiam que o time partenopeo estava abrindo um ciclo mirando o futuro e que precisaria suar muito para garantir vaga na Champions League. Ninguém esperava que Spalletti engendraria a sua obra-prima.
A temporada do Napoli foi quase perfeita. O time estabeleceu um domínio de ponta a ponta na Serie A e, logo nas primeiras rodadas, o mundo inteiro viu que Osimhen e Kvaratskhelia, recém-conhecidos, tinham desenvolvido raríssima sintonia. Kim, outra novidade, se adaptou ao futebol italiano com a mesma naturalidade com a qual Lobotka passou de objeto misterioso a pilar do meio-campo. Obra de Spalletti, que faria a capital da Campânia explodir em festa após um jejum de 33 longos anos.
O Napoli assumiu a liderança isolada da Serie A na nona rodada e não a largou mais. As expectativas por uma natural queda de rendimento do conjunto após a Copa do Mundo ou durante o segundo turno não se concretizaram. Pelo contrário, foram os rivais que passaram a tropeçar com frequência, o que ampliou a vantagem do líder na ponta da tabela. A soberania dos azzurri chegou a fazer crer que recordes seriam obtidos, mas o time campano não conseguiu se sagrar o campeão com maior antecedência da história do campeonato nem ultrapassar a pontuação da Juve de 2013-14 – sequer superou a equipe partenopea que foi vice em 2017-18, com Sarri. Na Champions League, o chaveamento lhe permitiu sonhar com a decisão, porém o limite de sua melhor campanha no torneio foi as quartas de final. Nada disso, entretanto, importa para a torcida napolitana. O scudetto basta por si só.