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Ídolo na Andaluzia, Joaquín teve uma passagem breve e marcante pela Fiorentina

No início da década de 2010, a Fiorentina atravessou dificuldades ao fim do trabalho de Cesare Prandelli. Os momentos de instabilidade começaram a ser sanados a partir de 2012, com a chegada de Vincenzo Montella ao comando da equipe violeta e também com a contratação de jogadores experientes. Dentre eles, o espanhol Joaquín, que aportou na Toscana em 2013 e teve dois anos muito positivos por lá.

Nascido em El Puerto de Santa María, na província de Cádiz, Joaquín cresceu em uma família numerosa e com outro sonho: ser toureiro. Com a negativa da mãe, o garoto focou no futebol e foi ajudado por seu tio homônimo, conhecido como El Chino, no início da carreira. Ao lado de Aurelio, seu irmão e pai do futuro jogador, ele chegou a financiar a carreira do sobrinho até falecer meses antes da estreia do pupilo como profissional.

Diariamente, seu falecido tio o levava para pegar o trem na estação de El Puerto de Santa María e lhe esperava retornar dos treinamentos em Sevilha, na base do Betis. Reconhecendo os esforços de El Chino, Joaquín lhe dedicaria seu sucesso, seus gols e seus títulos, enquanto seu pai assumia o controle de sua carreira, como empresário. Na família, seus irmãos Lucas e Ricardo também ingressaram no futebol, mas não decolaram. O ponta foi o único dos Sánchez a alcançar a glória no esporte.

Joaquín fez sua estreia no time B do Betis em 1999 e, no ano seguinte, foi promovido para o principal, onde estourou: em 38 jogos, marcou três gols e ajudou os béticos a subirem para a primeira divisão. Ágil, rápido, ótimo driblador e exímio batedor de faltas, o ponta se tornou uma referência dos andaluzes nas demais temporadas.

Em 2001-02, Joaquín fez ótima dupla com o brasileiro Denílson, ajudou o time dirigido por Juande Ramos a se classificar para a Copa Uefa e foi eleito como revelação de La Liga. Além disso, estreou pela seleção espanhola e foi convocado para a Copa do Mundo de 2002, na qual atuou em dois jogos. Na Ásia, fez a jogada que resultaria no gol de ouro de Fernando Morientes, nas quartas de final contra a Coreia do Sul, dona da casa – tento que seria invalidado incorretamente, por alegação de que a bola cruzada pelo ponta havia saído pela linha de fundo. Sánchez, que estava com um problema físico, acabou sendo designado para cobrar um dos pênaltis na disputa decisiva e foi o único dos rojos a desperdiçar a chance. Com polêmica, tal qual ante a Itália, os sul-coreanos avançaram e ficaram com a quarta colocação no torneio.

Nos anos seguintes, Joaquín continuou a exercer papel central no Betis e a ser convocado pela Espanha. Em 2004-05, como estrela de um time que contava com os brasileiros Marcos Assunção, Ricardo Oliveira e Edu – além de Denílson, que era opção de banco, e do italiano Paolo Castellini, também reserva –, o ponta atingiu o melhor momento de sua carreira, até então: disputou todas as partidas oficiais pelo seu clube e fez parte da vitoriosa campanha dos verdiblancos na Copa do Rei, graças à vitória sobre o Osasuna, na final. Os béticos ainda ficariam na quarta posição de La Liga e se classificaram para a Champions League.

Após disputar a fase de grupos do maior torneio de clubes europeu e de ajudar o Betis a ir até as oitavas de final da Copa Uefa, Joaquín participou da Copa do Mundo de 2006, sua terceira competição pela Espanha, já que também atuara na Eurocopa de 2004, e voltou a Sevilha por pouco tempo. No verão, surpreendeu a torcida ao afirmar que gostaria de deixar o clube verdiblanco e entrou num braço de ferro com o presidente Manuel Ruiz de Lopera.

Joaquín chegou à Fiorentina quando veterano e ofereceu boa contribuição à equipe violeta (Getty)

Uma proposta do Valencia, que brigava por títulos e vagas europeias na época, parecia resolver o problema, mas a transação ficou travada pela negativa do uruguaio Mario Regueiro acertar com o Betis e pela dificuldade de os che pagarem pela integralidade do passe de Joaquín. Assim, Ruiz de Lopera ativou uma cláusula no contrato do ponta, que permitia que os verdiblancos o emprestassem para qualquer time e o mandou para o Albacete, como forma de punição – e para apressar o negócio. Sánchez teve que viajar com seu próprio veículo até Castela-Mancha e tirar uma foto no centro de treinamentos do Alba para evitar uma multa de 3 milhões de euros. Em seguida, o clube valenciano resolveu os problemas e pagou 25 milhões de euros para ficar com o jogador, o mais caro de sua história, até então.

El Pisha, como era conhecido, passaria cinco temporadas no Valencia e ajudaria o time a ter alguns bons resultados – misturados a campanhas medianas. Nesse período, os che obtiveram três classificações à Champions League, atingiram as quartas de final da competição em duas ocasiões e levantaram a Copa do Rei em 2008.

Durante sua militância pelo Valencia, Joaquín fez seus últimos jogos pela seleção espanhola. Em 2007, após criticar o técnico Luis Aragonés, nunca mais foi chamado – e, dessa forma, não fez parte da geração que faturou duas Euros e uma Copa do Mundo, entre 2008 e 2012. Outro momento de dúvida ocorreu em 2009-10, quando passou a disputar a titularidade com Pablo Hernández, prata da casa valenciana.

Em 2011, El Pisha voltou para a Andaluzia, mas num novo destino: o Málaga, que recebeu fortes investimentos do xeque catariano Abdullah Al Thani. No meio de vários medalhões e de ótimos jogadores no auge, Joaquín ajudou os albicelestes a ficarem na quarta e na sexta posição de La Liga, e ainda disputou uma edição da Champions League.

Joaquín foi um dos principais nomes da campanha europeia dos boquerones, em 2012-13. O Málaga caiu no grupo do Milan na Champions League e chegou a bater os rossoneri em La Rosaleda exatamente com um gol de El Pisha. Os malaguenhos lideraram a chave e alcançaram as quartas de final. Aliás, ficaram a segundos de uma ainda mais surpreendente classificação para as semifinais: após 0 a 0 na Espanha, o Málaga saiu na frente do Borussia Dortmund com um tento de Sánchez, em pleno Signal Iduna Park, e vencia por 2 a 1 até os acréscimos. Acabaria levando a virada e sendo eliminado, contudo.

Era junho de 2013 quando Joaquín, beirando os 32 anos, teve a primeira chance de atuar num clube de fora da Espanha – no auge, chegara a ser sondado pelo Chelsea de José Mourinho, mas o negócio não se concretizou. Por 2 milhões de euros, o ibérico chegou à Fiorentina, que vinha de um quarto lugar na Serie A, com direito a classificação para a Liga Europa na temporada inaugural do trabalho do técnico Vincenzo Montella.

Em sua passagem pela Itália, o ponta espanhol marcou gols importantes e ajudou a Fiorentina a fazer boas campanhas na Serie A e nas copas (Getty)

Naquele verão, o 3-5-2 de Montella passou por certa revolução do meio para frente, com as saídas de Stevan Jovetic, Adem Ljajic e Luca Toni. Em contrapartida, além de Joaquín, aportaram em Florença Josip Ilicic e Mario Gómez, que se juntavam a um elenco que contava com nomes como Manuel Pasqual, Giuseppe Rossi, Juan Manuel Vargas, Juan Guillermo Cuadrado, David Pizarro, Alberto Aquilani e Borja Valero. Ao mesmo tempo em que teria boas companhias, El Pisha contaria com forte concorrência.

Por força das circunstâncias e em virtude de alguns acertos de avaliação de Montella, Joaquín – que passou a ser chamado carinhosamente de Gioacchino na Itália – executou várias funções que não estava acostumado a realizar e, em 2013-14, pouco atuou na ponta direita, sua posição de origem. Sánchez chegou para ser alternativa a Cuadrado e até desempenhou este papel em parte do primeiro turno da Serie A. Quando o fez, foi bem: como na histórica vitória de virada sobre a Juventus, por 4 a 2, em Florença. O espanhol substituiu o colombiano e marcou um dos gols, sendo coadjuvante da tripletta de Rossi.

Rossi, aliás, teria papel importante para a mudança na sina de Joaquín. Ou melhor, a sua ausência: Pepito e Gómez sofreram sérias lesões e isso obrigou o treinador a buscar alternativas. Montella gostava de ter um ataque bastante móvel no seu leque de opções, mas foi forçado a apostar apenas neste modelo, seja quando escalava a equipe no 4-3-3, seja no 3-5-2. El Pisha, então, ganhou mais espaço e volta e meia jogou como ponta ou ala pela esquerda, além de segundo atacante.

Montella tentou de tudo, mas faltaram os gols. A Fiorentina, apesar de jogar bem, perdeu um pouco de terreno no returno da Serie A e caiu da terceira para a quarta posição, o que lhe impediu de se classificar para a Champions League – a vaga na Liga Europa foi um prêmio de consolação razoável. A propósito, na segunda principal competição de clubes do continente, os toscanos por pouco não conseguiram eliminar a Juventus nas oitavas de final: foram frustrados por um tento de Andrea Pirlo, aos 71 minutos do jogo de volta.

A Fiorentina também fez bonito na Coppa Italia. A Viola passou por Chievo, Siena e Udinese para alcançar a final do torneio, o que não ocorria havia 11 anos. No entanto, perderia a decisão por 3 a 1 para o Napoli. O time azzurro, aliás, seria uma das vítimas de Joaquín na temporada: aos 88 minutos, o espanhol calou o San Paolo e garantiu uma importante vitória na caminhada dos gigliati na Serie A. El Pisha terminaria 2013-14 com cinco gols e sete assistências em 37 aparições. Sem dúvidas, uma contratação que deu certo.

No ano seguinte, a Fiorentina encorpou o seu elenco para dar um salto de qualidade, mas praticamente repetiu os seus percursos – ficou na mesma posição da Serie A e foi bem nas copas. Como as expectativas eram altas, o desempenho foi considerado aquém do esperado, ainda que Joaquín e seus companheiros, submetidos a grande rodízio por Montella, tenham entregado momentos de bom futebol.

Após um biênio positivo na Itália, Joaquín retornou ao Betis para quebrar marcas importantes (Getty)

Sánchez começou a temporada como alternativa a Cuadrado e a Ilicic, tendo entrado em campo apenas três vezes até a 11ª rodada da Serie A – somente uma como titular. Quando o treinador decidiu pelo 3-5-2 como esquema preferencial, o espanhol virou titular na ala direita, enquanto seus concorrentes pela vaga eram escalados na função de segundo atacante; tal qual Mohamed Salah, que chegou do Chelsea no inverno, como parte do negócio que levou Cuadrado a Londres. Em seu posto natural, El Pisha marcou gols decisivos para as vitórias sobre Palermo (4 a 3) e Milan (2 a 1, com tento aos 89 minutos).

Embora tenha participado de menos gols em 2014-15 do que na temporada anterior – foram dois anotados e seis assistências fornecidas em 34 aparições –, Joaquín exerceu papel de liderança no elenco e chegou até a utilizar a braçadeira de capitão da Fiorentina. O fez, inclusive, num jogo contra o Sevilla, seu arquirrival, na Liga Europa. A Viola perderia para os rojiblancos nas semifinais e, claro, o “dono” da competição levantaria a taça na sequência. Os gigliati ainda caíram ante a Juventus na mesma fase da Coppa Italia e repetiram o quarto posto na Serie A.

Diante dos bons resultados, mas de sucessivas “bolas na trave”, aquele foi o último ano de Montella na Fiorentina – assim como o derradeiro de Joaquín na Bota. Depois de 71 partidas, sete gols e 13 assistências com a camisa violeta, El Pisha retornou ao Betis num negócio realizado no apagar das luzes da janela de mercado do verão europeu. A equipe da Toscana ainda recebeu 1,5 milhão de euros pela transação.

Joaquín já tinha 34 anos, mas ainda atuaria pelo Betis por quase uma década. O retorno do ídolo era uma espécie de presente para a torcida, visto que os verdiblancos voltavam da segunda divisão, e teve ótimos resultados. El Pisha ajudou o time andaluz a colecionar campanhas de meio de tabela, além de classificações para a Liga Europa em quatro das oito temporadas dessa passagem. Ademais, conquistou o título da Copa do Rei, em 2022.

Individualmente, Joaquín também colecionou feitos. Com 38 anos e 140 dias, o ponta se tornou o jogador mais velho a anotar uma tripletta em La Liga – superando simplesmente Alfredo Di Stéfano, lenda do Real Madrid. Além disso, o atleta, que quase sempre ostentou a braçadeira de capitão nesta passagem, assumiu a liderança em número de aparições pelo Betis, com 528, e entrou para a lista dos 10 principais artilheiros do clube. Por fim, empatou com o ex-goleiro Andoni Zubizarreta no topo do ranking de presenças no Campeonato Espanhol, com 622 jogos.

Sem sombra de dúvidas, El Pisha foi um dos nomes mais icônicos da história do Betis e do futebol espanhol – ter se aposentado com quase 42 anos é uma das tantas amostras disso. Na Fiorentina, não teve o tempo de construir uma trajetória do mesmo naipe, mas não decepcionou: deixou Florença com missão cumprida e com o respeito da torcida violeta.

Joaquín Sánchez Rodríguez
Nascimento: 21 de julho de 1981, em El Puerto de Santa María, Espanha
Posição: ponta direita
Clubes: Betis (1999-2006 e 2015-23), Valencia (2006-11), Málaga (2011-13) e Fiorentina (2013-15)
Títulos: Copa do Rei (2005, 2008 e 2022)
Seleção espanhola: 51 jogos e 4 gols

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