Em 1983, a Roma de Falcão, Roberto Pruzzo, Bruno Conti e Carlo Ancelotti era campeã nacional pela segunda vez em sua história. Giuseppe Giannini, aos 18 anos, acompanhou de perto. O garoto, prata da casa romanista, já fazia parte do elenco. Ele, porém, não entrou em campo na temporada do scudetto, e veio a se consagrar anos depois, tornando-se um dos maiores ídolos da história do clube. Chamado de príncipe por conta de sua elegância, Giannini foi um tremendo azarado, fazendo parte de uma monarquia giallorossa completamente inglória.
Nascido na capital, começou nas categorias de base do pequeno Atlas, de onde foi tirado aos 16 anos, para fazer parte dos juvenis da Roma. Muito jovem e no meio de uma equipe demasiado forte, demorou para receber grandes oportunidades.

Giannini faturou três edições da Coppa Italia pela Roma e também capitaneou a equipe por nove temporadas (Alamy)
Curiosamente, em sua primeira chance, numa partida contra o Cesena, no Estádio Olímpico, durante a temporada 1981-82, perdeu uma bola que originaria um gol de Genzano. Os visitantes venceram por 1 a 0 e Giannini levaria duas temporadas e meia para ser considerado novamente. Ainda assim, integrou o elenco campeão da Serie A e da Coppa Italia enquanto revezava pelos juvenis, com os quais também ganhou troféus importantes – o Campeonato Primavera e a Copa Viareggio.
Foi na temporada 1984-85 que o meia começou a se firmar, sob os cuidados do recém-chegado Sven-Göran Eriksson. No centro do campo, revezou com nada menos que Falcão, em sua última temporada na Itália. Algum tempo depois, já era titular, camisa 10 e bandeira da torcida – e tinha mais uma Coppa Italia no currículo.
Em 1987, com o retorno de Nils Liedholm, veio sua consagração individual: Pruzzo se encontrava em fim de carreira e Rudi Völler enfrentava seguidas lesões. Giannini, então, atuou mais à frente, liderou a equipe e marcou seu recorde pessoal de 11 gols na divisão máxima. Tornou-se presença certa na Nazionale de Azeglio Vicini, com a qual disputou sua única Copa do Mundo, em 1990. Antes, jogou a Euro 1988 e foi incluído na seleção ideal do torneio, do qual a Itália foi semifinalista.
Capitão e queridinho dos torcedores, foi um dos responsáveis pelo ambiente deturpado do clube no ano seguinte, devido às fortes desavenças com Renato Gaúcho – que até hoje culpa Giannini por sua passagem ridícula pela Itália. Portaluppi logo voltou ao Brasil, mas Il Principe ficou. Ele ainda teria uma proposta da Juventus recusada pelo presidente Dino Viola.
A década de 1990 chegou e Viola faleceu. Os tempos mudavam e a Roma caía pouco a pouco para um segundo plano nacional. Se em 1984 foi vice-campeã da Liga dos Campeões, em 1991 chegou à final da Copa Uefa, quando perdeu para a Inter. Outra Coppa Italia veio como consolo.
Os anos seguintes foram medíocres para a Roma, que já não tinha estrelas e nem dinheiro. Giuseppe Giannini seguia como o principal nome de um time muito aquém de seus rivais. Em toda a sua carreira como giallorosso, o meia se viu em elencos incapazes de brigar com os de Michel Platini, Diego Maradona, Gianluca Vialli, Marco van Basten, Lothar Matthäus, Roberto Baggio e afins. Suas últimas temporadas na capital coincidiram com o surgimento de uma nova bandeira, o não menos capitão e camisa 10 Francesco Totti.
Il Principe deixou a Roma aos 32 anos, desmotivado pela saída de Carlo Mazzone e por ser sempre o ator principal de um grupo de coadjuvantes. O camisa 10 somou 437 aparições e 75 gols pelos giallorossi, além de ter sido capitão por nove temporadas – assim como Giacomo Losi. Àquela altura, dividia o posto de mais longevo dono da braçadeira, perdendo-o para Totti (que a usou por 19) e era o segundo em partidas pela Loba, atrás apenas do mesmo Losi. Totti e Daniele De Rossi o superariam, mas Giannini segue no quarto posto.
Em declínio, o meia fechou com o Sturm Graz, da Áustria, onde ficou por uma temporada. Voltou para defender o Napoli de Mazzone por seis meses. Jogou sua última temporada no Lecce, contribuindo para a equipe – que também é giallorossa – subir à divisão de elite. Como treinador, não fez o mesmo sucesso: seu principal feito foi comandar o Gallipoli – que também é giallorosso – a um inédito acesso à Serie B, em 2009.
Giuseppe Giannini
Nascimento: 20 de agosto de 1964, em Roma, Itália
Posição: meio-campista
Clubes como jogador: Roma (1980-96), Sturm Graz (1996-97), Napoli (1997-98) e Lecce (1998-99)
Títulos como jogador: Copa Viareggio (1983), Serie A (1983), Campeonato Primavera (1984), Coppa Italia (1984, 1986 e 1991), Supercopa da Áustria (1996) e Copa da Áustria (1997)
Carreira como treinador: Foggia (2004-05), Sambenedettese (2005-06), Arges Pitesti (2006-07), Massese (2007-08), Gallipoli (2008-10), Verona (2010-11), Grosseto (2011-12), Líbano (2013-15) e Racing Fondi (2017)
Títulos como treinador: Lega Pro Prima Divisione (2009) e Supercopa da Lega Pro Prima Divisione (2009)
Seleção italiana: 47 jogos e 6 gols
É meio melancólico falar do Giannini. Ele não foi tão bom quanto Totti ou Falcão. Na verdade, lembra mais o Aquilani em vários aspectos. Mesmo assim, pegou times horríveis. Tivesse nascido uns cinco anos antes ou quinze depois, teria vencido mais.
Algumas curiosidades: era ídolo de infância do Totti, que sonhava em simplesmente cumprimentá-lo. A sua festa de despedida, em 2000, teve o campo invadido por babacas Ultras, que paralisaram o evento. Concorreu a algum cargo (não encontrado por mim) nas eleições regionais da Itália, em 2005, pelo Forza Italia, partido de Silvio Berlusconi.
como disse no portale romanista "ídolo do ídolo". parabéns pela matéria Mateus. Giannini só pelo simples fato de ser romano, romanista e ter a camisa 10 e braçadeira cumpriu o legado dos lendários bandeiras que mistificam a Roma. Agostino está para Giuseppe que entrega para Francesco. Lendas de um futebol perdido em algum lugar do modernismo de hoje.