Liga dos Campeões

Inversão de valores

“Ei, você aí, Inter da Serie A, se espelhe na da Liga dos Campeões!” (Reuters)

Anos atrás, a Inter era tachada de amarelona na Liga dos Campeões. De fato, o time parecia sentir o peso da competição continental, justamente em uma época que era de vacas magras e muitas decepções. Depois que voltou a vencer na Itália, a Inter ainda passou por um período instável na Liga dos Campeões.

Com José Mourinho, voltou a jogar a competição como grande e, mesmo com o inacreditável tropeço frente ao Schalke 04, nas quartas de final da última edição, não tem sofrido muito no torneio. Prova disso é que o time, mesmo mal no campeonato nacional, joga muito focado na Europa e não concede muito nem a adversários capacitados, como o Lille, atual campeão francês. O gol sofrido foi obra de uma falha de Stankovic e Lucio, mas não chegou a mostrar vulnerabilidade da defesa,

Ontem, no Giuseppe Meazza, a Inter não precisou jogar muito, mas dominou os franceses com alguma facilidade. Caso Milito estivesse em uma noite inspirada, os nerazzurri poderiam ter goleado. O argentino começou o jogo bem, acertando o travessão com um chute um tanto complicado, daqueles que, caso estivesse em boa fase, teria entrado. Na segunda etapa, quando a Inter já vencia, com um gol de cabeça de Samuel, que voltava de lesão e ainda fazia partida muito sólida, Milito perdeu duas chances incríveis – em uma, inclusive, bastava empurrar para dentro. O Príncipe só se recuperou depois que marcou um gol mais difícil do que os que perdeu, após bela jogada de Zanetti.

Os argentinos, aliás, foram os que mais destaque tiveram. Além da boa volta de Samuel e da forte presença de Milito, o melhor em campo foi Zanetti. O capitão, que substituiu Maicon, lesionado, na lateral direita, provou que seu forte mesmo é jogar pelos flancos. Além da jogada do gol, Zanetti deu muita segurança ao setor e nem mesmo sentiu a presença da jovem promessa Hazard – que, inclusive, interessa bastante à própria Inter -, quase 20 anos mais novo que ele. Em um momento pelo qual a Inter passa por uma crise na lateral esquerda, com um período de baixa de Nagatomo e as incertezas de Chivu, talvez Claudio Ranieri pudesse escalar o capitão no setor. Para isso, precisará de um meia que cubra as subidas de Maicon, quando este estiver bem fisicamente. Poli e, claro, Kucka, quando chegar em janeiro, serão essenciais para promover variações táticas desta natureza.

Outro argentino que foi bem no jogo foi Álvarez, que substituiu um Sneijder cansado. O ex-jogador do Vélez ainda se mostra preciosista e costuma querer dar um drible a mais, porém parece um pouco mais adaptado ao time. As críticas de Ranieri, que o aconselhou a pensar mais rápido, parecem ter surtido efeito positivo. Mais uma vez, como falamos na última rodada da LC, os jogadores da equipe de Milão precisam demonstrar o mesmo no campeonato italiano.

E na Alemanha…

Visitar o Bayern na Alemanha e sair de lá com pontos na bagagem é missão quase impossível para a maior parte dos times do mundo. E com o Napoli a situação não seria diferente. A derrota por 3 a 2 tirou os partenopei da segunda colocação em seu grupo na Liga dos Campeões e ainda quebrou a invencibilidade da equipe na competição. Mas ao contrário do que pode ser concluído em um primeiro momento, o revés não foi tão ruim para os napolitanos. Além de terem completado os dois jogos contra o adversário mais forte da chave, os azzurri ainda demonstraram boa reação em muitos momentos delicados e seguem vivos na busca da vaga.
Em uma partida que começou basicamente em investidas do ataque alemão contra a retranca italiana, não tardou para que o Bayern abrisse o placar. Ainda aos 19 minutos da primeira etapa Mario Gomez mostrou habilidade e, após boa jogada de contra-ataque, deixou De Sanctis para trás e abriu o placar. Com seu capitão Cannavaro suspenso, o Napoli se abateu com o gol levado e viu Gomez subiu, impedido e livre, para ampliar ainda aos 22 do primeiro tempo. A situação que se desenhava complicada, então, passou a ser calamitosa. Os bávaros não cessaram suas investidas ofensivas em nenhum momento e, no melhor dos panoramas, uma goleada seria pouco para o que vinha acontecendo em campo.
E se a vantagem era grande, ficou ainda maior quando Aronica sentiu lesão e deixou o Napoli com um a menos por pouco mais do que cinco minutos. Gomez, mais uma vez, aproveitou rebote em chute de Kroos e sepultou de vez as esperanças napolitanas em Munique. A situação só não ficou pior porque, nos minutos finais da movimentada primeira etapa, Lavezzi cobrou falta e viu o zagueiro Fernandez, substituito de Cannavaro, subir livre para diminuir a dianteira bávara. Se não transformou a partida, o gol de honra no primeiro tempo deu a mínima moral para que os partenopei voltassem melhores colocados em campo para a segunda etapa.
E a moral obtida no final do primeiro tempo foi crucial para a melhora napolitana, que ainda coincidiu com um esperado relaxamento dos bávaros. Melhor em campo na segunda etapa, o Napoli ainda marcou mais uma vez, aos 34 minutos, novamente com Fernandez. Mas a dopietta do zagueiro argentino não foi capaz de fazer os partenopei diminuirem a vantagem aberta com a tripletta de Gomez. E, no final das contas, sobrou aos napolitanos o alento de que o time, quando organizado, tem forças para bater de frente com as maiores potências da Europa. Resta, agora, medir forças com o poderoso Manchester City e buscar a vaga na segunda fase. (Leonardo Sacco)
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