Forte, inteligente e letal. Essas três características seriam suficientes para definir o sueco Gunnar Nordahl. Artilheiro com um faro de gol poucas vezes visto no esporte, ele encerrou sua carreira como profissional com a impressionante marca de 442 gols anotados em 504 partidas disputadas, algo que lhe dá a invejável e impressionante média de 0,88 tento por duelo disputado. Um jogador raro e que marcou época com a camisa do Milan, sendo fundamental para acabar com aquele que talvez tenha sido o pior e mais incômodo tabu da história rossonera.
Em uma época na qual o trabalho das categorias de base era inexistente, Nordahl entrou no mundo do futebol com uma idade incomum para a época. Pelo Hörnefors, pequeno clube da região em que nascera, disputava futebol de maneira quase amadora, fator que o ajudou a conquistar logo de cara uma vaga na equipe titular, aos 16 anos. Impressionou logo de cara, mostrando uma capacidade de anotar gols fora do comum. Aproveitou a passagem pelo pequeno time para desenvolver totalmente seu físico – que seria importantíssimo ao longo de sua carreira – e por lá ficou até os 19 anos, anotando nada menos do que 66 gols nas três temporadas disputadas.
Logo seu futebol interessou a clubes maiores e uma transferência para o Degerfors o projetou nacionalmente. Lá, continuou anotando gols sem parar, sagrando-se artilheiro do campeonato sueco em 1943. Os tentos anotados, porém, pareciam não surtir efeito em um time que não chegava nunca às disputas de títulos, fato que ofuscava a carreira de um jovem que prometia muito. Foi nesse contexto que, aos 23 anos, se tornou jogador do Norrköpping, um dos maiores times suecos da época. Continuou sendo artilheiro e passou a colecionar títulos. Ficou no clube entre 1944 e 1949, sendo campeão sueco em nada menos do que em quatro oportunidades – ainda foi o grande artilheiro da competição em três.
Todo o talento do artilheiro ainda seria essencial para a seleção sueca, que venceu os Jogos Olímpicos de 1948, em Londres. Ao lado de Gunnar Gren e Nils Liedholm – este seu companheiro no Norrköpping – o atacante fez história ao formar o ataque sueco que ficou conhecido como Gre-No-Li, em referência às primeiras letras dos nomes dos jogadores.
A medalha de ouro conquistada graças ao desempenho do trio, além do ótimo desempenho no futebol da Suécia, despertou o interesse de toda a Europa sobre os jogadores. Logo após a Olimpíada, a Atalanta contratou Bertil Nordahl, irmão de Gunnar, que embarcaria para o Belpaese no ano seguinte. O Milan, que desde 1907 não conquistava um scudetto, foi a equipe responsável por adquirir, em 1949, os três atletas de uma só vez. Começaria, então, uma nova era para os rossoneri.
Logo ao desembarcar em Milão ao lado dos companheiros Gren e Liedholm, o atacante mostrou que não perderia o faro de gols e, já na primeira temporada, apesar de atuar em apenas 15 partidas, balançou as redes 16 vezes. Mas seria apenas no seu segundo ano que Nordahl começaria a fazer história: em um campeonato que foi marcado por seu equilíbrio e que terminou nas mãos da Juventus, em 1949-50, o Milan obteve o segundo lugar com um ataque destruidor, que anotou nada menos do que 118 gols em 38 duelos, média de 3,1 por partida. O atacante sueco foio grande responsável por conduzir essa máquina ofensiva, anotando nada menos do que 35 tentos ao longo do torneio – marca que lhe rendeu a artilharia daquele ano e um recorde até hoje ainda não superado. Seu desempenho levou a Roma a contratar outro irmão seu, o meio-campista Knut Nordahl.
No ápice de sua forma física e técnica, faltava ao sueco ser decisivo no encerramento do jejum rossonero. Isso aconteceria no ano seguinte, em 1951, quando o atacante, já apelidado de Pompiere D’Oro – referência ao fato de ter sido bombeiro na Suécia antes de se profissionalizar – chegou perto de seu recorde e marcou impactantes 34 gols na campanha que rendeu o primeiro scudetto ao Milan desde 1907. O sueco foi responsável por nada menos que um terço dos gols marcados pelo time na Serie A conquistada, entrando de vez para a galeria de ídolos rossoneri – isso tudo com apenas três temporadas na Itália. O atacante, de 90 quilos distribuídos em 1,80m e de muita velocidade, ainda continuaria marcando gols sem parar, obtendo as artilharias consecutivas de 1952 a 1955.
Já consagrado como um dos grandes jogadores que haviam vestido a camisa do Milan em toda a história do clube e artilheiro da Serie A em seis oportunidades, Nordahl conciliaria ainda, em 1955, a dobradinha que o consagrara em 1951, conquistando seu segundo scudetto.
O novo título seria suficiente para imortalizá-lo em vermelho e preto, cores com as quais chegou ao posto de segundo maior artilheiro da história do campeonato italiano, ficando atrás apenas de Silvio Piola e superando lendas como Amedeo Amadei e Giuseppe Meazza – embora, entre os jogadores que marcaram mais de 100 gols na Serie A, seja o que tem a maior média de gols, de 0,77 por partida. A idolatria da torcida não diminuiu nem mesmo ao final da passagem do sueco pelo Milan, em 1956, quando o atacante deixou os rossoneri para atuar na Roma. Até hoje, é o maior artilheiro da história do clube de Via Turati.
No final de carreira e sem o mesmo vigor físico que o consagrara nos áureos tempos de Suécia e Milan, Nordahl desembarcou em Roma para fazer do clube capitolino o último de sua carreira. Como esperado, não repetiu lá o sucesso de outrora, mas nem por isso deixou de fazer gols. Jogando com muito menos frequência, balançou as redes 15 vezes pela equipe na qual atuou em apenas 34 partidas ao longo de duas temporadas.
Em 1958, se arriscou na carreira de treinador, assumindo, neste mesmo ano, o posto de técnico dos giallorossi – durante algumas partidas chegou a entrar em campo, ocupando, assim, as funções de jogador e comandante ao mesmo tempo. A carreira fora das quatro linhas, porém, não foi promissora e Nordahl se afastou da função de técnico após passagens sem sucesso em clubes da Suécia, onde se aposentou, também acumulando ocupações, pelo Karlstad, em 1960. Já com a prancheta em mãos, viu seu filho Thomas atuar pela seleção sueca na Copa de 1970, na última vez que o sobrenome Nordahl teve destaque internacional antes de seu falecimento, em 1995.
Atualização: até o dia 21 de janeiro de 2012, Nordahl era o jogador com mais gols por um mesmo clube na história da Serie A, com seus 210 tentos com a camisa rossonera. Francesco Totti o superou, na goleada da Roma por 5 a 1 sobre o Cesena.
Gunnar Nordahl
Nascimento: 19 de outubro de 1921, em Hörnefors, Suécia
Falecimento: 15 de setembro de 1995, em Alghero, Itália
Posição: atacante
Clubes como jogador: Hörnefors (1937-40), Degerfors (1940-44), Norrköpping (1944-49), Milan (1949-56), Roma (1956-58) e Karlstad (1959-60)
Títulos como jogador: Campeonato Sueco (1945, 1946, 1947 e 1948), Copa da Suécia (1945), Ouro Olímpico (1948), Copa Latina (1951 e 1956) e Serie A (1951 e 1955)
Clubes como treinador: Roma (1957-59), Karlstad (1959-61), Degefors (1961-64), Norrköpping (1967-70 e 1979-80), Saab (1971-73), Sleipner (1974), Öster (1975-76) e AIK (1977-78)
Seleção sueca: 33 jogos e 43 gols