Deixando os eufemismos de lado, quem nunca ouviu algum comentário (futebolístico) como “a Itália é um país de velhos”? Tal maneira de se referir aos tetra campeões mundiais não surgiu por acaso. Querendo ou não, é fato que há um protecionismo elevado no país com relação aos seus jovens no futebol. São raros os jogadores que surgem e ganham espaço muito cedo, como tem sido com Mario Balotelli, da Inter. Em outros casos, como o ocorrido com Nicola Ventola – hoje no Torino –, o surgimento precoce não convém com o futebol posteriormente apresentado, transformando-se num fiasco total. Nem Alessandro Del Piero, grande bandeira e um dos maiores jogadores da história da Juventus, foi titular absoluto tão cedo: somente na temporada 1997/98, com 24 anos, o atacante se firmou na equipe bianconera.
A política
O que Sebastian Giovinco, Paolo De Ceglie, Robert Acquafresca e Alessio Cerci têm em comum? Os dois primeiros ganharam projeção na temporada passada, emprestados respectivamente a Empoli e Siena, e agora atuam juntos pela Juventus. O terceiro, apesar de jogador da Inter, foi emprestado ao Cagliari tanto na temporada passada quanto na atual. O último, nome famoso nas seleções de base da Itália, destacou-se emprestado ao Pisa para agora ser repassado à Atalanta, apesar de vinculado à Roma. Tal movimento de mercado, de emprestar um jovem para adquirir experiência e continuidade em uma equipe menor, é comum nos grandes times. O mesmo aconteceu com Foggia, repassado a diversos clubes, e Okaka, que agora terá sua primeira real chance com a Roma, após um ano no Modena.
Também são poucos os nomes que tentam a sorte fora da Itália. Andrea Russotto, mais por imbróglio empresarial do que por qualquer outra coisa, ainda é jogador do Bellinzona, da Suíça. Giuseppe Rossi, nascido nos Estados Unidos e formado no Parma, passou por Manchester United, Newcastle e agora defende o Villarreal, sendo um dos bem raros exemplos de jovens italianos cuja consagração (ou algo semelhante) vem fora do país. Graziano Pellè, que com 23 anos já defendeu cinco equipes e – assim como Rossi – é figurinha carimbada das seleções menores, disputa agora a sua segunda temporada com o AZ, da Holanda.
O que se passa é que, apesar da letargia em lançar garotos, muitos clubes italianos ainda valorizam bastante a nacionalidade de seus jogadores. Para comprovar isto, basta ver que não havia atletas atuando fora do país no elenco que faturou a Copa do Mundo, em 2006. Ou seja, a permanência dos italianos na sua terra ainda é um elemento cultural, por mais que, atualmente, casos como os de Toni, Cannavaro, Grosso e agora Oddo tentem mudar a maré.
Então por que as grandes equipes demoram tanto para investir em um jovem talento? Não é tão complicado elaborar uma conclusão. Paloschi, por exemplo, poderia receber um maior apoio do Milan para esta temporada. Mas seria vantajoso para o clube, olhando pelo lado econômico e psicológico, barrar Inzaghi, Pato, Borriello ou até Ronaldinho? Talvez não completamente com o terceiro, mas são atletas que, se estão vestindo a camisa rossonera, estão esperando oportunidades o tempo todo.
Talvez esquecer um Inzaghi – que ainda por cima fatura 4 milhões de euros por ano – para apostar em um aspirante Paloschi também poderia gerar polêmicas internas. Basta ver o recente caso da Inter, cujo registro na Liga dos Campeões não inclui Crespo, e sim Balotelli. Logo em seguida à lista dos elegíveis para a competição, já surgiram rumores fortes sobre uma possível saída do atacante argentino da equipe. Agora, Paloschi passará um ano adquirindo ritmo e experiência no Parma, atuando na Serie B, sem gerar qualquer tipo de pressão ou risco ao Milan.
Lógico, há atletas que acabam sendo prejudicados com um protecionismo excessivo, mas também existem vários exemplos de jogadores que tiveram tempo e calma necessários para crescer futebolisticamente. Enquanto não se vê a necessidade de recorrer aos jovens, estes podem militar na desvalorizada Coppa Italia, ou então em equipes menores, para só assim provar o seu valor. E este valor provado ainda deve ser muito maior do que aquele dos atletas renomados à sua frente para chegar à titularidade.
Exemplos vivos
Reza a lenda que Alberto Aquilani é um dos melhores jovens meio-campistas da Europa na atualidade. Pois bem, ele completou 24 anos no último mês de julho. Um excelente jogador que evolui aos poucos ou simplesmente protecionismo excessivo? Neste caso, a segunda opção. O romano e romanista, oriundo das categorias de base do clube, até hoje não conseguiu se firmar na equipe da capital. Desde 2005/06 com um papel de profundidade no elenco, após voltar do período de um ano emprestado à Triestina, Aquilani ainda não conseguiu deslanchar, mesmo tendo demonstrado potencial de sobra para tal. Será que com 21 anos, quando estava bem atrás do caneludo Dacourt por uma vaga na equipe, ele não tinha capacidade para merecer reais e concretas oportunidades, adiantando então a sua explosão?
Alessandro Rosina passou três anos no Parma, clube que o revelou. Jogos impressionantes, partidas memoráveis, lugar ao sol? Nada disso. Nas três longas temporadas no time, somente um total de 25 partidas, número praticamente desprezível para alguém que hoje é um dos destaques da Serie A, ainda que no Torino. No período passado com a equipe parmigiana, Mutu, Appiah, Nakata, Marchionni e até Adriano vestiram a mesma camisa, o que acabou comprometendo – e muito – a sua regularidade. Depois de uma temporada emprestado ao Verona, “Rosinaldo” acertou com um Torino que, muito graças a ele, retornou à divisão de elite do país. Foi só jogando pelo clube granata que o meia-atacante conseguiu oportunidades reais na seleção sub-21, visto que, quando militava no Verona, fez parte do grupo campeão mundial da categoria em 2004 sem entrar em campo.
É, porém, mas, todavia…
Fabrizio Miccoli chegou à Juventus com 24 anos, na temporada 2003/04. Sua missão? Dar conta de substituir o fisicamente prejudicado Del Piero sem fazer o clube sentir a falta de seu principal ídolo. Obviamente, não deu certo. Claro que 24 anos não é uma idade que indica inexperiêcia, mas talvez, se o atacante que hoje defende o Palermo tivesse recebido mais calma para se firmar aos poucos, teria obtido muito mais êxito no clube. Nicola Ventola, na Inter, tinha simplesmente que passar por Ronaldo e Vieri, ambos ainda sem problemas físicos e mentais.
Ivan Pelizzoli, que até os 23 anos demonstrava grande potencial em sua terceira temporada na Roma, fracassou em seu quarto ano na capital, recebendo culpa excessiva num time medíocre que chegava a utilizar Dellas e Abel Xavier como dupla de zaga. Hoje, no ostracismo, defende o Lokomotiv Moscou, da Rússia. Todos são exemplos de que, se tivessem recebido menos pressão e mais calma de todos os lados, muito provavelmente estariam em situações bem mais gratificantes.
Exceções
Se falta maturidade para Cassano, sempre sobrou futebol para ele. Não por acaso apelidado de Peter Pan, o atacante marcou um gol antológico, ainda aos 19 anos, na poderosa Internazionale, atuando pelo Bari. Com 20, já brigava por posições numa Roma que possuía Batistuta, Delvecchio e Montella, enquanto que com 22 era titular absoluto e insubstituível da equipe. Desde a seleção sub-16 na Azzurra, destacou-se precocemente por um potencial assustador, uma notável coragem em jogos importantes e, claro, pelo extracampo.
Tudo isso, óbvio, convém com o fato de que o Bari era um time presente entre o meio e o final da tabela da Serie A. Se tivesse começado na Juventus, por exemplo – e lógico que isto são só suposições – muito provavelmente só teria tido um papel relevante na equipe na idade em que já conquistava a torcida romanista. Foi o único jogador a conquistar duas vezes o relevante prêmio “Oscar del calcio” de melhor jovem da temporada, pela AIC (Associazione Italiana Calciatori).
Alberto Gilardino e Daniele De Rossi não poderiam ser deixados de lado. O primeiro, eleito melhor jovem da Serie A pela AIC em 2003/04 e melhor jogador de todo o campeonato na temporada seguinte, estourou cedo no Parma. O segundo, ídolo incontestável dos romanistas, conseguiu brigar por vaga com Emerson, puxar o tapete do fraco Dacourt e desbancar o limitado, porém muito respeitado, Tommasi.
Os dois foram os jogadores mais novos do elenco campeão do mundo em 2006: Gilardino, que completou 24 anos durante a competição, marcou um gol contra os Estados Unidos; enquanto De Rossi, então com 22, cometeu a imbecilidade de acertar McBride com o cotovelo, na mesma partida. Ambos, entretanto, viveram momentos bem distintos: o atacante, depois de arrebentar e ganhar projeção continental com o Parma, não conseguiu se firmar no Milan e, agora, tem nova chance na Fiorentina de Cesare Prandelli, que o havia treinado nos gialloblù. O meio-campista, por sua vez, consagrou-se defendendo a equipe do coração e já é considerado o herdeiro natural de Totti na equipe.
Originalmente para o Olheiros.
Nunca tinha parado para analisar esse lado do campeonato italiano… Os jovens de grandes times, mesmo com muito potencial, custam a se firmar. Espero que o Aquilani possa ser titular absoluto de agora em diante, ele já provou que é mais que merecedor.
bravo matteo!
só esqueceu de falar do ”palladinho” ops, palladino