Você pode olhar e não confiar, não dar nada por ele. No entanto, o carequinha meio-campista Pietro Fanna está na história da Serie A: é um dos seis únicos jogadores a terem conquistado o scudetto com três times diferentes. Além de ter vencido com Juventus e Inter, o friulano foi um dos grandes nomes do histórico título do Verona e se consolidou como um dos melhores meias dos anos 1980.
Nascido no vilarejo de Grimacco, próximo a Údine, Fanna iniciou sua formação como jogador na Udinese, mas, aos 14 anos, foi negociado com a Atalanta, clube em que se profissionalizou. Engrandecido pela excelência da cantera do clube nerazzurro, Pierino se tornou um ótimo meio-campista: ala destro ofensivo, unia qualidade em passes e lançamentos a técnica, velocidade e senso tático.
Quando ainda tinha 17 anos, Fanna se firmou entre os titulares do time de Bérgamo na disputa da Serie B e realizou 20 partidas em seu primeiro ano no plantel principal. No seguinte, 1976-77, o ala foi peça fundamental para a campanha do acesso à primeira divisão e, aos 19 anos, foi premiado com uma transferência para a Juventus. O jovem jogador chegaria para fazer sombra ao experiente Franco Causio, dono do flanco direito do meio-campo da Velha Senhora.
Com pouco espaço, Pietro Fanna estreou pela Juve no final do primeiro turno da Serie A 1977-78, mas com grande estilo: atuou contra Pescara e Roma, marcando gols que valeram duas vitórias para a equipe, que se sagraria campeão italiana ao fim do certame. Apesar da colaboração, Fanna teve dificuldades de se adaptar ao ambiente cheio de pressão da gigante de Turim por causa de seu caráter tímido e introvertido.
Outro fator que contribuiu para que Fanna não despontasse ao longo dos cinco anos em que vestiu a camisa bianconera foi que ele poucas vezes foi utilizado em sua posição de origem pelo técnico Giovanni Trapattoni. Entre 1977 e 1982, nas mais de 100 partidas em que atuou pela Juventus, Pierino atuou como ala pela direita, mas também como segundo atacante, agindo como suporte a Roberto Bettega ou Pietro Paolo Virdis. Em 1981 e 1982, com alguns gols e muitas assistências, Fanna chegou a ser titular juventino e conquistou mais dois scudetti, embora fosse questionado pela fragilidade física – era franzino e não muito alto. Com isso, foi negociado com o emergente Verona.
O meia friulano chegou ao Vêneto por cerca de 1,5 bilhão de velhas liras, o que na época era um valor bastante respeitável. O jogador calvo, de apenas 24 anos, não havia demonstrado todo seu potencial em Turim, mas com a camisa scaligera explodiu de vez: atuando aberto pela direita no meio-campo, setor essencial do esquema do técnico Osvaldo Bagnoli, fez uma parceria memorável com o lateral Roberto Tricella.
O truque tático utilizado pelo estrategista veronês consistia em uma troca de posições entre os dois jogadores nos contra-ataques, o que permitia a abertura de espaços para que outros titulares daquele time, como Antonio Di Gennaro e Hans-Peter Briegel, finalizassem as jogadas. Além de confundir os adversários, Pierino era devastante pela faixa direita do meio-campo e estava sempre ditando o ritmo do histórico esquadrão do Verona que levantou o scudetto em 1985 e foi duas vezes vice-campeão da Coppa Italia, em 1983 e 1984.
Sem a pressão de jogar em um grande time, o carequinha conseguiu se tornar um dos melhores meias italianos dos anos 1980, o que lhe garantiu convocações para a seleção italiana. Fanna, que já participara dos Campeonatos Europeus sub-21 de 1978 e 1980, participou da Olimpíada de Los Angeles, em 1984, e foi chamado por Enzo Bearzot para 14 partidas pela Itália, todas entre 1983 e 1985 e 13 delas partidas amistosas. Nunca chegou a conseguir lugar no grupo do seu conterrâneo, que se manteve fiel aos tricampeões de 1982 e pouco renovou a seleção para a Copa do Mundo de 1986.
Logo após ser um dos heróis do scudetto do Verona, Fanna recebeu uma nova chance em uma das equipes gigantes da Itália: por 5,2 bilhões de liras a Inter decidiu apostar no jogador de 27 anos, que parecia maduro o suficiente para arrebentar também em Milão, outra “piazza calda”, como dizem os italianos. Em bom português, um barril de pólvora, cheio de pressão.
Na Beneamata, Fanna voltou a ter Marco Tardelli e Liam Brady como companheiros de meio-campo e tinha a tarefa de abastecer a forte dupla de ataque nerazzurra, formada pelo capitão Alessandro Altobelli e o panzer Karl-Heinz Rummenigge. Apesar de ter sido titular e ter ajudado a Inter a alcançar as semifinais da Copa Uefa, Pierino e a equipe não brilharam muito na temporada 1985-86.
No ano seguinte, a Inter sofreu uma pequena revolução, que levou Trapattoni ao comando da equipe. Sob as ordens do antigo treinador, Fanna manteve a titularidade no primeiro ano e, utilizado em sua função de origem, teve atuações regulares, marcando até um gol sobre a Juventus. Entre 1985 e 1988 o time de Milão teve temporadas positivas, mas não brilhantes. Nelas, o ala calvo foi figura importante, mas não jogou tanto quanto em Verona.
Sem convencer de todo a torcida interista e já no avançar da idade, Pierino acabou perdendo posição para o novo contratado Alessandro Bianchi na temporada 1988-89. Como reserva, o meia voltou a levantar um título nacional, chegando ao recorde de ter faturado o scudetto com três times diferentes. É um dos seis únicos jogadores a terem alcançado o feito, ao lado de Giovanni Ferrari, Filippo Cavalli, Sergio Gori, Aldo Serena e Attilio Lombardo.
Após o período de quatro anos na Inter, Fanna voltou ao Verona, aos 31 anos, com o intuito de encerrar a carreira no clube, que já não vivia os tempos de glória de anos atrás e passava por problemas financeiros. O carequinha atuou mais quatro temporadas pelos butei – duas na elite e duas na segundona – antes de se aposentar, em 1993.
Após pendurar as chuteiras, o ex-meia cuidou das divisões de base do Verona e, entre 1998 e 2000, foi auxiliar na comissão técnica de Cesare Prandelli no Hellas. Com a saída do treinador para o Venezia, ele acabou indo trabalhar nos Leões Alados, com contrato até 2002.
Hoje, Fanna continua ligado ao Hellas: mora em Verona e trabalha na rádio oficial do clube, comentando partidas. O meia preferiu não seguir carreira como técnico ou dirigente para deixar intacto o mito construído com a camisa gialloblù. Uma lenda que seria ainda maior e mais contada ao redor da Itália se a lustrosa carequinha tivesse brilhado da mesma forma em Turim e Milão.
Pietro Fanna
Nascimento: 23 de junho de 1958, em Grimacco, Itália
Posição: meio-campista
Times como jogador: Atalanta (1975-77), Juventus (1977-82), Verona (1982-85 e 1989-93) e Inter (1985-89)
Títulos conquistados: Serie A (1978, 1981, 1982, 1985 e 1989) e Coppa Italia (1979)
Seleção italiana: 14 jogos
Esses posts históricos são os melhores, ainda mais com a fase atual da minha amada Série, saudades também do fantástico blog Calcio Serie A, que também fazia posts históricos fantásticos como esse. Longa vida ao QuattroTratti!!