A loja que a Nike mantém perto do Camp Nou, em Barcelona, tem dois andares e algumas centenas de produtos licenciados. Mesmo dois dias depois da derrota do time da cidade para a Internazionale, pela Liga dos Campeões, continuava lotada. Depois de escolher uma camisa blaugrana, era necessária mais de meia hora até que os atendentes estampassem nome e número no novo souvenir dos turistas – indiscutivelmente, maior público do local.
Um casal estava à minha frente, junto do filho em cadeira de rodas. Não, não há uma fila preferencial. Com ele, o pai puxou o assunto-chave: futebol. Ou melhor: “calcio”. Depois de uns dois minutos de aproximação, conheci a família Vicino, tradicional de Pescara. Estavam de férias e foram passear pela Espanha, “que está numa crise bem menor que a da Itália”, garantiu Marco, o pai. Para isso, o carro novo dos Vicino rodou 1.500 quilômetros e passou por vários pedágios em 14 horas de estrada até a primeira parada, Barcelona.
“Mas a estrada é linda. Várias vezes nós vimos o mar. Pra quem mora no litoral, é bom viajar tendo o mar ao lado”. Marco concordava com a simpática esposa que, infelizmente, não conta mais com seu nome em minhas memórias. Pescara é a maior cidade da região italiana do Abruzzo e tem um lindo litoral habitado por 125 mil habitantes. Ainda possui um dos estádios mais simpáticos do país, o Adriatico, que Marco frequenta com o filho há 11 anos. Hoje, Filippo tem 25. O pai é sócio dos delfini e riu antes de contar que torcia para o time da cidade: “É um time pequeno, você não vai conhecer.” Naquela época, o Pescara estava com boas perspectivas de promoção na Lega Pro Prima Divisione. Usei a informação, ganhei a confiança de Marco e fomos a diante.
A família Vicino (“próximo”, numa tradução literal) não tem este nome à toa. Falasse português, passaria por uma trupe brasileira, de tão aberta e disponível nestes minutos de fila. Quando soube que falava com um brasileiro, Filippo contou como gostava do atual técnico de nossa seleção, “um dos maiores meio-campistas que já usou a camisa biancazzurra”. Para ele, não passou batida a passagem de Dunga pelo Adriatico. Já Marco o acha “mais ou menos, assim como é hoje como treinador, desperdiçando Ronaldinho desse jeito”. Mas há treinador pior que o nosso, ele jura. Antonello Cuccureddu, por exemplo. Demitido do Pescara em janeiro passado, “ele podia ter feito muito mais para nosso time”.
O Pescara improvisou Eusebio Di Francesco como treinador e conseguiu o que se tornara inesperado. Filippo sonhava com o retorno à Serie A, mas disse que antes era preciso subir para a B e isto não viria tão cedo para um clube que vinha perdendo a esperança em sua terceira temporada seguida na terceira divisão. Mas, com Di Francesco, os biancazzurri alcançaram o líder Hellas Verona em queda livre, bem a tempo de disputar com eles o play-off de acesso. Venceram e voltaram de onde não deviam ter saído, ainda que às custas do tradicionalíssimo Hellas. Pescara é uma destas cidades apaixonadas por futebol que peca ao deixar seu clube tão longe dos holofotes.
O caminho para se manter em ascensão passa pela renovação do treinador Di Francesco (acertada por dois anos) e na constante ambição do presidente Giuseppe De Cecco. A meta, segundo ele mesmo, é se divertir na Serie B, em vez de ficar lutando contra o rebaixamento. Além de lutar por um retorno à primeira divisão num espaço de três anos. Para isso, também foi importante a chegada do diretor esportivo Daniele Delli Carri, ex-Renato Curi, grande amigo do treinador. As primeiras contratações apontam o nível das vontades da direção biancazzurra: inicialmente fala-se de Iunco (armador do Chievo), Carrus (zagueiro do Mantova) e Pettinari (meia da Roma). Para isso, a sociedade conta com a inserção de mais dois sócios aos 12 que o clube possui, hoje. Para que o sonho da família Vicino de voltar à Serie A, com o perdão do trocadilho bilíngue, fique mais próximo.
Me vien da piansar
/=RISORGERÒ/=
Ele comentou de Junior, O Capacete, ex Flamengo? Esse sim, foi um craque, "altro che Dunga"…
Comentou não. E, naquele momento, nem lembrei de perguntar do Júnior. Quem sabe se fosse uma fila do Banco do Brasil, daquelas de duas horas de comprimento… haha
Como flamenguista, me lembrei logo de Júnior. Pena não ter tido mais tempo.
Aliás, Braitner, sabia que ele atuou como líbero no Pescara? Com aquela técnica toda não deve ter sido difícil…
Abraços.
Nossa, não sabia disso! Esse Júnior já fez de tudo, pô 😛
Tá aí o futebol de areia que não nos deixa mentir.