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Karl-Heinz Schnellinger: tão confiável quanto um carro alemão

Karl-Heinz Schnellinger viveu o auge da carreira na Itália e se tornou ídolo do Milan nos nove anos em que defendeu o clube. A idolatria se deveu ao grande desempenho defensivo do alemão, que era conhecido por ser muito versátil e aliar bem técnica e força. As qualidades físicas lhe renderam o apelido de “panzer”. Porém, ele ficou mesmo conhecido como “Volkswagen”, pois, com ele, a equipe poderia contar com bom desempenho sempre.

Nascido na cidade de Düren, próximo a Colônia, Schnellinger ingressou no clube local aos dez anos e, a partir daí, começou a se desenvolver como defensor e o lado esquerdo já era o preferido. As coisas ocorreram rápido na carreira do “Volkswagen”, ao ser promovido ao time principal do Düren, ele recebeu um chamado para representar um selecionado amador da Alemanha. O desempenho agradou ao comandante Helmut Schön, que era o assistente do treinador do elenco principal, Sepp Herberger. A troca de informações entre os dois resultou na convocação de Schnellinger à Nationalmannschaft em 1958 e também na presença do lateral-esquerdo na Copa do Mundo de 1958.

Junto com o primeiro Mundial pela Alemanha, em que jogou pouco, veio a profissionalização através da transferência para o maior clube da região, o Köln. Nos bodes, após um primeiro ano em que ficou em segundo lugar no campeonato regional, Schnellinger ajudou o clube a vencer quatro vezes consecutivas o torneio e, desta forma, colocou o Köln na disputa pelo título nacional. Porém, a conquista só foi alcançada uma vez, em 1962. Na fase final do campeonato, os bodes enfrentaram Hamburgo, Eintracht Frankfurt e FK Pirmasens, sofrendo apenas um gol. Na decisão, venceram o Nürnberg por 4 a 0. O bom desempenho defensivo teve “Volkswagen” como destaque e, por isso, ele foi eleito o futebolista alemão do ano de 1962.

A seriedade era uma das marcas do zagueiro alemão (imago/WEREK)

Ao final da temporada, havia mais uma Copa do Mundo para disputar. Desta vez, Schnellinger foi titular da seleção alemã que parou frente à Iugoslávia nas quartas de final do Mundial de 1962. Na temporada 1962-63, o Köln chegou mais uma vez à final da liga alemã, mas foi derrotado por 3 a 1 (naquele jogo, Schnellinger marcou um dos raros gols de sua carreira) pelo Borussia Dortmund na decisão. Os bons desempenhos lhe renderam uma transferência para a Roma, porém, a primeira passagem na capital italiana foi rápida e ele logo foi emprestado ao Mantova, em uma troca que envolveu outros dois jogadores giallorossi pelo ítalo-brasileiro Angelo Sormani.

No clube da Lombardia, o alemão impressionou e, por isso, retornou aos giallorossi, onde ficou uma temporada e seguiu mostrando qualidades. O alto nível do futebol apresentado rendeu o interesse do Milan, que o contratou em 1965 para fazer parte de um esquadrão rossonero, que tinha Gianni Rivera como grande estrela. Junto de Schnellinger desembarcaram em Milão, Sormani e Antonio Angelillo, porém, apenas o primeiro teve sucesso semelhante ao do alemão com a camisa do Diavolo.

Antes de começar a colecionar taças no Milan, o jogador alemão teve um primeiro ano sem conquistas. Individualmente, porém, o “Volkswagen” conquistou o direito de disputar sua terceira Copa do Mundo consecutiva. Em 1966, com um time baseado na grande linha defensiva, a Alemanha sofreu apenas dois gols até chegar à final. Na decisão frente à dona da casa Inglaterra, 2 a 2 no tempo normal. Na prorrogação houve o famoso gol de Hurst, em que a bola não cruzou a linha em Wembley, mas foi confirmado pela arbitragem. No final, 4 a 2 para a Inglaterra e o defensor milanista voltava à Itália como vice-campeão do mundo.

Nos primeiros dois anos pós-Copa, Schnellinger conquistou os torneios nacionais: Coppa Italia, em 1966-67 e a Serie A, em 1967-68. Porém, o melhor ficou para a temporada de 1968-69. No Campeonato Italiano o scudetto não veio, mas o desempenho defensivo milanista foi impressionante: apenas 12 gols sofridos em 30 partidas.

Schnellinger cumprimenta um jovem Beckenbauer, em jogo da Recopa de 1968, contra o Bayern (imago/WEREK)

Na Copa dos Campeões, o Milan passou por cima de grandes adversários, como o Celtic e o Manchester United. Na final, os rossoneri despacharam o Ajax de Cruyff, por 4 a 1, com uma tripletta de Pierino Prati. Para completar o ótimo ano, em um confronto muito disputado, duro e catimbado, o Milan venceu o Estudiantes no placar agregado por 4 a 2.

Em 1970, mesmo estando com mais de 30 anos, Schnellinger foi convocado para a Copa do Mundo do México e esteve entre os 11 iniciais. Quarta participação consecutiva em mundiais, o que o coloca abaixo do goleiro Carbajal, do México e Lothar Matthäus, da Alemanha neste quesito – ambos participaram de cinco copas consecutivas.

A campanha da Nationalmannschaft foi muito boa em 1970: venceu as três partidas na primeira fase e conseguiu uma virada contra a Inglaterra, após estar perdendo por 2 a 0 nas quartas de final. Na semifinal, um confronto épico frente à Itália. O jogo encaminhava para a vitória da Squadra Azzurra, mas, nos acréscimos do segundo tempo, Schnellinger apareceu no meio da área para levar o jogo para a prorrogação e marcar o seu único com a camisa da seleção alemã. No tempo-extra, Gerd Müller colocou a Alemanha na frente, mas Burgnich e Riva viraram a partida (3 a 2). Gerd Müller ainda conseguiu empatar mais uma vez, porém, um minuto depois, Gianni Rivera fez o quarto gol italiano e decretou números finais ao jogo: 4 a 3. Na disputa pelo terceiro lugar, a Nationalmannschaft bateu o Uruguai por 1 a 0.

Em nove anos de Milan, o alemão foi sinônimo de alto rendimento (imago)

Na volta à Itália a imprensa italiana questionou o “Volkswagen” sobre o sentimento de marcar contra a seleção do país em que jogava. A resposta de Schnellinger foi simples: “eu estava fazendo meu trabalho”. A descrição e a seriedade são parte fundamental da personalidade do alemão. Em 2009, em entrevista à Gazzetta falou sobre isso: “eu não sou tão fácil de lidar, mas, como jogador, eu nunca tive uma briga”. Em campo isso se refletiu, mesmo sendo defensor, foi expulso apenas duas vezes na carreira. Na última temporada em Milão, Schnellinger venceu a Recopa da Uefa e a Coppa Italia, completando oito taças conquistadas. No total, vestiu a camisa rossonera por 334 vezes, marcando três gols.

Schnellinger terminou a trajetória futebolística, em 1975, no Tennis Borussia Berlin, onde foi capitão e jogou a Bundesliga. Mas hoje, o ex-ídolo da parte vermelha e preta de Milão vive na Itália, em Segrate e é empresário. O amor pelo Diavolo permanece, “minha esposa Ursula sempre vai ao San Siro. Eu não posso fazer isso, eu sofro muito. Eu começo a suar e me desespero”, afirmou na mesma entrevista à Gazzetta já citada, ao ser questionado se ainda era milanista.

Karl-Heinz Schnellinger
Nascimento: 31 de março de 1939, em Düren, Alemanha
Posição: lateral-esquerdo/líbero
Clubes: SG Düren (1958-59), Colonia (1959-63), Roma (1963 e 1964-65), Mantova (1963-64), Milan (1965-74) e Tennis Borussia Berlin (1974-75)
Títulos: Campeonato Alemão (1962), Coppa Italia (1964, 1967, 1972 e 1973), Serie A (1968), Copa dos Campeões (1969), Taça Intercontinental (1969) e Recopa Uefa (1968 e 1973)
Seleção alemã ocidental: 47 jogos e 1 gol.

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