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O ítalo-brasileiro Éder chegou à seleção italiana em período com poucos destaques no ataque

Nascido na cidade de Lauro Müller, no interior de Santa Catarina, no feriado de Proclamação da República, em 1986, Éder sempre teve sua vida fortemente ligada ao futebol e à Itália. A começar por seu nome, homenagem a Éder Aleixo, um dos grandes pontas e cobradores de falta da época e estrela da lendária seleção de 1982. E também pelo fato de um de seus bisavôs paternos ser originário da província de Vicenza, no nordeste da Bota – motivo pelo qual tem dupla cidadania.

Vindo de um lugar muito afastado dos grandes centros do futebol, Ederinho, como foi apelidado na Itália, se tornou um dos maiores orgulhos de seu estado, um lugar apaixonado por futebol, porém sem clubes de primeiríssima prateleira no cenário nacional. Sua partida do Criciúma, seu time formador, diretamente para o italiano Empoli, sem passar por uma equipe de maior holofote do Brasil, foi um grande feito por si só. Não à toa, a torcida do Tigre tem muito carinho por uma de suas principais revelações.

O jogador iniciou sua carreira profissional aos 18 anos, na condição de jovem talento recebendo uma oportunidade no final de uma campanha trágica para o time catarinense, que já estava rebaixado à segundona do Brasileiro. Não demorou muito para o garoto conquistar seu espaço entre os titulares: 2005 começou com Éder no onze ideal do Criciúma. Sua primeira temporada completa pelos carvoeiros foi impactante, chamando a atenção de olheiros internacionais, apesar dos resultados muito abaixo do esperado de sua equipe.

O Empoli abriu as portas da Itália para Éder: depois de circular por empréstimo, o atacante voltou ao clube e foi artilheiro da Serie B (Getty)

O atacante contribuiu com três gols na conquista do campeonato estadual e chegaria aos 10 em 34 partidas ao final do ano. O Tigre, contudo, foi extremamente decepcionante, terminando na penúltima colocação na Série B do Brasileiro de 2005 – sendo, portanto, rebaixado para a terceira divisão. O mau desempenho da equipe, por sorte, não apagou os bons números e as sensações positivas deixadas por Éder, que, em janeiro de 2006, desembarcou na Itália como nova contratação do Empoli, que jogava a Serie A.

O atacante, porém, não teve pouquíssimas oportunidades no time profissional logo de cara. Éder, que já atuava entre os adultos, teve de voltar para a base na Itália, sendo “rebaixado” para a equipe Primavera. No sub-19, teve de fato ótimos números, com 12 tentos em apenas 18 partidas. Entre os grandes, estreou em 2006-07, mas eram raras as vezes em que era relacionado e sua produtividade não impôs mais chances. Então, na metade da temporada 2007-08, foi emprestado para o Frosinone, na Serie B, pelo resto da época vigente e a seguinte.

Em um time sem tanta concorrência, Éder finalmente conseguiu ter uma sequência e a resposta foi muito positiva. Logo na temporada em que chegou, se valeu de sua versatilidade (foi formado como centroavante, mas podia atuar facilmente como segundo atacante ou ponta), para anotar seis gols e fornecer uma assistência em 19 jogos. Na seguinte, em 34 partidas, balançou a rede mais 15 vezes, além de servir os companheiros em sete oportunidades. Assim, o brasileiro ficou bem colocado na artilharia e entre os líderes em passes-chave da Serie B, apesar de o Frosinone não ter passado (de novo) do meio da tabela.

Nesse meio tempo, o Empoli, que havia sido rebaixado na temporada anterior, não conseguiu o acesso à Serie A, de modo que Éder retornou ao clube, mas continuou jogando na segunda divisão italiana. Sua passagem após o empréstimo foi completamente diferente da anterior. Consagrado no time titular, o brasileiro foi quem mais marcou gols no torneio nacional em 2009-10, com 27.

O ítalo-brasileiro marcou seu primeiro gol na Serie A pelo Brescia, mas amargou um rebaixamento (Getty)

Ao final de uma época de muito destaque e com a artilharia da segundona entre seus feitos, Ederinho finalmente recebeu sua chance na Serie A. Não pelo Empoli, que foi apenas o 10º colocado no campeonato, mas cedido ao Brescia, que foi promovido após ficar com o terceiro lugar do certame e superar os playoffs. Contudo, o brasileiro não teve grande destaque na Lombardia, já que o seu time terminou rebaixado. Na campanha que resultou na penúltima posição dos biancazzurri, Éder foi o atleta que mais vezes entrou em campo (35), porém não chegou sequer aos dois dígitos em participações em gols – marcou seis e assistiu dois.

A metade inicial da temporada seguinte, 2010-11, Éder passou no Cesena, que o comprou para a disputa da primeira divisão – na época, os romanholos retornavam à Serie A depois de duas décadas de ausência. Aquele time biancorosso tinha um ataque formado pelo brasileiro e também por Antonio Candreva e Adrian Mutu, com Marco Parolo no apoio, mas não funcionou. Com um futebol ainda mais modesto e apenas dois tentos, o catarinense, novamente, decidiu dar um passo atrás para, em seguida, dar dois à frente.

Com muita identificação com a Itália e amor ao país, ele optou por seguir na Bota, mas voltaria a um time de segunda divisão. Dessa vez, seria uma equipe de maior tradição, que buscava retomar seu lugar na elite. Assim, Éder chegou por empréstimo à Sampdoria, onde viveria seus momentos mais especiais na carreira. Logo de cara, com nove participações em gols, ajudou os blucerchiati a terminarem a competição no sexto lugar, garantindo vaga para os playoffs para a Serie A, nos quais sairiam triunfantes, com mais três contribuições do atacante.

Para a temporada seguinte, considerando também o rebaixamento do Cesena à segundona, Éder foi contratado em definitivo pela Samp e marcou sete gols, incluindo tentos sobre Inter e Juventus, além de ter fornecido seis assistências em uma campanha bem-sucedida de evitar o rebaixamento. Naquele ano, foi um dos líderes técnicos da equipe, juntamente aos jovens Andrea Poli e Mauro Icardi.

Após optar defender a Sampdoria na Serie B, Éder viu sua carreira dar um salto: na equipe genovesa, viveu seus melhores momentos (Getty)

Os bons números se repetiram na época seguinte, com o catarinense assumindo o protagonismo da Sampdoria após as vendas de Icardi e Poli para Inter e Milan, respectivamente. Éder foi o artilheiro doriano, com 12 gols, e ainda participou de outros seis. A ascensão, principalmente desde a chegada do técnico Sinisa Mihajlovic, era evidente e o ítalo-brasileiro a confirmaria em 2014-15, quando manteve o posto de goleador da equipe (com 12 tentos, sendo nove na Serie A) e desempenhou papel fundamental para que ela chegasse à zona de playoffs para a Liga Europa, devido ao sétimo lugar no campeonato.

O ano de 2015 foi especial para Éder, que mostrava seu melhor nível e, assim, chamava a atenção de gigantes do futebol nacional e da seleção italiana. Em março, Antonio Conte convocou o ítalo-brasileiro pela primeira vez para a Nazionale e o atacante não fez feio. Logo em sua estreia, mostrou serviço ao anotar um gol em empate contra a Bulgária, num jogo válido pelas classificatórias da Euro 2016. Já integrado ao grupo azzurro, repetiria a dose em outubro, numa vitória sobre o Azerbaijão.

Àquela altura, Éder vivia a fase mais gloriosa de sua carreira. A Sampdoria rateava na Serie A – já tinha trocado Walter Zenga, que chegara para o lugar de Mihajlovic, então no Milan, por Vincenzo Montella. O atacante, entretanto, se mostrava imune às oscilações da equipe. Ederinho marcou cinco gols nas três rodadas inicias do campeonato e seguiu bem no restante do primeiro turno, período em que até utilizou a braçadeira de capitão em algumas ocasiões. O catarinense estufou redes pesadas, como as de Napoli (três vezes), Roma, Milan e Genoa, em vitória no clássico. Mesmo atuando frequentemente como ponta pela esquerda, anotou 12 tentos em 19 partidas. O suficiente para ser o artilheiro do time em 2015-16 mesmo tendo mudado de casa no fim de janeiro.

Já ao final da janela de transferências, Éder chegou a Milão para jogar em uma gigante do futebol italiano, que buscava retornar aos melhores dias. Depois de 135 aparições e 49 gols pela Sampdoria, Ederinho terminou a campanha de 2015-16 na Inter, com a qual assinou um contrato de cinco anos. Entretanto, os seus primeiros meses na Lombardia não foram bons. Na verdade, foram opostos aos vividos em Gênova naquela temporada.

Mesmo atuando como ponta, Éder teve fase goleadora na Sampdoria e entrou em evidência no futebol italiano (Getty)

A estreia de Éder pela Inter não poderia ter sido pior: 3 a 0 para o Milan no Derby della Madonnina. Depois, o ítalo-brasileiro enfrentou dificuldades para retomar a sua parceria com Icardi e também teve problemas para coexistir com outros colegas de ataque talentosos, como Ivan Perisic, Stevan Jovetic e Adam Ljajic. Treinada por Roberto Mancini, a Beneamata caiu vertiginosamente de rendimento no returno e, depois de liderar a Serie A, terminou apenas no quarto lugar, com vaga na Liga Europa. O catarinense só contribuiu com uma bola nas redes adversárias, em triunfo sobre a Udinese.

Apesar de ter visto o seu desempenho cair, Éder não perdeu seu lugar na seleção italiana – afinal, tinha feito uma primeira metade de temporada excelente pela Sampdoria e tinha crédito com Conte. No verão do hemisfério norte, em 2016, o ítalo-brasileiro foi chamado para defender a Itália na Euro, competição na qual seria titular e responsável por garantir a classificação dos azzurri para as oitavas de final, ao marcar na vitória simples contra a Suécia.

Vivendo entressafra, a Nazionale tinha muitos nomes questionáveis no grupo e seu treinador tirava leite de pedra. O próprio Éder, apesar da fase que vivia, era um dos nomes que não convenciam inteiramente a torcida do país, acostumada aos atacantes de peso que abrilhantaram as gerações anteriores da seleção. O brasileiro não decepcionou, entretanto, e fez bons jogos na surpreendente campanha da Itália: depois de passarem pela Espanha, defensora do troféu, nas oitavas de final, os azzurri só deram adeus ao perderem a disputa de pênaltis para uma Alemanha muito superior tecnicamente, nas quartas.

De volta a Milão, Éder melhorou seus números em sua segunda temporada com a camisa nerazzurra, com quatro participações em gols em seis partidas na Liga Europa e mais 12 em 33 jogos na Serie A – marcando 10 vezes, no total. Só que a Inter vivia um momento terrível, com direito a duas derrotas para o modesto Hapoel Be’er Sheva, de Israel, em vexames que resultaram na eliminação na fase de grupos do torneio continental. No Italiano, somente um sétimo lugar e nenhuma vaga em competições continentais. Não à toa, a equipe teve três técnicos num ano (Frank de Boer, Stefano Vecchi e Stefano Pioli).

Vivendo boa fase na Samp, o catarinense passou a ser convocado pela seleção italiana e disputou a Euro 2016 (Getty)

Os meses subsequentes foram de declínio e Éder, que até seguiu na seleção após Conte se demitir da Nazionale para assumir o Chelsea, sendo substituído por Gian Piero Ventura, deixou de ser convocado. A última de suas 26 aparições pela Itália se deu em novembro de 2017, na derrota para a Suécia que antecedeu a queda dos azzurri na repescagem para a Copa do Mundo de 2018.

Na Inter, já sob as ordens de Luciano Spalletti, o atacante passou por uma queda acentuada tanto em desempenho quanto em números, perdendo cada vez mais espaço: foram somente cinco jogos como titular (31 no total) e três gols marcados em 2017-18. Sem dúvidas, uma pequeníssima contribuição na campanha de retorno dos nerazzurri à Champions League, depois de uma ausência de seis anos.

Assim, em julho de 2018, acabou a trajetória do catarinense no país de seu bisavô. Ederinho, já apontando para um final de carreira, foi para a China, como novo reforço do Jiangsu Suning, time que tinha os mesmos donos da Inter naquele momento. Foi uma forma de a agremiação encontrar uma saída honrosa para manter os salários acertados com o ítalo-brasileiro em 2016, e também uma boa saída para o atacante manter os seus rendimentos. Uma mão lavou a outra.

Éder passou dois anos e meio na China, sendo um dos principais nomes do futebol do país. Em uma liga menos competitiva, o atacante brilhou logo de cara, tendo um número de participações em gol superior a um por partida na primeira temporada. Os meses seguintes também foram muito bons, com grande destaque, além da conquista do campeonato nacional. Ederinho deixou a equipe chinesa após ter envolvimento em 50 tentos em 62 jogos. Em 2021, então, decidiu voltar ao Brasil.

A camisa da Inter foi a mais pesada que Éder vestiu na Itália, mas sua passagem por Milão foi frustrante (Getty)

Para a surpresa de muitos, seu destino foi o São Paulo, que buscava se recuperar das dores de ter perdido o título do Brasileirão nas rodadas finais, após uma campanha praticamente irretocável em 2020. O ítalo-brasileiro, porém, não deixou saudades após os dois anos que passou no Tricolor. Quase sempre na reserva e obtendo números modestos, além de ouvir muitas reclamações relacionadas ao seu peso, o atacante demonstrou muita entrega, mas não conseguiu apresentar o nível de outrora. Depois da passagem apagada pelo Morumbi, era hora de retornar ao clube que havia o formado.

No início de 2023, Ederinho chegou ao Criciúma, onde passaria seu último ano e meio de carreira. Como viveu muito tempo fora, sob holofotes de palcos importantes e levando o nome do time para todo o mundo, o garoto de Lauro Müller retornou como ídolo da torcida. E honrou o carinho ao ser fundamental na campanha da Série B em que a equipe conseguiu o acesso para a primeira divisão do futebol brasileiro.

Em meados de 2024, já não sendo mais capaz de atuar no mais alto nível e sentindo que não poderia mais ajudar o Tigre, Éder optou por pendurar as chuteiras em agosto, no meio dos esforços dos carvoeiros pela permanência na elite. Sua despedida foi marcada por muito carinho da torcida e do Criciúma, com fotos e um bandeirão com as palavras “de casa cara o mundo”. Após encerrar sua trajetória como profissional aos 38 anos, o ex-atacante seguiu no clube que o revelou, assumindo papel de dirigente e mostrando toda a gratidão pelo que lhe foi possibilitado pelo time catarinense.

Éder Citadin Martins
Nascimento: 15 de novembro de 1986 em Lauro Müller, Santa Catarina
Posição: atacante
Clubes: Criciúma (2004-05 e 2023-24), Empoli (2006-08 e 2009-10), Frosinone (2008-09), Brescia (2010-11), Cesena (2011), Sampdoria (2012-15), Inter (2016-18), Jiangsu Suning (2018-21) e São Paulo (2021-23)
Títulos: Campeonato Catarinense (2005, 2023 e 2024), Super League Chinesa (2020), Campeonato Paulista (2021) e Recopa Catarinense (2024)
Seleção italiana: 26 jogos e 6 gols

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