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Já na reta final de sua carreira, Luís Figo chegou à Itália e se aposentou em alta

Colaborou Nelson Oliveira

Um dos maiores jogadores da história de Portugal, em um panteão no qual também se encontram Eusébio e Cristiano Ronaldo, Figo foi um redentor da seleção lusa, que retornou às semifinais da Copa do Mundo depois de 40 anos. Antes mesmo de brilhar nos campos de toda a Europa, já dava mostras de seu potencial ao levar o talentoso selecionado sub-20 ao título do Mundial de 1991, ao lado de Rui Costa, João Pinto, Abel Xavier e Emílio Peixe.

O príncipe do futebol português fez toda a base de sua carreira no Sporting, onde atuou por seis anos como profissional. Porém, sua relação nos leões começou a ficar abalada após negociar com o rival Benfica, num momento em que o time verde e branco enfrentava grandes problemas financeiros.

O português foi importante para a Inter de Mancini e também contribuiu com Mourinho (AFP/Getty)

Figo ficou, ganhou espaço, mas anos depois se envolveu em nova polêmica: em outubro de 1994, assinou contrato com a Juventus, que o compraria por 6 bilhões de liras. O jogador acabou desistindo do negócio e enviou um comunicado para a Velha Senhora, que não aceitou. Assim mesmo, o português assinou novo contrato com o Parma. Após uma batalha judicial, a Federação Italiana de Futebol anulou os dois contratos e, em acordo feito com bianconeri e crociati, Figo ficou impedido de fechar com outro clube da Bota por dois anos. Melhor para o Barcelona, que contratou o craque, a pedido de Johan Cruyff.

O meia-atacante rapidamente se tornou um dos ídolos da equipe, que ainda se remontava após a conquista da Liga dos Campeões, quatro temporadas antes. Depois de dois campeonatos e vários outros títulos na Catalunha, Figo chegou inclusive a assumir a braçadeira de capitão do time blaugrana, mas após uma Eurocopa espetacular em 2000, causou furor em toda Espanha ao trocar o Barça pelo Real Madrid, por 60 milhões de euros – valor recorde, à época. A transação foi um trunfo de Florentino Pérez, que fazia as primeiras contratações que formariam a era dos Galácticos.

Com um gol e uma assistência, Figo foi o melhor em campo na épica virada da Inter sobre a Roma na Supercopa Italiana, em 2006 (AFP/Getty)

Durante cinco anos na capital espanhola, Figo faturou sete títulos, incluindo uma Liga dos Campeões e um Mundial Interclubes. Mas, em 2005, sua passagem foi interrompida graças a um brasileiro. Após a chegada de Vanderlei Luxemburgo, na metade da temporada 2004-05, o português começou a ser barrado, juntamente com Raúl. Quem adorou isso tudo foi a Inter, que aproveitou o fim de contrato de Figo para contratá-lo e fazê-lo um dos grandes nomes da equipe tetracampeã italiana durante sua passagem.

Depois de quase um ano sem brilhar na Espanha, chegou à Itália com certa desconfiança, mas rapidamente conquistou o coração do torcedor interista. Afinal, estamos falando de um jogador que foi eleito Bola de Ouro em 2000, Melhor do Mundo em 2001 e Melhor Jogador Português seis vezes seguidas, entre 1995 e 2000. Poderia até haver quem pensasse que, com quase 33 anos, Figo não fosse mais aquele, mas sua qualidade certamente poderia ajudar a Inter, que há tanto tempo não conquistava a Serie A. A equipe precisava de atletas de qualidade, com DNA vencedor e costume de ser campeão. Tudo isso o lisboeta tinha de sobra.

Nos quatro anos em que passou em Milão, o craque português ganhou o carinho da torcida nerazzurra (AFP/Getty)

O português manteve sua tradição de vencer títulos por onde passou e faturou quatro títulos nacionais, uma Coppa e três Supercoppas, sempre jogando com muita vitalidade e físico exemplar para a idade. O camisa 7 foi titular dos nerazzurri nas duas primeiras temporadas, jogando pela direita no 4-4-2 de Roberto Mancini ou como trequartista, no 4-3-1-2 que o treinador também utilizava. Como voltou a jogar bem e estava em forma, Figo decidiu rever a aposentadoria da seleção portuguesa, que tinha anunciado em 2004, após a desilusão com o vice-campeonato europeu em casa, contra a Grécia. O craque ainda ajudou Portugal na Copa de 2006, em que a seleção foi quarta colocada.

Após a Copa, Figo voltou à Itália. No país, o escândalo Calciopoli acabou com o título revogado da Juve o scudetto foi dado à Inter. Assim, a Beneamata abriu um ciclo de conquistas e teve o direito de jogar a Supercopa Italiana, que abria a temporada 2006-07. Na partida decisiva, contra a Roma, Figo foi fundamental e talvez tenha feito seu melhor jogo em Milão: os romanos abriram 3 a 0 e a Inter conseguiu virar, com uma assistência e um golaço do português, apelidado Paso Doble. Por larga vantagem, o camisa 7 foi o melhor em campo, num dos jogaços da última década.

A intimidade de Figo com a pelota continuou em evidência na Itália (AFP/Getty)

No entanto, Mancini começou a fazer rodízio entre o português, Patrick Vieira e Dejan Stankovic,
em meados de 2006-07, e o português quase deixou a equipe rumo à Arábia Saudita – ele chegou a assinar e posar com a camisa do Al-Ittihad, mas desfez o acordo. A torcida, no último jogo daquela temporada, mesmo depois de Figo declarar que iria ficar – tendo renovado o contrato, incusive – demonstrou todo o carinho pelo jogador, pedindo que ele batesse um pênalti contra o Torino e a sua permanência.

Figo teve seus desentendimentos com o técnico Roberto Mancini, que, junto a algumas lesões (a mais grave, em falta violenta de Pavel Nedved, em tenso dérbi contra a Juventus), atrapalharam seu rendimento. Um dos episódios mais famosos foi quando ele se recusou a entrar em campo em uma partida contra o Liverpool. A chegada de José Mourinho, em 2008, foi um dos motivos da permanência do camisa 7, que, apesar de tudo, ainda tinha seus momentos brilhantes. Sua técnica refinada e visão de jogo
acima da média, aliada a uma grande precisão nos passes e chutes, ajudaram a Inter a conquistar quatro de seus cinco scudetti consecutivos. Figo foi um dos melhores parceiros para os atacantes interistas, de Adriano à Zlatan Ibrahimovic, deixando-os inúmeras vezes na cara do gol.

A despedida do craque teve longa homenagem em San Siro (AFP/Getty)

Em 2009, quando tinha 36 anos, o português decidiu encerrar sua carreira, depois do tetracampeonato nerazzurro – no último jogo, contra a Atalanta, Figo usou a braçadeira de capitão. A Inter foi o clube em que Figo jogou por menos tempo, mas classificada por ele como uma das mais especiais de sua carreira. “Foi espectacular conseguir quatro campeonatos em um clube que não ganhava há dezoito anos. Até porque muita gente já me dava como morto”, disse o meia. De fato, seria um erro dar por morto um meio-campista que marcou época com jogadas exuberantes e muita qualidade técnica, grande visão de jogo e classe, na maioria das vezes jogando pelas pontas, independentemente da idade.

Depois de pendurar as chuteiras, o craque seguiu representando os nerazzurri como embaixador pelo mundo, contribuindo com instituições de caridade. Em seguida, no ano de 2015, o Paso Doble chegou a anunciar sua candidatura à presidência da Fifa, mas a retirou depois, e decidiu apoiar o candidato que acabou se sagrando vencedor, o ítalo-suíço Gianni Infantino, ex-secretário da Uefa e interista de coração. Figo também atuou como conselheiro da entidade europeia e foi embaixador da Euro 2020.

Luís Filipe Madeira Caeiro Figo
Nascimento: 4 de novembro de 1972, em Lisboa, Portugal
Posição: meia-atacante
Clubes: Sporting (1989-95), Barcelona (1995-2000), Real Madrid (2000-05) e Inter (2005-09)
Títulos: Europeu Sub-17 (1989), Mundial Sub-20 (1991), Taça de Portugal (1995), Supertaça de Portugal (1995), Supercopa da Espanha (1996, 2001 e 2003), Copa do Rei (1997 e 1998), Recopa Uefa (1997), Supercopa Uefa (1997 e 2002), La Liga (1998, 1999, 2001 e 2003), Liga dos Campeões (2002), Mundial Interclubes (2002), Supercopa Italiana (2005, 2006 e 2008), Coppa Italia (2006) e Serie A (2006, 2007, 2008 e 2009)
Seleção portuguesa: 127 jogos e 32 gols

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