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Um roqueiro na Bota: os tempos de Alexi Lalas na Serie A

Na Copa de 1994, o mundo conheceu um dos jogadores mais exóticos a já terem entrado em campo não apenas nas edições do torneio, mas na história do esporte. Um ruivo cabeludo, com um elástico prendendo as madeixas, cavanhaque ao estilo bode, cara de mau e desengonçado, mais parecendo um astro de rock do que jogador de futebol. Alexi Lalas, porém, era as duas coisas, e o futebol italiano conheceu um pouco do seu estilo de jogo e sua personalidade depois do Mundial, disputado nos Estados Unidos.

Filho de um grego com uma norte-americana, Lalas nasceu no estado de Michigan e se dividia entre o futebol e o hóquei no gelo. Mais hábil com os pés do que com os patins, o taco e o puck, ele foi eleito o melhor da região e, depois, na universidade Rutgers – onde fazia faculdade de música –, também ganhou prêmios por sua superioridade em relação aos outros. Por isso, o zagueirão começou a ser convocado para a seleção dos Estados Unidos em 1991 e participou do grupo até 1998, atuando em quase 100 partidas. Nesse período, participou de dois Jogos Olímpicos e dois Mundiais.

Foi na Copa disputada em casa, em 1994, que o xerife do time de Bora Milutinovic ganhou maior destaque. Após as boas atuações de Lalas na competição, na qual os EUA caíram para o Brasil nas oitavas, o pequeno Padova decidiu contratá-lo e levá-lo para a Serie A. Uma aposta que poderia ser tida como arriscada, afinal os jogadores ianques eram amadores e o Campeonato Italiano era o mais forte do mundo. No entanto, o risco era um pouco menor porque Lalas custou muito pouco e pois a intenção primordial dos patavini ao fechar o negócio era ampliar ações de marketing – o que aconteceu.

Lalas, no entanto, surpreendeu e não se destacou só por chamar atenção para o clube padovano, que voltava à elite naquele ano, após 32 anos de ausência. Aos 24 anos, o jogador de estilo ríspido se tornava o  primeiro norte-americano na Itália no pós-guerra – os primeiro foram os ítalo-americanos Alfonso Negro e Armando Frigo – e ganhava uma vaga como titular do time do técnico Mauro Sandreani para a temporada 1994-95. Algo surpreendente para um jogador que vivia no amadorismo e que, após a eliminação americana na Copa do Mundo, não tinha emprego – o campeonato de futebol do país, a Major League Soccer, só teve seus primeiros jogos em 1996. Por outro lado, não tão surpreendente porque sua Copa do Mundo havia sido boa.

Lalas festeja permanência do Padova (Arquivo/Padova Calcio)

Nos primeiros jogos, Lalas sentiu as dificuldades da melhor liga do mundo e errou bastante, juntamente com todo o sistema defensivo. A defesa biancoscudata não era das melhores – inclusive, acabou como a
segunda pior daquela Serie A – e sofreu 15 gols em cinco rodadas. Na sexta, veio a redenção, e com participação do norte-americano: contra o forte Milan de Fabio Capello, então campeão nacional e europeu, o Padova conseguiu sua primeira vitória no campeonato. Lalas marcou um dos gols da vitória por 2 a 0, aproveitando um rebote, e foi a partir daí que ele começou a não ser visto na Itália apenas como o “roqueiro ruivo exótico que jogou pelos EUA na Copa”, mas como um futebolista.

Ao longo daquele ano, o xerife atuou em 33 das 34 rodadas e também em vários jogos da Coppa Italia, anotando três gols – um deles contra outro time grande, a Inter. Se tornou um dos principais nomes daquele time, ao lado do veterano atacante Giuseppe Galderisi, do selecionável croata Goran Vlaovic e dos jovens Filippo Maniero e Michel Kreek. Ao fim do torneio, o Padova acabou com 40 pontos, assim como o Genoa, e precisou disputar o famoso spareggio, para ver quem cairia. Os biancorossi venceram e, logo após a comemoração, Lalas precisou viajar para ajudar sua seleção, nos Estados Unidos.

Ao fim do campeonato, Lalas foi comprado pela MLS, mas como a liga teve um atraso e só começaria mesmo em 1996, ele ficou emprestado ao Padova até fevereiro. Fez 11 jogos naquela temporada e, no final de fevereiro, pouco mais de 20 anos atrás, fez seu último jogo pelos biancoscudati diante da Lazio. No final daquele campeonato, o Padova seria rebaixado, naquela que seria sua última temporada na elite.

O estilo inconfundível não foi a única marca do xerife em seus anos de Padova (Allsport)

Assim, o norte-americano voltou para casa e deixou para trás ótimas atuações na Serie A e participações impagáveis na televisão italiana, quando ingenuamente mandou o técnico Zdenek Zeman, da Lazio, tomar naquele lugar, ou quando foi na Domenica Sportiva e disse “oi, gatinha, como vai?” para a apresentadora, antes de tocar músicas da sua banda, The Gypsies – Lalas, que tocava violão e guitarra, gravou dois álbuns com a banda e três em carreira solo, e também produziu e participou de discos de outros artistas. Era um jeito meio rebelde ou amalucado, que agradava aos italianos. Até hoje, Lalas é recordado com afeto pelos torcedores vênetos.

Após a passagem pela Itália, Alexi Lalas participou dos anos iniciais da MLS e ajudou o futebol a se popularizar na América do Norte, atuando por quatro equipes – a última, o Los Angeles Galaxy, chegou a tirá-lo da aposentadoria, que ele anunciou precocemente, em 1999. Lalas também passou um mês emprestado ao Emelec, do Equador, em uma das transferências mais alternativas dos anos 1990. Hoje, o roqueiro é um dos principais comentaristas da Fox Sports nos Estados Unidos.

Panayotis Alexander “Alexi” Lalas
Nascimento: 1º de junho de 1970, em Birmingham, Estados Unidos
Posição: zagueiro
Clubes como jogador: Rutgers (1988-91), Padova (1994-96), New England Revolution (1996-97), Emelec (1997), MetroStars (1998), Kansas City Wizards (1999) e Los Angeles Galaxy (2001-03)
Títulos conquistados: Concacaf Champions League (2000), US Open Cup (2001) e MLS Cup (2002)
Seleção norte-americana: 96 jogos e 9 gols

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