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Maior craque da Dinamarca, Michael Laudrup brilhou na Serie A

Michael Laudrup foi, sem dúvidas, um dos melhores jogadores dinamarqueses da história. Possivelmente, até o principal craque do pequeno país nórdico, e por isso ficou conhecido internacionalmente como The Great Dane – o Grande Dinamarquês. Laudrup teve carreira marcada pela titularidade no Dream Team de Johan Cruyff, em seus tempos de Barcelona, mas foi na Itália que o habilidoso e inteligente meia-atacante viveu seus primeiros momentos de destaque em nível internacional. Na bota, ele vestiu as camisas de Lazio e Juventus.

A família Laudrup é um verdadeiro clã de jogadores de futebol. Tudo começou com seu pai, Finn, atacante ativo entre as décadas de 1960 e 1980 e que até chegou a jogar pela seleção da Dinamarca – Ebbe Skovdahl, um de seus tios, também foi jogador e técnico. Michael, primogênito, e Brian, o mais novo, são, de longe, os mais talentosos da família, mas dois dos filhos de Michael, Mads e Andreas, chegaram a atuar profissionalmente.

A vida do Grande Dinamarquês no esporte começou cedo e dentro da família: aos sete anos, fez escolinha no Vanløse, time de infância de seu pai, e depois passou ao Brøndby, que seu progenitor treinava. Mas Laudrup terminou sua formação nas categorias de base do KB, onde começou como profissional. No clube de Frederiksberg, cidade em que nascera, na região metropolitana da capital Copenhagen, o meia-atacante se tornou um fenômeno e aos 16 anos já chamava atenção na seleção sub-19 da Dinamarca.

Em 1981, um ano depois do título nacional do KB, Laudrup estreou pelo time principal. Na temporada seguinte, o futuro craque já atuava pelo Brøndby, um dos maiores times do país, e também pela seleção alvirrubra. Não demorou para que o trequartista virasse alvo dos maiores clubes europeus: o dinamarquês atuava em todas as posições de suporte ao ataque e, com muita técnica, elegância, visão de jogo, classe finíssima, qualidade em passes, dribles e chutes precisos, já mostrava que seria um dos maiores. Não à toa, acabou se transferindo muito cedo (tinha apenas 19 anos) para a Serie A, principal campeonato nacional na década de 1980.

Emprestado pela Juventus, Laudrup foi peça importante da Lazio (Guerin Sportivo)

O meia-atacante negociou com o Liverpool, mas foi contratado pela Juventus em 1983, depois de ter sido eleito o melhor jogador de seu país naquele ano. Laudrup chegou a Turim por uma cifra recorde, porém o jogador dinamarquês negociado pelo maior valor até aquele momento não teria espaço na fortíssima Juve daquele momento. Uma vez que Michel Platini e Zbigniew Boniek eram titulares, Laudrup foi imediatamente emprestado à Lazio, clube em que permaneceu de 1983 a 1985.

Era uma época de vacas magras para a Lazio, que não conseguiu se manter entre os principais times do Belpaese após levantar seu primeiro scudetto, em 1975, e o envolvimento no escândalo Totonero só aprofundou a crise econômica do clube. Em 1983, os aquilotti retornavam à elite depois de três temporadas na Serie B, e tinham em Laudrup, no brasileiro Batista e nos italianos Vincenzo D’Amico e Bruno Giordano suas principais esperanças de dias melhores.

Na capital, o dinamarquês foi importante em duas temporadas nas quais os biancocelesti frequentavam a parte baixa da tabela. Na primeira campanha, 1983-84, o objetivo de permanecer na Serie A foi cumprido e Laudrup foi um dos artilheiros da equipe, com oito gols marcados: estreou anotando três vezes em duas rodadas e fez oito no total, vitimando Inter, Fiorentina, Napoli e até mesmo a Juve. O outro ano foi péssimo para a Lazio, que acabou dividindo a lanterna com a Cremonese e foi rebaixada, e no plano individual o dinamarquês também não foi bem: atuou 35 vezes e só marcou um gol.

Apesar do ano negativo, Laudrup voltou à Juventus em 1985, assumindo a titularidade no lugar de Boniek. Ao lado de Platini, o meia-atacante formou uma dupla de peso para apoiar o centroavante Aldo Serena, no 3-4-2-1 de Giovanni Trapattoni, e foi um dos artilheiros da Velha Senhora na conquista do Campeonato Italiano em 1986: Platini fez 12, Serena anotou 11 e Laudrup balançou as redes sete vezes.

O dinamarquês conseguiu causar impacto imediato em seu primeiro ano com a camisa bianconera (Arquivo/Juventus)

Apesar da ajuda na conquista da Serie A, Laudrup se destacou ainda mais no Mundial Interclubes de 1985. Na partida que definiu o título bianconero, contra o Argentinos Juniors, o dinamarquês marcou o gol que levou à decisão por pênaltis e foi um dos melhores em campo – porém, como ocasionalmente acontece com os destaques de uma final que acaba em penalidades, ele desperdiçou sua cobrança.

Naquele momento, Laudrup já era o principal nome da seleção dinamarquesa, que ganharia o apelido de Dinamáquina em 1986. No período em que atuou na Itália, o craque viveu alguns de seus melhores momentos com a camisa vermelha e branca: atuou em duas Eurocopas (1984, em que chegou às semifinais, e 1988) e em um Mundial, o de 1986, no qual se destacou em nível planetário. Em uma de suas principais temporadas na carreira, na qual também foi muito bem pela Juve, o habilidoso e veloz meia-atacante colocou os escandinavos nas quartas do Mundial. Por tudo isso, foi eleito o melhor jogador do país em 1986.

1986 foi também o ano de uma revolução na Juve. Trapattoni deixou o comando depois de uma década de um trabalho histórico e a equipe tinha de se reconstruir – ao longo dos anos seguintes, ícones como Gaetano Scirea e Platini também se aposentariam. Seriam anos de grande responsabilidade para Laudrup, que seria a referência técnica do time a partir de 1987, quando o francês pendurou as chuteiras.

A Velha Senhora deveria tomar nova forma ao redor do dinamarquês, mas ele acabou convivendo com muitas lesões, que atrapalharam bastante o seu rendimento – em 1987-88, ele até passou em branco na Serie A. Ao mesmo tempo, as contratações feitas pela diretoria também não conseguiram respaldo suficiente: nem mesmo outro craque, como Ian Rush, ajudou a elevar o patamar da equipe em ses anos de ouro, sob o comando de Trap. Nos três anos que se seguiram ao título de 1986, os bianconeri só conquistaram um vice-campeonato italiano, e quando Platini e Scirea ainda jogavam.

Laudrup passou primeira fase de sua carreira vitoriosa na Itália (imago/VI Images)

Sem conseguir render o esperado pela torcida, Laudrup acabou sendo sacrificado pela diretoria. Em 1989, quando ainda tinha 25 anos, o trequartista deixou o clube e rumou para o Barcelona, clube em que amadureceria e faria história. No Camp Nou, Laudrup encontrou Cruyff, um de seus ídolos futebolísticos e modelo de inspiração. Sob o comando do holandês, o Grande Dinamarquês evoluiu e se tornou peça fundamental do chamado Dream Team, que conquistou quatro ligas espanholas e mais cinco troféus, incluindo uma Copa dos Campeões – esta, frente a uma velha conhecida do dinamarquês, a Sampdoria.

Em 1992, ano em que foi campeão europeu e vivia seu auge, Laudrup ficou de fora da convocação da Dinamarca para a Eurocopa. Dois anos antes, Michael e seu irmão Brian brigaram com o técnico Richard Møller Nielsen e decidiram se aposentar da seleção. Os nórdicos não se classificaram para a Euro, mas após a suspensão da Iugoslávia, envolvida em uma guerra étnica, herdaram a vaga. Acabaram se sagrando campeões e conquistando a maior honra de sua história, mas sem Michael Laudrup – Brian se acertou com o técnico e acabou convocado.

Da Espanha, Michael viu Brian fracassar na Itália, país no qual defendeu Fiorentina e Milan, entre 1992 e 1994. Justamente em 1994, o meia-atacante foi pivô de uma enorme polêmica: brigou com Cruyff pelo fato de o holandês ter escolhido Ronald Koeman, Hristo Stoichkov e Romário como os três estrangeiros a serem inscritos em La Liga. Aos 30 anos, virou casaca e fechou com o arquirrival Real Madrid.

Na capital espanhola, o craque ajudou os merengues a destruírem os blaugrana em um clássico (vitória por 5 a 0, em revanche pela temporada anterior) e foi um dos responsáveis por tirar o Real Madrid da fila. Depois de dois anos vestindo branco, Laudrup ainda atuou pelo Vissel Kobe, do Japão, e pelo Ajax, time do seu ídolo Cruyff.

Embora tivesse enorme qualidade, Laudrup foi sacrificado em reformulação feita pela Juve (Arquivo/Juventus)

Pela Dinamáquina, foi campeão da Copa das Confederações, em 1995, e ainda atuou no Mundial de 1998, onde realizou sua última partida como profissional: nas quartas de final da competição, incomodou demais o Brasil, mas viu sua seleção perder por 3 a 2. Ainda assim, foi incluído na seleção da Copa.

Após pendurar as chuteiras, Laudrup decidiu virar treinador. Entre 2000 e 2002 ele foi auxiliar da Dinamarca e depois assumiu o comando do Brøndby, clube ao qual sua família é tão ligada. Foram quatro anos na equipe amarela e azul para depois zarpar para uma aventura internacional: treinou equipes na Espanha, na Rússia, no País de Gales e no Qatar.

Em 14 anos como técnico, o craque não chegou a decolar, mas realizou trabalhos elogiados à frente de Getafe e Swansea. Pelos madrilenhos, Laudrup alcançou as semifinais da Copa do Rei e as quartas da Copa Uefa, enquanto pelos galeses, faturou o primeiro troféu da história do clube em mais de 100 anos de história. O suficiente para ser lembrado.

Michael Laudrup
Nascimento: 15 de junho de 1964, em Frederiksberg, Dinamarca
Posição: meia-atacante
Clubes em que atuou: KB (1981-82), Brøndby (1982-83), Lazio (1983-85), Juventus (1985-89), Barcelona (1989-94), Real Madrid (1994-96), Vissel Kobe (1997-98) e Ajax (1997-98)
Títulos: Mundial Interclubes (1985), Serie A (1986), Copa dos Campeões (1992), Supercopa Uefa (1992), La Liga (1991, 1992, 1993, 1994 e 1995), Copa do Rei (1990), Supercopa da Espanha (1991 e 1992), Campeonato Holandês (1998), Copa da Holanda (1998) e Copa das Confederações (1995)
Carreira como técnico: Brøndby (2002-06), Getafe (2007-08), Spartak Moscou (2008-09), Mallorca (2010-11), Swansea (2012-14) e Lekhwiya (2014-15)
Títulos como técnico: Copa da Liga Inglesa (2013), Campeonato Dinamarquês (2005), Copa da Dinamarca (2003 e 2005), Supercopa da Dinamarca (2002), Liga do Qatar (2015) e Copa do Qatar (2015)
Seleção dinamarquesa: 104 jogos e 37 gols

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