Que treinador não gosta de jogadores versáteis, capazes de realizar diversas funções em campo? Por este motivo, o croata Mario Stanic conseguiu espaço por onde passou: na Bélgica, em Portugal, na Espanha, na Inglaterra e, claro, na Itália e na seleção da Croácia.
O início da carreira de Stanic foi gestado na conflituosa situação da antiga Iugoslávia. Embora tenha nascido em Sarajevo, atual capital da Bósnia e Herzegovina, Stanic é de etnia croata. O jogador começou a carreira no Zeljeznicar, mas foi atuar no Dinamo Zagreb, da Croácia recém-independente, quando a guerra pela libertação bósnia começou. Ao mesmo tempo, ele já havia defendido a seleção iugoslava.
Meia-atacante que atuava pelos dois flancos ou centralizado, atrás dos centroavantes, Stanic foi parar em La Liga em 1993, depois de revelar seu faro de gol nos Bálcãs. Aos 21 anos, fez uma temporada bastante regular pelo Sporting Gijón e, depois de ajudar o time rojiblanco a ficar no meio da tabela, foi negociado com o Benfica. A passagem por Lisboa não foi muito positiva e Stanic foi vendido ao Club Brugge, da Bélgica. Com a camisa azul e preta, explodiu de vez.
Stanic foi escalado como centroavante pelo técnico Hugo Broos e teve um rendimento excepcional. Com 20 gols, foi o artilheiro da liga belga e levou o Club Brugge ao título nacional – e também ajudou a equipe a conquistar a copa local. Ao fim da temporada, disputou a Euro 1996 com a Croácia e atuou como ala pela direita na boa campanha dos xadrezes, que foram eliminados pela campeã Alemanha nas quartas de final.
Embora estivesse valorizado, Stanic permaneceu em Bruges após a Eurocopa. O croata iniciou a temporada 1996-97 com os Blauw-Zwart e, depois de marcar mais sete gols em sete rodadas do Campeonato Belga, mudou de ares: em novembro de 1996, o Parma acertou a contratação do versátil jogador por um valor de cerca de oito bilhões de velhas liras.
Os primeiros atos de Mario Stanic na Itália foram em prol do técnico Carlo Ancelotti. Don Carletto estava com a cabeça a prêmio após oito rodadas sem vitórias pelo Parma, até que o croata, em seu terceiro jogo pelo clube (todos como titular) encerrou o jejum com um gol decisivo no triunfo por 1 a 0 sobre o Milan, em San Siro.
Jogando como ponta-direita, Stanic foi fundamental para o salto de qualidade e a reviravolta na temporada dos ducali, que terminariam a Serie A com o vice-campeonato. O croata, no entanto, só pode oferecer sua contribuição (ótimas atuações e gols decisivos também contra Verona e Lazio) até a 25ª rodada. Num amistoso pela seleção da Croácia, lesionou o menisco e os ligamentos colaterais do joelho, o que encerrou sua temporada com antecedência.
Em 1997-98, Mario pode atuar como titular na equipe de Ancelotti, como companheiro de ataque de Hernán Crespo e Enrico Chiesa. O Parma teve de se dividir entre três competições (Serie A, Champions League e Coppa Italia) e teve um desempenho inferior ao da temporada pregressa. Os crociati caíram na fase de grupos da Liga dos Campeões, foram até as semifinais da copa e ficaram com a 6ª posição no Italiano. Stanic marcou quatro gols: os mais importantes foram contra a Juventus e na virada contra a Lazio, na reta final do certame nacional.
No verão de 1998, o meia versátil se juntou ao elenco da Croácia que disputaria o Mundial da França. Com a habitual camisa 13, Stanic eternizou seu nome na história da seleção croata logo na primeira rodada do Grupo H: aos 27 minutos da partida com a Jamaica, aproveitou rebote do goleiro Warren Barrett e fez o primeiro gol dos xadrezes numa Copa. Mario foi titular em todos os sete jogos da histórica campanha, que foi concluída com o terceiro lugar da Croácia.
De volta ao Parma, Stanic perdeu espaço com Alberto Malesani, técnico que sucedeu Ancelotti na Emília-Romanha. Habitualmente reserva, o croata ainda precisou lidar com uma lesão que o deixou afastado por mais de dois meses, mas teve a sua temporada mais prolífica no Ennio Tardini: foram sete gols, quase todos decisivos.
O mais especial dos gols de Stanic foi anotado nos acréscimos do empate por 1 a 1 no clássico contra o Bologna. O versátil meio-campista colaborou principalmente com a conquista da 4ª posição na Serie A e classificação para a Liga dos Campeões, mas também participou dos dois títulos da temporada, na Coppa Italia e na Copa Uefa.
Em 1999-2000, o Parma deu continuidade ao trabalho de Malesani e teve uma temporada acidentada. Stanic ganhou apenas um pouco mais de espaço com o técnico e não teve o poder de decisão de outrora – até porque a própria equipe não lhe oferecia mais isso. Os gialloblù caíram na fase preliminar da Champions League diante do Rangers e não foram longe também nas duas competições de que detinha o título – a Copa Uefa e a Coppa Italia. Na Serie A, o 5º lugar foi visto como decepção para um time que investiu muito.
Na janela de transferências do verão europeu de 2000, Stanic encerrou sua passagem pela Itália: foi contratado por 5,6 milhões de libras esterlinas pelo Chelsea. O croata se apresentou ao público de Stamford Bridge com uma doppietta na vitória por 4 a 2 sobre o West Ham, com direito ao gol mais bonito da temporada inglesa, segundo a BBC. Foi uma das poucas alegrias de sua temporada, já que o meia sofreu uma séria lesão e ficou fora de ação por cinco meses.
Stanic passou mais três anos em Londres, mas só jogou regularmente em 2001-02. Com Claudio Ranieri, o croata se tornou um jogador mais tático, passou a atuar mais longe do gol e foi menos decisivo – até por conta de seus problemas físicos. Uma séria lesão no joelho, inclusive, o tirou de ação de toda a campanha em 2003-04 e forçou a sua precoce aposentadoria, que aconteceu quando ele tinha apenas 32 anos. Antes disso, Mario ainda disputou a Copa do Mundo de 2002.
Depois de pendurar as chuteiras, Stanic não quis mais conta com o futebol profissional. Em entrevistas, declarou que não queria seguir carreira como técnico porque isso lhe afastaria do convívio com a família, que já havia perdido durante seus anos como jogador. Mario até pensou em atuar apenas como treinador em divisões de base, mas mudou de ideia e, hoje em dia, só se envolve com o esporte em partidas beneficentes. Todos os anos, inclusive, o ex-jogador aparece em Parma para realizar amistosos com as estrelas da equipe que marcou época na década de 1990.
Mario Stanic
Nascimento: 10 de abril de 1972, em Sarajevo, Bósnia e Herzegovina (antiga Iugoslávia)
Posição: meia-atacante
Clubes: Zeljeznicar (1988-92), Dinamo Zagreb (1992-93), Sporting Gijón (1993-94), Benfica (1994-95), Club Brugge (1995-96), Parma (1996-2000) e Chelsea (2000-04)
Títulos: Campeonato Croata (1993), Campeonato Belga (1996), Copa da Bélgica (1996), Coppa Italia (1999), Copa Uefa (1999), Supercopa Italiana (1999) e Charity Shield (2000)
Seleção iugoslava: 2 jogos
Seleção croata: 49 jogos e sete gols
A passagem do Stanic por Portugal apenas não foi positiva graças ao treinador, Artur Jorge. De cada vez que jogava O Stanic mostrava ser dos melhores que o Benfica tinha à época. Lembro-me que fez um belo jogo com o Boavista, marcando um par de golos, se não estou em erro.
A não aquisição dele é apenas mais um exemplo da gestão caótica do Benfica daquela época.