Técnicos

Óscar Tabárez, o primeiro demitido por Silvio Berlusconi

Nos últimos dias, especulou-se que o técnico Óscar Tabárez poderia deixar a seleção do Uruguai por motivos de saúde: boatos davam conta de que o Maestro havia contraído a síndrome de Guillain-Barré. O treinador desmentiu que sofre da doença, mas confirmou que tem passado por dificuldades de locomoção devido a uma neuropatia crônica, embora isto não o impeça de trabalhar na Celeste. Tabárez ainda tem um futuro a ser construído, mas hoje lembraremos do seu passado no futebol italiano.

O Maestro charrua foi jogador antes de se dedicar a treinar equipes de futebol, mas a modesta carreira como zagueiro nem de longe se assemelha ao que ele construiu sentado no banco de reservas. Tabárez começou de baixo, como técnico dos juvenis do Bella Vista, e depois foi técnico da seleção sub-20 uruguaia, com a qual conquistou o ouro nos Jogos Pan-Americanos. Foi o título que abriu as portas para que o treinador chegasse a alguns dos principais times do Uruguai.

Tabárez treinou Danubio e Montevideo Wanderers antes de assumir o Peñarol, um dos grandes times da América do Sul. O técnico entrou para a história carbonera pois liderou a equipe rumo ao seu quinto título da Copa Libertadores, batendo o América de Cali – o trabalho seguinte do uruguaio foi justamente em Cali, à frente do Deportivo.

Após ganhar dinheiro no rico futebol colombiano, Tabárez acertou com a seleção do Uruguai e teve sua primeira passagem pela Celeste. Uma passagem que contou com boas participações na Copa América de 1989 e na Copa do Mundo de 1990, competições nas quais os uruguaios sucumbiram para os donos da casa: no torneio continental, o elenco charrua eliminou a Argentina de Diego Maradona e foi vice contra o Brasil, enquanto no Mundial caiu nas oitavas frente à Itália. Valorizado, o Maestro foi para o Boca Juniors, clube no qual ficou dois anos e venceu um torneio Apertura.

O sucesso no Cagliari motivou a contratação do uruguaio pelo Milan (Allsport)

Com este currículo, Tabárez finalmente ganharia sua primeira oportunidade na Europa em 1994 – não em um gigante do continente, mas no Cagliari, semifinalista da Copa Uefa no ano anterior. O uruguaio herdou boa parte do elenco que fez história na Sardenha: peças como os defensores Matteo Villa e Giuseppe Pancaro; os meias Massimiliano Allegri e o compatriota José Herrera; além dos atacantes Julio César Dely Valdés e Luís Oliveira – sem falar em Roberto Muzzi, contratado no início da temporada.

O uruguaio montou um time com base no 4-3-3 e conseguiu bons resultados. O elenco competitivo dos rossoblù foi capaz de assustar as maiores equipes do país: a Juventus, que seria campeã, foi goleada por 3 a 0 no Sant’Elia, e Inter e Fiorentina também sucumbiram aos sardos. Ao fim da temporada, o Cagliari contou com 12 gols de Muzzi, oito de Dely Valdés e sete de Oliveira para ficar com a 9ª posição, a apenas três pontos de uma vaga na Copa Uefa.

O Maestro não permaneceu no Cagliari após o fim da temporada e tirou um ano sabático para descansar. Em 1996, Fabio Capello encerrava seu ciclo no Milan com mais uma Serie A conquistada e se dirigia para o Real Madrid. Para recomeçar outra gestão vitoriosa em San Siro, Silvio Berlusconi apostou em Tabárez.

Os rossoneri tiveram uma temporada 1996-97 beirando o falimentar: Christophe Dugarry, Michael Reiziger e Edgar Davids foram as principais contratações do mercado e não se adaptaram, de forma que nem mesmo os gols de Roberto Baggio e George Weah fizeram o Milan engrenar. Tabárez estreou com uma derrota para a Fiorentina na Supercoppa Italiana e depois engatou uma série de resultados negativos, como as eliminações na fase de grupos da Liga dos Campeões e nas quartas de final da Coppa Italia para o Vicenza, zebra e futuro campeão.

Tabárez comandou os sardos em uma temporada tranquila na Serie A, em 1994-95, mas teve uma segunda curta passagem pela ilha (Allsport)

O uruguaio acabou sendo demitido no início de dezembro, já que além de estar fora de duas competições, se encontrava apenas na 9ª posição da Serie A, sete pontos atrás da líder, a Juventus. Tabárez foi o primeiro treinador demitido em quase uma década da gestão Berlusconi – e acabou substituído por um mito da história rossonera, Arrigo Sacchi.

Desempregado, Tabárez ficou parado até o início de 1997, quando assumiu o Oviedo, da Espanha. Depois de manter a equipe na elite do país ibérico, o Maestro voltou ao Cagliari, mas por apenas quatro partidas: depois de um empate e três derrotas na largada da Serie A 1999-2000, o genioso presidente Massimo Cellino preferiu demiti-lo. Foi o início de um ocaso temporário na vida do treinador, que, em seguida, passou sem sucesso por Vélez Sarsfield e Boca Juniors e se afastou do futebol.

Parado por quatro anos, Tabárez foi visto como solução para o Uruguai em 2006 – e foi aí que se redimiu em definitivo. A federação de futebol charrua deu ao treinador a responsabilidade de conduzir um processo de reformulação que abrangeria toda a base do esporte local e colheu os frutos da aposta.

Em uma década à frente do Uruguai, o Maestro se tornou um dos três técnicos com mais partidas no comando de uma seleção em toda a história. Além disso, ajudou a Celeste a ser uma das equipes mais competitivas de todo o planeta, campeã da Copa América 2011 e quarta colocada na Copa de 2010. Para a sorte do uruguaios, Tabárez continua: esta história prossegue e terá mais capítulos felizes.

Óscar Washington Tabárez Silva
Nascimento: 3 de março de 1947, em Montevidéu, Uruguai
Carreira como treinador: Uruguai Sub-20 (1983 e 1987), Danubio (1984), Montevideo Wanderers (1985-86), Peñarol (1987), Deportivo Cali (1988), Uruguai (1988-90 e 2006-hoje), Boca Juniors (1991-93 2002), Cagliari (1994-95 e 1999), Milan (1996), Oviedo (1997-98) e Vélez Sarsfield (2001)
Títulos: Jogos Pan-Americanos (1983), Copa Libertadores (1987), Campeonato Argentino/Apertura (1992), Supercopa Masters (1992) e Copa América (2011)

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