Houve uma época em que a contratação de jogadores estrangeiros era proibida pela Federação Italiana de Futebol – FIGC. Entre 1966 e 1980, a entidade fechou as fronteiras e somente atletas com passaporte italiano poderiam ser contratados – os que não eram nativos e já jogavam no país tinham permissão de continuar. Quando a barreira caiu, o primeiro a assinar com um clube do Belpaese foi o meia austríaco Herbert Prohaska.
Antes de entrar para a história dessa forma, Prohaska construiu uma carreira sólida em seu país natal. Nascido na capital, o meia de descendência checa estreou pelo Austria Vienna aos 17 anos e permaneceu oito temporadas nos violetas, marcando alguns gols decisivos para a conquista de quatro Bundesligas austríacas e três copas locais.
Eleito melhor jogador do país em 1975, Prohaska também ajudou o Austria Vienna a ser o primeiro time austríaco a chegar a uma final de competição europeia – em 1978 foi derrotado pelo Anderlecht, na Recopa Uefa. No mesmo ano, o meia foi um dos destaques da boa campanha da Áustria na Copa do Mundo da Argentina, juntamente a Hans Krankl e Walter Schachner. Idolatrado pelos compatriotas, Prohaska era chamado Schneckerl – “cacheado”, em dialeto vienense; uma referência a seus cabelos.
Em 1980, quando já estava consagrado no país alpino, Prohaska mudou de ares: a Inter, campeã italiana à época, fez uma proposta pelo jogador ao Austria Vienna e fechou com o principal jogador dos violetas. Seu colega, Schachner, também foi para a Itália dias depois, mas assinou com o Cesena.
O meia austríaco chegou sob pressão. Afinal, ele foi a alternativa a Michel Platini e a Paulo Roberto Falcão, com os quais a Inter não conseguiu concluir negociações. Com este peso, Prohaska formou um quarteto de meio-campo com os volantes Gianpiero Marini e Gabriele Oriali e o meia criativo Evaristo Beccalossi, xodó da torcida.
Eram os dois, um destro e o outro canhoto, que tinham o trabalho de abastecer a dupla de ataque, formada por Alessandro Altobelli e Carlo Muraro. O destro era Prohaska, jogador muito mais combativo que Beccalossi e que, por isso, ajudava bastante na recomposição do meio-campo. Mais forte fisicamente, com mais potência e menos cerebral que o 10 interista, Schneckerl acabava servindo como suporte ao parceiro de setor.
Em seu ano de estreia, Prohaska teve bons números pela Beneamata: jogou 40 partidas e anotou seis gols. O problema foi a equipe, que não teve um ano muito positivo. A Inter abriu o ano caindo na Coppa Italia e o concluiu ficando com a 4ª posição na Serie A. O lado bom foi a conquista do Mundialito de clubes, torneio amistoso de prestígio, e a campanha na Copa dos Campeões. Os nerazzurri quase voltaram à final, depois de nove anos de ausência, mas foram eliminados pelo Real Madrid nas semifinais.
No ano seguinte a Inter teve um desempenho similar no Campeonato Italiano – foi a 5ª colocada –, mas faturou a Coppa Italia, batendo o Torino na final. O austríaco também teve números parecidos aos de 1980-81: atuou em 41 partidas e marcou cinco gols. Além da taça conquistada, Prohaska guarda de especial o gol realizado no dérbi contra o Milan, que comemorou se pendurando nas traves do Giuseppe Meazza. Sete minutos depois, Schneckerl teve azar e uma cobrança de falta de Roberto Antonelli desviou nele antes de entrar. Menos mal para ele que a Beneamata venceria aquele dérbi e o rival rossonero acabaria rebaixado à Serie B.
Em 1982 Prohaska atuou em mais uma Copa do Mundo com a Áustria, mas ficou marcado por ter entrado em campo no chamado “jogo da vergonha”, no qual sua seleção e a Alemanha Ocidental ficaram cozinhando a partida para que ambas se classificassem à segunda fase. Após o torneio, a FIGC permitiu que as equipes italianas contratassem mais um estrangeiro. Com isso, a Inter foi atrás do alemão Hansi Müller e do brasileiro Juary, colocando Prohaska à venda, uma vez que a torcida esperava que ele fosse um meia mais ofensivo, algo que fugia de suas características.
Se sentindo traído, Schneckerl assinou com a Roma, que iniciara projeto ambicioso sob a gestão do presidente Dino Viola. O meia austríaco chegou à Cidade Eterna indicado por Nils Liedholm como alternativa à Zbigniew Boniek, que havia sido contratado pela Juventus. Prohaska logo ganhou a titularidade no time do técnico sueco, atuando pela direita no centro do campo, ao lado de Falcão e Carlo Ancelotti.
Muito regular, o novo reforço romano era peça fundamental ao estilo compassado da Roma, já que as ações ofensivas passavam quase sempre por seus pés. A campanha, que foi histórica para os giallorossi, pela conquista de segundo scudetto, teve boa participação de Schneckerl, que jogou 26 vezes e fez três gols – incluindo mais dois na Coppa Italia.
Apesar de ter feito sucesso em Roma e ter ganhado o apreço da torcida, aquela seria a última temporada de Prohaska na Itália. Em busca do bicampeonato nacional e do título europeu, a diretoria romana preferiu deixar o estilo cadenciado do austríaco de lado e apostar no futebol mais dinâmico de Toninho Cerezo.
Assim, o meia, então com 28 anos, voltou para o Austria Vienna. Com muita lenha para queimar, Prohaska ainda foi eleito três vezes como melhor futebolista do país (1984, 1985 e 1988) e ainda ajudou os violetas a chegarem ao tricampeonato nacional, entre 1984 e 1986. Não à toa, o bigodudo é tido como um dos maiores ídolos não só da equipe vienense como também do país alpino.
Schneckerl se aposentou razoavelmente cedo, prestes a completar 34 anos. Meses depois o ex-jogador assumiu o comando do Austria Vienna, levando o time violeta a dobradinha nacional em 1991 e 1992. Isso abriu as portas para que Prohaska assumisse a seleção austríaca, a qual comandou por seis anos e levou ao Mundial de 1998.
Após uma humilhante derrota por 9 a 0 para a Espanha, nas Eliminatórias para a Euro 2000, o ídolo se demitiu do cargo da seleção. Dois meses depois, voltou ao Austria Vienna e com o time do coração encerrou também a carreira de técnico. Atualmente, um dos maiores craques do futebol da Europa Central está afastado do esporte e só aparece de vez em quando, como convidado de canais de televisão de seu país.
Herbert Prohaska
Nascimento: 8 de agosto de 1955, em Viena, Áustria
Posição: meio-campista
Clubes como jogador: Austria Vienna (1972-80 e 1983-89), Inter (1980-82) e Roma (1982-83)
Títulos como jogador: Copa da Áustria (1974, 1977, 1980 e 1986), Campeonato Austríaco (1976, 1978, 1979, 1980, 1984, 1985 e 1986), Mundialito de Clubes (1981), Coppa Italia (1982) e Serie A (1983)
Carreira como treinador: Austria Vienna (1990-92 e 1999-2000) e Áustria (1993-99)
Títulos como treinador: Copa da Áustria (1990 e 1992) e Campeonato Austríaco (1991 e 1992)
Seleção austríaca: 83 jogos e 10 gols