Serie A

1ª rodada: Chuva de gols e vitórias de favoritos marcam fim de semana inaugural do Italiano

Defensiva, a Serie A? Mais uma vez, o Campeonato Italiano mostrou que essa pecha é coisa do passado – e o fez logo na sua primeira rodada. Os 33 gols marcados no final de semana foram um bom cartão de visitas para a competição, assim como o grande jogo entre Fiorentina e Napoli e o futebol bem jogado em Inter-Lecce, Sampdoria-Lazio e Roma-Genoa. Entre as equipes mais fortes do campeonato, apenas Roma e Milan não estrearam com vitória. Confira a análise do que ocorreu em campo e, ao fim do texto, os melhores momentos dos jogos e a seleção da jornada.

O jogão

Fiorentina 3-4 Napoli

Gols e assistências: Pulgar (pênalti), Milenkovic (Pulgar) e Boateng (Castrovilli); Mertens (Insigne), Insigne (pênalti), Callejón (Insigne) e Insigne (Callejón)
Tops: Pulgar e Sottil (Fiorentina); Insigne e Callejón (Napoli)
Flops: Dragowski e Venuti (Fiorentina); Allan e Mário Rui (Napoli)

Fiorentina e Napoli fizeram a partida mais fiel à ótima rodada inaugural da Serie A. Nesse thriller de sete gols, infelizmente o árbitro Davide Massa apareceu mais do que deveria e marcou dois pênaltis contestáveis – o cavado por Mertens, escandaloso; o anterior, por toque no braço de Zielinski, exagerado. Contudo, apesar do abalo emocional provocado por uma arbitragem as duas equipes tentaram jogar o seu melhor futebol e proporcionaram um espetáculo.

Os primeiros 30 minutos da equipe da casa foram surpreendentes. O time contava com peças jovens, como Castrovilli e Sottil, que atuaram em alto nível – o segundo deles deu um calor enorme em Mário Rui e Allan –, e novos reforços, como o chileno Pulgar, dominante no centro do campo. Do lado napolitano, falaram mais alto as individualidades de Insigne, Mertens e Callejón. Entrosado, o trio de baixinhos aproveitou os espaços nas costas de Venuti para construir a vitória: os dois gols anotados na etapa final contaram com a cumplicidade do lateral.

Olho no lance

Candreva, Lukaku e Sensi: o trio ajudou a definir o triunfo dos interistas sobre o Lecce (Arquivo/Inter)

Inter 4-0 Lecce

Gols e assistências: Brozovic (Asamoah), Sensi, Lukaku e Candreva (Barella)
Tops: Sensi e Candreva (Inter)
Flops: Rispoli e Diego Farias (Lecce)

Nenhum time entrou com mais fome de bola na 1ª rodada do que a Inter. Estreando técnico novo e reforço de peso, a Beneamata quis enviar um recado para os adversários: entrou na Serie A para competir fortemente. O rival da noite de segunda foi o Lecce, time recém-promovido e que – por seu estilo ofensivo – dá generosos espaços, mas a equipe de Conte não bobeou. Goleou e empolgou seus torcedores, apesar de alguns sustos proporcionados por Falco, melhor em campo pelos apulianos.

Já foi possível ver o dedo do treinador. Primeiro, a Inter mostrou muita intensidade e transições fortes entre defesa e ataque, com participação frequente dos meias e dos alas. Sensi e Brozovic atuaram como uma dupla de registas muito hábil, que sempre aparecia para concluir a gol – não à toa, os dois primeiros belos gols foram deles. Por sua vez, Asamoah e Candreva estiveram bem espetados e incomodaram os laterais salentinos. Centralizados, Martínez e Lukaku foram um tormento constante para os defensores e mostraram um entrosamento incomum para dois atacantes que nunca haviam atuado juntos antes. Diante do Cagliari, na semana que vem, o teste nerazzurro será bem mais exigente.

Roma 3-3 Genoa

Gols e assistências: Ünder, Dzeko e Kolarov; Pinamonti (Romero), Criscito (pênalti) e Kouamé (Ghiglione)
Tops: Dzeko e Ünder (Roma); Pinamonti e Kouamé (Genoa)
Flops: Juan Jesus (Roma) e Zapata (Genoa)

A partida contra o Genoa ratificou em quem a Roma deve e não deve confiar nessa temporada. Se, por um lado, Dzeko, Ünder e Kolarov se mostraram novamente como pontos de desafogo e pilares do time, Juan Jesus estragou a noite e proporcionou a um visitante valente e eficaz buscar o empate em três ocasiões.

As ideias ofensivas de Paulo Fonseca puderam ser observadas pela constante ativação de Ünder e Kluivert pelas pontas e pela participação mais avançada de Pellegrini e Cristante. Dzeko mostrou seu papel decisivo ao sair da área e acionar o ponta turco, no primeiro gol, e toda a sua relevância como 9 ao, sozinho, tirar um tento da cartola – o terceiro foi uma proeza balística de Kolarov. Do lado do Genoa, o trabalho de Andreazzoli começa bem, ainda que facilitado pelos erros de Juan Jesus. Pinamonti foi um perigo constante à zaga romanista e se mostrou complementar ao lépido Kouamé. Se Schöne estivesse num dia mais inspirado, a vida dos capitolinos teria sido mais dura.

Immobile estreou com dois gols sobre a Sampdoria (EFE)

Spal 2-3 Atalanta

Gols e assistências: Di Francesco (Petagna) e Petagna (Igor); Gosens (Hateboer), Muriel e Muriel
Tops: Petagna (Spal) e Muriel (Atalanta)
Flops: D’Alessandro (Spal) e Masiello (Atalanta)

Num dos duelos mais interessantes da rodada, a Atalanta precisou escalar uma montanha para ficar com os três pontos. Jogando em casa, a Spal apostou nos contra-ataques e mostrou bastante eficiência, a ponto de abrir vantagem de dois gols, aproveitando espaços nas costas de Masiello. Petagna, ex-jogador da Dea, aproveitou a lentidão do zagueiro para lançar Di Francesco, na corrida, e depois apareceu para completar a boa jogada do brasileiro Igor, ex-Austria Vienna.

A Atalanta começou a reagir quando empurrou a Spal para dentro de sua grande área e a partir de cruzamentos de Hateboer, na direita – aproveitando a fragilidade defensiva de D’Alessandro. De ala a ala, o holandês encontrou Gosens, que saltou sobre seu marcador e diminuiu. Zapata acertou o travessão na sequência, mas foi outro colombiano que virou a partida, no segundo tempo. Cada vez mais acuados, os spallini esqueceram de proteger a entrada de sua área e Muriel aproveitou. Testou Berisha uma vez e, num espaço de seis minutos, virou o jogo com dois chutes precisos.

Sampdoria 0-3 Lazio

Gols e assistências: Immobile (Luis Alberto), Correa (Luis Alberto) e Immobile
Tops: Immobile e Luis Alberto (Lazio)
Flops: Bereszynski e Murillo (Sampdoria)

Em seu segundo jogo oficial como técnico da Sampdoria, Di Francesco sentiu a ira de seus eternos rivais capitolinos. O treinador optou por uma abordagem agressiva, com marcação avançada e defesa alta, mas o tiro saiu pela culatra – como ele mesmo assumiu no pós-jogo, quando se declarou responsável pela derrota. Foi aproveitando os espaços nas costas da zaga doriana que todos os gols da Lazio foram marcados. Não fosse Audero, o chocolate laziale teria sido maior.

Immobile estava inspirado e não tomou conhecimento de Murillo e de Colley, a quem sempre se antecipava em seus movimentos. Bereszynski também foi vítima do atacante, quando este caiu pelo lado direito, mas sofreu sobretudo com Luis Alberto, que aproveitou-se das cochiladas do polonês para encontrar seus companheiros na cara do gols duas vezes. Correa e Milinkovic-Savic também fizeram boas leituras do jogo e puderam brilhar – na parte oposta do gramado, Quagliarella foi anulado por Acerbi. Se seus principais jogadores mantiverem essa forma (o que não ocorreu em 2018-19), a Lazio pode voltar aos grandes momentos.

Mais luta, menos show

Demonstrando coragem, Mihajlovic treinou o Bologna mesmo durante cansativo tratamento de leucemia (EFE)

Parma 0-1 Juventus

Gols e assistências: Chiellini (Alex Sandro)
Tops: De Sciglio e Higuaín (Juventus)
Flops: Sepe e Brugman (Parma)

No jogo que abriu o campeonato, a Juventus venceu com esforço mínimo. Pela força do elenco e pelo entrosamento: seu onze inicial só tinha um atleta que não atuou na última campanha, e este era Higuaín, um velho conhecido. Pipita, aliás, mostrou uma boa interação com Ronaldo e Douglas Costa durante o primeiro tempo. Afinal, a etapa derradeira não teve lá um grande futebol de parte a parte.

Quando jogou para valer – e quando precisou controlar o Parma, também –, a Velha Senhora apresentou conceitos allegrianos. A bem da verdade, se viu muito pouco do dedo de Sarri até agora. O técnico, que não esteve no Tardini por conta de uma pneumonia, só assinaria mesmo a construção de uma bela troca de passes que deixou CR7 na cara do gol. O português desperdiçou essa chance, teve um tento anulado e não apareceu muito, mas o capitão Chiellini resolveu para a Juve num lance de bola parada, contando com a cumplicidade do goleiro Sepe.

Torino 2-1 Sassuolo

Gols e assistências: Zaza (Ansaldi) e Belotti (Lukic); Caputo
Tops: Zaza e Belotti (Torino)
Flops: Toljan e Rogério (Sassuolo)

O Torino vinha de uma derrota contra o Wolverhampton, pelos playoffs da Liga Europa, mas contra o Sassuolo reencontrou o bom caminho que traçara nos primeiros jogos da competição europeia. A equipe de Mazzarri construiu sua vitória graças ao ímpeto de seus alas, que venceram os duelos contra os laterais do Sassuolo. Ansaldi e De Silvestri foram amplamente superiores a Toljan e Rogério, respectivamente.

Em uma das jogadas em que o Toro combinou amplitude e profundidade, Ansaldi cruzou com perfeição para Zaza marcar seu quarto gol na temporada. Jogando de forma objetiva, Belotti marcou o segundo com chute de fora da área – a bola desviou no calcanhar de Zaza, mas o tento acabou sendo conferido mesmo para o camisa 9. O jogo parecia decidido para os donos da casa, mas Sirigu teve de aparecer para evitar chances criadas por Boga. O marfinense chegou até a acertar a trave, aos 69, mas Caputo aproveitou o rebote e anotou o gol neroverde.

O brasileiro Rodrigo Becão marcou o gol da vitória da Udinese sobre o Milan (LaPresse)

Cagliari 0-1 Brescia

Gols e assistências: Donnarumma (pênalti)
Tops: Donnarumma e Joronen (Brescia)
Flops: João Pedro e Pavoletti (Cagliari)

A grande surpresa da rodada aconteceu na Sardenha. O Cagliari se reforçou muito e entrou em campo já com Nainggolan e Nández, mas sucumbiu ao Brescia, que estava ausente da elite havia oito anos e nem mesmo contou com Balotelli – o atacante cumpre suspensão de quatro jogos. Nas tribunas, ocorreu algo curioso: antes do duelo, a torcida festejou Massimo Cellino, ex-presidente do clube e atual dono da agremiação adversária, e logo após o apito final vaiou muito o seu próprio time. Os torcedores esperavam um resultado melhor, sobretudo porque o próximo compromisso é contra a Inter.

A ótima chance perdida por João Pedro logo nos primeiros minutos condicionou a partida dos casteddu. O Cagliari acabou surpreendido pela postura pró-ativa dos meias brescianos e não conseguiram produzir. O time visitante chegou a colocar a bola nas redes três vezes, mas as duas primeiras foram invalidadas pela arbitragem. A que valeu e rendeu a Donnarumma o seu primeiro gol na elite, surgiu após um pênalti generoso, na segunda etapa. Em desvantagem, o Cagliari tentou ir para cima, mas teve tento anulado e parou no goleiro Joronen.

Verona 1-1 Bologna

Gols e assistências: Miguel Veloso; Sansone (pênalti)
Tops: Miguel Veloso (Verona) e Tomiyasu (Bologna)
Flops: Dawidowicz (Verona) e Palacio (Bologna)

O grande evento no Bentegodi foi a celebração da vida. Guerreiro, como é de seu feitio, Mihajlovic surpreendeu ao decidir assumir seu posto à beira do gramado e orientar o Bologna. O técnico enfrenta a leucemia com um tratamento quimio e radioterápico agressivo, mas foi liberado para manter suas funções laborais. Visivelmente mais magro, de boné, cabelos raspados e com um grande curativo no pescoço, o sérvio teve de controlar o seu estilo impetuoso, mas deu força a seus jogadores.

O Bologna começou bem contra o Verona e, aos 15 minutos, poderia já ter encaminhado a sua vitória. Dawidowicz foi expulso após cometer pênalti em Orsolini e Sansone abriu o placar, na sequência, mas foi só. Os visitantes tiveram a oportunidade de ampliar com Soriano, mas o meia desperdiçou oportunidades. Isso animou o Hellas, que tem um dos times mais frágeis do campeonato, e o capitão Miguel Veloso achou um gol numa bela cobrança de falta, no fim do primeiro tempo. Na etapa final, a equipe de Juric se defendeu bem, e as tentativas de Palacio, Santander e Destro, mais baseadas na força, não deram certo para os bolonheses.

O sonífero

Udinese 1-0 Milan

Gols e assistências: Rodrigo Becão (De Paul)
Tops: Rodrigo Becão e Samir (Udinese)
Flops: Piatek e Suso (Milan)

Na Dacia Arena, Udinese e Milan fizeram a partida de ritmo mais baixo em toda a rodada. Os chutes a gol foram poucos, a falta de criatividade foi evidente e a defesa do time da casa levou a melhor em quase todos os duelos. O Diavolo era o favorito, mas Suso, Castillejo e Piatek estiveram apagados e foram incapazes de concluir. Ao passo em que o centroavante polonês ficou encaixotado entre Rodrigo Becão, Ekong e Samir, sendo pouco acionado, o camisa 8 teve dificuldades de jogar centralizado, como trequartista do 4-3-1-2 de Giampaolo. Insatisfeito com a atuação de seu time, treinador já cogita passar ao 4-3-3.

A Udinese passou grande parte do jogo sem ameaçar Donnarumma de forma efetiva. Contudo, assim que De Paul entrou em campo, isso mudou. Com 25 segundos no gramado, o argentino cobrou escanteio de forma perfeita na cabeça de Becão, que venceu o goleiro milanista. Pouco depois, Gigio teve de fazer uma defesa difícil para evitar que Lasagna ampliasse o placar e tornasse a estreia do Diavolo ainda mais amarga.

Seleção da rodada

Joronen (Brescia); Callejón (Napoli), Rodrigo Becão (Udinese), Acerbi (Lazio), Asamoah (Inter); Candreva (Inter), Sensi (Inter), Luis Alberto (Lazio); Insigne (Napoli); Muriel (Atalanta), Immobile (Lazio). Técnico: Antonio Conte (Inter).

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