Até esta quinta, 11 de abril de 2024, outros 19 confrontos entre times italianos haviam acontecido em competições da Uefa. No 20º deles, a Roma – que se dera mal em seus dois precedentes neste recorte – começou melhor contra o Milan, bicho-papão quando se fala em torneios continentais. Os rossoneri têm vantagem de cinco sucessos contra dois fracassos nestes duelos, mas acabaram perdendo em San Siro para a Loba, por 1 a 0, pela ida das quartas de final da Liga Europa.
Em Milão, a Roma de Daniele De Rossi pareceu até estar no Olímpico. Desde o início, a equipe visitante mostrou um futebol melhor do que a trupe de Stefano Pioli – o que certamente deve ter desagradado o bilionário Gerry Cardinale, dono do clube, que assistia a partida em San Siro. Antes mesmo dos 5 minutos, Dybala já havia tabelado com Spinazzola e finalizado por cima do gol. Seria a tônica do jogo: corajosa, organizada e eficiente, a Loba foi superior ao Diavolo.
Pensando em segurar o forte lado esquerdo do Milan, De Rossi escalou a Roma com reforço no setor. A Loba alternava entre um 4-2-3-1 com a bola e um 4-4-2 sem ela. No intuito de dificultar a vida de Rafael Leão e Hernandez, El Shaarawy – que costumeiramente atua no flanco esquerdo – fez o papel de ala ou ponta naquela região do campo. Pellegrini dobrava com Spinazzola no oposto.
O Milan, em seu habitual 4-3-3, teve dificuldade de encaixar os pontas. Rafael Leão, que chegou a ser vaiado mais tarde, e Pulisic, produziam pouco. Então, a saída era buscar jogo com Lofts-Cheek e Reijnders no povoado setor central. Por ali, a Roma contava com o retorno de Smalling, a garra de Mancini, Paredes e Cristante, e até mesmo com o apoio de Lukaku e Dybala, que davam os primeiros combates.
Nesse contexto, curiosamente, a Roma achou o seu gol ao atacar o lado de Rafael Leão e Hernandez. A equipe giallorossa circulou a bola de um flanco a outro, ainda a partir do campo de defesa, e envolveu os rossoneri. El Shaarawy tabelou com Lukaku – que partiu na mesma de linha de Gabbia – e, ao receber na área, acabou obrigando Maignan a fazer grande intervenção: após desvio na zaga, o francês espalmou a pelota para escanteio. Na cobrança, Dybala cruzou e Mancini subiu sozinho para, de cabeça, inaugurar o marcador. Vale destacar que o camisa 23 também decidiu o dérbi contra a Lazio, no fim de semana de Serie A.
Aos 21 minutos, também em cobrança de escanteio, o Milan quase empatou. Loftus-Cheek desviou na segunda trave e Giroud tentou concluir duas vezes, mas Lukaku, em cima da linha, afastou ambas as oportunidades. Apesar disso, a Roma seguia melhor em campo e, aos 28, o belga ficou perto de marcar o seu após cruzamento rasteiro de El Shaarawy.
Nos quinze minutos finais da primeira etapa, os milanistas tinham mais posse da bola, só que os romanistas se defendiam muito bem e pouco concediam aos rivais. Assim, restava ao Diavolo arriscar arremates de fora da área. Ou melhor, a Reijnders, o único que fazia Svilar trabalhar em lances do gênero.
O Milan voltou para a segunda etapa com uma lenta circulação da bola, o que não infligia dificuldades à defesa bem postada da Roma. Ao mesmo tempo, a posse estéril não fazia as linhas dos giallorossi se movimentarem e não permitiam que Hernandez, Pulisic e Rafael Leão tocassem em profundidade. O português, aliás, recebeu uma dura de Maignan ao não colaborar com a marcação numa investida de Cristante e foi vaiado por parte de San Siro (e aplaudido pelos ultras) ao ser substituído, juntamente ao norte-americano – aos 78 minutos, entrariam Okafor e Chukwueze.
Outra mexida no Milan, ainda aos 59, foi a entrada de Adli. O francês melhorou a circulação de bola em relação a Bennacer e quase marcou com um chute surpreendente, quando todos esperavam um cruzamento. Atento, Svilar espalmou – antes, fizera o mesmo com Reijnders.
Os rossoneri só voltariam a levar perigo (e muito) aos 87, quando Chukwueze chamou três romanistas para o mano a mano, deixou todos eles para trás e serviu com açúcar para Giroud, na pequena área. O camisa 9, entretanto, pegou embaixo na pelota e carimbou o travessão. Foi a derradeira chance de ouro dos mandantes, que lamentaram demais o erro do seu centroavante. Os jogadores do Milan também reclamariam de o árbitro Clément Turpin não ter assinalado pênalti por um suposto toque de mão de Abraham.
É nítido como a Roma foi revigorada por De Rossi. Não só pelo futebol jogado e pelas estratégias adotadas taticamente por ele, mas também pelo comportamento da equipe em campo. Sem os conflitos muitas vezes desnecessários provocados por José Mourinho, os jogadores parecem mais calmos, em clima mais leve e mais dispostos a atuarem em prol do coletivo – que o digam Lukaku e Dybala, que sempre renderam bem com o português, mas parecem ter dado um passo para além das individualidades sob as ordens de DDR.
Do outro lado, o derrotado Pioli não deixou boas impressões para o presidente Cardinale, que tem mostrado boa vontade em renovar o seu contrato. Apesar de o Milan viver bom momento e estar perto de garantir matematicamente a vaga na Champions League através da Serie A, contra a Roma o seu time mostrou velhos vícios e pouca criatividade. A eliminação na Liga Europa, única competição que os rossoneri ainda podem vencer na temporada, pesaria contra o treinador. Assim como um eventual título da Inter confirmado no Derby della Madonnina, na 33ª rodada do Campeonato Italiano.