Para aquelas pessoas que acompanham o futebol italiano avidamente desde o fim da década de 2000, o nome de Marco Landucci remete instantaneamente a Massimiliano Allegri. Não é à toa: a parceria da dupla, iniciada em 2008, resultou em mais de uma dezena de títulos, entre competições como Serie A, Coppa Italia e Supercopa Italiana. Antes de virar assistente e fiel escudeiro de Max, entretanto, o auxiliar ficou conhecido como uma das joias da Fiorentina no final dos anos 1980. Mais especificamente, a joia que guardava as redes violetas.
Landucci nasceu em março de 1964, em Lucca, uma comuna na região da Toscana, localizada a cerca de 70 km de Florença. Desde pequeno, o goleiro chamava a atenção dos olheiros locais – tanto que logo parou nas categorias de base da Fiorentina. Marco, entretanto, não estrearia entre os adultos na equipe violeta: em 1981-82, foi emprestado para o Viareggio e debutou no Campeonato Interregionale, correspondente à quinta divisão italiana.
Depois de atuar em apenas sete jogos pelos bianconeri, Landucci retornou ao setor juvenil da Fiorentina e passou dois anos por lá, lapidando o seu talento, e se tornou o reserva imediato de Giovanni Galli em meados da temporada 1983-84. Sem espaço, não entrou em campo e terminou emprestado à pequena Rondinella, agremiação de Florença que disputava a terceira divisão. Lá, foi titular absoluto e, após uma campanha de meio de tabela, receberia a chance que mudaria a sua carreira: foi cedido ao Parma em 1985-86.
O Parma, entretanto, não era o clube que conhecemos hoje. Naquela época, o time disputava a Serie C1 e ainda não tinha recebido o aporte financeiro da Parmalat, através do empresário Calisto Tanzi, que o transformariam em um dos grandes pretendentes de títulos da década seguinte, mas a base do sucesso estava ali. Os crociati foram buscar o inovador Arrigo Sacchi no Rimini e contavam com nomes como Gianluca Signorini, Roberto Mussi e Alessandro Melli – além de Luca Bucci, que Marco colocou no banco.
Landucci não ofuscou o garoto Bucci à toa. Afinal, foi um dos pilares do acesso dos gialloblù à Serie B: em 34 jogos disputados, sofreu apenas 14 gols. A ótima passagem abriu os olhos da Fiorentina, que repatriou a joia de volta no ano seguinte. E Marco não voltava a Florença para fazer número. Foi logo alçado ao posto de titular pelo veterano técnico Eugenio Bersellini, recém-chegado à Toscana. Em substituição a Galli, vendido ao Milan, o Sargento de Ferro optou pela juventude do prata da casa em detrimento da experiência de Paolo Conti.
A Fiorentina vivia um momento de passagem de bastão em 1986: de um lado, via um grande ídolo, Giancarlo Antognoni, rumar ao crepúsculo da carreira. Do outro, via surgir o craque Roberto Baggio, ainda superando sérias lesões – e, no meio disso, o já consolidado Ramón Díaz emergia como principal artilheiro da equipe. Sob as ordens de Bersellini na temporada 1986-87 e comandada pelo sueco Sven-Göran Eriksson na seguinte, a formação violeta obteve duas colocações intermediárias consecutivas na Serie A. Landucci participou desse momento de forma crucial: afinal, atuou em todas as partidas dos gigliati em ambas as épocas, incluindo as da Coppa Italia.
Marco, a rigor, entrou em todos os jogos da Fiorentina até o fim de fevereiro de 1989, quando se lesionou contra o Ascoli, pela 19ª rodada da Serie A 1988-89 – e retornaria à meta em meados de maio, quando recuperou a forma. Naquele ano, uma Viola embalada por Baggio e Stefano Borgonovo, além de outros bons nomes, como o zagueiro Glenn Hysén, o ala Alberto Di Chiara e os volantes Dunga e Sergio Battistini, foi sétima colocada do Campeonato Italiano e, após superar a Roma na partida extra para definir a vaga na Copa Uefa, se classificou ao torneio continental. Nesse período, Landucci foi observado por Azeglio Vicini, técnico da seleção, mas não chegou a ser convocado.
Em 1989-90, o goleiro, já com 26 anos, participou dos 50 jogos que a Fiorentina realizou durante a temporada. Já sem Eriksson, a equipe sofreu com o técnico Bruno Giorgi nas competições nacionais: foi precocemente eliminada da Coppa Italia e lutou para escapar do rebaixamento na Serie A. Assim, Francesco Graziani chegou no fim da época e, além de salvá-la do descenso, sacramentou a classificação para a decisão da Copa Uefa ao segurar o 0 a 0 em casa contra o Werder Bremen, avançando devido ao gol qualificado. Infelizmente, para Landucci e companhia, o título ficaria com a Juventus, que também levaria Baggio para Turim em seguida.
Landucci começou a temporada 1990-91 como titular de uma Fiorentina que, outra vez, trocara de técnico. O brasileiro Sebastião Lazaroni, que comandou a Seleção na fracassada expedição italiana na Copa do Mundo de 1990, foi escolhido como novo comandante por Flavio Pontello, então presidente violeta, antes mesmo da campanha da amarelinha. Mario Cecchi Gori comprou a agremiação no verão e até poderia ter desfeito o negócio, mas seguiu em frente com o trato feito pelo antecessor. Para o azar do jovem goleiro toscano.
Marco foi o camisa 1 da Fiorentina nas duas primeiras fases da Coppa Italia e nas sete rodadas iniciais da Serie A. Lazaroni, contudo, o relegou ao banco após a derrota para o Napoli, então campeão italiano. Até aquele momento, a Viola tinha desempenho mediano, com quatro derrotas, duas vitórias e um empate pela competição – após a mudança, a equipe somaria incríveis sete igualdades nos nove compromissos seguintes. Quis o destino que Landucci fosse substituído por alguém de trajetória muito similar à sua: Gianmatteo Mareggini, prata da casa e de trajetória nas divisões inferiores, inclusive com passagem pela Rondinella.
Sem espaço na Viola, o jovem goleiro, que ainda tinha 27 anos, encerrou sua passagem por Florença após 194 aparições e foi cedido para a Lucchese, equipe de sua cidade natal. Era um sonho transformado em realidade para Landucci, apesar de ter representado, àquela altura, um passo atrás em sua carreira. Afinal, os toscanos haviam voltado à Serie B apenas em 1990, depois de perambular por divisões inferiores durante três decênios. E estavam distantes da máxima categoria do futebol italiano desde o início da décadas de 1950.
A Lucchese, entretanto, vinha em ascensão. O retorno à segundona foi garantido graças às ideias do inovador técnico Corrado Orrico e, em 1990-91, sob o seu comando, os rossoneri chegaram a ficar a apenas três pontos do acesso direto à Serie A. Quando Landucci aportou em Lucca, o treinador responsável pela façanha já havia firmado com a Inter e sido substituído pelo promissor Marcello Lippi, que vinha de um bom trabalho no Cesena. O novo comandante confiou a Marco o posto de titular absoluto do seu time, mas a promoção não foi obtida. As panteras fizeram uma campanha razoável, embora ligeiramente inferior à precedente, e terminaram o certame na oitava posição.
No fim das contas, a transferência de Landucci à Lucchese deu início a uma sequência de verdadeira perambulação do goleiro pela Itália, devido a suas curtas passagens por vários clubes. A mais longa terminaria sendo a que sucedeu a experiência na equipe de sua cidade natal. Acertado com o Brescia, então campeão da segundona, Marco voltou à Serie A e foi o titular de um time repleto de romenos. De lá, vinham o técnico Mircea Lucescu, que o comandara na campanha de acesso, e quatro reforços: o craque Gheorghe Hagi e os utilitários Ioan Sabau, Dorin Mateut e Florian Raducioiu.
Inspirado pelas jogadas de Hagi e os tentos de Raducioiu, o Brescia lutou muito pela permanência. Defensivamente, o time se portava bem e teve a melhor defesa da metade inferior da tabela, com 44 gols sofridos em 34 rodadas. Ao fim da temporada regular, os andorinhas ficaram em 15º, empatados em pontos com Fiorentina e Udinese, de modo que a decisão dos rebaixados foi para os critérios de desempate: por ter se dado mal nos confrontos diretos, a Viola foi relegada, enquanto a outra condenada seria definida em jogo extra. Landucci, lesionado, não atuou no spareggio que sacramentou a queda dos biancazzurri devido ao 3 a 1 aplicado pelos friulanos.
Na segundona, ainda sob a batuta de Lucescu e contando com Hagi e Sabau no time, o Brescia reagiu: foi terceiro colocado e garantiu o retorno imediato à Serie A. Além disso, conquistaram a Copa Anglo-Italiana, destinada a equipes das divisões inferiores de Inglaterra e Itália, ao baterem o Notts County em Wembley. Landucci se alternou com Nello Cusin durante toda a temporada 1993-94, mas estava em campo na final no lendário estádio londrino.
O goleiro acabou não permanecendo no Brescia para a disputa da Serie A e, já com 30 anos, optou por rumar ao sul da Itália para auxiliar o Avellino, que se afundara na terceira divisão do país após ter passado a década de 1980 quase inteira na elite. Na Irpinia, Landucci foi titular pela última vez em sua carreira e se revelou decisivo para os biancorossi, já que brilhou na disputa de pênaltis dos playoffs de acesso, contra o Gualdo, e ajudou o time a subir para a segundona.
O desempenho no Avellino fez com que Landucci voltasse à Serie A. E para uma equipe grande: a Inter, que buscava reserva para Gianluca Pagliuca. Marco jamais disputou uma partida pelos nerazzurri e, dali em diante, foi o “camisa 12” de vários outros clubes. Em 1996-97, passou pelo Venezia na segundona e também pelo Verona, na elite. Sua última aparição na elite foi contra o Parma, na derradeira rodada do certame, quando o Hellas já tinha o rebaixamento sacramentado.
Landucci se aposentou em 2001, aos 37 anos, após duas passagens pela Lucchese – entre elas, uma rápida experiência pelo Cuoiopelli, que caiu da quinta para a sexta divisão da Itália durante sua militância. O arqueiro pendurou as luvas na sua Toscana e foi na própria região que assumiu um novo posto: o de preparador de goleiros. Lá, teve trabalhos na base da Fiorentina e no Grosseto, fazendo parte da comissão técnica que levou os grifoni à segundona pela primeira vez em sua história.
Pouco antes do acesso, o Grosseto teve um tal de Max Allegri como treinador. E o jovem comandante seguiu ligado ao clube biancorosso, a ponto de bater na porta do antigo empregador para levar Landucci ao Cagliari como seu assistente e preparador de goleiros, Marco potencializou Federico Marchetti, que chegou à seleção italiana, e viu o seu novo chefe ascender na carreira graças ao futebol ousado e competitivo mostrado pelos sardos.
A partir de então, a parceria entre o ex-arqueiro e o ex-meia seguiria firme e forte no topo da cadeia alimentar do sistema futebolístico europeu. Landucci acompanhou Allegri na sua passagem pelo Milan, quando ocupou o cargo de preparador de goleiros, e nas duas experiências do técnico na Juventus, sendo seu principal auxiliar. Assim, até o fechamento desse texto, eles faturaram seis scudetti (um com o Diavolo e cinco com a Velha Senhora), três Supercopas Italianas (uma pelos rossoneri e duas pelos bianconeri) e quatro edições da Coppa Italia, sendo todas pela gigante de Turim. E a tendência é que, conforme os anos passem, a galeria de títulos aumente ainda mais.
Marco Landucci
Nascimento: 25 de março de 1964, em Lucca, Itália
Posição: goleiro
Clubes: Fiorentina (1982-84 e 1986-91), Rondinella (1984-85), Parma (1985-86), Lucchese (1991-92, 1997-98 e 1999-2001), Brescia (1992-94), Avellino (1994-95), Inter (1995-96), Venezia (1996), Verona (1996-97) e Cuoiopelli (1999)
Títulos: Serie C1 (1986) e Coppa Anglo-Italiana (1994)