Davide Santon: atuando como um senador
No limite exato entre o prodígio e a promessa. Assim pode-se definir Davide Santon, titular absoluto da Internazionale desde sua estréia, no fim de janeiro, contra a Roma, pelas quartas-de-final da Copa da Itália. O jovem lateral pode ser considerado a maior revelação do time de Appiano Gentile nesta temporada e uma das maiores do futebol italiano nesta primeira década do século XXI. Santon tem desbancado o badalado atacante Mario Balotelli e vai assumindo o posto de maior destaque da base interista nos últimos anos. Se “SuperMario” enfrenta problemas psicológicos e grande concorrência para assumir a titularidade no ataque, Santon, que tem apenas Maxwell para oferecer concorrência (já que Chivu tem atuado como zagueiro, quando não está machucado), ganhou a posição depois de impressionar contra a Roma.
Tão logo José Mourinho assumiu o comando técnico da Internazionale de Milão, Santon chamou sua atenção: nas primeiras entrevistas como treinador do clube, Mourinho o elogiou bastante e argumentou muito sobre acreditar que a idade não é diferencial para a qualidade de um jogador. Assim, o primavera logo foi integrado à equipe principal nerazzurra, que disputaria amistosos de pré-temporada.
Primeiros passos
Formado pelo Ravenna, Santon chegou à Inter com apenas 14 anos. Na equipe emiliana, ele jogava como meio-campista, função que continuou a desempenhar em Milão por algum tempo, comprovando sua velocidade e habilidade. Quando fazia parte do elenco interista campeão da categoria Allievi (sub-16), o então meio-campista tinha a companhia de Luca Caldirola, outro jovem muito promissor, lateral-direito titular daquela equipe. Nessa condição, ambos recebiam suas primeiras convocações para a seleção italiana sub-17. Somente quando foram alçados para a equipe primavera, com 17 anos, Santon começou a ser aproveitado na posição que antes era ocupada por seu colega, agora jogando como zagueiro, mostrando que, na base da Inter, a versatilidade é algo trabalhado e importante.
Mesmo recebendo convocações para defender as seleções italianas menores, Santon não era o maior dos destaques interistas. Por motivos culturais do futebol, os jogadores de ataque têm mais notoriedade, mesmo na Itália – país marcado por uma cultura futebolística defensiva. Assim, na equipe primavera que chegou à final do campeonato, ele era apenas um coadjuvante, se comparado ao sucesso de Mario Balotelli e Aiman Napoli, artilheiros da equipe e, conseqüentemente, as duas principais referências de uma Inter ofensiva. Até mesmo jogadores que subiram para a Primavera na mesma época que ele, como o atacante Mattia Destro, eram mais estimados pela torcida.
Dessa maneira, toda a comunidade italiana ficou surpresa ao ouvir os muitos elogios feitos por Mourinho ao jovem “bambino” – maneira como o treinador se refere à Santon. Embora o desempenho pouco vistoso fosse preponderante, esse não foi o único motivo do espanto às declarações do português. Afinal de contas, já haviam outros jovens inseridos pouco a pouco por Roberto Mancini no time principal, como Francesco Bolzoni, Simone Fautario, Andrea Mei e, claro, Mario Balotelli. Por isso, se esperava que, naturalmente, estes jogadores ganhassem mais oportunidades, em vez de um jovem que, aparentemente, estava pulando etapas. Não foi o que aconteceu. Bolzoni está sempre entre os relacionados para as partidas, mas nunca joga. Balotelli é um caso a parte: quase estragou suas chances no time profissional ao bater de frente com Mourinho, sendo displicente nos treinamentos, indisciplinado em suas atitudes fora e dentro de campo, e exigindo jogar com freqüência (na Inter ou em outro clube). Logo após a estréia de Santon, que coincidia à época com o ápice da indisciplina do atacante palermitano, choveram perguntas a Mourinho. Os jornalistas perguntavam o que faltava em Balotelli e sobrava em Santon. Segundo o treinador português, Balotelli deveria seguir o exemplo do lateral-direito: trabalhar, ser disciplinado e não reclamar, ser “low-profile” fora de campo, para não sê-lo dentro das quatro linhas.
Nasce uma “bandeira”?
Quando foi alçado à equipe principal, Santon já era lateral-direito. Obviamente, com Zanetti e Maicon podendo atuar naquela posição, era de se imaginar que ele, mesmo elogiado, não iria receber oportunidades tão cedo. Santon foi relacionado para algumas partidas da Liga dos Campeões, mas não entrou em campo. Isso só aconteceu quando Mourinho percebeu que sua versatilidade poderia ser útil à equipe: mesmo sendo destro, o técnico de Setúbal resolveu testá-lo como lateral esquerdo, posição em que Maxwell não chegou a impressionar – sobretudo defensivamente.
Orientado por Mourinho para não subir muito ao ataque, Santon jogou bem e não saiu mais da equipe. Além disso, mesmo franzino, tem se saído bem nas funções de marcação que lhe são atribuídas. Em sua maior provação, em um jogo que poderia trazer muitas dificuldades para si, ele teve sua melhor atuação como defensor. Encarregado de marcar Cristiano Ronaldo, nas oitavas-de-final da Liga dos Campeões, o “bambino” se saiu muito bem, sobretudo na partida disputada no Giuseppe Meazza.
Cerca de um mês antes, após seu segundo jogo pela Serie A, Giuseppe Baresi (assistente de Mourinho e ex-coordenador das divisões de base nerazzurri) disse que o jovem parecia um senador – termo usado na Itália para designar os jogadores mais experientes da equipe. Em um time como a Inter, a ascensão de um lateral-esquerdo, formado no clube, só poderia lembrar um mito de sua história: o capitão Giacinto Facchetti, da Inter campeã mundial na década de 60. As boas atuações do “garoto-senador” o fizeram ser cogitado por Marcello Lippi para uma vaga na Azzurra, comparando-o a Maldini quando jovem. A partir disso, José Mourinho o proibiu de dar entrevistas, para que o sucesso não subisse a cabeça.
Parece ter dado certo: Santon continuou a jogar bem (inclusive nas partidas importantes, como o dérbi de Milão) e ganhou mais confiança para subir ao ataque. Na vitória contra o Lecce, um dos gols surgiu de cruzamento seu. Contra a Fiorentina, Ibrahimovic o deixou livre na pequena área, mas seu gol foi negado pelo goleiro Sébastien Frey. Ganhando ainda mais confiança e contando com a admiração de Mourinho e de gente forte no clube, Santon é daqueles jogadores que tem tudo para fazer história no clube, como Bergomi, Facchetti e Zanetti – todos laterais. O sucesso de Santon (e também o de Balotelli) na Inter é fundamental para que a diretoria aproveite mais os talentos de seu vivaio – que conta com uma geração aparentemente afortunada.
Ficha técnica
Nome completo: Davide Santon
Data de nascimento: 02/01/1991
Local de nascimento: Porto Maggiore, Itália
Clubes que defendeu: Ravenna, Internazionale
Seleções de base que defendeu: Itália Sub-20, Sub-17 e Sub-16