Ídolo de um time só, Boniperti deixa saudades nos torcedores mais antigos da Velha Senhora. Il Marisa, como era chamado, por causa da cor dos seus cabelos, é o segundo maior artilheiro da história da Juve, com 182 gols, atrás apenas de Del Piero (262). Além de brilhar nos campos, o piemontês fez história ainda na presidência do clube, cargo que ocupou de 1971 a 1990.
Boniperti entrou para o mundo da bola tarde, já aos 16 anos de idade. O ano era 1944, em meio à Segunda Guerra Mundial, e o jovem não demorou muito para impressionar nas categorias de base juventinas e ser cobiçado pelo time de cima: estreou pela equipe principal no final da temporada 1946-47, jogando as últimas seis partidas do campeonato. Tempo suficiente para mostrar o grande atacante que viria a ser, anotando cinco gols. Para levantar sua primeira taça, contudo, teve que esperar alguns anos.
Os tempos de glória chegavam ao outro lado da cidade, para os grenás do Torino. O histórico time do técnico Ernö Egri Erbstein e do atacante Mazzola conquistou todos os cinco scudetti disputados entre os anos de 1942 e 1949 (lembrando que os campeonatos de 1943-44 e 1944-45 não ocorreram por causa da Guerra). O jejum de títulos bianconeri, porém, não tirou o brilho do jovem Boniperti, que se sagrou o artilheiro do Italiano 1947-48, com a incrível marca de 27 gols em 40 jogos. Outro feito admirável do Marisa foi sua primeira convocação para a Squadra Azzurra, no dia 9 de novembro de 1947, com apenas 19 anos.

Boniperti, à direita, momentos antes da estreia da Itália na Copa de 1954, contra a Suíça (PA Images)
Ao lado de Muccinelli no ataque, a versatilidade do jogador ficou evidente: além da grande forma como atacante, Boniperti também atuava bem pelo lado direito, se transformando num belo ponta. A essa altura, a seleção italiana já ganhava status de favorita para a Copa no Brasil, de 1950, com a equipe formada basicamente pelos jogadores do Torino mais Boniperti. Porém, a famosa tragédia de Superga, que culminou com a morte de todos os jogadores daquele lendário Torino, acabou com qualquer chance de uma Itália campeã do mundo novamente, o que pode explicar a passagem pouco notável do piemontês pela seleção.
Na temporada seguinte, então, a Juve assumiu o posto do rival e levou o scudetto para casa de novo, após onze anos. Foi também o primeiro título de Boniperti vestindo a camisa bianconera. O atacante marcou 21 gols em 35 jogos, sendo o principal jogador da campanha vitoriosa. Nos anos seguintes, manteve alta a média de gols: na temporada 1950-51, foram 22 e na seguinte, 19. Assim, ultrapassou a marca de cem gols na Serie A antes mesmo de completar 24 anos.
Ainda em 1951, a Juve de Boniperti ganhou alguma notoriedade aqui no Brasil. A equipe italiana veio para participar da Copa Rio, competição internacional disputada por oito clubes sul-americanos e europeus, e sagrou-se vice-campeã, após perder para o Palmeiras, no Maracanã. O placar agregado somou três para o alviverde paulista contra dois dos bianconeri, com direito a gol de Il Marisa. A Juve não ganhou o scudetto desse ano, mas a chegada dos atacantes dinamarqueses John Hansen e Karl Praest, na temporada seguinte, deu novo ânimo ao grupo, que voltou a levantar o título da Serie A, em 1951-52.

Ao longo de cerca de 15 anos, Boniperti foi referência da Juventus dentro dos campos e, depois, fora deles (Getty)
Nas temporadas seguintes, a Velha Senhora viu seu desempenho cair, junto com a queda de rendimento do piemontês. Inter e Milan tomavam conta do cenário. Os rossoneri, inclusive, já contavam com o lendário trio Gren, Nordahl e Liedholm. Só em 1957-58 a Juve voltou a vencer. Foi quando chegaram John Charles e Omar Sívori, para auxiliar Boniperti no ataque. Em pouco tempo, fizeram muito sucesso e logo passaram a ser chamados de “O Trio Mágico”.
Juntos, venceram três Campeonatos Italianos e duas edições da Coppa Italia. Foram os dois últimos títulos da carreira de Giampiero Boniperti, que se aposentou em 1961 ostentando marcas impressionantes: era o maior artilheiro da história da Juve e o jogador que mais vezes tinha vestido a camisa bianconera até aquele momento. A partida de despedida do atacante foi dia 10 de junho, naquele famoso 9 a 1, contra a Inter, que, a mando do presidente Angelo Moratti, entrou em campo com a equipe Primavera.
Apesar da grande história na Velha Senhora, Boniperti é menos lembrado, às vezes, porque não teve tanto sucesso pela seleção italiana. A tragédia que matou o Torino causou um baque na seleção, que de favorita ao título em 1950, caiu na primeira fase em 1950 e 1954 e nem mesmo se classificou para 1958 – todos Mundiais em que Boniperti ainda atuava pela Squadra Azzurra. Pela seleção, apesar dos poucos gols, Boniperti se destacou por ter sido capitão durante oito anos, entre 1952 e 1960.

Ao lado do proprietário Gianni Agnelli, o presidente Boniperti assiste a uma partida da Juventus (imago/Buzzi)
Dez anos após sua aposentadoria, Boniperti foi convidado pela família Agnelli, dona do time de Turim, para assumir a presidência do clube. O presidente Giampiero Boniperti tornou-se, então, um dos mais vitoriosos da história juventina, acumulando 18 títulos. Entre eles estão nove Campeonatos Italianos, uma Liga dos Campeões e um Mundial Interclubes.
Quando deixou o comando do clube, ainda se inseriu na vida política, fazendo parte do Parlamento Europeu entre os anos de 1994 e 1999, elegendo-se pelo Forza Italia, partido do primeiro-ministro Silvio Berlusconi. Lembrado como um dos maiores que já passaram pelos Alpes de Turim, Boniperti ocupou a cadeira de presidente de honra da Juve por mais de uma década. Só deixou o posto quando faleceu, em 18 de junho de 2021, por insuficiência cardíaca, aos 92 anos.
Atualizado em 18 de junho de 2021.
Giampiero Boniperti
Nascimento: 4 de julho de 1928, em Barengo, Itália
Morte: 18 de junho de 2021, em Turim, Itália
Posição: atacante
Clubes: Juventus (1946-61)
Títulos: Serie A (19450, 1952, 1958, 1960 e 1961) e Coppa Italia (1959 e 1960)
Seleção italiana: 38 jogos e 8 gols