Aclamado pelo título mundial em 1994 no comando do Vélez Sarsfield, Carlos Bianchi é, até hoje, uma das maiores figuras do clube de Liniers. Chamado de Virrey (vice-rei), o ex-atacante brilhou nos gramados de El Fortín e construiu carreira sólida como jogador e técnico também na França. Em 1996, ele deixou o futebol argentino para tentar a sorte na Itália. A Roma vinha de três anos com Carlo Mazzone e enxergou que era a hora de fazer algo diferente.
Dessa forma, o treinador desembarcava na capital para tentar tirar o time giallorosso de uma fase incômoda. Sem brigar por títulos desde 1991, quando levantou a Coppa Italia, a Roma se contentava em ficar em quinto ou sexto. Talvez algo dentro da realidade de uma Serie A riquíssima naquele período.
O plano de Franco Sensi era projetar novamente o time com um treinador vencedor da América do Sul. Bianchi contava com um conterrâneo para a tarefa de marcar gols: vivendo seus melhores anos na Itália, Abel Balbo conseguiu ser o artilheiro do time entre 1993 e 1998, uma façanha histórica.
Contudo, só Balbo não dava jeito e a temporada terminou em baixa. Bianchi sequer concluiu a campanha empregado. A fraquíssima campanha na Serie A, somada às eliminações precoces na Coppa Italia e Copa Uefa foram cruciais para a demissão do argentino. E isso nem foi a pior coisa que ele fez enquanto esteve no cargo.
Os bons momentos
O início da campanha foi animador. A Roma passou por Piacenza e Vicenza e parecia estar bem encaminhada para brigar na parte de cima da tabela. Além desses bons momentos, os comandados de Bianchi comemoraram triunfos de 3 a 0 contra o Milan, 4 a 1 contra o Perugia. No mais, os triunfos vieram contra adversários inexpressivos.
A última vez em que os romanistas venceram duas seguidas naquela Serie A foi entre as rodadas 19 e 20, contra Vicenza e Sampdoria, por 2 a 0 e 2 a 1, respectivamente. Com enorme dificuldade para enfrentar os times medianos e pequenos na tabela, a Roma oscilava e não mostrava indícios de que iria se encontrar em campo.
A ideia que teria mudado completamente a história da Roma
Em fevereiro de 1997, durante um torneio amistoso triangular, disputado em Roma, com Ajax e Borussia Mönchengladbach, Bianchi esperava assegurar a contratação de Jari Litmanen, estrela finlandesa que brilhava pelo clube holandês. O plano não era só contratar Litmanen, mas se desfazer de Francesco Totti ao mesmo tempo, despachando-o para a Sampdoria.
Totti, até então, era um jovem muito promissor, mas não estava na lista de favoritos do treinador, que o deixou de fora de grande parte da temporada. O próprio Francesco já pensava na sua vida fora do clube de coração. A preferência de Bianchi por Litmanen não era compartilhada pela diretoria.
Felizmente para a torcida, Totti e os Sensi, tal triangular acabou resolvendo o impasse. Não que o finlandês tivesse ido mal. É que o italiano desequilibrou as partidas e convenceu o proprietário da agremiação definitivamente. O presidente ordenou que o prata da casa permanecesse. E Bianchi, contrariado, não ficou muito tempo na cidade depois disso. Litmanen continuou em Amsterdã e só foi negociado em 1999, com o Barcelona.
Os fracassos e a demissão
Na Coppa Italia, a Roma caiu ainda na segunda eliminatória, perdendo feio para o Cesena, por 3 a 1. Os alvinegros estavam na Serie B e foram rebaixados para a terceira divisão ao fim da temporada. Foi uma vergonha que marcou aquela geração.
Pela Copa Uefa, a decepção aconteceu contra o Karlsruher, da Alemanha, também na segunda eliminatória. Na rodada anterior, duas vitórias tranquilas contra o Spartak Moscou. Em virtude de uma atuação horrorosa em solo alemão, a Roma voltou com 3 a 0 contra no agregado. Abel Balbo fez dois e a prorrogação estava próxima, mas Marc Keller fez o gol dos visitantes aos 83 e eliminou os giallorossi.
Em sétimo lugar e tropeçando semana após semana, Bianchi perdeu o emprego em abril de 1997, dias depois de cair diante do Cagliari, por 2 a 1. O time não engrenava e entrava em um período preocupante de decadência.
Estar no meio da tabela era um milagre: até a 26ª rodada, quando Bianchi caiu, a Roma perdeu oito jogos, empatou nove e venceu outras nove. Restavam oito rodadas para o fim. E assim, cabeças rolaram na capital.
O divisor de águas foi a vitória contra o Verona, na rodada 23. O jogo maluco em casa, diante dos gialloblù, teve duas viradas. A Roma saiu na frente com gol de Luigi Di Biagio, mas viu Filippo Maniero e Diego Caverzan colocarem os visitantes em vantagem aos 35, com dois gols em menos de cinco minutos.
Vincent Candela empatou antes do intervalo e Totti virou novamente aos 56. Candela marcou o quarto e as coisas ainda ficaram tumultuadas quando Pierluigi Orlandini anotou o terceiro do Verona. Era um retrato claríssimo da instabilidade defensiva romanista.
Da vitória contra o Verona até o encerramento da Serie A, foram incríveis sete derrotas, três empates e uma vitória. A responsabilidade pelo fim vexatório foi de Nils Liedholm, que assumiu a tarefa ingrata de apagar o incêndio no clube.
Sem perspectiva de título e passando bem longe até mesmo da vaga na Copa Uefa, a Roma concluiu o campeonato apenas quatro pontos acima da zona de rebaixamento, assustando a torcida. O estrago deixado pela Era Bianchi foi enorme. E Liedholm, que tanto venceu no passado, saiu pela porta dos fundos, dando lugar a outro treinador marcante: Zdenek Zeman. Mas isso é assunto para outro dia…
Carlos Arcecio Bianchi
Nascimento: 26 de abril de 1949, em Buenos Aires, Argentina
Clubes como jogador: Vélez Sarsfield (1967-74 e 1980-85), Reims (1974-77 e 1984-85), Paris Saint-Germain (1977-79) e Strasbourg (1979-80)
Títulos como jogador: Campeonato Argentino (1968)
Clubes como treinador: Reims (1985-88), Nice (1989-90), Vélez Sarsfield (1993-96), Roma (1996-97), Boca Juniors (1998-2001, 2003-04 e 2013-14) e Atlético de Madrid (2005-06)
Títulos como treinador: Campeonato Argentino (1993, 1995, 1996, 1998, 1999, 2000 e 2003), Copa Libertadores (1994, 2000, 2001 e 2003), Mundial Interclubes (1994, 2000 e 2003) e Copa Interamericana (1994)
Seleção argentina: 14 jogos e sete gols
Grande decisão de Senci