No mundo do futebol tornou-se comum um jogador atuar por um clube que lhe dê mais dinheiro ou status. Definitivamente este não é o caso de Angelo Di Livio. O soldadinho de chumbo que conquistou a Europa com a Juventus ganhou fama de leal por seu comprometimento com a Fiorentina, quando não abandonou a equipe no momento mais difícil de sua história.
Di Livio nasceu em Roma, mas sequer entrou em campo pela primeira equipe giallorossa. Após subir da base com o título da Copa Viareggio em 1983, ele peregrinou pela Serie C1 por dois anos, vestindo as camisas de Reggiana e Nocerina. O meio-campista acertou com o Perugia, em 1988, e ajudou o time a conseguir a promoção à Serie C1. Os três gols marcados e as boas atuações naquela temporada fizeram com que os biancorossi investissem no jogador, que foi comprado em definitivo, mas passou apenas mais uma época no clube.
Ao fim daquele ano, Di Livio chamou a atenção do presidente Marino Puggina e se transferiu para o Padova. No clube padovano, Di Livio caiu no gosto dos cinco treinadores que o comandaram e atuou em 138 partidas na Serie B, durante os quatro anos que ficou no clube. Se não conseguiu a promoção para a primeira divisão com o clube, que bateu na trave duas vezes e terminou as competições na quinta colocação, Di Livio iria jogar a Serie A pelo clube mais vitorioso da Itália, a Juventus.
Giovanni Trapattoni pediu a contratação daquele meio-campista com extrema inteligência tática e que não parava de se movimentar um minuto sequer durante os jogos. O debute na Serie A, apesar de tardio – Di Livio já tinha 27 anos -, foi recompensado com quase todos os títulos de sua carreira em seis anos de Juventus.
Seu primeiro ano em Turim, no entanto, começou com um mau presságio: sua estreia aconteceu diante da Roma, em setembro de 1993, em jogo perdido pela Juve. O resultado fez falta no fim do campeonato, pois a Velha Senhora ficou três pontos atrás do campeão Milan.
A sua história vitoriosa com a camisa bianconera começou na época seguinte. Marcello Lippi chegou para o lugar de Trapattoni e manteve Di Livio como titular. Indispensável, se tornou Il Soldatino (o soldadinho, em tradução literal) por ser aquele jogador leal que sempre se entregava em prol da equipe. “Este era o meu apelido da sorte. Todos me chamam assim, inclusive minha filha Alessandra”, disse Di Livio ao site TuttoJuve, em agosto de 2010.
A parceria com Ravanelli e Vialli rendeu todos os títulos possíveis em solo nacional (Serie A, Coppa Italia e Supercopa) e a manutenção dos jogadores para a temporada seguinte foi vital para a conquista mais importante de sua carreira: a Liga dos Campeões da Europa. Ele, porém, entrou apenas no segundo tempo da final conquistada nos pênaltis contra o Ajax de Louis van Gaal.
Se foi suplente na final da Europa, Di Livio jogou como titular na final do Mundial Interclubes conquistado pela Juventus, depois de vitória por 1 a 0 sobre o River Plate. Outra competição nacional que o centro-médio comemorou foi a Supercopa da Uefa, conquistada com um massacre sobre o Paris Saint-Germain: os bianconeri trucidaram os franceses, no Parc des Princes, e saíram vitoriosos por 6 a 1. No jogo de volta, 3 a 1 e mais um troféu internacional.
A diferença do Di Livio do Padova para o da Juventus era clara: o posicionamento, mais recuado, também influía na quantidade de gols marcados. O centro-médio ainda foi bicampeão italiano, mas contabilizou mais gols em um ano de Serie B do que em seis de Juventus.
Nos títulos consecutivos de 1996-97 e 1997-98, ele balançou a rede apenas uma vez: contra o Vicenza, em casa, em março de 1997. O gol de empate marcado aos 36 minutos do segundo tempo contra o Bologna foi o último marcado com a camisa bianconera. A prorrogação de contrato nunca foi discutida e Di Livio, que gostaria de permanecer na Juventus, descobriu na Fiorentina a sua nova casa.
O ainda iniciante técnico Roberto Mancini nem cogitou deixá-lo no banco de reservas em sua primeira temporada pelo clube, que terminou a Serie A na sétima posição. Na época seguinte, porém, o jogador conquistou o seu primeiro título pelo clube florentino e o último da carreira: derrotou o Parma de Thuram, Cannavaro e Di Vaio na Coppa Italia.
Com a virada do século, no entanto, problemas societários começaram a assolar a Fiorentina. O Tribunal Civil de Florença iniciou o processo de falência contra o clube no verão de 2001. Gabriel Batistuta, Rui Costa e Francesco Toldo foram postos à venda, mas o clube estava em uma grave crise orçamentária: os jogadores não estavam recebendo salários e a crise inevitavelmente explodiu em campo, com a 17ª colocação e o rebaixamento.
A incapacidade de inscrição na Serie B por conta dos problemas financeiros levou o clube a decretar falência e pedir a refundação, a partir das divisões inferiores. Desta maneira, em agosto de 2002 foi fundada a Florentia Viola, que disputaria a Serie C2. Um dos jogadores que ficaram foi Di Livio, que decretou fidelidade ao clube e foi o capitão da equipe no inferno do futebol semiprofissional da Bota.
O ídolo viola ainda disputou uma Serie B e A pelo clube, que em apenas dois anos, já estava de volta à elite do futebol nacional, depois da compra do clube pelos irmãos Della Valle. Se aposentou aos 39 anos, dando sua contribuição em 12 jogos da Serie A, mas participando ativamente da reconstrução do clube fora das quatro linhas.
Pela seleção italiana, Di Livio soma 40 partidas internacionais e nenhum gol. Sua primeira convocação aconteceu em 1995, para partida contra a Eslovênia. Depois, o meia foi integrado à Squadra Azzurra nos Campeonatos Europeus de 1996 e 2000, além das Copas do Mundo de 1998 e 2002.
O ex-atleta ainda retornou à Roma, para treinar equipes de categoria de base do clube giallorosso de 2006 a 2008. Depois, juntou-se a Marcello Lippi no estafe que viajou à Alemanha para a disputa da Copa do Mundo de 2010. Di Livio também comanda uma escolinha de futebol, em Roma, e trabalhou como comentarista para diversos canais de televisão, rádio e jornais, a exemplo de Dahlia TV, Rai, Sky Sport e Gazzetta dello Sport.
Angelo Di Livio
Nascimento: 26 de julho de 1966, em Roma, Itália
Posição: meio-campista
Seleção italiana: 40 jogos
Clubes: Reggiana (1985-86), Nocerina (1986-87), Perugia (1987-89), Padova (1989-93), Juventus (1993-99), Fiorentina (1999-2005)
Títulos: Copa Viareggio (1983), Serie A (1995, 1997 e 1998), Coppa Italia (1995 e 2001), Supercopa Italiana (1995 e 1997), Liga dos Campeões (1996), Supercopa Uefa (1996) e Mundial de Clubes (1996)