Serie A

Balla, balla…

Ficcadenti pode apenas olhar para o futuro: foi demitido por puro capricho do presidente Cellino (Getty Images)

Ballare, em italiano, significa dançar. E, na dança dos técnicos, Davide Ballardini sempre está presente, como estepe, pronto para ser contratado por um time desesperado. Desta vez, o técnico romanholo chega ao Cagliari – que está na décima posição, com 13 pontos – e fazia um campeonato mais do que digno, sob o comando de Massimo Ficcadenti. Poderia parecer anormal, se não fosse na Itália. Entre os campeonatos de ponta da Europa, o italiano é o que tem maior média de demissões de treinadores. Apenas nesta temporada, seis times já mudaram de treinadores, com apenas 10 rodadas disputadas. É um misto de falta de planejamento e falta de paciência.

No caso do Cagliari, o motivo da demissão de Ficcadenti tem nome e sobrenome: Massimo Cellino. O excêntrico presidente cagliaritano demite treinadores como troca de roupa. Na presidência do clube desde 1991, já trocou de treinador 21 vezes – fora os retornos daqueles que ainda tinham contrato com o clube. Cellino é tão incongruente que chegou a demitir Massimiliano Allegri – o mesmo que seria campeão pelo Milan, no ano seguinte – porque o time já havia se salvado do rebaixamento e passou por um período de cinco jogos sem vitória. 

Antes do início deste campeonato, demitiu Roberto Donadoni, que havia feito ótima campanha na temporada anterior, por divergências quanto ao projeto técnico. E agora demitiu Massimo Ficcadenti, um treinador que está longe de ser dos melhores, mas que vinha fazendo um dos três melhores trabalhos em 2011-12. Ficcadenti, coitado, agora não poderá mais treinar outra equipe italiana neste campeonato e ainda corre o risco de ser contatado mais uma vez por Cellino e voltar ao cargo, já que ainda tem contrato com os sardos. Ballardini, por sua vez, vai para sua terceira passagem no clube após seis anos. Se não deu certo antes, por que daria agora?

A outra demissão que aconteceu nesta semana já vinha sendo cantada há tempos. Sinisa Mihajlovic comeu o pão que o diabo amassou, em Florença. Ele, que é um dos técnicos mais jovens da Itália, vinha fazendo o que podia com um elenco mediano, pincelado com um ou outro ótimo jogador, em meio a uma crise societária. Entre os principais jogadores do clube, apenas Jovetic não manifestou desejo de deixar a viola – e até renovou contrato até 2016, no fim de outubro. 

O capítulo Montolivo era outro problema à parte: o capitão havia perdido a braçadeira por declarar que queria deixar a Fiorentina e era vaiado pela torcida em todos os jogos que aconteciam em casa, no Artemio Franchi. Mihajlovic pedia encarecidamente que os torcedores não vaiassem Montolivo e a equipe, de maneira geral, porque isso atrapalhava a concentração dos jogadores e trazia problemas extracampo para dentro do gramado, o que comprometia a performance. Como parte deles reagiu? Parou de vaiar o ex-capitão e direcionou as críticas ao sérvio, que foi vítima até mesmo de coros racistas e xenofóbicos. A diretoria não parecia apoiá-lo completamente, o que foi confirmado com a demissão desta semana. Atualmente, a Fiorentina ocupa a 13ª colocação, com 12 pontos.

A Fiorentina talvez saia até ganhando tecnicamente, já que o substituto de Mihajlovic é Delio Rossi, um dos técnicos mais experientes do país, reconhecido por levar times médios – ou de elenco mediano, como a Lazio da métade desta década – a fazer ótimas temporadas. Rossi é um treinador que não faz distinções entre a vontade de ir bem seja no campeonato seja na Coppa Italia, única chance de título para a imensa maioria das equipes do Belpaese. Esta valorização pode ser importante para que a Fiorentina volte a conquistar um título após pouco mais de dez anos. Se é que Rossi vai resistir à crise societária, disfarçada pela alta diretoria – e, agora, ampliada pelo veredito que condena Andrea Della Valle a um ano de cadeia, por envolvimento no Calciopoli – e não será demitido no meio do caminho. Afinal, na Itália, não importa o que esteja acontecendo: a culpa é sempre do treinador.

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