Verón é um raros dos casos de jogador que soube se adaptar à idade. Com o tempo, deixou ser um jogador explosivo, que sempre aparecia na frente da área adversária para marcar gols e passou a jogar mais recuado, se utilizando de sua técnica para decidir as partidas com suas assistências e com a cadência do jogo. Na sua carreira, iniciada e concluída ontem, no Estudiantes de La Plata, sem dúvidas a passagem de sete anos pela Itália foi um capítulo especial na carreira de “La Brujita”, já que foi lá que ele conquistou o primeiro título na carreira e ganhou destaque mundial.
Filho de Juan Ramón Verón, “La Bruja” – daí vem seu apelido -, jogador campeão da Libertadores e do mundo pelo Estudiantes, no final da década de 60, Verón começou a trajetória no futebol pelo clube que consagrou seu pai. À época, o jovem meia ajudou a recolocar o time de La Plata na primeira divisão argentina e se transferiu para o gigante Boca Juniors, onde teve o prazer de dividir os gramados com Diego Maradona, em final de carreira.
Jogar no gigante sul-americano lhe levou à seleção e, indiretamente, o colocou na Itália. Pois foi logo após a estréia pela albiceleste que Sven-Goran Eriksson voltou seus olhos para “La Brujita” e o levou para a Sampdoria. À época, o clube contava com outros jogadores em situação semelhante à de Verón, ou seja, jovens com um futuro brilhante pela frente, como Clarence Seedorf e Ariel Ortega. Na temporada de estreia, o argentino fez cinco gols em 32 jogos e ajudou a equipe a conseguir um ótimo sexto lugar e uma vaga na Copa Uefa. No ano seguinte, balançou as redes apenas duas vezes, em uma temporada mediana da Samp, mas mesmo assim foi à França para disputar a Copa do Mundo como titular da albiceleste.
Após um Mundial em que sua Argentina parou nas quartas de final frente à Holanda, o meia se transferiu para o poderoso Parma, da Parmalat – em um mercado no qual a Samp desmanchava, anunciando a queda à Serie B no fim da temporada. Pelos gialloblù, o argentino levantou sua primeira taça continental: a Copa Uefa. Verón marcou um gol durante a campanha europeia e, na decisão contra o Olympique de Marseille, deu a assistência para o último do gol da partida, anotado por Enrico Chiesa. Além disso, os crociati venceram a Coppa Italia, competição na qual ele viu o compatriota Crespo decidir o título contra a Fiorentina de Gabriel Batistuta.
As conquistas valorizaram Verón, que logo se transferiu para a Lazio, por incríveis 18 milhões de libras, para ganhar o equivalente a 50 mil libras por semana. “La Brujita” honrou o dinheiro investido em seu futebol. Na temporada de estreia foram 31 jogos e oito gols – seis deles em bolas paradas, inclusive um gol olímpico em um 4 a 0 frente ao Verona. Verón ainda marcou um em uma difícil vitória por 2 a 1 no dérbi da capital, contra a Roma, na reta final do campeonato que acabou vencido pela própria Lazio.
Os aquilotti contavam com um grande time. Entre os nomes de destaque estavam Sinisa Mihajlovic, Roberto Sensini, Alessandro Nesta, Matías Almeyda, Diego Simeone, Pavel Nedved, Sergio Conceição, Iván de la Peña, Marcelo Salas, Simone Inzaghi e Fabrizio Ravanelli. Os oito gols de Verón ajudaram a guiar a Lazio ao scudetto e o meia, já jogando mais avançado, foi o vice-artilheiro laziale na conquista, ficando atrás apenas de Marcelo Salas. O Olímpico de Roma teve destaque na campanha biancocelesti: como mandante, o time capitolino não perdeu uma partida sequer. A Lazio ainda venceria a Coppa Italia (segunda em sua carreira) e, no início de 2000-01, confirmaria a breve hegemonia com o título da Supercoppa.
Durante o caminho para os títulos, “La Brujita” se envolveu em uma polêmica em torno da obtenção de seu passaporte italiano. Mas, mesmo com toda a confusão, o argentino não foi punido, já que realmente tinha descendência italiana. Apenas a sua agente Elena Tedaldi acabou sancionada, por forjar alguns documentos falso: ficou presa por 15 meses. Verón se manteve mais uma temporada na capital, ajudou a equipe a ser terceira colocada na Serie A e, mais uma vez, se classificar à Liga dos Campeões. Ao fim do ano, se transferiu para o Manchester United por quase 30 milhões de libras – à época, a transferência mais cara da história envolvendo um clube inglês.
Na Inglaterra, o argentino apenas flertou com o sucesso e, como coadjuvante, venceu um título inglês em 2002-03. No United, não encontrou muito espaço, mas fez uma boa Liga dos Campeões em 2002-03. A série de lesões no joelho direito – que o obrigariam a usar uma proteção no restante da carreira -, também não o fazia ter continuidade. Em 2003, transferiu-se por 15 milhões de libras ao Chelsea, onde teve desempenho ainda pior: “La Brujita” foi uma das primeiras contratações da era Abramovich, mas não alcançou o sucesso. A solução para Verón foi o retorno à Itália, agora por empréstimo e para jogar na Inter.
Em Milão, ele reencontrou o sucesso e voltou a ser campeão. Os nerazzurri viviam um jejum de sete anos sem títulos e com Verón jogando cinco das seis partidas da equipe na Coppa Italia, a Inter retomou o caminho das conquistas. A partir desta vitória, a Beneamata passou a dominar o futebol italiano, hegemonia que foi quebrada em 2010-11 pelo rival Milan.
Verón, que ainda conquistou mais uma Coppa Italia pela equipe, alcançando os quatro títulos do torneio, também fez parte do grupo que ficou com o título da Serie A 2005-06, depois do escândalo Calciopoli, que cassou o título da Juventus. Porém, a mais importante das 74 partidas e o mais decisivo dos 4 gols que fez em nerazzurro aconteceu na Supercoppa de 2005, quando, no 1 a 0 sobre a Juventus, ele deslocou Abbiati, após contra-ataque armado aos 5 minutos de acréscimos do segundo tempo.
Depois de duas temporadas em que reencontrou seu futebol, Verón decidiu retornar à Argentina. Fora do grupo da seleção nacional que jogou a Copa de 2006 – em 2002, ele havia sido considerado um dos responsáveis pela eliminação da albiceleste na fase de grupos do torneio, no chamado grupo da mort, que tinha ainda Inglaterra, Suécia e Nigéria -, o argentino já havia escolhido seu destino: o Estudiantes, para repetir as façanhas do pai. Aceitando a vontade do jogador, o Chelsea, que ainda detinha seu passe, não colocou barreiras para emprestá-lo ao time de La Plata por um ano, até que seu contrato acabasse.
Na Argentina, Verón voltou a ser gigante: venceu duas vezes o Torneio Apertura, conduziu o Estudiantes à final da Copa Sul-Americana em 2008 e venceu a Libertadores da América em 2009. Após levantar a taça do torneio continental como capitão, repetindo o feito de seu pai, Verón afirmou: “Eu trocaria tudo que conquistei por este título”.
Jogando mais recuado, como maestro dos pincharratas e, praticamente, perfeito nos passes, “La Brujita” foi eleito pelo jornal uruguaio El País como o melhor futebolista do continente por duas vezes consecutivas: em 2008 e 2009. Verón ainda desbancou Lionel Messi em 2006 e 2009, sendo eleito melhor jogador argentino daqueles anos. Os bons jogos pelo Estudiantes garantiram a sua participação na Copa do Mundo de 2010, onde foi titular na maior parte do torneio e naufragou junto com a Argentina.
O amor de “La Brujita” pela equipe de La Plata ficou provado em 2009, quando renovou seu contrato para ganhar 40% menos – postura totalmente atípica para as estrelas do futebol atual. Sobre isso, o capitão dos pincharratas afirmou: “este dinheiro pode ser investido nos garotos, que mantêm o clube vivo”.
Recentemente, as lesões vinham incomodando ainda mais o craque, que decidiu se aposentar no fim de 2011. Porém, ele reconsiderou sua decisão e deixou o futebol pela primeira aos 37 anos, após o final do Apertura de 2012, em partida contra o Unión. A emoção, no entanto, ficou reservada para a partida do fim de semana anterior, a última em La Plata, frente ao Olimpo: com placa e cantos da torcida, Verón mereceu a ovação por toda a sua vitoriosa carreira. Na sequência, contudo, o meia retornou aos gramados outras vezes, pelo próprio Estudiantes – clube do qual se tornaria presidente – e pelos pequeninos Coronel Brandsen e Estrella de Berisso.
Juan Sebastián Verón
Nascimento: 9 de março de 1975, em La Plata, Argentina
Posição: meio-campista
Clubes como jogador: Estudiantes (1993-1996, 2006-12, 2013-14 e 2017), Boca Juniors (1996), Sampdoria (1996-98), Parma (1998-99), Lazio (1999-2001), Manchester United (2001-03), Chelsea (2003-04 e 2007), Inter (2004-06), Coronel Brandsen (2012) e Estrella de Berisso (2016)
Títulos: Prata Olímpica (1996), Copa Uefa (1999), Coppa Italia (1999, 2000, 2005 e 2006), Supercopa Uefa (1999), Serie A (2000 e 2006), Supercopa Italiana (2000 e 2005), Premier League (2003), Campeonato Argentino (Apertura; 2006 e 2010) e Copa Libertadores (2009)
Seleção argentina: 73 partidas e nove gols
Nossa, o texto de vocês está de parabéns!!
Bem que gostaríamos de ter feito um especial sobre ele nesse fim de semana (em que Gabriel Milito também parou), mas tivemos a concorrência da reta final do Clausura (Boca e outros dois na briga), assim como a da segunda divisão (River Plate e outros três lutavam por título e acesso direto) e rebaixamentos…
Certamente um novo gatilho virá. Logicamente, daremos ênfase maior em sua passagem pelo futebol argentino. Prévias podem ser vistas neste que publicamos em janeiro… http://www.futebolportenho.com.br/2012/01/14/familiares-na-selecao-argentina-parte-7-pais-e-filhos-i/
Recomendarei esse de vocês aos nossos leitores que se interessarem também na vitoriosa trajetória da Brujita na Bota 🙂
Ah, uma dúvida: essa camisa da Lazio seria uma referência à seleção argentina? Afinal, por aqueles tempos passaram por lá também Crespo, Simeone, Claudio López, Almeyda, Chamot…
Abraços!
Caio Brandão, colaborador do Futebol Portenho
Obrigado, Caio.
Abraço em nome de toda a equipe!