Para muitos, Fabio Capello representa um tipo de homem inflexível, que só se preocupa com os resultados obtidos. Mas se os resultados são estes que o treinador (e o jogador) tem sido capaz de conseguir na carreira, é complicado não lhe dar razão. Por onde passou, Capello provou ser um dos poucos capazes de passar para qualquer equipe a tal da “mentalidade vencedora”, além da capacidade de saber lapidar jovens campeões. O goriziano também foi um dos grandes responsáveis por reavivar a rivalidade entre Juventus e Roma na década de 2000, ao deixar a capital em 2004. E essa nem havia sido sua primeira vez.
Como meio-campista, sua estreia veio pela Spal, na Serie B 1964-65. Se não esbanjava habilidade, ao menos já se destacava pela visão de jogo que guarda até hoje. Importante para o time, vestiu biancazzurro por três anos, até ser comprado pela Roma. Na capital, encontrou Helenio Herrera, aquele que seria seu mentor, e com ele venceu seu primeiro título: uma Coppa Italia.
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A torcida confiava muito naquele meia de 23 anos e tanta personalidade, mas a mudança na presidência escancarou os problemas financeiros e Capello acabou negociado com a Juventus enquanto a torcida insurgia contra Alvaro Marchini. Lá, abriu uma série de sete anos de sucesso que contou com três scudetti e a titularidade na seleção italiana, pela qual marcou o gol da histórica vitória contra a Inglaterra, em Wembley. Da Juve, foi para o Milan, e por lá se aposentou.
Na década de 1980, quase não se ouviu falar de Capello no futebol. Trabalhou com hóquei, marketing e ainda dirigiu o setor juvenil do Milan a partir de 1985. Em 1987 até comandou o time principal como interino nas seis últimas rodadas do campeonato, depois da demissão de Nils Liedholm. Em 1991, voltou ao futebol profissional com uma missão que parecia impossível, a de manter o nível do Milan de Arrigo Sacchi. Inexperiente e trabalhando então internamente no clube de Berlusconi, a mídia decretou: apenas colocaria em campo o que a direção mandasse. Qualquer semelhança com o início de Leonardo pelo Diavolo não é mera coincidência.
Em cinco anos, mostrou quem estava certo. Remontou o time ao decorrer dos anos, sempre se readaptando ao que tinha em mãos. Assim, venceu uma Liga dos Campeões e quatro vezes o scudetto, além de alguns troféus menores. Partiu para o Real Madrid e venceu a Liga Espanhola em sua primeira tentativa, consagrando Raúl. Os espanhóis o idolatraram, lhe alcunharam Don Fabio, mas Capello resolveu voltar a “seu” Milan para tentar salvá-lo do início de um curto período sabático. Colheu maus resultados, terminou a Serie A em décimo e resolveu passar um ano longe dos gramados, apenas comentando futebol na televisão.
Em maio de 1999, veio mais uma das tantas guinadas em sua carreira. Franco Sensi, presidente histórico da Roma, decidira abrir um ciclo vitorioso em seu time do coração e decidiu que seria Capello o homem ideal para comandar o projeto. O começo não poderia ser pior.
Com a Lazio campeã e a Roma em sexto lugar, o técnico não escondia seus problemas com Montella e os torcedores clamavam por um retorno do checo Zdenek Zeman. Sensi e Franco Baldini (diretor esportivo) responderam no mercado, com o brasileiro Emerson e os argentinos Samuel e Batistuta. Ao fim da temporada seguinte, a Roma conseguiu seu terceiro e histórico scudetto, dando a Capello seu oitavo campeonato nacional em seis disputados – logo, o treinador mais vitorioso da década.
Imprensa e torcida apontavam: era Capello o diferencial do time, que ainda seria vice-campeão duas vezes em seu comando. Nada mal conseguir tais resultados num lugar em que o próprio diria, mais tarde, ser a cidade mais difícil de se trabalhar futebol em toda a Itália. Falando em declarações, naquela época afirmou que “treinar a Juventus deveria ser o sonho de uma vida, mas não da minha”.
Em 2004, Capello renovou seu contrato, jurou lealdade à Roma e, enfim, fechou com a Juventus. Pela segunda vez trocava Roma por Turim e, por esta, até hoje não foi perdoado pelos giallorossi. Até mesmo Franco Tancredi (então preparador de goleiros), um dos ídolos mais amados da história da Roma, foi acusado de traição ao acompanhá-lo na mudança.
Durou só dois anos na Juve e venceu os dois scudetti que disputou, ainda que ambos tenham sido revogados mais tarde, após os escândalos de corrupção. O Calciopoli também motivou Capello a deixar o time e voltar para o Real Madrid, onde venceu pela segunda vez com dez anos de distância.
Ainda que vencendo e gerenciando tão bem o complicado vestiário merengue, a torcida lamentava a baixa qualidade do jogo do time e, assim, Don Fabio viu a primeira demissão de sua vitoriosa carreira. O período desempregado durou pouco e, no fim de 2007, assumiu a seleção inglesa, na qual colheu bons resultados na expectativa de sua primeira Copa do Mundo – terminada com mais um fracasso britânico. Capello ainda comandou a Rússia no Mundial de 2014 e se aposentou após uma experiência pelo Jiangsu Suning, da China.
Fabio Capello
Nascimento: 18 de junho de 1946, em San Canzian d’Isonzo, Itália
Carreira como treinador: Milan (1987, 1991-96 e 1997-98), Real Madrid (1996-97 e 2006-07), Roma (1999-2004), Juventus (2004-06), Inglaterra (2017-12), Rússia (2012-15) e Jiangsu Suning (2015-16)
Títulos como treinador: Serie A (1992, 1993, 1994, 1996 e 2001), Supercopa Italiana (1992, 1993, 1994 e 2001), Liga dos Campeões (1994), Supercopa Uefa (1994) e La Liga (1997 e 2007)
Sempre textos excelentes. Vc são muito bons, continuem assim!
[…] anos seguintes, sob o comando de Fabio Capello, Gigi ganharia mais duas edições da Serie A, em 2005 e 2006, porém, sofreria uma lesão no […]