Este cara foi responsável por 359 negociações nas últimas temporadas do Genoa. Eis Enrico Preziosi, o homem de negócios (Sky Sport)
Conversei com um parceiro profissional de Wagner Ribeiro na semana passada. O advogado cuida da carreira do menino Jean Chera. Aproveitei a oportunidade para dizer que, se fosse jogador, o último clube que jogaria na Itália era o Genoa devido ao alto número de transferências que faz por janela. O profissional já havia se reunido com Enrico Preziosi em sua casa, na Suíça, e, na ocasião, o presidente do clube afirmou que os rossoblù é nada mais que um clube trampolim. Caso o Genoa lute por competição europeia, ele dá um jeito de vender alguns jogadores. Eis o panorama do Grifone: time com recursos financeiros que trabalha com resultados individuais a curto prazo e, talvez – apenas talvez -, mude seu status num futuro próximo.
Esta temporada, a de 2012-13, é a sexta consecutiva do Genoa na Serie A. Todas elas com Preziosi na cadeira estofada da presidência. Dono do grupo Giochi Preziosi, do ramo de brinquedos, ele assumiu o Genoa em 2003, logo após o clube ter sido rebaixado à Serie C e acabar salvo pela polêmica decisão da FIGC, que expandiu a segunda divisão para 24 clubes – o Caso Catania. Dois anos depois, quando o Grifone conseguiu o título da Serie B, foi relegado à terceira divisão, pois, em julgamento, declararam-no culpado ao manipular o resultado da partida final contra o Venezia.
O Genoa é o clube mais vitorioso da Itália no pré-Primeira Guerra Mundial. São sete títulos nacionais até 1915 – outros dois foram conquistados entre 1922 e 24. Mais um scudetto conquistado daria o direito ao clube de ter uma estrela no peito. Eis que as glórias ficaram mesmo no passado. Desde que retornou à primeira divisão, o meio da tabela é praticamente moradia rossoblù.
Foram apenas duas exceções: em 2008-09, o Genoa quase alcançou a Liga dos Campeões se não fosse as duas vitórias a mais que a Fiorentina conquistou no torneio e, com os mesmos 58 pontos da viola, acabou na Liga Europa. Diego Milito e Thiago Motta foram incluídos na seleção do campeonato. Na última temporada, o Genoa teve a pior defesa da competição e lutou contra o rebaixamento; cenas lamentáveis ocorreram no Marassi e o técnico Alberto Malesani foi demitido duas vezes.
Mas é para tanto? Por que o multicampeão do início do século XX não luta pelo título? Sonhando um pouco mais baixo, por uma Liga Europa? Simples: porque o presidente não quer. Enrico Preziosi, empresário riquíssimo, não quer seu time batalhando contra os grandes. Scudetto é ilusão, utopia. O Rei do Mercado, como é conhecido, não se interessa como o time é no papel. O Genoa não passa de um clube trampolim, que fornece jogadores para Milan – Preziosi é amiguíssimo de Berlusconi e tem boas relações com Moratti – e Inter, nos últimos anos: por exemplo, Constant, Acerbi e Boateng para os
rossoneri e Ranocchia, Motta, Milito e Palacio, aos
nerazurri.
As mudanças no elenco são muitas e não há técnico que consiga entrosar um bando de jogadores. Se o grifone consegue melhorar um pouco no campeonato, o presidente vai lá e vende algumas peças; se o jogador não emplaca de primeira, acaba emprestado ou negociado com clubes menores. Raros jogadores, como Marco Rossi, conseguem permanecer no clube por mais de duas, três temporadas. Se por um lado é ruim dentro de campo, é ótimo fora. As transferências de posses mantêm as finanças em dia. Todo jogador está à venda pelo preço certo, e este valor será reinvestido em alternativas baratas.
O constante entra-e-sai de atletas foi um dos motivos da saída do diretor Pietro Lo Monaco, antes do começo da temporada. No Catania, o dirigente sanou as dívidas do clube, balanceou o caixa e foi responsável pelas chegadas de bons jogadores como Pablo Barrientos, Mariano Izco, Maxi López e Alejandro Gómez. O seu pensamento sempre foi o trabalho a longo prazo; exatamente o oposto das ideias centralizadas de Preziosi. Lo Monaco não durou dois meses na Ligúria e saiu ouvindo do presidente que, se quisesse trabalho a longo prazo, fizesse suas malas e procurasse outro clube. Sabe qual foi a primeira transação após a saída do diretor? O Genoa mandou Gilardino para o Bologna e trouxe Borriello de volta.
O que incomoda os torcedores são as campanhas de meio de tabela. Quando voltou à Serie A com a 3ª posição em 2006-07, conseguiu, em ordem, 10°, 5°, 9°, 10° e 17° lugares na primeira divisão. É bom lembrar o que aconteceu no estádio Luigi Ferraris, no dia 23 de abril. Na ocasião, o Genoa era massacrado pelo ótimo Siena de Giuseppe Sannino. Era batalha contra o rebaixamento.
Quando o jogo estava 4 a 0 para a equipe bianconera, aos 8 minutos do segundo tempo, o árbitro Paolo Tagliavento interrompeu a partida porque os torcedores ultrà do Genoa atiraram sinalizadores em campo. Eles exigiam, pendurados no gradil, que os jogadores tirassem suas camisas e as entregassem. Os atletas não seriam dignos de vesti-las. Este foi um ato isolado de uma parcela radical da torcida, mas que provoca a reflexão sobre os sucateados estádios da Bota e seu campeonato, sem credibilidade mediante as manipulações de resultados.
Mas o intuito do texto nem é falar sobre futebol. Até porque isso é o que menos importa para Preziosi. Dinheiro, dinheiro e dinheiro. Disso ele entende. Nos últimos cinco anos, o clube gastou 272 milhões de euros – e 264 mi entraram nos cofres. E se os torcedores quiserem um time que luta lá em cima, juntamente com Juventus, Napoli, Milan, que venha um sheik do Oriente Médio, oras. “Comigo, o Genoa estará sempre na Serie A e se isso não for o suficiente para alguns torcedores, eles que procurem um sheik catari”, disse o presidente, citado nesta
boa análise financeira feita pelo Swiss Ramble (em inglês).
No entanto, Preziosi diz uma meia-verdade. Usando um modelo de negócio semelhante, a Udinese também é sempre muito ativa nos mercados, negocia muitos jogadores e está sempre de elenco renovado. Desde que Giampaolo Pozzo assumiu a presidência do clube, em 1986, a Udinese chegou à Liga dos Campeões três vezes, além de outras nove à Copa da Uefa ou Liga Europa.
Para crescer, o Genoa precisa aumentar suas receitas com um novo ou reformado estádio (aqui, nem cogito a hipótese de uma arena multiuso) e diminuir o piso salarial – o que as equipes de Milão têm feito nesta época. A entrada e saída de jogadores é o que mantém o clube estável, sem dívidas, mas o esporte é muito mais do que isso. É emoção. É amor. É paixão. E o que Preziosi e seu trabalho a curto prazo têm feito fere as chances do grifone progredir dentro das quatro linhas.