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Robert Jarni precisou deixar o futebol italiano para deslanchar na histórica geração croata

No mercado de outono de 1991-92, o Bari queria mais reforços para lutar contra o rebaixamento. As contratações do começo da temporada não engrenaram. O australiano Frank Farina, goleador do Club Brugge, até foi liberado em janeiro. Os biancorossi precisavam ir além e, assim, buscaram dois jovens croatas: Zvonimir Boban, por empréstimo do Milan, e Robert Jarni, contratado em definitivo junto ao Hajduk Split.

Boban e Jarni eram dois jovens na mais tenra idade e chamavam a atenção do continente. Em 1987, a dupla croata havia sido campeã mundial sub-20 pela Iugoslávia, antes da dissolução do país. Quando foi contratado pelo Bari, em novembro de 1991, o lateral esquerdo Jarni já tinha a experiência de ter defendido o Hajduk Split por cinco anos e jogos de seleção por dois países – Iugoslávia, na Copa do Mundo de 1990, e Croácia.

O ex-lateral caiu nas graças da torcida apuliana em pouco tempo. Sozinho, ele parecia levar um novo ânimo ao time treinado por Zbigniew Boniek. A equipe, teoricamente, foi montada para incomodar desde o início da época, mas somente David Platt se mostrava em alta – era para ser um ano, também, ótimo para João Paulo, que estava no auge da carreira, mas ele ficou 18 meses fora de ação após uma fratura na perna.

Além de mostrar determinação e técnica, Jarni era um trem de carga, levando a bola pelo lado esquerdo. Um lateral ambidestro moderno, com extrema qualidade para tabelar e avançar atrás da marcação. O croata foi um dos poucos destaques de uma equipe confusa e que acabou a temporada com o rebaixamento à segunda divisão. Desde a sua chegada, o croata só não atuou no último jogo da temporada, por suspensão. De resto, foi titular em 24 partidas, nas quais não foi substituído.

Ao contrário de Platt, Jarni rejeitou ofertas e permaneceu em Bari para a Serie B. Ele estava motivado pela chance de fazer o clube retornar à divisão de elite. O problema agora, no entanto, foi condicionado por uma temporada muito mais complicada que a anterior. O técnico Sebastião Lazaroni não conseguiu conduzir o time, foi demitido durante a parada de janeiro e Giuseppe Materazzi também não foi longe: os galos permaneceriam fora da A por mais um ano.

O lateral voltou à elite com a venda acordada entre Bari e Torino. De forma coletiva, finalmente o croata conseguiu atuar em um grupo mais ajeitado que os da experiência anterior no Belpaese. Por outro lado, o presidente do Toro, Gian Mauro Borsano, começava a ser investigado por fraudes. Jarni, assim, participou de uma campanha sem grandes sustos: oitavo lugar na Serie A (a dois pontos de uma vaga na Copa Uefa) e uma semifinal de Coppa Italia. O Torino foi eliminado pelo Ancona, que seria massacrado pela Sampdoria na decisão.

Jarni passou tanto por Torino quanto por Juventus (imago)

O inquérito no qual Borsano estava metido teve desdobramentos desfavoráveis ao Torino, que acabaria vendido quatro vezes entre 1994 e 2000. Em meio ao turbilhão, Jarni mudou de lado na sede administrativa do Piemonte ao ser apresentado como novo reforço da Juventus para a temporada 1994-95. Foi lá que o ala conseguiu seus únicos dois títulos na Bota: campeonato e copa nacionais. O croata também foi titular na final da Copa Uefa, que terminou ficando com o Parma.

As regras do Italiano não permitiam mais de três estrangeiros na escalação dos times. Naquela temporada, a Juventus havia comprado Paulo Sousa e Didier Deschamps para se juntarem a Jürgen Kohler. Para Jarni, era muito complicado competir com os “aliens”. O lateral fez mais de 30 partidas naquele ano, número superior ao do alemão, do francês e de Roberto Baggio, mas Marcello Lippi o via como atleta de rotação.

A opção de sair para o Betis era justamente para ter mais tempo de jogo. Se não saísse, a vaga no elenco croata para a Eurocopa de 96 estaria comprometida e Jarni não queria deixar de participar da primeira competição oficial da seleção de seu país. O nacionalismo croata aflorava, até porque os xadrezes precisaram entrar em guerra para se tornarem independentes do jugo iugoslavo.

No time alviverde de Sevilha, Jarni deslanchou e virou ídolo. Assim como na seleção da Croácia, da qual foi titular absoluto na histórica campanha na Copa do Mundo de 1998 – na qual os vatreni ficaram com o quarto lugar. Após a competição, o ala canhoto acertou com o Coventry, da Inglaterra, mas foi adquirido pelo Real Madrid antes mesmo de entrar em campo pelos Sky Blues.

Jarni teve dificuldades de assumir a titularidade no Santiago Bernabéu e se transferiu para o pequeno Las Palmas em 1999. O lateral esquerdo foi rebaixado pelo clube das Ilhas Canárias, mas conseguiu devolvê-lo à primeira divisão de imediato. Antes de se aposentar, aos 33 anos, o possante jogador ainda defendeu o Panathinaikos e a Croácia em sua segundo Mundial, em 2002. Como treinador, Jarni ainda não teve papel tão relevante quanto jogador: atualmente, ele auxilia na formação de jovens craques na seleção sub-19 croata.

Robert Jarni
Nascimento: 26 de outubro de 1968, em Cakovec, Croácia (antiga Iugoslávia)
Posição: ala esquerdo
Clubes: Hajduk Split (1986-91), Bari (1991-93), Torino (1993-94), Juventus (1994-95), Real Betis (1995-98), Coventry (1998), Real Madrid (1998-99), Las Palmas (1999-2001) e Panathinaikos (2001-02)
Títulos: Copa do Mundo sub-20 (1987), Copa da Iugoslávia (1987 e 1991), Coppa Italia (1995), Serie A (1995), Mundial Interclubes (1998) e Segunda Divisão Espanhola (2000)
Carreira como técnico: Hajduk Split (2007-08), Istra (2010), Sarajevo (2013-14), Pécs (2014-15), Puskás Akadémia (2014-15), Croácia sub-19 (2017-hoje)
Seleção iugoslava: 7 jogos e 1 gol
Seleção croata: 81 jogos e 1 gol

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