No início de 2011, em entrevista ao jornal colombiano El Espectador, o ex-companheiro Carlos Valderrama afirmou: “Asprilla é o melhor jogador colombiano de todos os tempos”. Durante os 17 anos de carreira, o atacante nascido em Tuluá justificou o elogio com dez títulos pelos nove clubes pelos quais atuou. Dentro de campo, a velocidade, a habilidade e o bom poder de finalização com os dois pés eram suas principais características. Porém, Faustino Asprilla também ficou conhecido pela irreverência e pelas polêmicas fora das quatro linhas. Por isso, o sentimento que fica é de que “El Tino” poderia ter tido mais sucesso.
Em seus primeiros passos no futebol, os companheiros repararam que Asprilla além de ser o jogador mais talentoso do grupo também chamava a atenção pelo apetite. Tudo que estava na mão do colombiano era devorado e, por isso, ele ficou conhecido como El Pulpo – ou seja, “o polvo”. Porém era o futebol que o destacava em relação aos demais e, aos 17 anos, já atuava profissionalmente pelo Cúcuta Deportivo. No primeiro clube, o talento precoce ficou claro quando Asprilla marcou duas vezes frente ao Millionarios, que tinha o goleiro da seleção argentina, Goycochea.
Em apenas um ano, Asprilla fez 17 gols em 26 partidas e conseguiu transferência para o Atlético Nacional, atual campeão da Libertadores e que tinha Higuita, Valderrama e, a partir de 1990, Aristizábal, que formaria dupla de ataque histórica com Asprilla. Nos verdolagas, como reserva, Asprilla venceu a Copa Interamericana em 1989, contra o Pumas, do México. Dois anos depois, “El Tino” marcou 16 vezes e foi o artilheiro do Atlético Nacional na conquista do Campeonato Colombiano.
O futebol apresentado nos dois anos no Atlético chamou a atenção de clubes italianos e também da seleção colombiana. Pelos cafeteros foi eliminado na primeira fase do torneio Olímpico 1992. Mas, a partir da competição, passou a ser nome certo nas convocações da equipe nacional. Entre os times da Itália interessados no atacante veio do Parma a melhor proposta e, por 11 milhões de dólares, Asprilla foi vestir gialloblù no Belpaese.
O colombiano não explodiu na primeira temporada na Itália. O extracampo atrapalhou, mas, em 1992-1993, Asprilla teve um grande momento: o gol de falta, na vitória por 1 a 0, no San Siro frente ao Milan, que encerrou a série de 58 jogos invictos dos rossoneri. No mínimo, ele já estava marcado por toda a história só pelo fato de tirar a maior invencibilidade do futebol italiano, vigente até hoje.
Outro ponto alto foram os quatro gols anotados na campanha do título da Recopa. “El Tino” foi o artilheiro dos crociati, porém não participou da vitória por 3 a 1 na final, contra o Royal Antwerp, da Bélgica. O motivo da ausência? Uma lesão provocada por um briga de trânsito na cidade natal. Um motorista de ônibus bateu no carro de Asprilla, que resolveu agredir o condutor. Porém, na hora em que iria chutá-lo, a porta automática do veículo fechou, o colombiano acabou atingindo o vidro e se lesionando.
Após a temporada, Asprilla se juntou à melhor geração de futebolistas da Colômbia para alcançar o terceiro posto na Copa América de 1993. A grande atuação daquela equipe colombiana, porém, ficou para as Eliminatórias do Mundial 1994, contra a Argentina, em Buenos Aires. Os cafeteros venceram por 5 a 0 e o jogador gialloblù foi autor de dois gols na histórica vitória.
Após a Copa América de 1993, voltou ao Parma, que tinha dois novos jogadores, que fariam sucesso no clube: Roberto Sensini e Gianfranco Zola. Ao lado do italiano e do argentino, Asprilla venceu a Supercopa Europeia frente ao Milan e foi vice-campeão da Recopa, jogando e perdendo a final para o Arsenal por 1 a 0.
Na Copa do Mundo de 1994, a Colômbia chegou como grande aposta para surpreender as seleções mais tradicionais. Por isso, a decepção foi enorme com a eliminação na primeira fase. A frustração acabou resultando no assassinato do defensor Andrés Escobar, autor de um gol contra no Mundial. O curioso é que Asprilla contou à revista FourFourTwo que o companheiro morto alertava o restante da delegação colombiana durante o voo de volta ao país: “Não saiam de casa, é perigoso”. E o jogador do Parma ouviu um aviso especial, “você gosta de festa, mas algo pode ocorrer contigo, eles podem te matar”. “El Tino” ficou em casa e viu o companheiro ser assassinado na saída de uma boate.
Na volta à Itália, Asprilla teve um desempenho mediano. Na Serie A, em que os parmenses ficaram no terceiro posto, o colombiano marcou apenas seis vezes e viu Zola se destacar com 19 gols ao longo da disputa. Mas Asprilla foi importante na conquista da Copa Uefa, ao marcar três vezes nos dois jogos das semifinais, frente ao Bayer Leverkusen. “El Tino” foi titular nas duas partidas finais frente à Juventus, que culminaram com o título gialloblù, mas não teve atuações memoráveis.
Novamente o extracampo refletiu dentro das quatro linhas: entre os dois jogos, Asprilla foi denunciado por supostamente ter disparado tiros durante uma festa de ano novo. O atacante colombiano nunca negou ter paixão pelos armamentos e, no final da carreira, chegou a levar algumas peças em treinamentos. O resultado da acusação acabou não culminando em punição severa ao jogador, mas, sem dúvida, atrapalhou o desempenho.
Antes do início da nova temporada com o Parma, junto aos cafeteros Asprilla conseguiu retomar um pouco da moral e, com seus dois gols, ajudou a seleção a alcançar o terceiro posto na Copa América do Uruguai. “El Tino” que tinha declarado à Gazzetta dello Sport que nunca mais jogaria neste pelo Parma, acabou ficando nos crociati, pois uma transferência para o Leeds não pôde ser concretizada. Mas a relação com o clube já não era mais a mesma e, por isso, quando, no meio da temporada, chegou proposta para ir ao Newscastle, Asprilla acertou a transferência, mesmo sem conhecer praticamente nada sobre o clube inglês.
A passagem pela Inglaterra não foi boa e a estreia ocorreu em contexto curioso: Asprilla iria conhecer apenas os colegas e até tomou uma garrafa de vinho antes de jogar. A bebida e a surpresa não atrapalharam o desempenho na estreia. Mas, com o colombiano no elenco, os Magpies não foram páreo para o Manchester United. No ano seguinte, com a contratação de Alan Shearer, o colombiano perdeu espaço, porém participou de outro vice-campeonato da Premier League – mais uma vez vencida pelos comandados de Alex Ferguson.
Os 18 meses na Inglaterra também presentearam o colombiano com um grande momento, os três gols anotados contra o Barcelona na Liga dos Campeões 1997-98. Mas Asprilla lembrou na entrevista à FourFourTwo outro fator que, para ele, foi muito importante: as várias mulheres que pôde conhecer na Inglaterra. Ao final da temporada, porém, ele viveu uma reviravolta impensável em sua trajetória futebolística e voltou ao Parma.
Antes do retorno ao Belpaese, o colombiano disputou mais uma Copa do Mundo. Na França, em 1998, o atacante não marcou nenhum gol e, mais uma vez, viu os cafeteros serem eliminados na primeira fase com apenas uma vitória. Na segunda passagem pelos crociati, Asprilla encontrou dois argentinos em grande fase, Verón e Crespo. Além de disputarem quem tinha a Ferrari mais personalizada, os sul-americanos construíram uma boa parceira dentro das quatro linhas.
Como coadjuvante, o colombiano venceu a segunda Copa Uefa. Em 1998-99, o Parma bateu por 3 a 0 o Olympique Marseille e garantiu o título europeu. Asprilla foi reserva e participou de cinco minutos da final, mas não marcou nenhuma vez durante a campanha. Na conquista da Coppa Italia frente à Fiorentina, “El Tino” não esteve em campo nas duas partidas finais, porém anotou dois gols durante a trajetória para o título. Após a temporada, Asprilla se envolveu em outra polêmica com armas. O colombiano realizou disparos com a pistola nove milímetros, em um resort, na cidade de Cartagena. Por esta confusão, o atacante gialloblù ficou de fora da seleção que disputou a Copa América de 1999.
Antes do início de uma nova temporada europeia, Asprilla desembarcou no Palmeiras, campeão da Libertadores e que também era parceiro da Parmalat. A contratação de “El Tino” foi a principal novidade alviverde para a disputa do Mundial, contra o Manchester United, em Tóquio. Porém, mais uma vez os Red Devils deixaram apenas o vice-campeonato para o colombiano. No Palmeiras, Asprilla venceu o Torneio Rio-São Paulo e a Copa dos Campeões, em 2000. No meio do ano, ele trocou de clube e foi jogar no Fluminense, onde jogou por pouco tempo, mas teve grande desempenho, marcando muitos gols.
As lesões passaram a atrapalhar o rendimento e Asprilla iniciou uma peregrinação em clubes latino-americanos: Atlante, do México; Atlético Nacional, da Colômbia; Universidad de Chile, do Chile; Estudiantes, da Argentina; e Cortuluá, da Colômbia. Em comum o pouco tempo em campo, as lesões e passagens que duraram no máximo uma temporada. Durante a via crúcis, “El Tino” quase foi jogar pelo Darlington, na terceira divisão inglesa. Porém o acordo não foi fechado, pois o presidente do clube, George Reyonlds, não honrou pessoalmente o que havia sido acordado por telefone.
Mesmo sem jogar desde 2005, Asprilla só se aposentou oficialmente em um jogo festivo, em 2009, quando nenhum dos seus grandes parceiros na Itália esteve presente. Hoje, o colombiano aproveita o dinheiro com uma de suas grandes paixões, os cavalos e, de vez em quando, ainda tem tempo para se envolver em polêmicas – uma das últimas foi aparecer nu na capa de uma revista colombiana.
Faustino Asprilla
Nascimento: 10 de novembro de 1969, em Tuluá, Colômbia
Posição: atacante
Clubes: Cúcuta Deportivo (1988-89), Atlético Nacional (1989-92 e 2002-03), Parma (1992-96 e 1998-99), Newcastle (1996-98), Palmeiras (1999-00), Fluminense (2000-01), Atlante (2001-02), Universidad de Chile (2003-04), Estuidantes (2004-05) e Cortuluá (2005)
Títulos: Copa Interamericana (1989), Campeonato Colombiano (1991), Recopa Uefa (1993), Supercopa Uefa (1993), Copa Uefa (1995 e 1999) Coppa Italia (1999), Copa dos Campeões (2000), Torneio Rio-São Paulo (2000) e Apertura Chileno (2004)
Seleção colombiana: 57 jogos e 20 gols
Bom jogador, era habilidoso e sabia fazer gols. O problema era a parte extra-campo.