Na rica história do futebol italiano, muitos atletas foram mais lembrados – e recompensados – mais por sua diligência do que pelo talento propriamente dito. Este foi o caso do volante Patrizio Sala, que passou por vários clubes ao longo de sua carreira e atingiu o seu auge pelo Torino, na década de 1970. No Piemonte, o jogador foi peça importante do elenco que levou os grenás a seu sétimo scudetto e, devido às boas prestações pelo Toro, chegou à seleção. Até disputou uma Copa do Mundo.
Nascido em Bellusco, na Lombardia, Sala deu os seus primeiros passos no Monza, principal time de sua província. Cria da base biancorossa, o jovem meio-campista teve a oportunidade de iniciar a carreira entre os profissionais em 1973, após a queda dos brianzoli para a terceirona.
Patrizio representou a equipe em duas temporadas, nas quais a briga pelo retorno à Serie B se revelou infrutífera – os bagai ficaram na parte alta da tabela, mas só o primeiro colocado de cada grupo regional garantia o acesso. Em contrapartida, o clube conquistou duas edições da Coppa Italia de Semiprofissionais.
Sala tinha apenas 20 anos quando o Torino resolveu contratá-lo – e por um motivo bem específico. O técnico Luigi Radice chegou ao clube grená em 1975, substituindo Edmondo Fabbri, e um dos reforços que indicou foi o do volante, que conhecia desde os tempos de Monza. Quando Patrizio fazia parte do setor juvenil biancorosso, Gigi comandava os profissionais.
Com o aval e a total confiança do treinador, Sala logo foi alçado aos titulares. O volante foi contratado inicialmente como reserva de Roberto Salvadori, mas impressionou em seus primeiros jogos, pela Coppa Italia, e ganhou a posição. Assim, Patrizio formou, ao lado de Eraldo Pecci, Renato Zaccarelli e Claudio Sala – que, apesar de ter o mesmo sobrenome e também ser da região de Monza, não tem parentesco consigo – um dos melhores conjuntos de meias da temporada 1975-76 do futebol italiano.
Enquanto Pecci e Zaccarelli tinham a função de pensar mais o jogo e Claudio caía pela ponta, Patrizio era o motorzinho responsável por roubar bolas e permitir que a dupla de atacantes formada por Francesco Graziani e Paolino Pulici decidisse lá na frente. As ideias de Radice se mostraram vitoriosas: o Toro conseguiu superar a Juventus e se sagrou campeão italiano com um empate com o Cesena, na última rodada. Foi o único scudetto que os granata obtiveram após a Tragédia de Superga, que matou todo o time do Grande Torino, em 1949.
A grande temporada em Turim lhe abriu as portas da seleção da Itália. Sala, que atuou em todas as partidas do Torino na campanha do título, estreou com a camisa da Squadra Azzurra em setembro de 1976, numa vitória por 3 a 0 sobre a Iugoslávia, em amistoso. Porém, ele tinha dois fortes concorrentes na posição: Marco Tardelli e, principalmente, o já consolidado Romeo Benetti, ambos da Juventus.
Depois da temporada histórica de 1975-76, o Toro continuou tendo bons desempenhos – acompanhado por um rendimento muito regular de Sala. Eram anos de duelo piemontês com a Juventus. Porém, se os grenás levaram a melhor em 1976, a Velha Senhora deu o troco no biênio seguinte, quando o Torino foi vice-campeão. Em 1977, a distância favorável aos bianconeri foi de apenas um pontinho.
Como a dupla da capital do Piemonte dominava a Serie A, era natural que a base da seleção italiana fosse formada por Juventus e Torino. O técnico Enzo Bearzot, contudo, dava preferência ao chamado “Blocco-Juve”, já que a Velha Senhora era a campeã do momento e, de quebra, tinha mais jovens. Simplesmente 15 dos 22 convocados para a Copa do Mundo de 1978 eram das equipes de Turim. Sala foi um deles, como reserva de Benetti. Por conta dessa condição, só atuou uma vez na expedição à Argentina, na derrota por 2 a 1 para o Brasil, na disputa pelo terceiro lugar.
Sala manteve o seu posto de jogador importante do Torino após o Mundial, embora o time não tivesse conseguido dar continuidade à briga por títulos na Serie A – foi quarto e terceiro colocado em 1979 e 1980, respectivamente. Na Coppa Italia, por sua vez, obteve três vices consecutivos, entre 1980 e 1982.
Patrizio, entretanto, só disputou duas dessas finais, ambas perdidas para a Roma. O Torino começou a atravessar alguns problemas de vestiário e de ordem financeira, o que levou ao desmanche do time com o passar do tempo. As convocações de atletas grenás à seleção também foram rareando. Sala, por exemplo, fez a última de suas oito aparições pela Nazionale em 1980. E, no ano seguinte, foi vendido à Sampdoria, encerrando a sua militância pelo clube do Piemonte com 209 partidas e nove gols marcados.
A saída do Torino fez Sala, então com 26 anos, iniciar a sua peregrinação pelo futebol italiano. Na Sampdoria, que havia sido adquirida pelo magnata Paolo Mantovani pouco tempo antes, chegou como um reforço de peso para ajudar a equipe a deixar a Serie B, e formou um meio-campo interessante com Alessandro Scanziani.
Além de contribuir para o acesso da Samp à elite, Patrizio teve importância na ótima campanha dos blucerchiati na Coppa Italia: o volante marcou um de seus raros gols nas quartas de final, contra a Reggiana, que permitiu aos genoveses garantir a passagem à fase seguinte. Por ironia do destino, a queda nas semifinais foi justamente para o Torino, antigo clube de Sala.
Após cumprir sua missão em Gênova e vestir a camisa bluerchiata em 42 oportunidades, o volante trocou de casa e se mudou para Florença, onde defendeu as cores da Fiorentina. No entanto, Sala não apresentou a mesma regularidade pelos gigliati e atuou apenas 25 vezes, não sendo titular absoluto da equipe, quinta colocada da Serie A 1982-83. Patrizio até começou a temporada seguinte no Artemio Franchi, mas foi negociado com o Pisa no antigo mercado de outono, que ocorria entre outubro e novembro.
Dessa forma, Sala permaneceu na Toscana e na Serie A, além de ganhar uma oportunidade como titular, sendo o ladrão de bolas necessário para que os estrangeiros Klaus Berggreen, da Dinamarca, e Wim Kieft, dos Países Baixos, pudessem brilhar. O Pisa, contudo, brigava para não cair e conseguiu ficar poucas rodadas fora da zona de rebaixamento. Numa temporada em que foi treinado por Bruno Pace e pelo brasileiro Luís Vinício, Patrizio amargou o primeiro descenso da carreira.
De saída do Pisa, Sala acertou com o Cesena, clube em que se estabeleceu por quatro anos. Os bianconeri almejavam retornar à elite após a queda, em 1983, mas tudo deu errado por três temporadas – a briga pelo acesso não passou nem no horizonte dos romanholos. Em 1987, Patrizio finalmente conseguiu ajudar o time a alcançar o objetivo para o qual havia sido designado. O volante até iniciou a campanha de 1987-88 no elenco dos cavalos marinhos e somou suas derradeiras duas presenças na elite.
Em novembro de 1987, após 114 aparições pelo Cesena, o já veterano Sala topou retornar à Serie B para defender o Parma, que passava pela primeira onda de investimentos da Parmalat. A experiência com Arrigo Sacchi foi empolgante para os crociati, mas os bons momentos não se mantiveram no biênio seguinte, sob a batuta de Zdenek Zeman e Giampiero Vitali. O sonho do acesso ficou distante e Patrizio, que atuou apenas 38 vezes nesse período, rumou à Solbiatese, da quarta divisão, para pendurar as chuteiras. O fez em 1990, com quase 35 anos.
Aposentado, Sala se dedicou à carreira de treinador, mas não obteve sucesso algum na profissão. Além de ter passado pelos juvenis do Monza (entre 1991 e 1995) e do Torino (2005), acumulou diversos trabalhos inexpressivos nas divisões inferiores da Itália – o melhor resultado foi um sexto lugar num grupo regional da Serie C2 com a Biellese, em 2000. Seus outros clubes masculinos foram Leffe, Varese, Pistoiese, Vis Pesaro, Valenzana, Pro Patria e Casale. O ex-volante ainda teve uma experiência no futebol feminino, ao passar pela Fiammamonza, e se afastou do mundo da bola após passar por uma escolinha de Milão.
Sua trajetória como técnico teve um ponto em comum com a carreira como jogador, mas outro bem dissonante: a discrição, por um lado, e a oposição entre o insucesso com a prancheta e as glórias com as chuteiras. Embora os seus grandes momentos não tenham sido duradouros, Sala teve o mérito de gravar seu nome na história de um dos mais tradicionais clube italianos, na condição de peça-chave da campanha de um título que devolveu a alegria a uma torcida entristecida por conta de um desastre. Portanto, jamais será esquecido por aqueles que amam o Torino.
Patrizio Sala
Nascimento: 16 de junho de 1955, em Bellusco, Itália
Posição: volante
Clubes como jogador: Monza (1973-75), Torino (1975-81), Sampdoria (1981-82), Fiorentina (1982-83), Pisa (1983-84), Cesena (1984-87), Parma (1987-89) e Solbiatese (1989-90)
Títulos: Coppa Italia de Semiprofissionais (1974 e 1975) e Serie A (1976)
Clubes como treinador: Leffe (1995-96), Varese (1997), Pistoiese (1997-98), Biellese (1999-2001), Vis Pesaro (2001-02), Valenzana (2002-03), Pro Patria (2003-05), Casale (2005-06) e Fiammamonza (feminino; 2012-13)
Seleção italiana: 8 jogos