Conte posa ao lado de Tavecchio, presidente da FIGC (La Stampa)
Duas semanas atrás, a seleção italiana não tinha a menor perspectiva de futuro. A partir da definição de Carlo Tavecchio como presidente da FIGC, as coisas começaram a se encaixar – de alguma forma. Três dias depois, então, Antonio Conte foi anunciado como novo comissário técnico da seleção.
Conte, segundo o próprio, começava a se preparar a nível técnico-tático, e também aprender novos idiomas enquanto esperava a proposta de um clube grande estrangeiro, talvez na próxima temporada. Mas o ex-treinador da Juventus era o único nome realmente desejado por Tavecchio, que só pensaria
em eventuais planos B (Luciano Spaletti ou Alberto Zaccheroni, por
exemplo), em caso de negativa do treinador. Que aceitou o convite
rapidamente, sem titubear, diga-se de passagem.
Nessa terça-feira, Conte concedeu sua primeira coletiva no comando da Nazionale e já deixou algumas coisas mais claras, depois de dois meses de tantas incertezas. Primeiro, respondendo sobre seu contrato e a participação de patrocinadores no valor total do seu salário: “Quem conhece Antonio Conte sabe que nada e ninguém pode decidir por mim”. A Puma, patrocinadora da seleção e de alguns atletas, paga boa parte de seus rendimentos.
Também esclareceu seus critérios e deixou algumas indiretas, para bad boys como Balotelli. “Todos os jogadores italianos são convocáveis, mas a convocação deve ser merecida. Eu valorizo o jogador, mas também o homem. Olho para o que acontece em campo e fora também. Eu sempre fiz assim: entre um bom homem e um bom jogador, escolho o primeiro. Sou um treinador que vê tudo em 360 graus, a minha experiência ensinou que apenas os homens te ajudam a superar a dificuldade. Começo do zero. Só confio nos meus olhos, não dos meus patrocinadores e dos jornais”, declarou.
Com contrato até julho de 2016, o foco da contratação de Conte é de um trabalho de curto prazo, mas há perspectiva de desenvolvimento a médio prazo. Começa do zero, porém assumirá um trabalho já desenvolvido por Cesare Prandelli e Arrigo Sacchi, de quem o treinador, agora comissário técnico, acumulará várias funções. Do típico treinador de clube, vivendo o dia a dia próximo dos seus homens, a coordenador do setor juvenil, trabalhando junto com os treinadores do sub-21 ao sub-16. Nesta quarta-feira, o treinador já visitou Formello e Trigoria, os CTs de Lazio e Roma.
Assim sendo, Conte, que curiosamente será o primeiro treinador da Nazionale nascido no sul da Bota, como levantou matéria da Gazzetta dello Sport, terá a responsabilidade de novamente reconquistar o prestígio defasado da seleção e reiniciar um trabalho que poderá ter grande influência no futuro do futebol italiano. Tricampeão italiano de forma incontestável comandando a Juventus, já teve certa influência na mudança tática que percebemos no Belpaese, e pretende continuar seu “legado”.
Da “escola de 4-2-4” de Antonio Toma e Gian Piero Ventura, Conte se adaptou ao elenco, ao momento do futebol e, depois de uma temporada no 4-3-3, descobriu no 3-5-2 uma melhor forma de dominar a Serie A. Um 3-5-2 que mistura momentos de marcação individual e zonal, alternando para duas linhas de quatro e de alguma forma lembrando a “Zona Mista” de Trapattoni e Bearzot que dominou a Bota pré-Sacchi/Capello.
E que também controla o jogo com padrões predefinidos: alas espetados, uma referência na área, um atacante de movimentação, dois meias-centrais completos e de movimentos agressivos, quebrando as linhas adversárias e o ponto central: um regista para conduzir a orquestra protegido por três zagueiros que também trabalham a bola e auxiliam na distribuição desde trás. Um 3-5-2 que ataca em 3-3-4. Um esquema que dominou o futebol italiano, mas que teve dificuldades em solo internacional, frente a grandes equipes, como Bayern de Munique e Real Madrid, mas que também teve dificuldades contra times menores. Será suficiente para encarar de frente as principais seleções mundiais?
Segundo o jornalista Gianluca Di Marzio, Conte pretende manter esse ideal e a partir daí montará sua base, que terá, claro, como referência a Juventus. “Muitos treinadores de seleção optam por construir um time formado pela base de um clube. A Espanha com o Barcelona e a Alemanha com o Bayern, por exemplo. Os treinadores não têm tanto tempo para trabalhar com os jogadores como nos clubes, isso é claro. O que vou fazer é tentar selecionar uma base para a seleção que é aquele da Juventus e tentar otimizar o meu tempo com os jogadores”.
O jornalista da Sky fala na intenção do treinador em aproveitar jogadores que eram seus objetivos enquanto treinador da Juventus, como Candreva, Ranocchia, Immobile, Rossi e Darmian, e que podem ter um papel maior na seleção e no seu esquema. Candreva como Lichtsteiner, Ranocchia como Barzagli, Immobile e Rossi como a dupla de ataque, Darmian como alternativa para a esquerda, além de Pasqual.
Importante também fazer notar que Conte poderá não ter jogadores como Pogba e Vidal, peças-chaves na sua Juventus. Tem Buffon, Bonucci, Chiellini, Pirlo e jogadores encaixáveis às funções de Barzagli, Lichtsteiner, Asamoah, Tevez e Llorente, mas não tem dois meias-centrais completos, que atacam e defendem com intensidade, pressionando e desarmando quando sem a bola, movimentando verticalmente e criando espaços quando com a bola – Marchisio chega perto disso, mas tem outras características como principais em seu futebol. Terá, contudo, um organizador para auxiliar Pirlo e ganhar a disputa da bola, explorando melhor o ataque posicional: Verratti.
Mas mais do que isso, o treinador também trará algo que não víamos em Prandelli: a parte motivacional. Tão apreciada no comando de seleções, Conte é um grande motivador, e tem um discurso direto que pode conseguir esse prestígio nacional e mexer com os jogadores após tamanho fracasso no Brasil e falta de perspectiva.
Uma aposta que dá garantias. Os resultados? Começaremos a ver no próximo mês: em Bari, durante amistoso contra a Holanda no dia 4 de setembro. No dia 9, em Oslo, o primeiro jogo pelo Grupo H da qualificação para a Euro 2016 será contra a Noruega. Ainda este ano, em outubro e novembro, jogos contra Azerbaijão (em Palermo), Malta (fora de casa) e Croácia (em Milão) pelas eliminatórias, além de outro amistoso ainda não definido.